22.1.07

60s Crash Course - Canned Heat: Let's Work Together


Quando um bando de hippies de sandálias e rabos de cavalo capitaneados por Bob Hite (por alcunha "o Urso") se meteu a tocar blues, o resultado foi esta música branca, limpa, errante e frágil - mas estranhamente sofisticada.

21.1.07

60s Crash Course - The Beatles: Shea Stadium 1965



Em 15 de Agosto de 1965, os Beatles apresentaram-se em Nova Iorque no primeiro concerto rock de sempre que teve lugar num estádio desportivo. Apesar do entusiasmo dos 55.600 fãs presentes, os músicos admitiram no final que, com toda aquela gritaria, quase não conseguiram ouvir-se a si próprios.

Pouco tempo depois, tiveram que desistir em definitivo dos concertos ao vivo. No filme pode-se ver claramente que, a dada altura, eles estão mesmo assustados.

Os desequilíbrios da economia espanhola

A nossa imprensa dá pouca atenção à economia espanhola, excepto para tecer loas a um surto de prosperidade cujas raízes e limitações não entende. Quem sabe, por exemplo, que a produtividade do trabalho, o indicador de desenvolvimento mais importante a longo prazo, tem crescido mais devagar em Espanha do que em Portugal na última década? Eis uma lúcida síntese da situação proposta por Guillermo de La Dehesa no El País de hoje:
En resumen, España ha tenido ya casi 13 años de crecimiento elevado e ininterrumpido gracias a la globalización en general y a un doble choque positivo, uno financiero (dinero barato) y otro real (inmigración creciente), que ha permitido más que compensar el choque negativo del alza del petróleo y de otras materias primas y la mayor competencia internacional.
La otra cara de la moneda es una economía recalentada, siendo la inflación aún casi un punto superior a la de la zona euro, aunque con clara tendencia a la baja, una burbuja inmobiliaria y un elevado déficit por cuenta corriente de la balanza de pagos del 8% del PIB, eso sí, debido en su totalidad, al contrario que el de EE UU, a que la inversión nacional, en porcentaje de PIB (cerca de un 30%), ha aumentado más que el ahorro nacional. Pero dicho déficit muestra también una pérdida indudable de competitividad externa que ha supuesto pérdida de cuota en las exportaciones mundiales y en el mercado nacional.

Además, el actual crecimiento es desequilibrado y poco diversificado, por el peso excesivo del sector de la construcción y por la fuerte aportación negativa del sector exterior al mismo. Finalmente, casi todo el crecimiento se ha debido a la acumulación de los dos factores básicos de producción: trabajo y capital, sobre todo el primero, ya que el crecimiento de la productividad conjunta de ambos factores ha sido el más bajo de la UE a 15 miembros. Es decir, la economía española está boyante, pero su crecimiento es desequilibrado y poco eficiente, lo que hace que la elevada tasa actual no pueda ser sostenible a medio plazo.

Guillermo de La Dehesa: La Proxima Recesión, El Pais, 21.1.07

20.1.07

O maior português

O maior português escondeu na cave uma família de judeus enquanto eles eram perseguidos nas ruas de Lisboa.

O maior português ensinou o Camões a ler.

O maior português morreu sob tortura por se recusar a denunciar os Távoras.

A maior portuguesa ficou sozinha com os sete filhos a tomar conta das terras quando o seu homem emigrou para o Brasil.

A maior portuguesa concedeu o primeiro beijo ao Fernando Pessoa.

O maior português desertou para a Holanda para não ir matar gente que nenhum mal lhe fizera, e por lá ficou até hoje.

O maior português aceitou cumprir seis anos de cadeia para proteger uma menina.

Os vencedores

Entrevista no El Pais de hoje com a escritora Esther Tusquets, de quem até aqui nada sabia:
Me parece que se ha escrito muchísimo sobre la Guerra Civil, sobre los que la perdieron, pero no sobre los que la ganaron, y sobre lo que era la infancia de una niña bien en Barcelona se ha hablado menos. Pasaban cosas muy fuertes. Yo jamás hice cola para un pasaporte, porque siempre me lo daba la policía. Llegaron a venir a hacernos el carnet de identidad al comedor de mi casa, sin tener que bajar a la comisaría. Se podía despedir a una criada sólo porque llevara una ropa que no correspondía a su clase aunque tuviera dinero para comprársela, o porque cantaba cuando trabajaba. Eran cosas muy fuertes. Yo he visto a un médico coger un plato y tirárselo por encima a la doncella que estaba sirviendo la mesa porque había untado el tomate por los dos lados del pan tal y como le había dicho el niño. Los privilegios eran totales. No recuerdo lo que llamaban racionamiento, el pan negro.

