O Zé boicotou enquanto lhe foi possível o avanço das obras no túnel do Marquês com evidente prejuízo para os lisboetas e o município, constatando-se agora que se tratou de uma batalha inteiramente destituída de sentido.
Mas António Barreto diz que o Zé faz falta, e António Barreto é um homem ponderado.
O Zé montou com o mano uma rocambolesca operação de escutas destinada a incriminar um empresário com ligações à Câmara Municipal de Lisboa.
Mas António Barreto diz que o Zé faz falta, e António Barreto é um homem ponderado.
O Zé revelou um insaciável apetite pela cobertura mediática, não resistindo à tentação de despejar as mais inacreditáveis patacoadas de cada vez que vislumbrava a possibilidade de aparecer mais uns segundos na televisão.
Mas António Barreto diz que o Zé faz falta, e António Barreto é um homem ponderado.
Bem vistas as coisas, é possível que António Barreto tenha razão.
O Zé faz muita falta para nos lembrar que a força política que o apoia não deve ser tomada demasiado a sério, visto que desde sempre - e já lá vão mais de 30 anos - o seu propósito central consiste apenas em disputar ao PCP o duvidoso privilégio de exercer a hegemonia sobre os destroços de um império ideológico em ruínas.
31.5.07
Momento Gonçalves
Empreendedorismo
O quadro "As tentações de Santo Antão" de Hieronymus Bosch, de onde este monstro foi retirado, está em Lisboa, no Museu de Arte Antiga, mas quem quiser comprar estas espantosas figurinhas terá que dirigir-se ao fornecedor americano.
Há algum tempo eu dera a ideia a alguém. Mas não vale a pena chorar sobre o leite derramado: há muitas outras coisas deste género que os museus portugueses podem fazer, e também muito designer com falta de trabalho...
Um dia haveremos de chegar a isto
Eis uma sugestão surpreendente mas lógica de Robert Reich, ex-Secretário de Estado na administração Clinton, sobre como punir os super-ricos que recorrem aos off-shore para fugir aos impostos:
A dúvida é esta: será que eles se ralariam?
I’ve been thinking a lot about the immigration bill now pending before Congress - especially the conditions undocumented workers will have to meet if they want to become American citizens. One of them is to pay all the taxes they owe.
The new immigration bill may not make it through Congress, but that provision about paying taxes that are owed in order to be a citizen serves as a reminder that paying taxes is one of the major obligations of citizenship. After all, if we didn’t pay the taxes we owe, we wouldn’t have public schools, police and fire protection, national defense, homeland security, roads and bridges, Medicare and Social Security, and other things we need.
So when the super-rich use offshore tax havens to avoid paying what they owe in taxes, they’re reneging on their duties as citizens. It seems only fair to me that the consequence of that kind of tax avoidance ought to be loss of citizenship. If it’s more important to someone to avoid paying what they owe in taxes than to continue being an American, then let them keep their money. They can become a citizen of the Cayman Islands or Bermuda or wherever else they store their wealth, and come here on a visitor’s visa - if they can get one.
A dúvida é esta: será que eles se ralariam?
30.5.07
Balanço de uma greve geral
Diz-se por aí muito mal dos empresários, dos autarcas, das escolas, dos hospitais e dos tribunais, mas, na verdade, a pior coisinha que cá temos são os sindicatos. Parece que até a Roménia e a Macedónia estarão em vias de passar-nos à frente.
Ascendência
Dizia-se que os soixante-huitards eram filhos de Marx e da Coca-Cola. Como em Portugal ambos eram proibidos, suponho que sou mais filho do Tintim e da Laranjada do Buçaco.
Temos que dar mais oportunidades aos nossos velhinhos
Simon Perez, com 83 anos de idade, acaba de assumir a candidatura à sucessão de Ehud Olmert como primeiro-ministro de Israel.
Correcção: Perez é candidato a Presidente da República.
29.5.07
A tremer é que a gente se entende
À primeira vista, dir-se-ia que a Macedónia se encontra em estado de desespero terminal. Mas não duvido que o Tavares Moreira estará bem informado sobre o assunto. Foi a isso que ele sempre nos habituou, não é verdade?
Vamos todos tremer de medo ao mesmo tempo, está bem?
Vamos todos tremer de medo ao mesmo tempo, está bem?
Rei da selva?
Quem ainda acredita que a derrota é mais poética do que a vitória, deve ver isto aqui. Note-se que, com os dragões, estas coisas nunca acontecem.
60s Crash Course - Cat Stevens: Matthew & Son/ Granny
Observando com muita atenção, é possível detectar-se já neste video o radical islâmico Yusuf sob a aparência do inocente cantor pop Stevens. Reparem bem nos olhares mal-intencionados que ele lança sobre os parzinhos de adolescentes enamorados que evoluem na pista de dança.
Reforma fiscal?
Por que é que tenho escrito tão pouco nos últimos dias? Fiquei esgotado com o preenchimento da declaração do IRS...
Poderia a flat rate resolver este problema?
Poderia a flat rate resolver este problema?
28.5.07
Impostos e equidade
A teoria do ciclo de vida do Nobel Franco Modigliani sustenta que os jovens consomem uma porção mais elevada dos seus rendimentos do que os mais velhos. Dito de outra forma, poupam relativamente menos. Desse modo, os primeiros endividam-se enquanto os segundos poupam para lhes emprestar o dinheiro de que necessitam.
