31.10.08
A última jacquerie
O caso (chamemos-lhe assim) do terminal de contentores de Alcântara pode com vantagem ser decomposto em, pelo menos, seis temas distintos:
1. A relação entre a cidade e o rio.
2. A relação entre a Administração do Porto de Lisboa e a Câmara.
3. O plano de expansão do Porto de Lisboa.
4. A localização do terminal de contentores.
5. O prolongamento da concessão sem concurso.
6. A eventual influência política do actual Presidente da Mota-Engil na decisão.
Na minha maneira de ver, a polémica que envolve 1 é uma tolice, o mesmo se podendo dizer, ou quase, de 2. Quanto a 3 e 4, trata-se de questões técnico-económicas sobre as quais os opinantes tudo ignoram, mas apenas porque não querem saber. Inquirir sobre 5 e 6, em contrapartida, faz todo o sentido, embora não possamos ignorar que, para muitos, o julgamento estará feito, de nada importando o que se vier a apurar.
Misturar muitos assuntos no mesmo saco é uma técnica de argumentação com duas vantagens para os pescadores de águas turvas: a) dificulta a discussão, visto que permite aos críticos saltarem constantemente de um tema para outro; b) alarga o número de potenciais aderentes à coligação negativa.
A concluir, não posso deixar de felicitar os entusiastas militantes desta fronda pela qualidade do líder que nesta ocasião conseguiram.
Não se esqueçam, porém, que para além dos contentores, Miguel Sousa Tavares também embirra, entre outras coisas, com as celuloses e com o turismo. Vendo bem, não me recordo de nenhuma actividade económica que ele aprecie.
1. A relação entre a cidade e o rio.
2. A relação entre a Administração do Porto de Lisboa e a Câmara.
3. O plano de expansão do Porto de Lisboa.
4. A localização do terminal de contentores.
5. O prolongamento da concessão sem concurso.
6. A eventual influência política do actual Presidente da Mota-Engil na decisão.
Na minha maneira de ver, a polémica que envolve 1 é uma tolice, o mesmo se podendo dizer, ou quase, de 2. Quanto a 3 e 4, trata-se de questões técnico-económicas sobre as quais os opinantes tudo ignoram, mas apenas porque não querem saber. Inquirir sobre 5 e 6, em contrapartida, faz todo o sentido, embora não possamos ignorar que, para muitos, o julgamento estará feito, de nada importando o que se vier a apurar.
Misturar muitos assuntos no mesmo saco é uma técnica de argumentação com duas vantagens para os pescadores de águas turvas: a) dificulta a discussão, visto que permite aos críticos saltarem constantemente de um tema para outro; b) alarga o número de potenciais aderentes à coligação negativa.
A concluir, não posso deixar de felicitar os entusiastas militantes desta fronda pela qualidade do líder que nesta ocasião conseguiram.
Não se esqueçam, porém, que para além dos contentores, Miguel Sousa Tavares também embirra, entre outras coisas, com as celuloses e com o turismo. Vendo bem, não me recordo de nenhuma actividade económica que ele aprecie.
Estímulo fiscal versus investimento público
Que resultados teria um estímulo fiscal neste momento?
Muito poucos, penso eu, porque tanto as empresas como os particulares dão prioridade, nas presentes circunstâncias, ao reforço da sua tesouraria. Por conseguinte, as poupanças fiscais conseguidas não seriam aplicadas nem em consumo nem em investimento. A precaução conduziria, em vez disso, ao seu entesouramento.
É por isso que, ao contrário do que opina Vítor Bento, o investimento público se me afigura, neste contexto, a forma mais adequada de evitar o agravamento da crise económica.
Muito poucos, penso eu, porque tanto as empresas como os particulares dão prioridade, nas presentes circunstâncias, ao reforço da sua tesouraria. Por conseguinte, as poupanças fiscais conseguidas não seriam aplicadas nem em consumo nem em investimento. A precaução conduziria, em vez disso, ao seu entesouramento.
É por isso que, ao contrário do que opina Vítor Bento, o investimento público se me afigura, neste contexto, a forma mais adequada de evitar o agravamento da crise económica.
Estamos a avançar
Estamos a avançar. Devagarinho, como convém, mas estamos a avançar, ao ponto de já se discutir seriamente que tipo de efeito multiplicador sobre a economia poderemos esperar, em Portugal, de um acréscimo dos gastos públicos.
Pedro Pita Barros invoca o risco do "crowding-out" (esgotamento dos fundos disponíveis para o sector privado) para avaliar negativamente o impacto de um acréscimo do investimento público. Ora, independentemente de esse eventualidade ser tanto menos provável quanto mais longe nos encontrarmos do pleno emprego, o relevante não é apontar essa possibilidade em abstracto, mas mostrar que ela existe neste momento.
Ora, se nos virarmos para o domínio dos factos, eles estão aí para quem os quiser ver. O investimento praticamente parou, em Portugal como em muitos outros países, como se tornará manifesto dentro de pouco tempo. Podemos esperar pela confirmação, mas não creio que seja necessário.
Vítor Bento, pelo seu lado, desconfia, com boas razões, que uma parte do efeito multiplicador do investimento público corre o risco de se escoar para o estrangeiro.
Não podia concordar mais com isso. Mas a conclusão a retirar é que o investimento público de emergência a lançar imediatamente deveria ser seleccionado em função, entre outros factores, do nível de incorporação nacional.
Note-se que este investimento urgente de que eu falo tem pouco a ver com aquele que se encontra previsto no OGE para 2009, visto que esse, ao contrário do que alardeia o primeiro-ministro, é muito escasso e de efeito a longo prazo. O orçamento aprovado distribui dinheiro por múltiplas capelinhas, em vez de aplicá-lo onde poderia ser mais eficaz.
PS - A baixa produtividade do capital em Portugal, mencionada por Vítor Bento no seu post, respeita a todo o investimento, não apenas ao público.
Pedro Pita Barros invoca o risco do "crowding-out" (esgotamento dos fundos disponíveis para o sector privado) para avaliar negativamente o impacto de um acréscimo do investimento público. Ora, independentemente de esse eventualidade ser tanto menos provável quanto mais longe nos encontrarmos do pleno emprego, o relevante não é apontar essa possibilidade em abstracto, mas mostrar que ela existe neste momento.
Ora, se nos virarmos para o domínio dos factos, eles estão aí para quem os quiser ver. O investimento praticamente parou, em Portugal como em muitos outros países, como se tornará manifesto dentro de pouco tempo. Podemos esperar pela confirmação, mas não creio que seja necessário.
Vítor Bento, pelo seu lado, desconfia, com boas razões, que uma parte do efeito multiplicador do investimento público corre o risco de se escoar para o estrangeiro.
Não podia concordar mais com isso. Mas a conclusão a retirar é que o investimento público de emergência a lançar imediatamente deveria ser seleccionado em função, entre outros factores, do nível de incorporação nacional.
Note-se que este investimento urgente de que eu falo tem pouco a ver com aquele que se encontra previsto no OGE para 2009, visto que esse, ao contrário do que alardeia o primeiro-ministro, é muito escasso e de efeito a longo prazo. O orçamento aprovado distribui dinheiro por múltiplas capelinhas, em vez de aplicá-lo onde poderia ser mais eficaz.
PS - A baixa produtividade do capital em Portugal, mencionada por Vítor Bento no seu post, respeita a todo o investimento, não apenas ao público.