...Había diferencias totales.

(...) También te pasaban cosas divertidas. Teníamos dos personas trabajando en mi casa, y como mi madre era muy franquista, no decían nada, pero iban las dos por la carretera dando saltos y diciendo, "somos comunistas", y todos los días nos daban ensaladilla rusa. Yo las oía en la cocina decir, "para que se enteren".

19.1.07

Votar "Sim"

A partir de hoje (ou talvez de amanhã) estarei também aqui.

Hoje é a minha vez

Há duas semanas atrás ouvi na rádio ser atribuída ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, a propósito do caso dos aviões da CIA, a extraordinária afirmação segundo a qual "não havendo provas, nada há a investigar".

Luís Amado é sem dúvida um homem inteligente. Como é então possível ele não entender que, tirando os casos especiais dos julgamentos encenados, o normal é evoluir-se da investigação para as provas, e não o contrário?

Como é evidente, para investigar basta haver indícios. Sem dúvida consciente disso, Vera Jardim experimentou depois uma argumentação ligeiramente menos absurda ao anunciar que o PS obstaculizaria a criação de uma Comissão de Inquérito na Assembleia da República por "não haver quaisquer indícios" de situações ilícitas. Não há indícios? O que poderia então ser um indício para o ilustre deputado?

Para ser franco, eu não segui de início com grande atenção este caso do transporte de prisioneiros em aviões da CIA. O que mais tem contribuido para me fazer pensar nele é o estranhíssimo comportamento do governo português.

Vivemos num país onde, infelizmente, o facciosismo partidário impele com frequência os políticos a recorrerem aos truques mais baixos para denegrirem, as mais das vezes sem razão válida, os seus opositores.

Eis o que torna ainda mais suspeita esta desajeitada tentativa de encobrir factos ocorridos durante os consulados de Barroso e Santana. Aqui há mistério.

Como os media persistem em tratar este assunto de forma descontraída, todos temos a obrigação de assegurar que ele continue vivo. Hoje é a minha vez.

18.1.07

60s Crash Course - Cream: Spoonful



Quem nunca viu nem ouviu isto nunca viu nem ouviu nada - nem entende o que chegou de facto a ser o Clapton. Os rapazes apresentam-se aqui autenticamente possuídos pelo Espírito, porventura ajudados por algum doping. Tirando o barrete de pele do Jack Bruce, tudo o resto me agrada. Percebem agora a minha falta de paciência para o rock actual?

60s Crash Course - Bill Evans Trio: Waltz for Debby

16.1.07

Nem és político nem és nada

Como se sabe, os portugueses não gostam de políticos. Ainda assim, votaram nada menos que cinco, dos quais três déspotas mais ou menos alumiados, para a lista final dos Grandes Portugueses.

Acresce que, não sendo embora político profissional (mas Salazar também rejeitaria esse epíteto), Aristides de Sousa Mendes se destacou, e bem, por atitudes que, sendo antes de mais humanitárias, não deixaram de ser políticas.

E Vasco da Gama, que era ele senão o representante de El-Rei à frente da esquadra que rumou à Índia, dado que nada percebia de navegação propriamente dita?

Temos por fim o caso do Infante, que, como é sabido, fez fortuna com um pé na actividade empresarial e outro na alta política.

De modo que sobram apenas dois futricas autênticos nesta lista: Camões e Pessoa. E, não sendo politicos, que poderiam eles ser? Ora, poetas...

De que é que eles se queixam afinal?

Recentemente descobri um artigo na Newsweek editada na última semana de 2006 onde se pode ler:
Salaries have gone up more than 100 percent since the fall of Saddam, and income-tax cuts (from 45 percent to just 15 percent) have put more cash in Iraqi pockets. "The U.S. wanted to create the conditions in which small-scale private enterprise could blossom," says Jan Randolph, head of sovereign risk at Global Insight. "In a sense, they've succeeded."
No mesmo artigo, sugestivamente intitulado "Blood and Money" fica-se também a saber que a taxa de desemprego se encontra algures entre os 30 e os 50% (note-se a margem de indeterminação), que um terço dos orçamentos das empresas vão para gastos de segurança e que os hospitais não funcionam.

Mesmo assim, apetece perguntar de que se queixam os iraquianos, agora que beneficiam de baixos impostos sobre o rendimento e livre iniciativa empresarial. Há gente impossível de satisfazer.