Decorre daqui, creio eu, que a eliminação do imposto sobre o rendimento e a sua substituição por um imposto sobre as transacções mais elevado, sustentada por Luis Aguiar-Conraria e criticada por Vital Moreira, aumentaria a carga fiscal dos jovens e aliviaria a dos velhos.
Decorre daqui, creio eu, que a eliminação do imposto sobre o rendimento e a sua substituição por um imposto sobre as transacções mais elevado, sustentada por Luis Aguiar-Conraria e criticada por Vital Moreira, aumentaria a carga fiscal dos jovens e aliviaria a dos velhos.
27.5.07
Não há mal que sempre dure...
Buzinadelas eufóricas e cachecóis orgulhosos animam a noite desde as sete da tarde aqui nas imediações do estádio de Alvalade. Só agora reparo que, para os sportinguistas, conquistar a Taça de Portugal (3 nos últimos 20 anos) é uma emoção comparável à dos portistas quando são campeões europeus (duas vezes nos últimos 20 anos).
21.5.07
Telmo de algum modo Correia
Telmo Correia, há minutos, na SIC Notícias; "Eu, de algum modo, nasci em Alvalade..."
Quantas mais coisas não será ou não fará este homem "de algum modo"?
Quantas mais coisas não será ou não fará este homem "de algum modo"?
Those were the days
O FC Porto dos bons velhos tempos teria tido o sangue frio de aguentar até ao minuto 90 para só então, com Alvalade em transe, arrumar o Aves.
A táctica, este ano, chamou-se suplício de Tântalo. Para o próximo, está em preparação uma tortura pior.
A táctica, este ano, chamou-se suplício de Tântalo. Para o próximo, está em preparação uma tortura pior.
20.5.07
18.5.07
Branca
Ajudem-me, por favor: lembrem-me uma coisa importante que Helena Roseta tenha feito em 35 anos de vida política profissional.
De modernização em modernização até à derrota final
Um falso amigo informou-me de que, agora, já é possível registar-se marcas na internet através do site do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Com a minha habitual inocência lá me lancei à tarefa. Confesso que falhei miseravelmente. A coisa revelou-se demasiado difícil para a minha competência.
Hoje, dirigi-me a um Centro de Formalidades de Empresas (a designação é infeliz, mas isso fica para outra vez) em busca de ajuda. "É muito fácil, vai ver!", anunciou-me a solícita funcionária.
Duas horas depois, ainda estávamos de volta do registo, apesar de ela ter repetidamente consultado o help-desk interno enquanto eu ía lá abaixo pôr mais moedas no parquímetro. Como não conseguíamos desencalhar o processo, pedi o impresso em papel e comecei a preenchê-lo.
Duas surpresas: 1) o impresso em papel preenche-se em 5 minutos; 2) o impresso em papel coloca muito menos perguntas do que o impresso online.
A funcionária é que não se deu por vencida. Ligou para o INPI e expôs a nossa dificuldade. De lá, responderam-lhe que era muito fácil, mas, por último, tiveram que reconhecer que também eles, os donos da coisa, não conseguiam resolver o problema.
Propuseram, então, que enviássemos por fax a informação que não fora aceite pelo sistema.
Naturalmente, eu tenho uma sugestão melhor: voltemos aos impressos de papel, que não só são mais simples como ajudam a desenvolver a indústria da celulose.
De modo que o quadro geral é este. Alguém resolveu informatizar o sistema do registo de marcas, não por que seja melhor, mas por que é mais moderno e o primeiro-ministro gosta disso.
Esta amostra de modernização não serve qualquer propósito útil, não foi devidamente testada antes de ser disponibilizada ao público e os funcionários não receberam o treino apropriado.
Resultado: uma tarefa que eu poderia ter completado em 5 minutos tomou-me - a mim e à simpática funcionária - uma manhã inteira. Espera aí, ó Europa, que eu já te apanho!
Com a minha habitual inocência lá me lancei à tarefa. Confesso que falhei miseravelmente. A coisa revelou-se demasiado difícil para a minha competência.
Hoje, dirigi-me a um Centro de Formalidades de Empresas (a designação é infeliz, mas isso fica para outra vez) em busca de ajuda. "É muito fácil, vai ver!", anunciou-me a solícita funcionária.
Duas horas depois, ainda estávamos de volta do registo, apesar de ela ter repetidamente consultado o help-desk interno enquanto eu ía lá abaixo pôr mais moedas no parquímetro. Como não conseguíamos desencalhar o processo, pedi o impresso em papel e comecei a preenchê-lo.
Duas surpresas: 1) o impresso em papel preenche-se em 5 minutos; 2) o impresso em papel coloca muito menos perguntas do que o impresso online.
A funcionária é que não se deu por vencida. Ligou para o INPI e expôs a nossa dificuldade. De lá, responderam-lhe que era muito fácil, mas, por último, tiveram que reconhecer que também eles, os donos da coisa, não conseguiam resolver o problema.
Propuseram, então, que enviássemos por fax a informação que não fora aceite pelo sistema.
Naturalmente, eu tenho uma sugestão melhor: voltemos aos impressos de papel, que não só são mais simples como ajudam a desenvolver a indústria da celulose.
De modo que o quadro geral é este. Alguém resolveu informatizar o sistema do registo de marcas, não por que seja melhor, mas por que é mais moderno e o primeiro-ministro gosta disso.
Esta amostra de modernização não serve qualquer propósito útil, não foi devidamente testada antes de ser disponibilizada ao público e os funcionários não receberam o treino apropriado.
