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Já que, nesta era obcecada pela quantificação, estamos condenados a trabalhar para as estatísticas, ao menos que seja para aquelas que mais interessam.
É esse o tema do meu artigo de hoje no Jornal de Negócios, que pode ser lido na íntegra aqui.
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29.4.09
28.4.09
Análise económica do fracasso dos economistas
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Barry Eichengreen recorre aos modelos da economia da informação para explicar porque falharam globalmente os economistas num artigo que escreveu para a National Interest. Eis uma das suas conclusões:
Barry Eichengreen recorre aos modelos da economia da informação para explicar porque falharam globalmente os economistas num artigo que escreveu para a National Interest. Eis uma das suas conclusões:
"The more housing prices rose and the longer predictions of their decline looked to be wrong, the lonelier the intellectual nonconformists became. Sociologists may be more familiar than economists with the psychic costs of nonconformity. But because there is a strong external demand for economists’ services, they may experience even-stronger economic incentives than their colleagues in other disciplines to conform to the industry-held view. They can thus incur even-greater costs—economic and also psychic—from falling out of step."Barry acredita, porém, que as coisas vão melhorar:
"The late twentieth century was the heyday of deductive economics. Talented and facile theorists set the intellectual agenda. Their very facility enabled them to build models with virtually any implication, which meant that policy makers could pick and choose at their convenience. Theory turned out to be too malleable, in other words, to provide reliable guidance for policy..
"In contrast, the twenty-first century will be the age of inductive economics, when empiricists hold sway and advice is grounded in concrete observation of markets and their inhabitants. Work in economics, including the abstract model building in which theorists engage, will be guided more powerfully by this real-world observation. It is about time."
Epitáfio condicional
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Excelente artigo de Gideon Rachman no Financial Times sobre a bancarrota ideológica do Thatcherismo:
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Excelente artigo de Gideon Rachman no Financial Times sobre a bancarrota ideológica do Thatcherismo:
"Thatcherism is also out of fashion internationally. When Nicolas Sarkozy was elected president of France in 2007, he quietly encouraged the idea that he was the French version of Mrs Thatcher. But these days he likes to be photographed clutching a copy of Das Kapital. Mrs Thatcher venerated the free enterprise of the US. But the new US president seems strangely enamoured of the European social system.Muitos não concordarão com esta conclusão; mas, a mim, parece-me justíssima."
"Perhaps most damagingly, Thatcherism has lost the moral high ground. The Iron Lady once proclaimed, slightly sinisterly: “Economics is the method. The object is to change the soul.” She meant that British people had to rediscover the virtue of traditional values such as hard work and thrift. The “something for nothing” society was over.
(...)
"One of Mrs Thatcher’s most famous phrases was: “There is no alternative.” As yet, no major political figure in Britain or the western world has really articulated a coherent alternative to the free-market principles inherited from Thatcherism. Until that happens, the Thatcher era will not be definitively over.
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"Se eu disse alguma coisa que tenha dito, isso só pode ser uma distorsão das minhas palavras"
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Adivinha: ela disse mesmo isto ou não?
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Adivinha: ela disse mesmo isto ou não?
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27.4.09
24.4.09
Que é feito?
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"Oh Mr. Marx, yes, to be sure. Gave us a lot of work 'e did, with all 'is calls for books and papers... And then one day 'e just stopped coming. And you know what's a funny thing, sir? Nobody's ever 'eard of 'im since!"
(Velho depoimento de um funcionário da sala de leitura do British Museum citado por Christopher Hitchens na Atlantic de Abril.)
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"Oh Mr. Marx, yes, to be sure. Gave us a lot of work 'e did, with all 'is calls for books and papers... And then one day 'e just stopped coming. And you know what's a funny thing, sir? Nobody's ever 'eard of 'im since!"
(Velho depoimento de um funcionário da sala de leitura do British Museum citado por Christopher Hitchens na Atlantic de Abril.)
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23.4.09
Soluções à procura de problemas
Uma solução é solução para alguma coisa. Que problema resolveria então a criação de uma portagem à entrada do concelho de Lisboa?
Os homens gostam de viver em cidades. Essa preferência pode ser satisfeita porque as cidades são uma forma económica de organizar a vida em sociedade, visto que, ao aproximarem as pessoas umas das outras, reduzem toda a espécie de custos de transacção.
A área metropolitana de Lisboa está espalhada por uma área gigantesca que, apesar de ir de Torres a Setúbal, aloja apenas 2,6 milhões de pessoas. Logo, os habitantes não beneficiam dos ganhos de proximidade e gastam muito tempo e dinheiro em deslocações dentro dela.
Lisboa é uma metrópole disfuncional, pocuo agradável para quem cá vive e ineficiente do ponto de vista energético. A natureza do território ajuda a explicar a sua expansão em mancha de óleo a partir dos anos 60, mas a causa fundamental é o deficiente planeamento urbano que sistematicamente acomodou a construção clandestina e os loteamentos selvagens.