Estalinismo
Apreciem bem a sofisticação do argumento:
"Marcelo lançou Sines mas quem a fez foram os governos democráticos. Tiveram todos (de direita e de esquerda) uma visão estalinista sobre o papel do investimento público. E tudo isto depois do choque petrolífero de 73 e do choque de 80."Isto não é o João Miranda a falar, é o professor Campos e Cunha, na caixa de comentários de um post que escreveu no blogue da Sedes.
30.10.08
Não poupemos no raciocínio
Quem quer que tenha dinheiro investido num fundo de acções pode confirmar que cerca de metade das suas poupanças despareceram de há um ano para cá.
A Drª Ferreira Leite, porém, supõe que a poupança é uma coisa que está ali guardadinha, muito quietinha, à esperar que alguém a vá buscar, de modo que teme que a sua canalização para o investimento público impeça o financiamento de investimentos privados.
Imaginemos, porém, que a produção de um país cai a pique, que é o que poderá vir a acontecer no próximo ano. Que sucede à poupança? Como o rendimento nacional se reduz, cai também, mesmo presumindo que se mantém a proporção do rendimento que é aforrada.
Todavia, o mais natural é que, para tentarem conservar o seu padrão de consumo, as pessoas não só poupem menos como vão gastar uma parte das suas poupanças acumuladas enquanto aguardam melhores dias.
Resultado: caindo a produção, cai o rendimento e cai a poupança; caindo a poupança, contrai-se o investimento, o que por sua vez leva a nova queda da produção, e assim sucessivamente. Chama-se a isto o efeito multiplicador - descoberto por Richard Kahn, incorporado por Keynes na sua Teoria Geral e explicado em qualquer manual de macroeconomia.
O mesmo mecanismo pode funcionar ao contrário, impulsionando uma espiral positiva. Quando o investimento privado se retrai (seja porque as empresas cancelam os seus projectos, seja porque os bancos acham demasiado arriscado apoiá-los), o investimento público pode salvar a situação. O investimento reanima a procura, estimula o crescimento dos rendimentos e, last but nor least, faz crescer a poupança.
Logo, a poupança diminui quando não é usada e cresce quando é investida. Qualquer pessoa, diria eu, pode entender isto.
A Drª Ferreira Leite, porém, supõe que a poupança é uma coisa que está ali guardadinha, muito quietinha, à esperar que alguém a vá buscar, de modo que teme que a sua canalização para o investimento público impeça o financiamento de investimentos privados.
Imaginemos, porém, que a produção de um país cai a pique, que é o que poderá vir a acontecer no próximo ano. Que sucede à poupança? Como o rendimento nacional se reduz, cai também, mesmo presumindo que se mantém a proporção do rendimento que é aforrada.
Todavia, o mais natural é que, para tentarem conservar o seu padrão de consumo, as pessoas não só poupem menos como vão gastar uma parte das suas poupanças acumuladas enquanto aguardam melhores dias.
Resultado: caindo a produção, cai o rendimento e cai a poupança; caindo a poupança, contrai-se o investimento, o que por sua vez leva a nova queda da produção, e assim sucessivamente. Chama-se a isto o efeito multiplicador - descoberto por Richard Kahn, incorporado por Keynes na sua Teoria Geral e explicado em qualquer manual de macroeconomia.
O mesmo mecanismo pode funcionar ao contrário, impulsionando uma espiral positiva. Quando o investimento privado se retrai (seja porque as empresas cancelam os seus projectos, seja porque os bancos acham demasiado arriscado apoiá-los), o investimento público pode salvar a situação. O investimento reanima a procura, estimula o crescimento dos rendimentos e, last but nor least, faz crescer a poupança.
Logo, a poupança diminui quando não é usada e cresce quando é investida. Qualquer pessoa, diria eu, pode entender isto.
29.10.08
Toda a verdade sobre a mentira na política
Fui convidado pelo RCP para debater hoje, a partir das 23 horas, o tema "A Mentira na Política". Este é o post que escrevi para servir de base à discussão:
“Exigimos que sejam legalmente perseguidos aqueles que propagam e disseminam mentiras políticas através da imprensa.” Esta declaração indignada foi extraída de um manifesto do partido nazi de 1920.
As mentiras dos políticos são, nas sociedades fundadas no princípio da soberania popular, consideradas algo de extrema gravidade, mas nem sempre as cruzadas em favor da verdade na política são inspiradas pelas melhores intenções.
A experiência pessoal ensina-nos que não é possível dizer sempre a verdade, nem na vida privada, nem na vida pública, pela simples razão de que há sempre aspectos da verdade que não favorecem as nossas opiniões ou projectos.
Logo, a verdade é um paradoxo da democracia: uma exigência simultaneamente indispensável e irrazoável que, por isso mesmo, podemos qualificar de utópica.
Como é que os políticos lidam com esta dificuldade central, tendo em conta a gravidade que a opinião pública atribui à deliberada deturpação dos factos?
No essencial, criando corpos especiais de assessores encarregados de produzirem a informação factual de que os governantes depois se servem para falar ao povo. Se os factos vierem a revelar-se falsos, a responsabilidade poderá sempre ser transferida para o staff, visto que o político se limitou a transmitir de boa fé aquilo que outros o haviam persuadido ser a verdade.
Terá Bush mentido deliberadamente ao asseverar a existência de armas de destruição massiva no Iraque de Saddam? Não necessariamente, visto que essa informação lhe chegara através da CIA. Mas, então, estarão os políticos à mercê das “verdades” que os departamentos técnicos especializalidos quiserem impingir-lhes? Também não, pois os assessores aprendem rapidamente a discernir quais as verdades que os seus superiores estão ou não estão interessados em conhecer.
O político pode ser encontrado em falta, mas dificilmente se provará que mentiu. A mentira factual é hoje muitíssimo perigosa, visto que a opinião pública dispõe de poderosíssimos meios de escrutínio que se estendem, inclusive, às vidas pessoais dos detentores de cargos públicos. Todavia, a política não lida apenas com factos, mas também com interpretações e, sobretudo, com projectos, domínios em que se torna muito mais difícil estabelecer uma distinção tão clara entre o verdadeiro e o falso.
Nesta perspectiva mais vasta, a questão central consiste em saber como distinguir a demagogia da verdade, visto que a demagogia é uma patologia inseparável da democracia, ou seja, do sistema que concede aos cidadãos a possibilidade de influenciarem ou determinarem decisões políticas através do voto.
Pode a demagogia ser combatida exclusivamente com a verdade, ou será necessária alguma mentira à mistura para derrotá-la? Deve o político de recta intenção prescindir por inteiro da mentira se constatar que, ao menos em certas circunstâncias, ela possui uma vantagem natural sobre a verdade?
James Callaghan, primeiro-ministro britânico nos anos 70, dizia que a mentira dá à volta ao mundo enquanto a verdade ainda está a calçar as botas. Este melancólico pensamento reconhece o quanto às vezes é sedutora a mentira. Não só porque a favorece a estupidez humana, mas também por ter do seu lado a fantasia e o prazer de se ser enganado.
Que concluir, então, sobre a difícil relação entre a verdade e a política? Que é exagerado o receio de que a mentira possa só por si destruir a política democrática, e que devemos desconfiar daqueles que nos prometem uma política em absoluto livre de mentira. Todavia, embora um certo nível de mentira seja razoavelmente bem tolerado pelas sociedades livres, não se pode negar que, passado um certo ponto, a desconfiança de todos em relação a todos pode minar os seus fundamentos.