O Público

Numa coisa pelo menos me parece que o Luis M. Jorge tem toda a razão na sua análise do infeliz percurso editorial do Público de há uns anos a esta parte: aquilo que melhor define um jornal é o núcleo dos seus leitores fiéis.

A ideia de que se pode fazer um diário de sucesso em confronto com a sua base de sustentação só pode mesmo sair das cabeças de visionários apaixonados por preconceitos ideológicos que procuram impor a qualquer custo aos seus ignaros concidadãos.

Se querem um jornal assim, têm que estar preparados para financiá-lo eles, em vez de contarem com a contribuição benévola do público pagante.

Fujam dos iluminados. Dão cabo de tudo à sua volta e, no final, cometem hara-kiri.
60s Crash Course - Jacques Brel: Les Bourgeois

Quem estiver com o francês um pouco enferrujado poderá orientar-se pelas legendas.

Com o Benfica no Dubai

Absolutamente pasmosa, esta descoberta do "Mãos ao Ar". Só lido!

Os negócios do Sr. D. Henrique

É muito curioso que, no site do programa "Os Grandes Portugueses" organizado pela RTP, o Infante D. Henrique seja apresentado como um "estadista".

O Infante foi, em vez disso, um empresário que, na boa tradição portuguesa que ainda hoje perdura, conseguiu uns contratos exclusivos protegidos pelo Estado mercê da sua relação familiar com pessoas muito bem colocadas junto das altas esferas do poder.

14.1.07

60s Crash Course - Resistência à ocupação soviética em Praga (1968)

O plano do Presidente

Escreve Zbigniew Brzezinski num lúcido artigo inserido no Público de sábado:
"A outra alternativa, que talvez esteja já a ganhar espaço na cabeça de Bush, é a de alargar o conflito [no Iraque] através de acções militares contra a Síria ou o Irão. É bastante seguro apostar que alguns dos neoconservadores à volta do Presidente e fora da Casa Branca irão pressionar para isso."
Depois não podemos dizer que não fomos avisados. Aliás, conhecendo o bicho, talvez até nem fosse preciso...

13.1.07

60s Crash Course - Rolling Stones: It's All Over Now

O encanto desta adaptação de uma canção de Bobby Womack está todo no jogo da guitarra do Brian Jones. Este video permite ver muito bem o que ele faz.

Porque os EUA devem abandonar o Iraque

A única coisa boa na actual situação iraquiana é que os países vizinhos estão cada dia que passa mais assustados com ela. Isso inclui a Síria e o Irão, evidentemente, mas também a Turquia, o Líbano, a Jordânia, a Arábia Saudita e os estados do Golfo.

Logo, a Síria e o Irão têm um interesse estratégico em ajudar a resolver o problema.

Ou melhor: teriam esse interesse, se acreditassem que os EUA estão de partida.

De facto, enquanto os EUA permanecerem, duas coisas acontecerão:

1. Os múltiplos conflitos que dividem o Iraque tenderão a polarizar-se em torno da questão da ocupação americana, mesmo tratando-se de um mero pretexto.

2. Existirá um risco sério de que o governo americano opte por alargar o conflito atacando o Irão ou a Síria.

Eis então o que os EUA deveriam fazer para desatar o nó:

1. Anunciar imediata e unilateralmente a retirada integral de todas as suas tropas até ao final de 2008.

2. Convidar a ONU a convocar uma conferência para a paz com a participação de todos os países da zona.

Assim se criariam simultaneamente as condições e a pressão necessárias para um envolvimento da Síria e do Irão nos esforços de pacificação do Iraque. Como é evidente, o êxito dessa conferência ficaria dependente de se encontrar uma solução duradoura para o conflito israelo-palestiniano.
60s Crash Course - Miles Davis e John Coltrane: So what

Miles Davis e John Coltrane reunidos em 1958 sob a batuta protectora de Gil Evans. Nos anos seguintes cada qual seguiria o seu caminho, qual deles mais corajoso e original.
60s Crash Course - Jeff Beck Group: Shapes Of Things

O vocalista é o Rod Stewart. O Jeff Beck é o Jeff Beck, sempre excelente nesse papel. A guitarrada passa-se em 1968.
60s Crash Course - The Fortunes: You've Got Your Troubles (I´ve Got Mine)

Isto agora é mesmo só para distrair. A sério.