É caro infra-estruturar um território com uma população tão dispersa. Levou-se electricidade, água e telefone a toda a gente com custos colossais, mas não se pode fazer o mesmo, por exemplo, com o comboio.
Os escassos terrenos que beneficiaram de um investimento urbano minimamente consequente encareceram brutalmente por comparação com periferias-dormitório, mal servidas de equipamentos sociais, de espaços verdes e de acessos. Esse encarecimento relativo estimulou a fuga para a periferia e o esvaziamento do centro, que não parou de perder população ao longo de três décadas.
Entretanto, alguns concelhos limítrofe sofreram uma requalificação significativa, o que os tornou mais atractivos para viver e trabalhar. Depois de fugirem os residentes, também os empregos começam a fugir do concelho de Lisboa.
Os lisboetas queixam-se de que a cidade está cheia nos dias úteis, mas também de que está vazia à noite e aos fins de semana. Esse fenómeno reflecte uma progressiva perda de funcionalidades e, logo, de atractividade do centro metropolitano.
A consequência mais óbvia e perigosa é a fragmentação da Grande Lisboa. Cada vez mais, muitos dos seus habitantes passam meses ou mesmo anos sem sem se deslocarem à inner Lisbon. As distâncias percorridas pelos habitantes tendem a crescer, o que, nas circunstâncias presentes, implica mais deslocações de automóvel e mais ineficiência energética.
Eu diria, portanto, que é necessário compactar Lisboa, reforçar o centro e reestabelecer uma relação mais equilibrada entre o centro e a periferia. Isto implica promover a mobilidade no interior da região, mas de uma forma que proteja o ambiente economize energia, o que necessariamente nos remete para a promoção do transporte público.
Como é que a criação de uma portagem à entrada do concelho de Lisboa poderá contribuir para fazer isso? Os adeptos desta solução propõem-se antes de mais reduzir a entrada diária de carros na cidade e a consequente circulação, com o que ela ganharia em qualidade do ar e descongestionamento. Vêem-na, além disso, como um incentivo à utilização do transporte público para entrar na cidade. Acreditam, por último, que as receitas da portagem urbana permitiriam financiar a melhoria do transporte público.
Começarei por fazer notar que em Lisboa, ao contrário do que se passa na generalidade das cidades europeias, paga-se portagem para circular nas auto-estradas e pontes de acesso ao concelho. O único eixo não pago é o de Sintra. Logo, a portagem agora proposta consistiria basicamente em acrescentar uma nova linha de fortificação contra a quotidiana invasão dos subúrbios. Que resultados daí adiviriam?
Em primeiro lugar, um encarecimento relativo dos terrenos e das casas dentro do concelho, o que contribuiria para torná-lo ainda menos atractivo do que já é para os residentes e para as empresas. Daí tenderá a decorrer uma maior desertificação da cidade.
Em segundo lugar, um agravamento das condições de deslocação quotidiana dos residentes dos subúrbios que trabalham em Lisboa.
Em terceiro lugar, um aumento da circulação automóvel dos residentes dentro da cidade, tirando partido da retirada dos veículos dos não residentes.
O segundo ponto será certamente contestado pelos adeptos da portagem. Alguns, porque acham que os transportes públicos são já suficientemente bons, e que a sua não utilização deve-se sobretudo à força das rotinas instaladas ou a preconceitos snobs. Outros, porque só concebem a instalação da portagem em articulação com um investimento significativo e sustentado na melhoria da rede dos transportes públicos.
A opinião de que dispomos já de bons transportes públicos é desmentida tanto pela experiência quotidiana de tanta e tanta gente como por elementares comparações internacionais com cidades de dimensão e características comparáveis às de Lisboa. Há cada vez mais percursos casa-trabalho que pura e simplesmente não são servidos por qualquer forma de transporte público.
Fica então de pé a alternativa de se usar as receitas das portagens para resolver o problema. A primeira pergunta que cabe aqui fazer é: por que não antes? Por que não melhorar primeiro os transportes públicos e só depois eventualmente introduzir as portagens? O argumento, aparentemente, é que as próprias portagens libertarão as verbas necessárias para financiar esse projecto.
A isso eu responderei duas coisas: a primeira, é que as portagens que já são pagas para entrar em Lisboa nunca, até hoje, foram utilizadas para reforçar o sistema público de transportes. A segunda é que a melhoria desse sistema demorará anos e anos, durante os quais aqueles que hoje não têm alternativa melhor que o transporte individual sofrerão uma nova degradação da sua qualidade de vida com um aumento dos tempos de deslocação de casa para o trabalho.
Proponho, assim, uma primeira conclusão: as portagens melhorarão a qualidade de vida de quem mora no concelho e de quem, vindo de fora, tem capacidade económica para as pagar. Todos os restantes habitantes da região ficarão pior.
A minha segunda conclusão é que a região metropolitana tornar-se-á mais desarticulada do que já o é. Alguns concelhos limítrofes que entretanto ganharam qualidade de vida (estou a pensar antes de mais em Oeiras) poderão optar por instituir também portagens à entrada.
Decorre daí uma terceira conclusão: com a desagregação da região, aumentarão genericamente os custos de transacção e a metrópole tornar-se-á menos eficiente e, logo, menos competitiva no panorama internacional.
A longo prazo, antevejo resultados ainda mais catastróficos. Lisboa concelho dificultará o acesso aos cidadãos ao mesmo tempo que perde centralidades, ou seja, ao mesmo tempo que oferece menos valor acrescentado. Acentuar-se-á a tendência para uma área metropolitana multi-popular disfuncional, o que destrói a capacidade de atracção da cidade, fragmenta o território e potencia uma organização espacial que reforça a discriminação de classe.
Lisboa concelho não é já hoje um pólo suficientemente atraente para poder dar-se ao luxo de criar barreiras ao acesso. Precisamos de ligar e coser uma malha urbana corroída por factores potenciadores de desagregação, não de criar novos factores de divisão ou mesmo de exclusão. O centro da região de Lisboa precisa de reaprender a prestar serviços à periferia, não de hostilizá-la.
As portagens à entrada de Lisboa são uma solução simples, rápida, económica e, sobretudo, moderna. A experiência passada sugere, pois, que tem todas as condições para ser posta em prática, por muito evidentes que sejam os seus defeitos. Não esqueçamos, além do mais, que tudo o que agrava as desigualdades sociais foi inventado aqui.
É claro que há outra via, mais difícil e morosa – principalmente porque implica a constituição da região político-administrativa de Lisboa – mas, a meu ver, a única que nos levará a algum sítio onde vale a pena ir.
Os homens gostam de viver em cidades. Essa preferência pode ser satisfeita porque as cidades são uma forma económica de organizar a vida em sociedade, visto que, ao aproximarem as pessoas umas das outras, reduzem toda a espécie de custos de transacção.
A área metropolitana de Lisboa está espalhada por uma área gigantesca que, apesar de ir de Torres a Setúbal, aloja apenas 2,6 milhões de pessoas. Logo, os habitantes não beneficiam dos ganhos de proximidade e gastam muito tempo e dinheiro em deslocações dentro dela.
Lisboa é uma metrópole disfuncional, pocuo agradável para quem cá vive e ineficiente do ponto de vista energético. A natureza do território ajuda a explicar a sua expansão em mancha de óleo a partir dos anos 60, mas a causa fundamental é o deficiente planeamento urbano que sistematicamente acomodou a construção clandestina e os loteamentos selvagens.
É caro infra-estruturar um território com uma população tão dispersa. Levou-se electricidade, água e telefone a toda a gente com custos colossais, mas não se pode fazer o mesmo, por exemplo, com o comboio.
Os escassos terrenos que beneficiaram de um investimento urbano minimamente consequente encareceram brutalmente por comparação com periferias-dormitório, mal servidas de equipamentos sociais, de espaços verdes e de acessos. Esse encarecimento relativo estimulou a fuga para a periferia e o esvaziamento do centro, que não parou de perder população ao longo de três décadas.
Entretanto, alguns concelhos limítrofe sofreram uma requalificação significativa, o que os tornou mais atractivos para viver e trabalhar. Depois de fugirem os residentes, também os empregos começam a fugir do concelho de Lisboa.
Os lisboetas queixam-se de que a cidade está cheia nos dias úteis, mas também de que está vazia à noite e aos fins de semana. Esse fenómeno reflecte uma progressiva perda de funcionalidades e, logo, de atractividade do centro metropolitano.
A consequência mais óbvia e perigosa é a fragmentação da Grande Lisboa. Cada vez mais, muitos dos seus habitantes passam meses ou mesmo anos sem sem se deslocarem à inner Lisbon. As distâncias percorridas pelos habitantes tendem a crescer, o que, nas circunstâncias presentes, implica mais deslocações de automóvel e mais ineficiência energética.
Eu diria, portanto, que é necessário compactar Lisboa, reforçar o centro e reestabelecer uma relação mais equilibrada entre o centro e a periferia. Isto implica promover a mobilidade no interior da região, mas de uma forma que proteja o ambiente economize energia, o que necessariamente nos remete para a promoção do transporte público.
Como é que a criação de uma portagem à entrada do concelho de Lisboa poderá contribuir para fazer isso? Os adeptos desta solução propõem-se antes de mais reduzir a entrada diária de carros na cidade e a consequente circulação, com o que ela ganharia em qualidade do ar e descongestionamento. Vêem-na, além disso, como um incentivo à utilização do transporte público para entrar na cidade. Acreditam, por último, que as receitas da portagem urbana permitiriam financiar a melhoria do transporte público.
Começarei por fazer notar que em Lisboa, ao contrário do que se passa na generalidade das cidades europeias, paga-se portagem para circular nas auto-estradas e pontes de acesso ao concelho. O único eixo não pago é o de Sintra. Logo, a portagem agora proposta consistiria basicamente em acrescentar uma nova linha de fortificação contra a quotidiana invasão dos subúrbios. Que resultados daí adiviriam?
Em primeiro lugar, um encarecimento relativo dos terrenos e das casas dentro do concelho, o que contribuiria para torná-lo ainda menos atractivo do que já é para os residentes e para as empresas. Daí tenderá a decorrer uma maior desertificação da cidade.
Em segundo lugar, um agravamento das condições de deslocação quotidiana dos residentes dos subúrbios que trabalham em Lisboa.
Em terceiro lugar, um aumento da circulação automóvel dos residentes dentro da cidade, tirando partido da retirada dos veículos dos não residentes.
O segundo ponto será certamente contestado pelos adeptos da portagem. Alguns, porque acham que os transportes públicos são já suficientemente bons, e que a sua não utilização deve-se sobretudo à força das rotinas instaladas ou a preconceitos snobs. Outros, porque só concebem a instalação da portagem em articulação com um investimento significativo e sustentado na melhoria da rede dos transportes públicos.
A opinião de que dispomos já de bons transportes públicos é desmentida tanto pela experiência quotidiana de tanta e tanta gente como por elementares comparações internacionais com cidades de dimensão e características comparáveis às de Lisboa. Há cada vez mais percursos casa-trabalho que pura e simplesmente não são servidos por qualquer forma de transporte público.
Fica então de pé a alternativa de se usar as receitas das portagens para resolver o problema. A primeira pergunta que cabe aqui fazer é: por que não antes? Por que não melhorar primeiro os transportes públicos e só depois eventualmente introduzir as portagens? O argumento, aparentemente, é que as próprias portagens libertarão as verbas necessárias para financiar esse projecto.
A isso eu responderei duas coisas: a primeira, é que as portagens que já são pagas para entrar em Lisboa nunca, até hoje, foram utilizadas para reforçar o sistema público de transportes. A segunda é que a melhoria desse sistema demorará anos e anos, durante os quais aqueles que hoje não têm alternativa melhor que o transporte individual sofrerão uma nova degradação da sua qualidade de vida com um aumento dos tempos de deslocação de casa para o trabalho.
Proponho, assim, uma primeira conclusão: as portagens melhorarão a qualidade de vida de quem mora no concelho e de quem, vindo de fora, tem capacidade económica para as pagar. Todos os restantes habitantes da região ficarão pior.
A minha segunda conclusão é que a região metropolitana tornar-se-á mais desarticulada do que já o é. Alguns concelhos limítrofes que entretanto ganharam qualidade de vida (estou a pensar antes de mais em Oeiras) poderão optar por instituir também portagens à entrada.
Decorre daí uma terceira conclusão: com a desagregação da região, aumentarão genericamente os custos de transacção e a metrópole tornar-se-á menos eficiente e, logo, menos competitiva no panorama internacional.
A longo prazo, antevejo resultados ainda mais catastróficos. Lisboa concelho dificultará o acesso aos cidadãos ao mesmo tempo que perde centralidades, ou seja, ao mesmo tempo que oferece menos valor acrescentado. Acentuar-se-á a tendência para uma área metropolitana multi-popular disfuncional, o que destrói a capacidade de atracção da cidade, fragmenta o território e potencia uma organização espacial que reforça a discriminação de classe.
Lisboa concelho não é já hoje um pólo suficientemente atraente para poder dar-se ao luxo de criar barreiras ao acesso. Precisamos de ligar e coser uma malha urbana corroída por factores potenciadores de desagregação, não de criar novos factores de divisão ou mesmo de exclusão. O centro da região de Lisboa precisa de reaprender a prestar serviços à periferia, não de hostilizá-la.
As portagens à entrada de Lisboa são uma solução simples, rápida, económica e, sobretudo, moderna. A experiência passada sugere, pois, que tem todas as condições para ser posta em prática, por muito evidentes que sejam os seus defeitos. Não esqueçamos, além do mais, que tudo o que agrava as desigualdades sociais foi inventado aqui.
É claro que há outra via, mais difícil e morosa – principalmente porque implica a constituição da região político-administrativa de Lisboa – mas, a meu ver, a única que nos levará a algum sítio onde vale a pena ir.