O importante não é abolir de uma vez por todas a mentira da política, mas fortalecer o sentido crítico dos cidadãos e garantir que ele possa exprimir-se em condições de liberdade. Para usar a feliz expressão do recentemente falecido filósofo Richard Rorty: “Cuidemos da liberdade, que a verdade cuidará de si mesma”.
“Exigimos que sejam legalmente perseguidos aqueles que propagam e disseminam mentiras políticas através da imprensa.” Esta declaração indignada foi extraída de um manifesto do partido nazi de 1920.
As mentiras dos políticos são, nas sociedades fundadas no princípio da soberania popular, consideradas algo de extrema gravidade, mas nem sempre as cruzadas em favor da verdade na política são inspiradas pelas melhores intenções.
A experiência pessoal ensina-nos que não é possível dizer sempre a verdade, nem na vida privada, nem na vida pública, pela simples razão de que há sempre aspectos da verdade que não favorecem as nossas opiniões ou projectos.
Logo, a verdade é um paradoxo da democracia: uma exigência simultaneamente indispensável e irrazoável que, por isso mesmo, podemos qualificar de utópica.
Como é que os políticos lidam com esta dificuldade central, tendo em conta a gravidade que a opinião pública atribui à deliberada deturpação dos factos?
No essencial, criando corpos especiais de assessores encarregados de produzirem a informação factual de que os governantes depois se servem para falar ao povo. Se os factos vierem a revelar-se falsos, a responsabilidade poderá sempre ser transferida para o staff, visto que o político se limitou a transmitir de boa fé aquilo que outros o haviam persuadido ser a verdade.
Terá Bush mentido deliberadamente ao asseverar a existência de armas de destruição massiva no Iraque de Saddam? Não necessariamente, visto que essa informação lhe chegara através da CIA. Mas, então, estarão os políticos à mercê das “verdades” que os departamentos técnicos especializalidos quiserem impingir-lhes? Também não, pois os assessores aprendem rapidamente a discernir quais as verdades que os seus superiores estão ou não estão interessados em conhecer.
O político pode ser encontrado em falta, mas dificilmente se provará que mentiu. A mentira factual é hoje muitíssimo perigosa, visto que a opinião pública dispõe de poderosíssimos meios de escrutínio que se estendem, inclusive, às vidas pessoais dos detentores de cargos públicos. Todavia, a política não lida apenas com factos, mas também com interpretações e, sobretudo, com projectos, domínios em que se torna muito mais difícil estabelecer uma distinção tão clara entre o verdadeiro e o falso.
Nesta perspectiva mais vasta, a questão central consiste em saber como distinguir a demagogia da verdade, visto que a demagogia é uma patologia inseparável da democracia, ou seja, do sistema que concede aos cidadãos a possibilidade de influenciarem ou determinarem decisões políticas através do voto.
Pode a demagogia ser combatida exclusivamente com a verdade, ou será necessária alguma mentira à mistura para derrotá-la? Deve o político de recta intenção prescindir por inteiro da mentira se constatar que, ao menos em certas circunstâncias, ela possui uma vantagem natural sobre a verdade?
James Callaghan, primeiro-ministro britânico nos anos 70, dizia que a mentira dá à volta ao mundo enquanto a verdade ainda está a calçar as botas. Este melancólico pensamento reconhece o quanto às vezes é sedutora a mentira. Não só porque a favorece a estupidez humana, mas também por ter do seu lado a fantasia e o prazer de se ser enganado.
Que concluir, então, sobre a difícil relação entre a verdade e a política? Que é exagerado o receio de que a mentira possa só por si destruir a política democrática, e que devemos desconfiar daqueles que nos prometem uma política em absoluto livre de mentira. Todavia, embora um certo nível de mentira seja razoavelmente bem tolerado pelas sociedades livres, não se pode negar que, passado um certo ponto, a desconfiança de todos em relação a todos pode minar os seus fundamentos.
O importante não é abolir de uma vez por todas a mentira da política, mas fortalecer o sentido crítico dos cidadãos e garantir que ele possa exprimir-se em condições de liberdade. Para usar a feliz expressão do recentemente falecido filósofo Richard Rorty: “Cuidemos da liberdade, que a verdade cuidará de si mesma”.
Endividamento, precisa-se
Martin Wolf volta à carga no Financial Times de hoje:
Não me digam que temos níveis de endividamento elevadíssimos, porque eu já sei. Não repitam que as garantias prestadas pelo governo aos bancos comportam um risco elevado, porque a alternativa ainda seria mais arriscada. Não pretendam que o investimento público retira fundos ao investimento privado, porque nem os privados estão dispostos a investir, nem os bancos estão dispostos a emprestar-lhes.
O problema mais grave do momento é a falta de liderança. Os americanos não têm presidente nos próximos meses, enquanto a Europa não dispõe de instituições capazes de promoverem (já não digo decidirem) uma política económica comum.
O navio está no meio da tormenta, mas os passageiros ainda não se aperceberam de que não há comandante, nem leme, nem bússola.
Os economistas têm obrigações particulares nestas circunstâncias. Porém, descobre-se agora que muitos deles, destituídos do mínimo sentido pragmático, preferem continuar a brincar com modelos e doutrinas.
A concluir, eu sei também que seria suicida o governo português tomar isoladamente a decisão de aumentar o défice e o endividamento à revelia da União Europeia. Mas alguém tem que se mexer - nem que seja o Sarkozy, só para impressionar a garota.
"The only way to let the private sector deleverage, without mass bankruptcy and hige falls in spending, is by substituting the asset everydody wants: government debt."Na semana passada, ele avisara:
"In current conditions, monetary policy will be insufficient. This is a Keynesian situation that requires Keynesian remedies. Budget deficits will end up at levels previously considered unimaginable. So be it."A opinião pública, incluindo muitas pessoas com responsabilidade, ainda não entenderam que enfrentamos uma situação de emergência. Políticas impensáveis noutras circunstâncias são agora inevitáveis.
Não me digam que temos níveis de endividamento elevadíssimos, porque eu já sei. Não repitam que as garantias prestadas pelo governo aos bancos comportam um risco elevado, porque a alternativa ainda seria mais arriscada. Não pretendam que o investimento público retira fundos ao investimento privado, porque nem os privados estão dispostos a investir, nem os bancos estão dispostos a emprestar-lhes.
O problema mais grave do momento é a falta de liderança. Os americanos não têm presidente nos próximos meses, enquanto a Europa não dispõe de instituições capazes de promoverem (já não digo decidirem) uma política económica comum.
O navio está no meio da tormenta, mas os passageiros ainda não se aperceberam de que não há comandante, nem leme, nem bússola.
Os economistas têm obrigações particulares nestas circunstâncias. Porém, descobre-se agora que muitos deles, destituídos do mínimo sentido pragmático, preferem continuar a brincar com modelos e doutrinas.
A concluir, eu sei também que seria suicida o governo português tomar isoladamente a decisão de aumentar o défice e o endividamento à revelia da União Europeia. Mas alguém tem que se mexer - nem que seja o Sarkozy, só para impressionar a garota.
Embirrações económicas
O blogue da Sedes arrancou esta semana, e um dos primeiros posts é mais uma diatribe contra o investimento público da autoria de Campos e Cunha.
Não fiquei convencido:
1. Como sublinha Pedro Lains num comentário que lá deixou, o gráfico apresentado não autoriza as conclusões do autor sobre a ineficiência geral do investimento público.
2. Objecta CC aos actuais projectos do governo: "O financiamento [dos grandes projectos] tem de ser assegurado nos meses que correm mas a despesa só se realiza daqui a vários anos." Ora, se as despesas só são realizadas dentro de anos, o financiamento, embora contratado agora, também só tem efeitos mais tarde.
3. CC teme que, por causa dos grandes projectos, se deixem de realizar "muitas pequenas obras com impactos no emprego mais significativos e com efeitos dinamizadores dentro de meses". Mas eu nunca o vi defender pequenos investimentos públicos (que, de resto, me parecem urgentíssimos) como alternativa aos grandes investimentos públicos.
4. A ideia, em que ele e outros têm insistido, de que o investimento público reduz os fundos disponíveis para o sector privado também me parece, nas actuais circunstâncias, completamente errado: não há, nem vai haver nos próximos tempos, fundos disponíveis para o sector privado! Logo, a alternativa ao investimento público é não haver investimento nenhum. (Esta mesmíssima discussão opôs Keynes aos economistas ortodoxos na época da Grande Depressão.)
5. CC mistura e confunde num mesmo post três problemas diferentes: a utilidade genérica do investimento público; a necessidade de distinguir entre bons e maus projectos; e a eficácia do investimento público no combate à crise. O que transparece do seu post é, afinal, uma embirração genérica contra o investimento público não racionalmente motivada nem fundamentada.
Isto dos blogues é um bocadinho mais complicado do que parece.
Não fiquei convencido:
1. Como sublinha Pedro Lains num comentário que lá deixou, o gráfico apresentado não autoriza as conclusões do autor sobre a ineficiência geral do investimento público.
2. Objecta CC aos actuais projectos do governo: "O financiamento [dos grandes projectos] tem de ser assegurado nos meses que correm mas a despesa só se realiza daqui a vários anos." Ora, se as despesas só são realizadas dentro de anos, o financiamento, embora contratado agora, também só tem efeitos mais tarde.
3. CC teme que, por causa dos grandes projectos, se deixem de realizar "muitas pequenas obras com impactos no emprego mais significativos e com efeitos dinamizadores dentro de meses". Mas eu nunca o vi defender pequenos investimentos públicos (que, de resto, me parecem urgentíssimos) como alternativa aos grandes investimentos públicos.
4. A ideia, em que ele e outros têm insistido, de que o investimento público reduz os fundos disponíveis para o sector privado também me parece, nas actuais circunstâncias, completamente errado: não há, nem vai haver nos próximos tempos, fundos disponíveis para o sector privado! Logo, a alternativa ao investimento público é não haver investimento nenhum. (Esta mesmíssima discussão opôs Keynes aos economistas ortodoxos na época da Grande Depressão.)
5. CC mistura e confunde num mesmo post três problemas diferentes: a utilidade genérica do investimento público; a necessidade de distinguir entre bons e maus projectos; e a eficácia do investimento público no combate à crise. O que transparece do seu post é, afinal, uma embirração genérica contra o investimento público não racionalmente motivada nem fundamentada.
Isto dos blogues é um bocadinho mais complicado do que parece.
28.10.08
Ousadia, precisa-se
O propósito é pouco ambicioso. Dever-se-ia eliminar o porto de Lisboa de uma vez por todas. Trata-se de um conceito obsoleto que tira a vista às cervejarias.
24.10.08
Há mais alegria por um pecador que se converte do que por cem justos que fazem penitência
Poucas coisas me agradam mais do que dizer muito bem de alguém, principalmente quando essa pessoa nunca no passado me dera razões para isso.
Não é fácil um sujeito vir com toda a humildade reconhecer, na fase final de uma vida em que esteve sempre na mó de cima, que se enganou redondamente sobre coisas de primeira importância. Chama-se a isto grandeza de espírito.
Seria eu capaz de algo semelhante? Se calhar, não.
Por outro lado, talvez ele tivesse evitado colocar-se nesta situação se deixasse o Dr. Rui Ramos explicar-lhe que o alegado fracasso da ideologia dos mercados livres é uma conversa de tontinhos ignorantes.
Para quem ainda tivesse dúvidas...
Escreve o Filipe Moura no 5dias:
"Paulo Pinto Mascarenhas conclui, na sua coluna semanal sobre blogues no Jornal de Negócios, que “as feridas da cisão à esquerda continuam longe de cicatrizadas”, baseado justamente [nas] minhas palavras. Não sei que interesse este tipo de fofocas da blogosfera terá seja para quem for: quem acompanha os blogues está a par do que se passa, e quem não acompanha, não é graças a elas que passará a acompanhar. Mas o Paulo Pinto Mascarenhas escreve-as no jornal, e está no seu direito – mesmo que sejam falsas, como é o caso, e dêem uma impressão errada do que se passa a quem não acompanha o caso na blogosfera. É para escrever as suas crónicas que lhe pagam. É esse o tipo de jornalismo que Paulo Pinto Mascarenhas estava habituado a fazer no semanário onde colaborou, antes de se tornar assessor no governo do fundador e figura tutorial desse mesmo semanário: um jornalismo que procura criar casos onde não há, e os envolvidos são sempre adversários políticos. É a isso que se resume a sua crónica – pelo menos a desta semana – no Jornal de Negócios. Seria interessante no entanto ver como tal crónica se referiria a um “caso” que ocorresse num blogue seu (ou que lhe fosse próximo politicamente). Já ocorreu pelo menos um caso no passado."
Aviso à população
Finalmente, estão a funcionar (acho eu) os feeds do bl-g--x-st-. Segundo me explicaram, é uma espécie de sopa dos pobres.
Aí estão eles
Como previsto, aí estão as pressões para uma ajuda de emergência à indústria automóvel americana. Eis o que pensam os representantes do estado de Michigan:
"We should not tolerate this erosion of our industrial base," Dingell said on the call. "This crisis that we have on credit did not begin in the auto industry, it began in the financial industry."
In the letter, the lawmakers highlighted the importance to the U.S. economy of the auto industry, which they said employs 355,000 workers and provides health insurance to 2 million people.
Last month, Chrysler LLC talked with U.S. officials about whether the $700 billion government bailout would include automobile loans, President Jim Press said. Cerberus Capital Management LP owns Chrysler, credit unit Chrysler Financial and 51 percent of auto and home lender GMAC LLC.
23.10.08
Factos são factos
Recomendo à Drª Ferreira Leite a leitura do artigo de hoje de Manuel Caldeira Cabral (As Exportações e a Crise) no Jornal de Negócios. Eis um extracto:
"O abrandamento da economia europeia não provocou até agora uma diminuição das nossas exportações. Aliás, o crescimento das exportações para os mercados extra-comunitários continua a bom ritmo, mesmo com as perdas verificadas nos EUA. E a redução dos preços do petróleo e das matérias-primas podem ajudar ao reequilíbrio externo, e dar alguma folga aos consumidores portugueses. A desvalorização do euro também pode ajudar, dando mais competitividade externa dos países da Eurolândia."Como ela não deve ter vagar nem curiosidade, leiam vocês.
