29.6.06

O ilusionista

Só agora tive tempo para ler o artigo de Teodora Cardoso "A Obra de Cavaco Silva, a Ciência Económica e a Política", publicado na Economia Pura de Janeiro/ Fevereiro.

Confesso-me siderado, pois, embora quase tudo o que lá se conta fosse do meu conhecimento, já se me tinham varrido alguns factos mais antigos.

Assim, em 1980, para tentar ajudar o candidato da AD a ganhar as eleições presidenciais, Cavaco Silva valorizou o escudo, conseguindo uma descida instantânea dos preços dos produtos importados. Ao mesmo tempo, proibiu as empresas de energia e transportes de repercutirem nos seus preços os aumentos do petróleo resultantes do segundo choque petrolífero. Para terminar, cancelou parte da dívida pública através da reavaliação da reserva de ouro do Banco de Portugal, inscrita no Orçamento do Estado como receita extraordinária.

Em resultado, a dívida externa disparou para níveis nunca antes alcançados. Mas, como as respectivas estatísticas não foram publicadas durante dois anos, só em 1983 o país tomou conhecimento da gravidade da situação. Entretanto, obviamente, o mago das finanças já se pusera ao fresco.

Que estas coisas se tenham passado e que o seu autor tenha emergido de tais peripécias com a reputação incólume, eis o que só revela o país saloio que eramos e continuamos a ser.

Sem comentários: