5.1.06

Somos todos a favor do mercado

A Iberdrola não roubou a participação que detém na EDP. Comprou-a.

Se os outros accionistas privados se sentem incomodados pelo facto de terem dentro de casa um concorrente, têm uma boa solução: adquirirem-na pelo valor que conseguirem negociar com a Iberdrola.

Afastar um concorrente de informações e decisões estratégicas tem sem dúvida um valor. Estarão os accionistas nacionais dispostos a pagá-lo?

Aparentemente, não. Preferem antes que o Estado - sempre o Estado! - componha um arranjinho institucional que os dispense de esportularem essa quantia. Por outras palavras: pedem um subsídio que os proteja da concorrência estrangeira.

Logo, a pergunta que se deve fazer é esta: o que espera o Estado para limpar os pés da EDP, da Petrogal e da PT - já para não falar da Caixa Geral de Depósitos?

Que superiores interesses nacionais são defendidos pelas chamadas golden-shares? Os dos consumidores? Os da indústria? Os do turismo? Os do comércio?

Nada disso. O Estado, dizem-nos, tem de estar presente porque se trata de sectores "estratégicos". Mas o que quer isso dizer, ao certo?

A palavra "estratégico" é hoje usada a torto e a direito no propósito exclusivo de evitar uma explicação clara e fundamentada do que verdadeiramente está em causa. (Não me ocorre nenhuma empresa mais "estratégica" para o país do que a Auto-Europa, e, todavia, ninguém propõe que seja intervencionada.)

O interesse "estratégico" do país é que a EDP seja gerida o melhor possível, porque isso significa tarifas mais baixas e melhor serviço aos utilizadores. Ora, normalmente, quem paga mais por uma empresa é quem está em condições de geri-la melhor.

Serão espanhóis? Pois que sejam. A metáfora da conquista, usualmente brandida pelos nacionalistas, é completamente desadequada. A mudança de propriedade de uma empresa consiste na troca de uma forma de capital por outra, ou seja, na cedência de activos físicos a troco de dinheiro. As duas partes chegam a acordo porque cada uma delas acredita que fica melhor em resultado da transacção. Quem compra, acredita que poderá tornar a empresa mais rentável. Quem vende, pensa que conseguirá uma melhor aplicação alternativa para o seu capital.

O dinheiro proveniente da compra não será consumido. Será (melhor) investido noutras actividades, com o que todos teremos a ganhar.

Passamos o tempo a dizer que necessitamos urgentemente de investimento estrangeiro, mas recusamos as poucas oportunidades que existem para atraí-lo.

Somos todos a favor do mercado. Ou não?

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