Trampolinices
Só para que não restem dúvidas, a versão das circunstâncias que levaram à saída de um conjunto de bloggers do 5dias e subsequente criação do Jugular hoje publicada no Jornal de Negócios pelo intriguista profissional Paulo Pinto Mascarenhas é, na sua essência, falsa.
O que é ser keynesiano
Para a maioria das pessoas, o keynesianismo é apenas um conjunto de receitas de política económica especialmente indicadas para lidar com recessões.
Keynes ficaria decerto surpreendido se visse o seu nome associado a uma doutrina desse tipo. Não só lhe desagradavam as receitas, como nem sequer confiava muito em modelos económicos. Tal como David Box, também ele achava que todos os modelos são errados, mas alguns são úteis.
Embirrava muito particularmente com a teoria clássica do equilíbrio económico geral, segundo a qual o desemprego duradouro só poderia resultar de obstáculos artificiais ao livre funcionamento dos mercados.
A sua Teoria Geral (designação algo enganadora) procura demonstrar em que condições precisas uma economia pode ficar bloqueada num equilíbrio persistente muito distante do pleno emprego, no qual a política monetária se torna absolutamente ineficaz.
Alguns herdeiros de Keynes, com Hicks à cabeça, reconstruiram um modelo de equilíbrio económico geral (o célebre IS-LM) corrigido pelas críticas que ele lhe fizera. Foi a isso que se chamou a síntese neo-clássica.
É duvidoso que Keynes atribuisse grande valor a esse novo edifício teórico a que o seu nome hoje se encontra associado, principalmente porque ele não achava que a análise económica devesse ser conduzida isoladamente das demais instâncias da vida social e política.
Eis o retrato sintético do economista ideal que ele traçou no seu ensaio sobre Alfred Marshall:
"O mestre economista deve possuir uma rara combinação de atributos (...) Deve ser matemático, historiador, estadista, filósofo - até certo ponto. Deve entender os símbolos e exprimir-se por palavras. Deve contemplar o particular em termos do geral e tocar no abstracto e no concreto num mesmo movimento do pensamento. Deve estudar o presente à luz do passado para os propósitos do futuro. Nenhuma parte da natureza do homem ou das suas instituições deve ficar inteiramente fora das suas cogitações. Ele deve ser simultaneamente determinado e desinteressado; alheio e incorruptível como um artista e, no entanto, por vezes tão materialista como um político."
Este projecto sugere que Keynes pode ser caracterizado como um oportunista metodológico, ou, na terminologia de Paul Feyerabend, como um anarquista metodológico.
Segundo Robert Skidelsky, autor da melhor biografia do maior economista do século XX, Keynes irritava-se muito com a estreiteza de vistas dos jovens economistas do seu tempo, cuja restrita cultura atribuía às deficiências do processo de educação a que eram submetidos. Que diria ele hoje se soubesse o que se ensina nas escolas de economia?
22.10.08
Vêm aí mais nacionalizações?
Era inevitável. Mal Paulson apresentou a primeira versão do seu plano, logo surgiram vozes a alvitrar que talvez não fosse má ideia algo semelhante para deitar a mão à General Motors.
Afinal, a falência de uma empresa daquela dimensão também implica riscos sistémicos... E, depois, porque é que os operários da indústria automóvel hão-de merecer menos protecção do que os investidores que confiaram as suas poupanças aos bancos de Wall Street?
Não é bem a mesma coisa? Experimentem explicar isso aos poderosos sindicatos alemães quando a VW ou a BMW começarem a despedir gente aos milhares.
Esperem aí um bocadinho que eu já volto.
Afinal, a falência de uma empresa daquela dimensão também implica riscos sistémicos... E, depois, porque é que os operários da indústria automóvel hão-de merecer menos protecção do que os investidores que confiaram as suas poupanças aos bancos de Wall Street?
Não é bem a mesma coisa? Experimentem explicar isso aos poderosos sindicatos alemães quando a VW ou a BMW começarem a despedir gente aos milhares.
Esperem aí um bocadinho que eu já volto.
Ámen
Martin Wolf no Financial Times de hoje:
"In current conditions, monetary policy will be insufficient. This is a Keynesian situation that requires Keynesian remedies. Budget deficits will end up at levels previously considered unimaginable. So be it."Assim seja feito.
Somos todos liberais
Soubemos há dias pelos jornais que os enfermeiros contestam a possibilidade de as farmácias administrarem injecções. Este simples exemplo basta para mostrar como, entre nós, há muita necessidade de liberalização nas mais variadas áreas da economia, da política e da cultura.
Não sou contra o liberalismo - todos somos liberais hoje, no mesmo sentido em que todos somos social-democratas - mas apenas contra o liberalismo dogmático ou doutrinário. O mal não está nos mercados, mas na ilusão infundada de que eles não precisam de ser vigiados e, se necessário, regulados.
Os comentários ao meu post "Auto-medicação para fanáticos" fizeram-me pensar que talvez fosse necessário este esclarecimento.
Não sou contra o liberalismo - todos somos liberais hoje, no mesmo sentido em que todos somos social-democratas - mas apenas contra o liberalismo dogmático ou doutrinário. O mal não está nos mercados, mas na ilusão infundada de que eles não precisam de ser vigiados e, se necessário, regulados.
Os comentários ao meu post "Auto-medicação para fanáticos" fizeram-me pensar que talvez fosse necessário este esclarecimento.
Injustiça fiscal
Já que estamos com a mão nas desigualdades, a pior coisa do Orçamento do Estado para 2009 é o previsto aumento do peso dos impostos indirectos no total dos impostos cobrados, como se o presente desequilíbrio não fosse já suficientemente vergonhoso num país civilizado.
Isso seria tanto mais fácil de começar a corrigir quanto é facto que, entre nós, o IRS é progressivo para as classes médias, mas não para aqueles que auferem altos rendimentos.
Isso seria tanto mais fácil de começar a corrigir quanto é facto que, entre nós, o IRS é progressivo para as classes médias, mas não para aqueles que auferem altos rendimentos.
21.10.08
Auto-medicação para fanáticos
Não devemos ser injustos. As tretas do Friedman deram agora barraca, mas, durante trinta anos, trouxeram prosperidade a todo o mundo numa escala sem precedentes.
Será verdade?
Não. Quando, a partir do final dos anos 70, o monetarismo foi adoptado em Inglaterra e, depois, nos EUA, o resultado imediato foi uma crise (ou melhor, duas: uma em cada país) de enormes proporções, da qual só foi possível sair com um aumento sem precedentes dos défices públicos.
As prescrições friedmanianas de controlo do crescimento da massa monetária foram prontamente abandonadas. Passado pouco tempo, nada restava da parte "científica" da doutrina.
Ficou apenas a fé ilimitada nos poderes dos mercados desregulados e a desconfiança doentia em relação aos poderes públicos, "argumentos" suficientes para justificar iniciativas como a diminuição dos impostos sobre os ricos, a desregulamentação financeira, a redução do salário mínimo e, em geral, a desvalorização das políticas sociais.
E os resultados económicos de longo prazo? Ao contrário do que frequentemente se diz, nos países mais desenvolvidos não só o crescimento do produto per capita foi muito mais lento do que nos trinta anos anteriores como as desigualdades se agravaram extraordinariamente.
Curiosamente, o fracasso nunca persuade os iluminados a repensarem as suas crenças, mas em insistirem em mais do mesmo. Se o remédio falha, a única solução é tomar mais remédio.