22.4.09
O futebol educa
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Sustento há muito que o futebol contribui decisivamente para elevar o nível intelectual dos nossos media. O seguinte post, retirado daqui, vem mais uma vez confirmá-lo:
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Sustento há muito que o futebol contribui decisivamente para elevar o nível intelectual dos nossos media. O seguinte post, retirado daqui, vem mais uma vez confirmá-lo:
Comentei outro dia acerca da incapacidade dos jornalistas em divulgarem os multiplos de ebitda quando sao anunciadas as fusoes.Uma possivel explicacao seria que os jornalistas fossem incapazes de pensar em termos de valor. Claro que isto nao faz sentido.Ai, ai.
Um artigo do jornalista Filipe Alexandre Dias no jornal O Jogo de hoje chamou-me a atencao para a capacidade analitica dos jornalistas.
No artigo trata-se do verdadeiro valor do Sporting. O jornalista comecou por consultar o relatorio anual do Sporting, a partir do site da cmvm. Encontrou a avaliacao do plantel. Comparou com os concorrentes Benfica e F.C. Porto.
Em seguida, insastifeito com a avaliacao, tratou de avaliar os jogadores mais novos, que nao sao avaliados no relatorio anual.
Para tal, consultou um painel de 4 brokers e tirou a media das estimativas de cada um.
Finalmente, comparou este valor com o website www.transfermarkt.de que tambem tem estimativas dos valores de transferencia.
Conclui que o valor do plantel contando os jovens seria 54 milhoes de euros superior aquilo que e apresentado no relatorio anual.
Que grande analise.
Como seria se os jornais economicos fizessem analises semelhantes nao sobre jogadores mas sobre activos das empresas cotadas? Seria muito mais interessante ler jornais. Mas ninguem na imprensa economica ousa fazer este tipo de analise, pergunto porque.
Francamente nao sei, mas se um jornalista d'O Jogo faz sobre o Sporting nao me convencem que um jornalista de um jornal economico nao consiga fazer sobre (por exemplo) a Teixeira Duarte ou qualquer outra empresa cotada. Basta seguir este metodo, nao ha que inventar nada!
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21.4.09
O que ganhámos?
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Gostei de saber que o projecto do BE sobre o sigilo bancário só prevê a fiscalização dos depósitos, não a dos pagamentos realizados a partir de uma conta. Agora, só nos resta esperar que o PS não tente ultrapassá-lo pela esquerda para mostrar serviço.
Resta-me uma dúvida: a ser assim, o que mudará então com a nova lei, visto que, ao contrário do que trombeteou Louçã, o sigilo bancário não foi de facto abolido, mas simplesmente mitigado?
A única diferença, creio, é que agora não será necessária a intervenção de um juiz para autorizar o fisco a meter o nariz nos depósitos de cada um. Uma mera decisão administrativa bastará.
Será isto bom? Os juízes recusavam com frequência os pedidos da fiscalização tributária? Demoravam ao menos muito tempo a atendê-los? Ouço dizer que nada disso é verdade.
Que ganhámos então, senão a materialização de um princípio em si mesmo perigoso, e que ficará agora a aguardar a oportunidade mais indicada para se expandir em sentidos por enquanto imprevisíveis? Parece-me que, apesar dos esclarecimentos, vou continuar a desconfiar da iniciativa do Bloco apoiada pelo PS.
Francamente, parece-me lamentável que dois partidos de esquerda se rebaixem por chãs considerações eleitoralistas a colaborar no avanço da aparentemente imparável deriva populista.
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Gostei de saber que o projecto do BE sobre o sigilo bancário só prevê a fiscalização dos depósitos, não a dos pagamentos realizados a partir de uma conta. Agora, só nos resta esperar que o PS não tente ultrapassá-lo pela esquerda para mostrar serviço.
Resta-me uma dúvida: a ser assim, o que mudará então com a nova lei, visto que, ao contrário do que trombeteou Louçã, o sigilo bancário não foi de facto abolido, mas simplesmente mitigado?
A única diferença, creio, é que agora não será necessária a intervenção de um juiz para autorizar o fisco a meter o nariz nos depósitos de cada um. Uma mera decisão administrativa bastará.
Será isto bom? Os juízes recusavam com frequência os pedidos da fiscalização tributária? Demoravam ao menos muito tempo a atendê-los? Ouço dizer que nada disso é verdade.
Que ganhámos então, senão a materialização de um princípio em si mesmo perigoso, e que ficará agora a aguardar a oportunidade mais indicada para se expandir em sentidos por enquanto imprevisíveis? Parece-me que, apesar dos esclarecimentos, vou continuar a desconfiar da iniciativa do Bloco apoiada pelo PS.
Francamente, parece-me lamentável que dois partidos de esquerda se rebaixem por chãs considerações eleitoralistas a colaborar no avanço da aparentemente imparável deriva populista.
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19.4.09
"A todos o que é de todos"
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Temos a sétima maior polícia do mundo em proporção da população. O relatório anual da Amnistia Internacional denuncia regularmente as violações dos direitos humanos por ela praticados, sem que o assunto provoque mais do que um encolher de ombros dos seus responsáveis.
