27.9.07

Esta gente não aprende

A reacção da SIC-Notícias à atitude de Santana Lopes vai infelizmente na mesma linha da sua inqualificável decisão de interromper a entrevista ao ex-primeiro-ministro para um directo (ainda por cima falhado) sobre a chegada de Mourinho à Portela.

Nos noticiários seguintes, a SIC-Notícias colocou no écrã um título em rodapé que dizia: "Santana chateado abandona entrevista". Se isto não é desinformação, então eu desconheço o significado da palavra.

Hoje, para piorar um pouco as coisas, ouvimos Ricardo Costa, o Director Adjunto de Informação da SIC-Notícias, argumentar que a interrupção obedeceu a um critério jornalístico compreensível e que a reacção do entrevistado teria sido inusitada e desproporcionada. "Um número" de Santana, como ele ainda teve a deselegância de acrescentar.

Nós já sabemos que se tratou de um critério jornalístico. O que criticamos é o fundamento dessa decisão e, sobre isso, Ricardo Costa julga não ter explicações a dar nem a nós nem ao entrevistado.

Ora vejamos. Muitos atropelos à decência e ao bom-senso são diariamente cometidos em nome das pérfidas audiências. Os canais televisivos, dizem-nos os seus responsáveis, não têm outra opção senão submeter-se à vontade popular, visto que, se eles não abrirem os telejornais com sangue, assaltos a bancos e agressões futebolísticas, outros o farão para lhes roubar as correspondentes receitas publicitárias.

Este argumento é falso, mas, neste caso, não vale a pena sequer aprofundar a questão. É que a SIC-Notícias não é um canal generalista como a sua irmã SIC. É apenas sintonizada por uma pequena minoria de telespectadores que, precisamente, pretendem fugir à programação boçal que hoje domina as três principais estações. Ademais, à hora a que o incidente aconteceu, quem se interessa mais por futebol do que pela actualidade política estaria certamente a acompanhar os jogos do Sporting e do Benfica transmitidos em directo na RTP1 e na SportTV.

Nada - mas absolutamente nada - justifica, pois, o despautério da SIC-Notícias, excepto talvez a complacência da sua direcção editorial para com tudo o que possa contribuir para a estupidificação da opinião pública.

De modo que o que este caso nos revela de forma exemplar é as carências de formação cívica da nossa classe dirigente, cujo sentido de responsabilidade parece às vezes consistir apenas em cuidar de receber pontualmente o cheque ao fim do mês - e fazer tudo o que for preciso para que isso aconteça.

O que Ricardo Costa nos deveria esclarecer era o seguinte: e se o entrevistado fosse Francisco Pinto Balsemão, teriam feito o mesmo? Pois é, pois é...

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