Isto faz lembrar irresistivelmente a União Soviética. Também aí, o planeamento central não falhou só nos anos terminais da perestroika, mas logo que foi ensaiado pela primeira vez, no período chamado comunismo de guerra. Mas também os soviéticos concluiram do fiasco que o mal não estava na prescrição mas na insuficiência da dose.
Será verdade?
Não. Quando, a partir do final dos anos 70, o monetarismo foi adoptado em Inglaterra e, depois, nos EUA, o resultado imediato foi uma crise (ou melhor, duas: uma em cada país) de enormes proporções, da qual só foi possível sair com um aumento sem precedentes dos défices públicos.
As prescrições friedmanianas de controlo do crescimento da massa monetária foram prontamente abandonadas. Passado pouco tempo, nada restava da parte "científica" da doutrina.
Ficou apenas a fé ilimitada nos poderes dos mercados desregulados e a desconfiança doentia em relação aos poderes públicos, "argumentos" suficientes para justificar iniciativas como a diminuição dos impostos sobre os ricos, a desregulamentação financeira, a redução do salário mínimo e, em geral, a desvalorização das políticas sociais.
E os resultados económicos de longo prazo? Ao contrário do que frequentemente se diz, nos países mais desenvolvidos não só o crescimento do produto per capita foi muito mais lento do que nos trinta anos anteriores como as desigualdades se agravaram extraordinariamente.
Curiosamente, o fracasso nunca persuade os iluminados a repensarem as suas crenças, mas em insistirem em mais do mesmo. Se o remédio falha, a única solução é tomar mais remédio.
Isto faz lembrar irresistivelmente a União Soviética. Também aí, o planeamento central não falhou só nos anos terminais da perestroika, mas logo que foi ensaiado pela primeira vez, no período chamado comunismo de guerra. Mas também os soviéticos concluiram do fiasco que o mal não estava na prescrição mas na insuficiência da dose.
20.10.08
Mestres e gestores
Luís Nazaré ataca hoje no Jornal de Negócios um tema importante: a responsabilidade das escolas de gestão na disseminação de ideias erradas e perniciosas, também elas responsáveis pelo actual caos económico mundial. O que aí escreve vai, creio eu, num sentido semelhante ao do artigo que no mesmo jornal assinei na passada quinta-feira.
Infelizmente, chega para todos
Será verdade, como se diz para aí, que o aumento do investimento público reduzirá o crédito disponível para as empresas e os consumidores?
Nas actuais circunstâncias, decerto que não.
Primeiro, porque, em consequência da contenção orçamental dos últimos anos, o investimento público encontra-se presentemente a um nível historicamente baixo.
Segundo, porque o alto nível de endividamento do sector privado, aliado à incerteza conjuntural, reduz consideravelmente o seu desejo de contrair mais dívidas.
Terceiro - e mais importante - porque, em resultado do risco percebido, os bancos receiam emprestar dinheiro aos particulares, mesmo que a taxas muito elevadas.
O Estado é, pois, a única entidade simultaneamente disponível para investir e capaz de obter crédito.
Vivemos uma situação de emergência, logo é preciso fazer coisas que, noutras circunstâncias, as pessoas sensatas condenariam.
Nas actuais circunstâncias, decerto que não.
Primeiro, porque, em consequência da contenção orçamental dos últimos anos, o investimento público encontra-se presentemente a um nível historicamente baixo.
Segundo, porque o alto nível de endividamento do sector privado, aliado à incerteza conjuntural, reduz consideravelmente o seu desejo de contrair mais dívidas.
Terceiro - e mais importante - porque, em resultado do risco percebido, os bancos receiam emprestar dinheiro aos particulares, mesmo que a taxas muito elevadas.
O Estado é, pois, a única entidade simultaneamente disponível para investir e capaz de obter crédito.
Vivemos uma situação de emergência, logo é preciso fazer coisas que, noutras circunstâncias, as pessoas sensatas condenariam.
Obrigado, ó Carlos
O prematuro afastamento da selecção da fase final do Mundial de 2010 na África do Sul vai permitir ao país concentrar-se nas questões verdadeiramente importantes para o seu futuro como nação civilizada. Não, não me refiro à crise do Sporting.
17.10.08
Demasiado inteligente para governar os ingleses
Nascido na Escócia, não chega bem a ser branco. Uma espécie de Obama britânico, portanto.
Apesar de cego de um olho, parece que lê livros, pecado mortal que Blair sempre cuidadosamente ocultou. Suspeita-se que quer banir a libra em proveito do euro.
Não tem paciência para a estupidez da imprensa tablóide (televisões incluídas), razão de sobra para que os media o detestem.
A principal crítica que se lhe faz é não ser popular, ao contrário do líder da oposição, ícone da completa vacuidade, com o seu perpétuo ar de quem acaba de sair da manicure. O próprio Economist, apesar da fachada de racionalidade ponderada que gosta de afivelar, não arranja outro argumento para o atacar senão as sondagens desfavoráveis.
Não presta para os ingleses, sem favor o povo mais abrutalhado da Europa Ocidental e o único que compete com os russos no estado geral de embriaguez.
Acontece que sabe o que anda a fazer, algo de valor estimável nos tempos que correm.
O Luís gosta do Sócrates
Reagindo a um comentário meu, o Luis M. Jorge garante que até simpatiza com o Primeiro Ministro, embora o julgue "desonesto".
Eis as palavras mais apropriadas que ele encontrou para exprimir a sua simpatia:
Eis as palavras mais apropriadas que ele encontrou para exprimir a sua simpatia:
"O Primeiro-Ministro decidiu responder aos anseios dos nossos pobres-diabos, dando-lhes exactamente o que queriam: alguém que mandasse, ainda que mandasse mal. Alguém que se desse ares, ainda que lhe faltasse a substância. Alguém que erguesse estradas e caminhos-de-ferro, ainda que sob um rasto de terra queimada. Alguém que citasse poetastros, distribuisse computadores e patrocinasse exposições internacionais. Alguém que um dia pudesse dizer, como os tiranetes da América do Sul: nós roubámos, dezprezámos e mentimos — mas fizemos.Ó Luís, eu estou convencido que tu simpatizas comigo. Constatando, porém,como é largo o teu conceito de simpatia, já não sei se me alegre se me preocupe.
"Este é o PS do Primeiro-Ministro. Um homem que atraiçoou os fundamentos da nossa democracia, a história do seu partido e futuro do país."
Rudimentos de gestão subprime
Quem, como eu, não está por enquanto desempregado nem perdeu ainda o seu negócio, pode dar-se ao luxo de se deixar fascinar pelos surpreendentes acontecimentos dos dias que correm.
Vamos gastar muito tempo a interpretar o que se está a passar. Precisaremos de anos para seguir as diversas pistas até às suas causas essenciais. Nenhum de nós consegue adivinhar que novo mundo emergirá desta confusão, mas decerto será muito diferente do actual.
No artigo que esta semana publiquei no Jornal de Negócios decidi começar a puxar o fio à meada.
Vamos gastar muito tempo a interpretar o que se está a passar. Precisaremos de anos para seguir as diversas pistas até às suas causas essenciais. Nenhum de nós consegue adivinhar que novo mundo emergirá desta confusão, mas decerto será muito diferente do actual.
No artigo que esta semana publiquei no Jornal de Negócios decidi começar a puxar o fio à meada.
15.10.08
E o vencedor é...