As escutas telefónicas são tão correntes que se tornaram na principal técnica de investigação. O líder do PS esteve a dada altura sob escuta, o mesmo acontecendo com algumas conversas do Presidente da República. O Procurador-Geral da República confessa ignorar se não será também alvo de tais práticas.
Apesar de tudo isto, o estado da investigação é, em Portugal, aquilo que se sabe. Ao que parece, precisa de mais meios e, sobretudo, de menos empecilhos legais para enfrentar com êxito a criminalidade. É essa a justificação invocada para os sindicatos dos juízes, dos magistrados e dos polícias conduzirem permanentemente campanhas contra a legislação que esses agentes da justiça são supostos aplicar.
A experiência das duas últimas décadas sugere, porém, que investigadores e polícias preocupam-se menos em combater a criminalidade do que em alimentar campanhas contra pessoas e instituições em nome de causas e doutrinas que só a eles interessam.
Agita-se muitos nomes, ameaça-se com muitos casos, organiza-se muita fuga de informação, mas, no fim, o resultado é invariavelmente nulo: entre investigações misteriosamente abandonadas, prazos previsivelmente prescritos e acusações ridiculamente recusadas pelos tribunais, nada ou quase resulta.
Um ingénuo líder da oposição, apostado em apresentar-se como modelo de virtudes, propôs em tempos que qualquer arguido deveria demitir-se dos cargos públicos ocupados, sem entender que essa prática equivaleria a conceder à polícia o direito de decidir quem deverá governar-nos. Penso, às vezes, que é exactamente isso que se pretende.
A mais recente frente de luta é a abolição do sigilo bancário, uma iniciativa pretensamente indispensável para o combate eficaz à corrupção.
O sigilo bancário existe em todos os países civilizados. Por outro lado, o sigilo bancário não é absoluto em sítio nenhum: em toda a parte - e em Portugal também - pode ser levantado em circunstâncias excepcionais devidamente justificadas. Entre nós, por exemplo, os juízes concedem diariamente dezenas de autorizações para que sejam investigados os movimentos de contas de cidadãos sob investigação.
Ninguém sabe ao certo o que foi decidido a este respeito na passada 6ª feira na AR. O que pretende o PS fazer na sequência das propostas do Bloco para que uma mera decisão da administração fiscal permita o acesso às contas bancárias de qualquer pessoa, dispensando a intervenção de um juíz? Mistério.
Escutei, porém, da boca do próprio Louçã, a reivindicação essencial do Bloco de Esquerda, a saber: o acesso sem limitações e a qualquer momento aos movimentos bancários de qualquer pessoa.
Tendo em conta a reserva de segredo de justiça a que estamos habituados, podemos estar certos de que, a ser satisfeita tal exigência, em breve saberemos através dos nossos media como que é que as principais figuras públicas nacionais gastam o seu dinheiro. Ninguém mais terá, pois, direito à sua privacidade.
Mais um grande passo em frente do populismo mediático-policial que, envenenando o nosso viver colectivo, paulatinamente abre caminho a uma tirania cujos contornos a pouco e pouco se vão tornando mais precisos.
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Temos a sétima maior polícia do mundo em proporção da população. O relatório anual da Amnistia Internacional denuncia regularmente as violações dos direitos humanos por ela praticados, sem que o assunto provoque mais do que um encolher de ombros dos seus responsáveis.
As escutas telefónicas são tão correntes que se tornaram na principal técnica de investigação. O líder do PS esteve a dada altura sob escuta, o mesmo acontecendo com algumas conversas do Presidente da República. O Procurador-Geral da República confessa ignorar se não será também alvo de tais práticas.
Apesar de tudo isto, o estado da investigação é, em Portugal, aquilo que se sabe. Ao que parece, precisa de mais meios e, sobretudo, de menos empecilhos legais para enfrentar com êxito a criminalidade. É essa a justificação invocada para os sindicatos dos juízes, dos magistrados e dos polícias conduzirem permanentemente campanhas contra a legislação que esses agentes da justiça são supostos aplicar.
A experiência das duas últimas décadas sugere, porém, que investigadores e polícias preocupam-se menos em combater a criminalidade do que em alimentar campanhas contra pessoas e instituições em nome de causas e doutrinas que só a eles interessam.
Agita-se muitos nomes, ameaça-se com muitos casos, organiza-se muita fuga de informação, mas, no fim, o resultado é invariavelmente nulo: entre investigações misteriosamente abandonadas, prazos previsivelmente prescritos e acusações ridiculamente recusadas pelos tribunais, nada ou quase resulta.
Um ingénuo líder da oposição, apostado em apresentar-se como modelo de virtudes, propôs em tempos que qualquer arguido deveria demitir-se dos cargos públicos ocupados, sem entender que essa prática equivaleria a conceder à polícia o direito de decidir quem deverá governar-nos. Penso, às vezes, que é exactamente isso que se pretende.
