12.3.06

O capital não tem pátria, excepto quando é estrangeiro (2)



Foi pouco notado que, ainda antes de o Governo espanhol optar por dificultar a compra da Endesa pela alemã E.On e de o executivo francês decidir promover a fusão da EDF com o grupo Suez para prevenir a tomada de controlo por um grupo estrangeiro, já a Presidente da Comunidade Autonómica de Madrid manifestara o seu alarme por a Endesa poder vir a ficar sob a alçada de uma empresa estrangeira. A "empresa estrangeira" era, neste caso, a catalã Gas Natural.

Estas indignações nacionalistas são, no essencial, absurdas. Em geral, nenhum interesse respeitável é ferido quando uma empresa de um país compra uma empresa de outro país. É claro que, nisto como em tudo, há excepções, mas não creio que seja este o caso.

Dito isto, é perfeitamente possível que, paradoxalmente, a Europa nada perca com estes entraves à mobilidade dos capitais no sector da energia. As anunciadas OPAs trans-europeias são justificadas pelos ganhos resultantes das consequentes economias de escala. Todavia, é muito duvidoso que esses ganhos existam. O mais provável é que a consolidação do sector da energia à escala europeia visasse antes de mais colocar entraves à concorrência no próprio momento em que ela pela primeira vez ameaçava tornar-se real.

Por conseguinte, embora absurdo, o proteccionismo nacionalista poderá por esta vez ajudar a promover a concorrência em vez de condicioná-la e de, por esse motivo, beneficiar os consumidores e as empresas que actualmente pagam, na Europa, preços excessivamente elevados pela energia que compram.

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