O que é que o cidadão comum entende sobre esta crise financeira, se é que entende alguma coisa?
O que ele constata é que uma cáfila de financeiros se apropriou do dinheiro das pessoas por meios fraudulentos um pouco por todo o mundo com a cumplicidade de quem era suposto velar pelos nossos interesses. Para cúmulo, os políticos mobilizam-se agora para indemnizá-los, enchendo-lhes os bolsos com o produto dos impostos pagos pelos pobres cidadãos.
O problema é que isto, sendo meio mentira, também é meio verdade.
De modo que a força mais poderosa nos próximos tempos será o ressentimento dos de baixo contra os de cima, dos espoliados contra os poderosos, dos justos contra os pecadores.
À derrocada do capitalismo negocista não se seguirá o triunfo esplendoroso das virtudes socialistas, mas o ódio indiscriminado contra o dinheiro, o poder e o privilégio. Numa palavra, o terreno é mais propício do que nunca ao avanço do populismo, que é a força real que ao longo dos últimos anos tem vindo a germinar, soprada pelo desvario dos mass media e, em particular, da televisão.
Quando uma crise destas proporções estala, não surgem por milagre novas soluções para os problemas. Só pode ganhar apoio popular aquilo que já existe, e o que existe é o geral declínio da democracia liberal, ameaçada por inimigos que há longo tempo aguardavam esta oportunidade.
Não nos admiremos se assistirmos nos próximos ao recrudescimento do nacionalismo, da xenofobia e do belicismo, na Europa como fora dela.
Pensem nisso.
O que ele constata é que uma cáfila de financeiros se apropriou do dinheiro das pessoas por meios fraudulentos um pouco por todo o mundo com a cumplicidade de quem era suposto velar pelos nossos interesses. Para cúmulo, os políticos mobilizam-se agora para indemnizá-los, enchendo-lhes os bolsos com o produto dos impostos pagos pelos pobres cidadãos.
O problema é que isto, sendo meio mentira, também é meio verdade.
De modo que a força mais poderosa nos próximos tempos será o ressentimento dos de baixo contra os de cima, dos espoliados contra os poderosos, dos justos contra os pecadores.
À derrocada do capitalismo negocista não se seguirá o triunfo esplendoroso das virtudes socialistas, mas o ódio indiscriminado contra o dinheiro, o poder e o privilégio. Numa palavra, o terreno é mais propício do que nunca ao avanço do populismo, que é a força real que ao longo dos últimos anos tem vindo a germinar, soprada pelo desvario dos mass media e, em particular, da televisão.
Quando uma crise destas proporções estala, não surgem por milagre novas soluções para os problemas. Só pode ganhar apoio popular aquilo que já existe, e o que existe é o geral declínio da democracia liberal, ameaçada por inimigos que há longo tempo aguardavam esta oportunidade.
Não nos admiremos se assistirmos nos próximos ao recrudescimento do nacionalismo, da xenofobia e do belicismo, na Europa como fora dela.
Pensem nisso.
Frase do dia
Em directo da economia real
Nos EUA, a taxa de desemprego pulou dos 4,5% para os 6,1%. Depois do imobiliário, afunda-se a indústria automóvel. As ramificações destes dois sectores asseguram o alastramento da recessão a toda a economia.
No entanto, todos os sábios absentistas proclamam a firme intenção de impedir que a crise passe da esfera financeira para a esfera real.
Em directo da economia real que habito posso assegurar-lhes que, também por cá, está tudo a parar em virtude do adiamento generalizado dos projectos de investimento. As estatísticas haverão de comprová-lo mais tarde, mas não vale a pena aguardar pelo óbvio.
Reduzir marginalmente o IRC sobre lucros inexistentes ou distribuir esmolas avulsas pelos mais pobres não resolve o problema.
Do que se necessita é de investimento público de emergência em projectos de indiscutível interesse social e que possam ser executados a curto e médio prazo, de preferência com um grande envolvimento das autarquias.
Tanto quanto consigo entender, o governo português não se propõe aproveitar da melhor maneira a folga orçamental que resolveu conceder a si próprio. Talvez a União Europeia venha em nosso socorro, desta vez não com dinheiro, mas com a recomendação de políticas económicas mais perspicazes, provavelmente na linha das sugestões adiantadas há dias pelo Presidente do FMI.
No entanto, todos os sábios absentistas proclamam a firme intenção de impedir que a crise passe da esfera financeira para a esfera real.
Em directo da economia real que habito posso assegurar-lhes que, também por cá, está tudo a parar em virtude do adiamento generalizado dos projectos de investimento. As estatísticas haverão de comprová-lo mais tarde, mas não vale a pena aguardar pelo óbvio.
Reduzir marginalmente o IRC sobre lucros inexistentes ou distribuir esmolas avulsas pelos mais pobres não resolve o problema.
Do que se necessita é de investimento público de emergência em projectos de indiscutível interesse social e que possam ser executados a curto e médio prazo, de preferência com um grande envolvimento das autarquias.
Tanto quanto consigo entender, o governo português não se propõe aproveitar da melhor maneira a folga orçamental que resolveu conceder a si próprio. Talvez a União Europeia venha em nosso socorro, desta vez não com dinheiro, mas com a recomendação de políticas económicas mais perspicazes, provavelmente na linha das sugestões adiantadas há dias pelo Presidente do FMI.
9.10.08
8.10.08
6.10.08
4.10.08
2.10.08
Cada coisa a seu tempo
Escreve Francisco José Viegas: "Não é preciso perceber de economia para saber que são os contribuintes que vão pagar a despesa; por isso, a falência desses bancos não me parece mal."
Também não creio ser preciso saber muito de economia para entender que, sendo "esses bancos" tantos e tão grandes, o resultado da sua falência implicaria que o Estado gastasse muito mais dinheiro do que aquele que hoje está em causa para indemizar os depositantes e que, no que toca às aplicações não cobertas por garantias, os prejuízos suportados pelos "contribuintes" (americanos e doutros países) seriam colossais.
Por favor, compreendam isto: é indiscutível que as intervenções em curso nos EUA e na Europa são tremendamente injustas e que, em certa medida, introduzem perversas distorções ao correcto funcionamento dos mercados. Não conheço ninguém capaz de negá-lo. Sucede, porém, que a alternativa seria bem pior para todos nós.
Claro que se pode e deve acautelar o interesse público - e eu acredito que a nacionalização total ou parcial é a melhor maneira de o conseguir - mas qualquer pessoa de bom senso aceitará que se trata antes de mais de evitar o afundamento do barco em que todos nos encontramos. Trataremos da justiça depois, e acreditem que vai haver muitas oportunidades para isso.
Também não creio ser preciso saber muito de economia para entender que, sendo "esses bancos" tantos e tão grandes, o resultado da sua falência implicaria que o Estado gastasse muito mais dinheiro do que aquele que hoje está em causa para indemizar os depositantes e que, no que toca às aplicações não cobertas por garantias, os prejuízos suportados pelos "contribuintes" (americanos e doutros países) seriam colossais.
Por favor, compreendam isto: é indiscutível que as intervenções em curso nos EUA e na Europa são tremendamente injustas e que, em certa medida, introduzem perversas distorções ao correcto funcionamento dos mercados. Não conheço ninguém capaz de negá-lo. Sucede, porém, que a alternativa seria bem pior para todos nós.