12.1.07

Alexandre Alexeieff e Claire Parker: Uma Noite no Monte Calvo de Mussorgski

Alexandre Alexeieff inventou um sistema de animação original. As imagens dos seus filmes eram geradas pelas sombras de milhares de alfinetes espetados num écrã (ver foto abaixo) e manipulados individualmente para criarem a impressão de movimento. Durante décadas, os seus filmes fotam dificílimos de encontrar. Agora estão disponíveis em DVD e alguém teve a esplêndida ideia de colocar "Uma Noite no Monte Calvo", de 1933, no You Tube. Há coisas fantásticas, não há?

11.1.07

Ballade des pendus



Frères humains qui après nous vivez
N'ayez les coeurs contre nous endurciz,
Car, ce pitié de nous pauvres avez,
Dieu en aura plus tost de vous merciz.
Vous nous voyez ci, attachés cinq, six
Quant de la chair, que trop avons nourrie,
Elle est piéça devorée et pourrie,
Et nous les os, devenons cendre et pouldre.
De nostre mal personne ne s'en rie:
Mais priez Dieu que tous nous veuille absouldre!

Se frères vous clamons, pas n'en devez
Avoir desdain, quoy que fusmes occiz
Par justice. Toutefois, vous savez
Que tous hommes n'ont pas le sens rassiz;
Excusez nous, puis que sommes transsis,
Envers le filz de la Vierge Marie,
Que sa grâce ne soit pour nous tarie,
Nous préservant de l'infernale fouldre
Nous sommes mors, ame ne nous harie;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absouldre!

La pluye nous a débuez et lavez,
Et le soleil desséchez et noirciz:
Pies, corbeaulx nous ont les yeulx cavez
Et arraché la barbe et les sourciz.
Jamais nul temps nous ne sommes assis;
Puis ça, puis là, comme le vent varie,
A son plaisir sans cesser nous charie,
Plus becquetez d'oiseaulx que dez à couldre.
Ne soyez donc de nostre confrarie;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absouldre!

Prince Jhésus, qui sur tous a maistrie,
Garde qu'Enfer n'ait de nous seigneurie:
A luy n'avons que faire ne que souldre.
Hommes, icy n'a point de mocquerie;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absouldre.

François Villon (1431-634)

Porque sim

O tema do aborto é tão doloroso e complexo que um grande número de pessoas, talvez uma significativa maioria, não sabe bem o que pensar sobre ele. É assim, por exemplo, que certas mulheres, tendo elas próprias abortado em circunstâncias que entendem justificadas, são capazes de defender o "Não" por acreditarem que "as outras" poderão fazê-lo levianamente.

Não se tratando de uma causa que mobilize os eleitores para irem votar entusiasticamente, a abstenção só não tentará, por um lado, aqueles para quem a questão é premente (mulheres jovens, sobretudo), por outro lado, aqueles que, por convicção profunda, activamente militam em favor de uma ou outra posição.

Ao contrário do que às vezes se diz, as chamadas questões concretas têm menos poder motivador do que as grandes causas. Que tipo de motivações poderão então incitar os eleitores à participação?

Argumenta-se que não está aqui em causa uma clivagem entre direita e esquerda porque tanto há gente de direita a fazer campanha pelo "Sim" como gente de esquerda a fazer campanha pelo "Não". Trata-se de um equívoco: seja qual for o tema concreto em debate, haverá sempre votantes de direita que optarão pela posição apoiada pela esquerda e vice-versa.

É interessante notar, a este propósito, que, um pouco por todo o mundo, cada um dos lados escolhe em apoio da sua opção um argumento que, sem trair o essencial daquilo em que acredita, procura antes de mais neutralizar potenciais votantes da outra alternativa. Assim, a esquerda agita a "liberdade de escolha", um tema que procura agradar à direita, tradicionalmente adepta da "responsabilidade individual". Inversamente, a direita bate-se neste contexto pelo "direito à vida" para aliciar a esquerda que tanto valoriza a bandeira da "dignidade humana".

De uma forma implícita reconhece-se, portanto, que, à partida, as alternativas em confronto correspondem bastante bem à divisão entre direita e esquerda e faz-se o que se pode para desmobilizar o lado oposto sem desunir as próprias hostes.

Acredito por isso que os adeptos do "Não" criarão problemas para si mesmos se deslocarem o foco da sua argumentação do sempre perturbador tema do "direito à vida" para aqueloutro, tipicamente de direita, do combate à carga fiscal. Gato escondido com o rabo de fora é uma boa receita para a derrota.