Resultado: uma tarefa que eu poderia ter completado em 5 minutos tomou-me - a mim e à simpática funcionária - uma manhã inteira. Espera aí, ó Europa, que eu já te apanho!
Compostura
Com previsível periodicidade, as mulheres vão variando a peça de carne em promoção. Num ano é a barriguinha, noutro o colo. Chegados enfim os dias de sol, ficámos todos a saber que, agora, é a vez da pernoca.
Há que dizê-lo com frontalidade: nós, os homens, somos um sexo mais compostinho.
Há que dizê-lo com frontalidade: nós, os homens, somos um sexo mais compostinho.
17.5.07
Já demos
Notícias da pedinchice nacional recolhidas no DN de ontem:
1. O Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol quer que o fundo de pensões dos futebolistas seja isentado de impostos.
2. O Presidente da Assembleia Municipal de Almada quer que o preço do bilhete de Metro baixe de 1 € para 0,50 €.
2. A Associação Empresarial de Portugal quer que o Estado subsidie o projecto de promoção dos produtos nacionais "Compre o que é Nosso".
Tudo isto num só dia.
1. O Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol quer que o fundo de pensões dos futebolistas seja isentado de impostos.
2. O Presidente da Assembleia Municipal de Almada quer que o preço do bilhete de Metro baixe de 1 € para 0,50 €.
2. A Associação Empresarial de Portugal quer que o Estado subsidie o projecto de promoção dos produtos nacionais "Compre o que é Nosso".
Tudo isto num só dia.
O pé na porta de Nicolas Sarkozy
Em tempos de markting delicodoce, comunicação evanescente e posicionamentos não-me-toques, é natural que os consumidores comecem a sentir-se enjoados.
De maneira que estão criadas as condições para o sucesso das velhas e garantidas técnicas hard-sell dos vendedores que dizem claramente ao que vêm e afirmam sem rodeios: "Sou o melhor. Eis por que devem preferir-me."
Sarkozy tem ar de vendedor de automóveis, é verdade; mas, em vez de procurar disfarçá-lo, assume-o.
Não se esqueçam: também as abordagens directas, inspiradas na quase esquecida sequência persuasiva Atenção-Interesse-Desejo-Acção, podem ser uma forma eficaz de disruption.
16.5.07
Politiquice
Os comentários em torno das candidaturas ao município de Lisboa que se lêem e ouvem por aí (blogoesfera incluída) norteiam-se pela politiquice mais rasteira. Se toda a gente prefere entreter-se com questiúnculas irrelevantes em vez de discutir a política para a capital, não poderemos depois admirar-nos de que Lisboa esteja como está.
Deus escreve direito por linhas tortas
Imaginem que o Benfica chegava à final da Taça UEFA e era derrotado pelo Sevilha. Seria, claro está, uma humilhação.
Dá muito menos nas vistas perder com o Espanyol nos quartos de final. Vendo bem, foi melhor assim.
Dá muito menos nas vistas perder com o Espanyol nos quartos de final. Vendo bem, foi melhor assim.
O meu filho chama-se Tide
Nos EUA há cada vez mais crianças chamadas Canon, Bentley, Jaguar, Chanel, Porsche, Timberland, Reebok e Xerox. Um estudo americano encontrou mesmo 24 miúdos com o nome Unique.
60s Crash Course - The Who: I'm a Boy
A Revolução Agrícola, proveniente da longínqua Mesopotâmia, terá demorado entre 2 a 3 mil anos a chegar a este longínquo território do sudoeste da Europa. Esperámos depois mais de um século pela Revolução Industrial. Mas eis que agora, com um atraso de apenas 40 anos, chegam até nós os Who. É a isto que se chama convergência.
15.5.07
Desargumentação
Helena Matos assina no Público de ontem (ando com as leituras atrasadas) um artigo fascinante. Não tanto pelo conteúdo como pela forma, que revela de uma forma exemplar o habitual template das suas intervenções públicas.
Ora vejam:
1. A inspiração da autora provém com frequência de um crime, que tanto pode ser um assassinato, uma violação ou uma simples agressão. Esta semana a escolha recaiu sobre uma mão cheia de acontecimentos registados em França no passado recente: o ataque a um autocarro em Marselha, o lançamento de fogo a caixotes do lixo e violências diversas sobre escolas e automóveis.
2. As vítimas são sempre pessoas vulgares, de preferência pobres e pertencentes a minorias étnicas. Neste caso trata-se de Mama Galledou, cidadã francesa nascida no Senegal, cujo corpo sofreu extensas queimaduras, e de Jean-Charles Le Chenadec, assassinado por um bando de delinquentes quando tentava salvar o seu automóvel.
3. Helena indigna-se por não se ter falado suficientemente dos dramas dessas pessoas, e em particular por não ter havido manifestações para denunciar tais violências.
4. Helena indigna-se por as pessoas de esquerda não aceitarem que os responsáveis pelos actos narrados são criminosos que escolhem como seus alvos os mais pobres e os mais frágeis.
5. Helena indigna-se por as pessoas de esquerda em geral, e Rui Tavares em particular, invocarem o racismo latente na sociedade francesa para explicarem os surtos de violência nos seus subúrbios.
Chegados a este ponto, constatamos que Helena tem um de dois problemas: ou não conhece ninguém de esquerda que possa explicar-lhe o que a esquerda de facto pensa; ou tem dificuldade em acompanhar raciocínios um bocadinho mais elaborados do que aqueles que podemos encontrar no 24 Horas.