A mais recente frente de luta é a abolição do sigilo bancário, uma iniciativa pretensamente indispensável para o combate eficaz à corrupção.
O sigilo bancário existe em todos os países civilizados. Por outro lado, o sigilo bancário não é absoluto em sítio nenhum: em toda a parte - e em Portugal também - pode ser levantado em circunstâncias excepcionais devidamente justificadas. Entre nós, por exemplo, os juízes concedem diariamente dezenas de autorizações para que sejam investigados os movimentos de contas de cidadãos sob investigação.
Ninguém sabe ao certo o que foi decidido a este respeito na passada 6ª feira na AR. O que pretende o PS fazer na sequência das propostas do Bloco para que uma mera decisão da administração fiscal permita o acesso às contas bancárias de qualquer pessoa, dispensando a intervenção de um juíz? Mistério.
Escutei, porém, da boca do próprio Louçã, a reivindicação essencial do Bloco de Esquerda, a saber: o acesso sem limitações e a qualquer momento aos movimentos bancários de qualquer pessoa.
Tendo em conta a reserva de segredo de justiça a que estamos habituados, podemos estar certos de que, a ser satisfeita tal exigência, em breve saberemos através dos nossos media como que é que as principais figuras públicas nacionais gastam o seu dinheiro. Ninguém mais terá, pois, direito à sua privacidade.
Mais um grande passo em frente do populismo mediático-policial que, envenenando o nosso viver colectivo, paulatinamente abre caminho a uma tirania cujos contornos a pouco e pouco se vão tornando mais precisos.
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18.4.09
17.4.09
Acertar contas com o passado
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A apologética bem-pensante imagina que as coisas vão passar-se mais ou menos assim: dentro de meses - vá lá, um ano - a crise estará ultrapassada e as gentes render-se-ão de novo às delícias dos mercados livres, das sociedades anónimas, do crédito fácil e da especulação bolsista.
Enganam-se. Não fundamentalmente porque a recuperação poderá tardar, mas, principalmente, porque o descontentamento que podemos observar não resulta apenas da crise económica e das suas desastrosas consequências sobre as nossas vidas.
A crise funcionou apenas como um catalizador, potenciando o mal-estar acumulado que já vinha de trás. Há muito tempo muita gente sentia que o nosso modo de vida não faz grande sentido.
Agora, que a desconfiança se tornou em certeza, cresce a convicção de que chegou a hora das grandes mudanças.
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A apologética bem-pensante imagina que as coisas vão passar-se mais ou menos assim: dentro de meses - vá lá, um ano - a crise estará ultrapassada e as gentes render-se-ão de novo às delícias dos mercados livres, das sociedades anónimas, do crédito fácil e da especulação bolsista.
Enganam-se. Não fundamentalmente porque a recuperação poderá tardar, mas, principalmente, porque o descontentamento que podemos observar não resulta apenas da crise económica e das suas desastrosas consequências sobre as nossas vidas.
A crise funcionou apenas como um catalizador, potenciando o mal-estar acumulado que já vinha de trás. Há muito tempo muita gente sentia que o nosso modo de vida não faz grande sentido.
Agora, que a desconfiança se tornou em certeza, cresce a convicção de que chegou a hora das grandes mudanças.
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16.4.09
O Golpe Tranquilo
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Dois breves extractos do fundamental artigo de Simon Johnson na Atlantic de Maio intitulado "The Quiet Coup":
Boa noite, e bons sonhos.
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Dois breves extractos do fundamental artigo de Simon Johnson na Atlantic de Maio intitulado "The Quiet Coup":
The challenges the United States faces are familiar territory to the people at the IMF. If you hid the name of the country and just showed them the numbers, there is no doubt what old IMF hands would say: nationalize troubled banks and break them up as necessary.(...)Por outras palavras, segundo Johnson, a política económica norte-americana está refém de uma oligarquia financeira que impede o país de tomar as decisões mais apropriadas à actual situação. As consequências serão dramáticas para os EUA e para o mundo.
The second scenario begins more bleakly, and might end that way too. But it does provide at least some hope that we’ll be shaken out of our torpor. It goes like this: the global economy continues to deteriorate, the banking system in east-central Europe collapses, and—because eastern Europe’s banks are mostly owned by western European banks—justifiable fears of government insolvency spread throughout the Continent. Creditors take further hits and confidence falls further. The Asian economies that export manufactured goods are devastated, and the commodity producers in Latin America and Africa are not much better off. A dramatic worsening of the global environment forces the U.S. economy, already staggering, down onto both knees. The baseline growth rates used in the administration’s current budget are increasingly seen as unrealistic, and the rosy “stress scenario” that the U.S. Treasury is currently using to evaluate banks’ balance sheets becomes a source of great embarrassment.