Claro que se pode e deve acautelar o interesse público - e eu acredito que a nacionalização total ou parcial é a melhor maneira de o conseguir - mas qualquer pessoa de bom senso aceitará que se trata antes de mais de evitar o afundamento do barco em que todos nos encontramos. Trataremos da justiça depois, e acreditem que vai haver muitas oportunidades para isso.
"Invistam o meu dinheiro de contribuinte em investimentos que nos garantam um futuro sustentável"
Comentário ao meu post "A sombra de um economista" assinado pelo leitor Amílcar Gomes da Silva:
Sobre Campos e Cunha subscrevo totalmente a sua opinião. Como professor, deve ser como aqueles alunos de 20 valores, que postos perante a realidade da vida, não são capazes de decidir. Fazem estudos.
Um exemplo da vida. Sou administrador de uma pequena empresa, da fileira dos materiais de construção,onde o mercado do sector se caracteriza por uma oferta que é, ainda, o dobro da procura. Os preços de venda cairam rapidamente mais de 40%. Mercado bem desregulado e cuja perspectiva de crescimento é mínima.
Desde o início da crise neste sector em 2002 até 2006 tivemos sempre prejuízo. A energia (de origem fóssil) valia 40% do produto final. Cada ano pior. As vendas e os preços a cairem e os custos a aumentar. Em risco 24 postos de trabalho e o património de uma família.
Perante esta situação que fazer? Se o administrador fosse Campos e Cunha, coerentemente zero investimento e talvez rezar.
O que foi feito foi investir numa alternativa energética que reduzisse drasticamente os custos. Investiu-se em equipamentos para uma alternativa energética não fóssil e muito mais económica. Interessava sair da dependência do petróleo, mas o custo era imenso para o volume de negócios da empresa.
Mas, avançou-se e em 2007 já tivemos lucro. Com o terrível aumento do preço de petróleo se não tivessemos investido em 2006, hoje estávamos falidos e com 24 pessoas no desemprego. O investimento está quase pago e existe futuro para a empresa, pois não foi a uma alteração conjuntural a que se deu o resultado. É sustentável.
Ao contrário do Tarzan e do GL,afirmo que invistam o meu dinheiro de contribuinte em investimentos que nos garantam um futuro sustentável. Não o distribuam aos ditos pobres, porque eles não deixarão de ser pobres e muitos mais passarão a sê-lo, se não houver desenvolvimento e criação de emprego.
1.10.08
A festa
Rui Ramos repete hoje no Público ao seu argumento (ver síntese aqui) de que não temos nada que nos queixar das presentes agruras financeiras, porque, enquanto durou a festa, todos ganhámos com isso.
Ora eu não sei de que festa fala Rui Ramos, porque, comparando os últimos 30 anos com os 30 anos que os precederam:
1. O PIB per capita cresceu menos nos países da OCDE
2. O desemprego aumentou permanentemente para níveis mais elevados
3. As desigualdades económicas e sociais atingiram níveis inauditos desde o período anterior à 2ª guerra mundial
Logo, se houve festa, a maioria de nós não foi decerto convidada.
Ora eu não sei de que festa fala Rui Ramos, porque, comparando os últimos 30 anos com os 30 anos que os precederam:
1. O PIB per capita cresceu menos nos países da OCDE
2. O desemprego aumentou permanentemente para níveis mais elevados
3. As desigualdades económicas e sociais atingiram níveis inauditos desde o período anterior à 2ª guerra mundial
Logo, se houve festa, a maioria de nós não foi decerto convidada.
A sombra de um economista
Fiquei incrédulo ao ouvir Campos e Cunha proclamar ontem na SIC-Notícias que a presente situação financeira mundial e o consequente aumento dos jutos obriga a repensar os investimentos públicos programados, designadamente o novo aeroporto de Lisboa e o TGV.
É exactamente o contrário: o crescente diferencial entre as taxas de juro a que o Estado hoje consegue financiar-se em comparação com as exigidas às empresas recomendaria que projectos que estava previsto serem entregues à iniciativa privada sejam antes assumidos pelo sector público, pela simples razão de que, assim, ficarão muito mais baratos.
É claro, porém, que a opinião de Campos e Cunha não resulta dos novos condicionalismos financeiros que invoca em favor do seu argumento. Ele sempre foi contra o investimento público e, em particular, contra os projectos em causa, razão que, aliás, alegou para sair do governo na primeira curva da estrada. E isso porque Campos e Cunha é um dos daqueles financeiros de visão estreita incapazes de pensar uma estratégia de desenvolvimento para Portugal.
Talvez ele tenha ouvido dizer que o turismo é a primeira actividade económica do país, e é possível que alguém lhe tenha feito notar que o turismo algarvio só arrancou depois de construído o aeroporto de Faro. Somando e um e um, acredito ser viável fazê-lo entender que Lisboa - presentemente a nossa principal região turística - não pode desenvolver-se com um aeroporto que, nos rankings internacionais de satisfação dos passageiros, compete directamente com o de Bombaim.
Campos e Cunha (como Ferreira Leite, aliás, de quem parece ser ministro sombra) não se rala com minudências dessas. Não há dinheiro, e pronto: o resto, ou seja, o desenvolvimento da economia portuguesa já não é da conta dele. Esta atitude é aceitável num mero professor de Economia, mas não num ex-Ministro das Finanças com pretensões a líder de opinião.
Um ministro sombra ou a sombra de um economista? Decidam vocês.
É exactamente o contrário: o crescente diferencial entre as taxas de juro a que o Estado hoje consegue financiar-se em comparação com as exigidas às empresas recomendaria que projectos que estava previsto serem entregues à iniciativa privada sejam antes assumidos pelo sector público, pela simples razão de que, assim, ficarão muito mais baratos.
É claro, porém, que a opinião de Campos e Cunha não resulta dos novos condicionalismos financeiros que invoca em favor do seu argumento. Ele sempre foi contra o investimento público e, em particular, contra os projectos em causa, razão que, aliás, alegou para sair do governo na primeira curva da estrada. E isso porque Campos e Cunha é um dos daqueles financeiros de visão estreita incapazes de pensar uma estratégia de desenvolvimento para Portugal.
Talvez ele tenha ouvido dizer que o turismo é a primeira actividade económica do país, e é possível que alguém lhe tenha feito notar que o turismo algarvio só arrancou depois de construído o aeroporto de Faro. Somando e um e um, acredito ser viável fazê-lo entender que Lisboa - presentemente a nossa principal região turística - não pode desenvolver-se com um aeroporto que, nos rankings internacionais de satisfação dos passageiros, compete directamente com o de Bombaim.
Campos e Cunha (como Ferreira Leite, aliás, de quem parece ser ministro sombra) não se rala com minudências dessas. Não há dinheiro, e pronto: o resto, ou seja, o desenvolvimento da economia portuguesa já não é da conta dele. Esta atitude é aceitável num mero professor de Economia, mas não num ex-Ministro das Finanças com pretensões a líder de opinião.
Um ministro sombra ou a sombra de um economista? Decidam vocês.
Parabéns à CGTP
A jornada de luta da CGTP contra o Código de Trabalho mobilizou exclusivamente sectores laborais que não são afectados pelo Código de Trabalho.
Já não se percebe bem se a CGTP é afecta ao PSD ou ao PCP. Se o ridículo matasse...
Já não se percebe bem se a CGTP é afecta ao PSD ou ao PCP. Se o ridículo matasse...
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