Manifestamente, Helena não entende que um acto não deixa de ser criminoso pelo facto de poder ser explicado por causas sociais. Tal como não entende que não é a classificação dos actos mencionados como criminosos que distingue a esquerda da direita, mas o facto de a direita se satisfazer com isso e a esquerda não.
A direita recusa-se a procurar compreender o que pode ter causado um tal surto de violência urbana. Para ela, trata-se de um mero caso de polícia. Quanto à esquerda, considera que a actuação policial só tem efeitos no imediato e que, se não forem removidas as causas, elas voltarão a produzir efeitos similares mais cedo ou mais tarde.
A direita é míope, e pelos vistos orgulha-se disso. Recusa-se a contemplar soluções de fundo para os motins porque deseja que tudo continue na mesma. A esquerda procura perceber o que se passa para poder ir à raiz do problema. E também se orgulha disso.
Virando agora as nossa atenções para a estrutura do argumento apresentado, podemos talvez resumi-lo do seguinte modo:
1. Os casos de polícia respigados do 24 Horas ou do Jornal do Crime provam que a comentadora se encontra sintonizada com o sentimento popular.
2. Ao contrário da esquerda, a direita está atenta aos sofrimentos dos pobres e oprimidos.
3. Embora a esquerda se arvore em defensora da gente remediada e dos imigrantes, a verdade é que os despreza.
4. Em conclusão, é a direita que encarna o ideal de justiça correctamente entendido.
Note-se que, para que o esquema funcione, basta atribuir à esquerda a opinião que mais convém à conclusão que Helena nos quer propor.
Uma ou duas vezes - vá lá, meia dúzia de vezes - isto pode fazer algum efeito. Repetido semana após semana, põe a nu a pobreza do raciocínio. Estou convencido de que seria possível construir um programa de computador capaz de produzir dezenas de argumentos deste género.
Ora vejam:
1. A inspiração da autora provém com frequência de um crime, que tanto pode ser um assassinato, uma violação ou uma simples agressão. Esta semana a escolha recaiu sobre uma mão cheia de acontecimentos registados em França no passado recente: o ataque a um autocarro em Marselha, o lançamento de fogo a caixotes do lixo e violências diversas sobre escolas e automóveis.
2. As vítimas são sempre pessoas vulgares, de preferência pobres e pertencentes a minorias étnicas. Neste caso trata-se de Mama Galledou, cidadã francesa nascida no Senegal, cujo corpo sofreu extensas queimaduras, e de Jean-Charles Le Chenadec, assassinado por um bando de delinquentes quando tentava salvar o seu automóvel.
3. Helena indigna-se por não se ter falado suficientemente dos dramas dessas pessoas, e em particular por não ter havido manifestações para denunciar tais violências.
4. Helena indigna-se por as pessoas de esquerda não aceitarem que os responsáveis pelos actos narrados são criminosos que escolhem como seus alvos os mais pobres e os mais frágeis.
5. Helena indigna-se por as pessoas de esquerda em geral, e Rui Tavares em particular, invocarem o racismo latente na sociedade francesa para explicarem os surtos de violência nos seus subúrbios.
Chegados a este ponto, constatamos que Helena tem um de dois problemas: ou não conhece ninguém de esquerda que possa explicar-lhe o que a esquerda de facto pensa; ou tem dificuldade em acompanhar raciocínios um bocadinho mais elaborados do que aqueles que podemos encontrar no 24 Horas.
Manifestamente, Helena não entende que um acto não deixa de ser criminoso pelo facto de poder ser explicado por causas sociais. Tal como não entende que não é a classificação dos actos mencionados como criminosos que distingue a esquerda da direita, mas o facto de a direita se satisfazer com isso e a esquerda não.
A direita recusa-se a procurar compreender o que pode ter causado um tal surto de violência urbana. Para ela, trata-se de um mero caso de polícia. Quanto à esquerda, considera que a actuação policial só tem efeitos no imediato e que, se não forem removidas as causas, elas voltarão a produzir efeitos similares mais cedo ou mais tarde.
A direita é míope, e pelos vistos orgulha-se disso. Recusa-se a contemplar soluções de fundo para os motins porque deseja que tudo continue na mesma. A esquerda procura perceber o que se passa para poder ir à raiz do problema. E também se orgulha disso.
Virando agora as nossa atenções para a estrutura do argumento apresentado, podemos talvez resumi-lo do seguinte modo:
1. Os casos de polícia respigados do 24 Horas ou do Jornal do Crime provam que a comentadora se encontra sintonizada com o sentimento popular.
2. Ao contrário da esquerda, a direita está atenta aos sofrimentos dos pobres e oprimidos.
3. Embora a esquerda se arvore em defensora da gente remediada e dos imigrantes, a verdade é que os despreza.
4. Em conclusão, é a direita que encarna o ideal de justiça correctamente entendido.
Note-se que, para que o esquema funcione, basta atribuir à esquerda a opinião que mais convém à conclusão que Helena nos quer propor.
Uma ou duas vezes - vá lá, meia dúzia de vezes - isto pode fazer algum efeito. Repetido semana após semana, põe a nu a pobreza do raciocínio. Estou convencido de que seria possível construir um programa de computador capaz de produzir dezenas de argumentos deste género.
11.5.07
"Depuis la mort de Napoléon, il s'est trouvé un autre homme duquel on parle tous les jours à Moscou comme à Naples, à Londres comme à Vienne, à Paris comme à Calcutta"
Reformou-se rico aos 37 anos de idade, depois de ter composto 39 óperas em 19 anos, tanto sérias como cómicas. Depois disso, o seu talento só produziu mais um Stabat Mater e o tornedó Rossini.