Quanto aos partidários do "Sim", suponho que ganharão tudo em insistir em dois - e apenas dois - argumentos:

1. A experiência demonstra que nenhuma das muitas iniciativas bem intencionadas até agora tentadas aqui e noutros países se revelou capaz de pôr cobro ao aborto clandestino, com as terríveis consequências que se conhecem para a saúde das mulheres que o praticam.

2. Nestas condições, a única forma responsável de lidar com esse problema de saúde pública é a despenalização do aborto.

Evidentemente, isto não esgota o assunto. Mas é tudo o que é preciso para proporcionar uma clara orientação política ao movimento do "Sim" e para unir o maior número possível de pessoas em torno dele.

10.1.07

Não sei se pague ou se me indigne

Eles até estariam dispostos a votar "Sim", não tivessem sido assaltados pela terrível suspeita de que a miserável criadagem indigente sem dinheiro para ir a Badajoz planeia desatar a abortar desalmadamente à conta do Serviço Nacional de Saúde com o único propósito de lhes arruinar as finanças pessoais.

Com a ralé, todo o cuidado é pouco.

6.1.07

60s Crash Course - Beatles em Wembley (1964)

Como este video demonstra, os Beatles ao vivo não davam tréguas nem faziam prisioneiros. Para a semana há mais.

5.1.07

Ainda o discurso de Cavaco Silva

O que a declaração de fim do ano do Presidente da República basicamente evidenciou foi que, passado quase um ano sobre a sua eleição, Cavaco Silva ainda não encontrou o tom certo para o cargo que actualmente ocupa.

Diz agora o Presidente que quer resultados. Ora é absolutamente certo que em 2007 haverá resultados - só falta saber quais.

Cavaco Silva quer resultados na Justiça. Estará a pensar concretamente na condenação de alguém?

Cavaco Silva quer resultados de excelência na Educação. Faz algum sentido pedir isso quando o ponto de partida apenas roça o medíocre? E que padrões objectivos definem essa pretendida "excelência"?

Cavaco Silva quer resultados na Economia? Marques Mendes já adiantou, pela sua parte, que um crescimento inferior a 3% equivale a estagnação. Qual é a meta concreta do Presidente?

Como se vê, Cavo Silva não disse nada e, ao não dizê-lo, poderá sempre declarar-se satisfeito ou insatisfeito com a situação no final de 2007 conforme o recomendem as circunstâncias do momento.

De uma coisa podemos certos: a vir de algum lado, a oposição ao governo de José Sócrates virá certamente de Belém.

Serão os apoiantes de Cavaco Silva capazes de dar provas da paciência que a hora recomenda?

Não mexam no dinheiro dos partidários do "não"

O argumento a favor do "não" descambou recentemente do discutível mas respeitável plano da defesa da vida para um outro mais mesquinho de defesa do bolso do contribuinte.

Para além de os custos médios de um aborto apresentados por Maria José Nogueira Pinto serem completamente fantasiosos, faltaria ainda saber se, mesmo numa perspectiva de mero cálculo económico, não se revelarão ainda maiores os custos de tratamento de mulheres vítimas de abortos clandestinos feitos em precárias condições de higiene e segurança.

Mas é claro que, quando António Borges, com aquele seu arzinho de quem percebe de tudo menos do que interessa, explica aos alunos que na ideia dele todos somos, que, por cada 2,6 abortos há uma operação que deixa de se fazer, a gente entende que o que está em causa é outra coisa.

A insensibilidade revelada pelos que assim argumentam face aos sofrimentos provocados pelo aborto clandestino é, afinal, da mesma natureza que aquela que incita a populaça a recusar que o "seu dinheiro", o dinheiro "dos seus impostos", alimente, por exemplo, programas de rendimento mínimo garantido.

Admito que esta inflexão táctica renda votos aos partidários do não; mas parece-me que se trata de um argumento indigno pelo que revela de cego egoismo social e, afinal, de desprezo pela vida de pessoas que se encontram, de facto, vivas.
60s Crash Course - Pasolini fala sobre cinema e política


Católico de mal com a Igreja, comunista em choque com o Partido, homosexual assumido numa época em que isso era muito perigoso, romancista, poeta, polemista e cineasta, Pier Paolo Pasolini foi uma das figuras centrais da cultura italiana do pós-guerra. Em 1962, foi condenado a 4 meses de cadeia por ofensas à Religião e ao Estado. Foi barbaramente assassinado no ano de 1975 em circunstâncias nunca inteiramente esclarecidas.