22.4.07

Livros paralelos



Creio ter sido Hayek o primeiro a sugerir que um mercado deve ser entendido como um sistema de processamento descentralizado de informação. Uma boa parte - talvez a mais frutuosa - da investigação económica das últimas duas décadas dedicou-se a explorar essa intuição. Em resultado, graças a Stigler, Akerloff e Stiglitz, entre outros, compreendemos hoje muito melhor como de facto funcionam os mercados.

Em "Reinventing the Bazaar: A Natural History of Markets", John MacMillan consegue a proeza de apresentar de uma forma simultaneamente rigorosa e acessível os principais resultados da teoria económica da informação. O autor recorre a uma variedade de exemplos intrigantes e bem seleccionados, desde o mercado de flores de Alsmeer na Holanda aos leilões para atribuição de frequências do espectro electromagnético a empresas de telecomunicações. De passagem, explica convincentemente porque é que o capitalismo foi um sucesso na China e um fiasco na Rússia.

A forma como os mercados ajudam milhares de agentes independentes a usarem o melhor possível a informação de que dispõem para tomarem decisões simultaneamente correctas do seu ponto de vista particular e racionais do ponto de vista da comunidade é iluminada com os ensinamentos da teoria dos jogos, área em que John McMillan se sente particularmente à vontade.

Por outro lado, a economia da informação ajuda-nos também a compreender por que é que, às vezes, os mercados falham. Tanto a busca de informação como a sua interpretação têm custos. Um mercado bem formado incorpora mecanismos que lhe permitem manter a níveis razoavelmente baixos os custos de transacção que inevitavelmente resultam da dispersão da informação.

A economia da informação permite-nos também entender o que é necessário fazer para corrigir eventuais falha do mercado. Segundo Arrow, quando um mercado não funciona a primeira coisa que se deve fazer é tentar pô-lo a funcionar, e não substituí-lo precipitadamente por um qualquer mecanismo de decisão hierarquizado.

O tema central de John Kay no seu "The Truth About Markets: Their Genius, Their Limits, Their Follies" é precisamente o mesmo. Porém, embora Kay não fique a dever nada a McMillan, nem como economista nem como divulgador, a verdade é que o resultado dos seus esforços não chega desta vez ao nível da concorrência.

Ao passo que McMillan se centra nalguns quantos casos muito bem escolhidos para, através da sua discussão, ir progressivamente introduzindo as ideias fundamentais da economia da informação, Kay adopta o propósito muito mais ambicioso de passar en revista de uma forma sistemática os progressos da teoria económica na compreensão de como funcionam os mercados. O resultado é um calhamaço de 480 páginas de difícil digestão, lá onde MacMillan em apenas 278 de leitura entusiasmante.

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