Stendhal, que atravessou a Itália para o encontrar, e depois o seguiu para assistir aos espectáculos que dirigia em pequenos teatros de província, afirmou que não conhecera no país nenhum outro homem de tão brilhante intelecto. Parece certo que Rossini foi simultaneamente o mais inteligente e o mais amável dos músicos.
Passava as manhãs na cama a conversar com uma turba de amigos que recebia no seu quarto. Certa vez que o libretista Totola lhe apareceu com uma versão melhorada do terceiro acto de Moisés no Egipto, Rossini levantou-se da cama em camisa de noite e bastaram-lhe dez minutos para compor uma nova ária, sem precisar de testá-la ao piano e sempre rodeado por uma multidão de pândegos rindo e conversando em voz alta.
Quando Wagner visitou Paris em 1860, ouviu dizer que Rossini gostava de contar anedotas a seu respeito, de modo que não se atreveu a ir visitá-lo. Mas Rossini chamou-o e pediu ao alemão que lhe explicasse as suas ideias sobre a Música do Futuro. No final concluíu humildemente que tinha andado a tentar pôr em prática as doutrinas de Wagner sem o saber.
Embora no seu tempo fosse sobretudo apreciado pelas óperas sérias que compôs, hoje quase só as cómicas continuam a ser representadas, o que contribui para lhe criar uma reputação de músico ligeiro e superficial. "A Italiana em Argel", actualmente em cena no S. Carlos, confirma como é injusta essa apreciação. Na música como nas restantes artes, há muito menos obras-primas cómicas do que sérias.
Reformou-se rico aos 37 anos de idade, depois de ter composto 39 óperas em 19 anos, tanto sérias como cómicas. Depois disso, o seu talento só produziu mais um Stabat Mater e o tornedó Rossini.
Stendhal, que atravessou a Itália para o encontrar, e depois o seguiu para assistir aos espectáculos que dirigia em pequenos teatros de província, afirmou que não conhecera no país nenhum outro homem de tão brilhante intelecto. Parece certo que Rossini foi simultaneamente o mais inteligente e o mais amável dos músicos.
Passava as manhãs na cama a conversar com uma turba de amigos que recebia no seu quarto. Certa vez que o libretista Totola lhe apareceu com uma versão melhorada do terceiro acto de Moisés no Egipto, Rossini levantou-se da cama em camisa de noite e bastaram-lhe dez minutos para compor uma nova ária, sem precisar de testá-la ao piano e sempre rodeado por uma multidão de pândegos rindo e conversando em voz alta.
Quando Wagner visitou Paris em 1860, ouviu dizer que Rossini gostava de contar anedotas a seu respeito, de modo que não se atreveu a ir visitá-lo. Mas Rossini chamou-o e pediu ao alemão que lhe explicasse as suas ideias sobre a Música do Futuro. No final concluíu humildemente que tinha andado a tentar pôr em prática as doutrinas de Wagner sem o saber.
Embora no seu tempo fosse sobretudo apreciado pelas óperas sérias que compôs, hoje quase só as cómicas continuam a ser representadas, o que contribui para lhe criar uma reputação de músico ligeiro e superficial. "A Italiana em Argel", actualmente em cena no S. Carlos, confirma como é injusta essa apreciação. Na música como nas restantes artes, há muito menos obras-primas cómicas do que sérias.
60s Crash Course - The Beatles: Roll Over Beethoven
Não posso ouvir esta canção sem me lembrar do terremoto de 1969, mas de momento não me apetece explicar porquê.
10.5.07
Monsieur
Monsieur, de Lawrence Durrell: surpreendido pelo virtuosismo da escrita e pela desordem da parte final do livro. Mas recordo ter lido há dias que também Cervantes entregava ao editor uma papelada caótica que ele se encarregava de ordenar. De modo que, porventura, o que caracteriza a literatura moderna talvez não seja a propensão para a multiplicidade de perspectivas, mas a falta de criadagem que, também no que à organização dos romances respeita, se encarregue da lida da casa.
The halo effect
John Kay: Leaders should say goodbye to their haloes, no Financial Times de 3ª feira.
9.5.07
60s Crash Course - The Four Seasons: Let's Hang On
Apresentando o inimitável e incomparável Frankie Valli, o rei do falseto.
Tribos pós-modernas
Num fascinante artigo publicado no DN de hoje acerca da micro-tribo dos piraãs da Amazónia, cuja linguagem é a mais pobre que se conhece, leio o seguinte:
Desde os tempos ancestrais que produziram a estranha língua dos piraãs até à actualidade a humanidade progrediu imenso.
Ultimamente, porém, cada vez mais indivíduos da nossa espécie parecem estar em vias de regredir a esse estado primordial, de modo que há para aí alguns blogues de direita que se enquadram perfeitamente na descrição de Daniel Everett. Em quais estou a pensar? Se não se importam, prefiro não nomear nomes.
(Ler também, a este propósito, o meu outro post de hoje: Blair no aquário.)
«A ausência de tempos verbais influencia também a falta de consciência histórica e a inexistência de deuses ou mitos. "Não há entre os piraãs memória individual ou colectiva para além de duas gerações e nenhum consegue recordar os nomes dos seus quatro avós", como descreve Daniel Everett. "Restringem a comunicação à experiência imediata", explica, e como tal não conseguem abstrair-se e criar ficções, por isso mesmo não têm qualquer vocação para a arte.»
