16.5.06

Felipão (2)

Ser treinador de futebol é um modo de vida, não um modo de morte. Tirando psicopatas como o Mourinho, permanentemente dispostos a apostar no tudo ou nada, os oficiais desse ofício fazem escolhas racionais ditadas pelas suas ambições profissionais de longo prazo.

O portuguesinho, e principalmente o mulherio inconsciente, que leva a sério a publicidade da Galp e do BES, acredita que é possível Portugal sagrar-se campeão mundial, desde que, é claro, "os jogadores dêm o litro".

Scolari entende o suficiente de futebol para saber como isso é improvável. Do ponto de vista da sua carreira não é importante que Portugal seja campeão, mas apenas que faça "boa figura". Passar a primeira fase é uma necessidade; chegar aos quartos de final, a meta razoável; atingir a meia final, um bambúrrio.

É em função desse raciocínio que estrutura a equipa, e não há dúvida que, no essencial, está certo. Ao contrário de outros, ele entende que formar uma equipa não é a mesma coisa que fazer uma colecção de cromos da bola. Mais: ele sabe que se ganha jogos com o currículo dos jogadores, tal como se ganha jogos com a cor das camisolas. Ele precisa de uma equipa sólida e fiável. Para isso rodeia-se de gente de confiança.

Tal como o FCPorto, com o qual não poderia deixar de entrar em confronto, Scolari dá prioridade ao espírito de equipa em detrimento das individualidades, uma estratégia tanto mais certa quanto é facto que até nem tem muitas individualidades por onde escolher.

Na verdade, como alguns notaram, é algo estranho o campeão nacional quase não estar representado na selecção. Mas há uma boa justificação para isso: é que Helton, Pepe, Paulo Assunção, Lucho e Jorginho não são portugueses.

E o Quaresma? Na equipa errada - o Sporting, por exemplo - o Quaresma nunca passaria de um brinca-na-areia. Este ano progrediu significativamente, mas ainda está longe de ser um jogador feito, à altura de disputar um Campeonato do Mundo. E, depois, imaginam que ele poderia tirar o lugar ao Cristiano Ronaldo? Tenho muita pena, mas, neste particular, não concordo com o meu Presidente.

E o Moutinho? Ora, deixem o rapaz crescer...

A única decisão verdadeiramente questionável do seleccionador é o guarda-redes. Scolari não quer o Baía pela simples razão de que ele seria um pólo de autoridade e liderança no balneário alternativo à sua pessoa. Com a saída do FCPorto do Deco, do Ricardo Carvalho, do Paulo Ferreira, do Postiga, do Costinha e do Maniche, o problema ficou atenuado. Mas o Scolari não poderia voltar atrás sob pena de revelar publicamente as suas motivações quando, há dois anos, resolveu afastar Vítor Baía.

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