Desde os tempos ancestrais que produziram a estranha língua dos piraãs até à actualidade a humanidade progrediu imenso.
Ultimamente, porém, cada vez mais indivíduos da nossa espécie parecem estar em vias de regredir a esse estado primordial, de modo que há para aí alguns blogues de direita que se enquadram perfeitamente na descrição de Daniel Everett. Em quais estou a pensar? Se não se importam, prefiro não nomear nomes.
(Ler também, a este propósito, o meu outro post de hoje: Blair no aquário.)
Por quê?
Estaline, o incansável censor de toda e qualquer forma de expressão cultural independente, telefonava às quatro da manhã ao infeliz Bulgakov para discutir literatura. Por quê?
Blair, o homem sem convicções obcecado pela popularidade, destruíu a simpatia de que gozava abraçando com o entusiasmo dos zelotas a cruzada de Bush no Iraque. Por quê?
Tendo acumulado uma fortuna fabulosa, Bill Gates quer ficar na história como um amigo da humanidade. Depois de introduzir os seus contemporâneos à interpretação racional do Universo, Tales de Mileto dedicou-se a constituír fortuna para provar-lhes que não era parvo.
Uma vez alcançado o sucesso absoluto na área particular em que unanimemente lhes é reconhecida competência, todos os homens se esforçam em seguida por demonstrar serem também aquilo que não acreditamos poderem ser.
Só isso lhes permite provar a sua superioridade sobre-humana em relação ao vulgo. Eles não são só melhores que nós numa dada área: eles são perfeitos.
Blair, o homem sem convicções obcecado pela popularidade, destruíu a simpatia de que gozava abraçando com o entusiasmo dos zelotas a cruzada de Bush no Iraque. Por quê?
Tendo acumulado uma fortuna fabulosa, Bill Gates quer ficar na história como um amigo da humanidade. Depois de introduzir os seus contemporâneos à interpretação racional do Universo, Tales de Mileto dedicou-se a constituír fortuna para provar-lhes que não era parvo.
Uma vez alcançado o sucesso absoluto na área particular em que unanimemente lhes é reconhecida competência, todos os homens se esforçam em seguida por demonstrar serem também aquilo que não acreditamos poderem ser.
Só isso lhes permite provar a sua superioridade sobre-humana em relação ao vulgo. Eles não são só melhores que nós numa dada área: eles são perfeitos.
Blair no aquário
Por que é que os peixinhos dourados não morrem de tédio nos seus aquários? Porque, carecendo de memória, se deliciam com a excitante novidade que esse previsível ambiente a cada momento lhes proporciona.
David Marquand acredita que, na sociedade sem sentido histórico em que vivemos, a memória zero tende a afectar toda a gente, e chama "presentismo" a essa patologia da pós-modernidade. Na opinião dele, desenvolvida num notável artigo incluído no último número da New Statesman, é também desse mal que padece Tony Blair:
Blair's fatal flaw was not just that he knew no history. It was that he had no sense of history, that he was constitutionally incapable of thinking historically. He was a sucker for novelty, particularly when it was wrapped up in pompous sociologese. His fascination with fashionable glitz, his crass talk of a "New Britain" and a "Young Country" and his disdain for the wisdom of experts who had learned the lessons of the past better than he had were all part of the same deadly syndrome. No one with a sense of history could possibly have thought that 9/11 marked a historic turning point, that Saddam Hussein posed an unprecedented threat to the world, or that Iraq, of all places, could be transformed, at the point of a gun, into a beacon of western-style democracy. But, by a terrible irony, the presentism that brought Blair to his doom had been new Labour's passport to power. Not for the first time in political history, the road to hell mimicked an earlier road to heaven.
"Sucker for novelty": bela expressão! Há tanto disso por aí.
60s Crash Course - Ike & Tina Turner: River Deep, Mountain High
1. Alguns brancos passaram para o lado de lá. Poucos negros, entre eles Ike e Tina, fizeram na altura o esforço de passar para o lado de cá.
2. As Iketes não são nada de deitar fora.
3. Vendo bem, o Ike tem pinta de gigolo.
O reino da trafulhice
Se a trafulhice está em toda a parte, não há no fundo grande mal em sermos também nós próprios pelo menos um bocadinho trafulhas. O mundo não piora por isso, e nós, armados em anjinhos, só nos prejudicaremos se não agirmos com o pragmatismo que a vida impõe.
Afinal, o indivíduo inteligente, que não se deixa comer por parvo, sabe que o homem é intrinsecamente mau e que, como dizia aquele grande filósofo, "o fair-play é uma treta".
Outra maneira de dizer isto: se a trafulhice está em toda a parte, então não está em parte alguma. Não é propriamente um comportamento criticável, mas apenas uma forma socialmente aceite de adultos conscientes se relacionarem uns com os outros. Ninguém de facto engana ninguém, porque é isso que se espera que toda a gente faça.
Um último ponto: a minha experiência pessoal sugere que, com frequência, as pessoas que vêm trafulhice em toda a parte são elas próprias muito versadas em trafulhice. O generoso tende a encontrar generosidade onde quer que vá, tal como o interesseiro se imagina sempre cercado por interesseiros. Todos temos tendência a interpretar os comportamentos dos outros à luz das nossas próprias motivações.
Afinal, o indivíduo inteligente, que não se deixa comer por parvo, sabe que o homem é intrinsecamente mau e que, como dizia aquele grande filósofo, "o fair-play é uma treta".
Outra maneira de dizer isto: se a trafulhice está em toda a parte, então não está em parte alguma. Não é propriamente um comportamento criticável, mas apenas uma forma socialmente aceite de adultos conscientes se relacionarem uns com os outros. Ninguém de facto engana ninguém, porque é isso que se espera que toda a gente faça.
Um último ponto: a minha experiência pessoal sugere que, com frequência, as pessoas que vêm trafulhice em toda a parte são elas próprias muito versadas em trafulhice. O generoso tende a encontrar generosidade onde quer que vá, tal como o interesseiro se imagina sempre cercado por interesseiros. Todos temos tendência a interpretar os comportamentos dos outros à luz das nossas próprias motivações.
Há momentos em que esta coisa dos blogues quase parece justificada
"O cábula", pelo Maradona: uma das melhores coisas que li nos últimos tempos.
7.5.07
Batoteiros
A solução para o impasse constitucional europeu advogada pelos trampolineiros da escola do Sarkozy consiste em prescindir dos referendos populares como expediente para furtar ao voto popular a política europeia que eles preferem.
Por outras palavras, é preciso referendo para sufragar o federalismo, mas não é preciso referendo para decidir aquilo a que eles eufemisticamente chamam "um mero arranjo institucional". Por cá, também já ouvimos o Pacheco Pereira dizer isto. Ora sucede que o principal resultado desse "arranjo institucional" seria o de agravar o défice democrático da União Europeia consolidando o directório das grandes potências (com a França à cabeça, já se vê).
Logo, segundo eles, a opção democrática tem que ir a votos, mas não a anti-democrática. Chama-se a isto fazer batota.
A bem dizer, o que deveria ser feito era pedirem-nos para escolhermos entre uma e outra alternativa. Mas isso, bem entendido, jamais sucederá.
Por outras palavras, é preciso referendo para sufragar o federalismo, mas não é preciso referendo para decidir aquilo a que eles eufemisticamente chamam "um mero arranjo institucional". Por cá, também já ouvimos o Pacheco Pereira dizer isto. Ora sucede que o principal resultado desse "arranjo institucional" seria o de agravar o défice democrático da União Europeia consolidando o directório das grandes potências (com a França à cabeça, já se vê).
Logo, segundo eles, a opção democrática tem que ir a votos, mas não a anti-democrática. Chama-se a isto fazer batota.
A bem dizer, o que deveria ser feito era pedirem-nos para escolhermos entre uma e outra alternativa. Mas isso, bem entendido, jamais sucederá.
Esquerda e direita, em França e alhures
O André Freire sustenta hoje no Público que em França se travou um combate ideologicamente puro entre esquerda e direita, uma opinião diametralmente oposta àquela que aqui expus há dias.
Lendo o artigo fica-se a perceber que, para o André, ser-se de esquerda significa defender os empregos dos funcionários públicos (mesmo quando não fazem nada de útil) e dificultar a vida às empresas. (Sei que estou a simplificar um bocadinho, mas não muito. Espero que o André não me leve a mal.)
Ora, para mim, a esquerda só tem justificação se servir para proteger os fracos da opressão dos poderosos (sejam eles privados ou estatais) e não para proteger corporações que parasitam a sociedade.
Lendo o artigo fica-se a perceber que, para o André, ser-se de esquerda significa defender os empregos dos funcionários públicos (mesmo quando não fazem nada de útil) e dificultar a vida às empresas. (Sei que estou a simplificar um bocadinho, mas não muito. Espero que o André não me leve a mal.)
Ora, para mim, a esquerda só tem justificação se servir para proteger os fracos da opressão dos poderosos (sejam eles privados ou estatais) e não para proteger corporações que parasitam a sociedade.
60s Crash Course - Ike & Tina Turner: The Big TNT Show
Agora que toda a gente sabe que o malvado Ike enchia a pobre Tina de porrada, até parece mal dizer isto, mas a verdade é que ele era um músico poderoso. Confiram aqui.
Tabaco e paternalismo
Ex-fumador intensivo em definitivo curado do vício há uma boa dúzia de anos, mantenho uma elevada tolerância em relação àqueles que têm dificuldade em deixá-lo. Ao meu lado, já sabem que podem fumar à vontade.
Ainda assim, concordo inteiramente com a proposta de lei anti-tabaco, pelo que aproveito para recomendar o post que em sua defesa escreveu o Tiago Mendes, a meu ver um modelo de argumentação liberal esclarecida.
Ainda assim, julgo detectar no artigo que sobre o mesmo assunto publicou no Diário Económico um resquício de desnecessário doutrinarismo quando afirma, criticando aquilo a que chama o "paternalismo do legislador", que "ao Estado cabe informar, não recomendar".
Se se trata de um princípio geral, não concordo. Há comportamentos que o Estado não só deve recomendar, como tornar obrigatórios. Enquadra-se nesse caso a vacinação contra certas doenças, sempre que se demonstre que a generalidade dos cidadãos ou não está consciente da sua perigosidade, ou não entende como é fácil evitá-las.
O tradicional argumento liberal contra a recomendação pelo Estado de certos comportamentos assenta no princípio de que ele não deve interferir nas escolhas privadas de adultos autónomos. Todavia, a bondade desse princípio depende por sua vez de duas hipóteses teóricas, a saber: a) que as pessoas fazem escolhas; b) que as pessoas sabem o que é melhor para elas. Acontece que múltiplas investigações põem em causa a veracidade de qualquer uma delas.
Concluo daí que o paternalismo não é necessariamente uma má coisa. Logo, também aqui teremos que aceitar que só uma ponderação caso a caso dos valores e direitos em presença permitirá concluir qual será a melhor solução.
PS - Uma nota final, ainda referente ao artigo citado. Não me parece correcto dizer-se que Coase "mostrou" que "a negociação entre agentes, na presença de uma externalidade, resulta numa situação eficiente desde que os direitos de propriedade sejam claros". Limitou-se a chamar a atenção para a possibilidade de que isso aconteça. Teoremas abstractos não provam nada. Apenas a pesquisa empírica pode fazê-lo.
Ainda assim, concordo inteiramente com a proposta de lei anti-tabaco, pelo que aproveito para recomendar o post que em sua defesa escreveu o Tiago Mendes, a meu ver um modelo de argumentação liberal esclarecida.
Ainda assim, julgo detectar no artigo que sobre o mesmo assunto publicou no Diário Económico um resquício de desnecessário doutrinarismo quando afirma, criticando aquilo a que chama o "paternalismo do legislador", que "ao Estado cabe informar, não recomendar".
Se se trata de um princípio geral, não concordo. Há comportamentos que o Estado não só deve recomendar, como tornar obrigatórios. Enquadra-se nesse caso a vacinação contra certas doenças, sempre que se demonstre que a generalidade dos cidadãos ou não está consciente da sua perigosidade, ou não entende como é fácil evitá-las.
O tradicional argumento liberal contra a recomendação pelo Estado de certos comportamentos assenta no princípio de que ele não deve interferir nas escolhas privadas de adultos autónomos. Todavia, a bondade desse princípio depende por sua vez de duas hipóteses teóricas, a saber: a) que as pessoas fazem escolhas; b) que as pessoas sabem o que é melhor para elas. Acontece que múltiplas investigações põem em causa a veracidade de qualquer uma delas.
Concluo daí que o paternalismo não é necessariamente uma má coisa. Logo, também aqui teremos que aceitar que só uma ponderação caso a caso dos valores e direitos em presença permitirá concluir qual será a melhor solução.
PS - Uma nota final, ainda referente ao artigo citado. Não me parece correcto dizer-se que Coase "mostrou" que "a negociação entre agentes, na presença de uma externalidade, resulta numa situação eficiente desde que os direitos de propriedade sejam claros". Limitou-se a chamar a atenção para a possibilidade de que isso aconteça. Teoremas abstractos não provam nada. Apenas a pesquisa empírica pode fazê-lo.
Tudo tem uma explicação
Estranho país este, que teme a invasão de canalizadores polacos, mas não a de presidentes húngaros.
Se calhar é porque reconhecem que os franceses não servem de todo para tarefas intelectualmente mais exigentes.
Se calhar é porque reconhecem que os franceses não servem de todo para tarefas intelectualmente mais exigentes.
O resultado
Por que Segolène perdeu:
1. É preciso muito talento para gerir uma cabeça vazia
2. As mulheres são muito más umas para as outras
1. É preciso muito talento para gerir uma cabeça vazia
2. As mulheres são muito más umas para as outras
4.5.07
A república dos investigadores
Os últimos anos revelaram que, entre nós, a investigação criminal é orientada por critérios que, no melhor dos casos, poderemos qualificar de aleatórios.
(Com este eufemismo evito entrar por terrenos mais complicados. Estou a tornar-me manhoso.)
Se, como quer Marques Mendes, os titulares de cargos públicos devessem abandoná-los tão logo fossem constituídos arguidos em qualquer processo, um punhado de investigadores apropriar-se-ia do poder de escolher os representantes do povo que actualmente compete em exclusivo ao eleitorado.
Será muito difícil compreender isto?
(Com este eufemismo evito entrar por terrenos mais complicados. Estou a tornar-me manhoso.)
Se, como quer Marques Mendes, os titulares de cargos públicos devessem abandoná-los tão logo fossem constituídos arguidos em qualquer processo, um punhado de investigadores apropriar-se-ia do poder de escolher os representantes do povo que actualmente compete em exclusivo ao eleitorado.
Será muito difícil compreender isto?
3.5.07
Não confundir liberdade com licenciosidade
Não acho admissível que uma equipa sem jogadores brasileiros possa sagrar-se campeã da Europa. Penso mesmo que deveria incluir-se essa exigência nos regulamentos da competição. Felizmente, parece que este ano, apesar dessa falha, as coisas se encontram bem encaminhadas.
2.5.07
Isto não está fácil
Liga dos Campeões à 3ª, com continuação à 4ª. Segue-se, à 5ª, a Taça UEFA. Na 6ª, há jogo da Liga portuguesa. Capítulos seguintes no sábado e domingo, com posfácio à 2ª, sem esquecer uma mão cheia de jogos das ligas italiana, espanhola e inglesa.
Esta é sem dúvida a fase mais dura da época. Os jogadores queixam-se de fazerem dois jogos por semana, mas os espectadores têm que fazer qualquer coisa entre sete e dez.
Para além disso, eles só desgastam o físico. Nós temos que usar a cabeça para interpretar e comentar, sem esquecer que os patrões exigem abusivamente que continuemos a dispender o esforço habitual.
Ninguém fala destas coisas.
Esta é sem dúvida a fase mais dura da época. Os jogadores queixam-se de fazerem dois jogos por semana, mas os espectadores têm que fazer qualquer coisa entre sete e dez.
Para além disso, eles só desgastam o físico. Nós temos que usar a cabeça para interpretar e comentar, sem esquecer que os patrões exigem abusivamente que continuemos a dispender o esforço habitual.
Ninguém fala destas coisas.
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