Under this kind of pressure, and faced with the prospect of a national and global collapse, minds may become more concentrated.
The conventional wisdom among the elite is still that the current slump “cannot be as bad as the Great Depression.” This view is wrong. What we face now could, in fact, be worse than the Great Depression—because the world is now so much more interconnected and because the banking sector is now so big. We face a synchronized downturn in almost all countries, a weakening of confidence among individuals and firms, and major problems for government finances. If our leadership wakes up to the potential consequences, we may yet see dramatic action on the banking system and a breaking of the old elite. Let us hope it is not then too late.
Boa noite, e bons sonhos.
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Irresponsável desvalorização do risco
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Os preços baixaram em vários países, na maioria deles pela primeira vez desde há décadas.
Será a deflação? Não, tranquilizam-nos economistas que há mais de um ano negam que ela seja uma possibilidade real. Estamos apenas a assistir, dizem eles, às consequências da baixa dos preços do petróleo e das matérias-primas, que ainda há pouco atingiram máximos históricos.
Asseguram-nos que a probabilidade da deflação é pequena, talvez 20%. Vinte por cento? Palavra?
Eu pasmo com tanta sabedoria de quem até agora tem revelado tão pouca. É evidente que o petróleo tem muito a ver com o que está a passar-se, mas quem ignora que, numa conjuntura recessiva como a actual, as expectativas do grande público podem contribuir para instaurar uma descida duradoura dos preços?
A deflação, faço notar, não é um risco qualquer. Pode desencadear uma brusca paragem da economia mundial e determinar a duplicação do desemprego quase de um dia para o outro.
Quando uma pessoa sabe que há uma probabilidade de 20% de morrer amanhã, toma imediatamente as suas precauções. Ou não?
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Os preços baixaram em vários países, na maioria deles pela primeira vez desde há décadas.
Será a deflação? Não, tranquilizam-nos economistas que há mais de um ano negam que ela seja uma possibilidade real. Estamos apenas a assistir, dizem eles, às consequências da baixa dos preços do petróleo e das matérias-primas, que ainda há pouco atingiram máximos históricos.
Asseguram-nos que a probabilidade da deflação é pequena, talvez 20%. Vinte por cento? Palavra?
Eu pasmo com tanta sabedoria de quem até agora tem revelado tão pouca. É evidente que o petróleo tem muito a ver com o que está a passar-se, mas quem ignora que, numa conjuntura recessiva como a actual, as expectativas do grande público podem contribuir para instaurar uma descida duradoura dos preços?
A deflação, faço notar, não é um risco qualquer. Pode desencadear uma brusca paragem da economia mundial e determinar a duplicação do desemprego quase de um dia para o outro.
Quando uma pessoa sabe que há uma probabilidade de 20% de morrer amanhã, toma imediatamente as suas precauções. Ou não?
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14.4.09
Mercados e valores
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Philip Blond escreve no FT acerca de uma recente declaração de George Osborne, Chanceler do Tesouro no governo-sombra dos conservadores britânicos:
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Philip Blond escreve no FT acerca de uma recente declaração de George Osborne, Chanceler do Tesouro no governo-sombra dos conservadores britânicos:
Mr Osborne could not have been clearer; he repudiated laisser faire economics and the libertarian philosophy that licensed its practice. He rightly extolled the virtues of markets and capitalism but also made three crucial moves to distance his party from the now clearly bankrupt ideology of the free-market fundamentalists.E, a concluir:
First, he denied neo-liberalism’s foundational premise: the efficient markets hypothesis. Far from prices accurately representing all relevant information, he argued, they do not, probably never will and, even if they did, people would still not respond rationally.
Second, the shadow chancellor argued that since markets misprice risk and are prone to speculative bubbles, there is a need for effective regulation. He proposed both counter-cyclical capital requirements and the return of full discretionary macro-regulatory oversight to the Bank of England.
Finally, Mr Osborne argued that banks that are too big to fail should be broken up. In so doing, he rejects the neo-liberal and Chicago school-inspired dictum that market-generated monopolies are the most efficient distributor of resources and price utility.
Since markets are essentially amoral, it follows that they should be directed by a moral account of what we want them to achieve. Mr Osborne has begun to create the political economy that Mr Cameron has been arguing for. Markets are not the end of conservatism, just one of the means by which conservative ends are realised.Ele há gente que não está a dormir.
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Legenda
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Perguntam-me se o gráfico do post anterior não deveria ter uma legenda.
Se tivesse, seria algo do género: até ao momento, a fazer fé nos indicadores disponíveis, a actual depressão está a ser pior que a de 1930. E isto apesar de, ao contrário do que sucedeu há quase 80 anos, as autoridades monetárias terem reagido com prontidão à degradação da conjuntura. (Não falo da política orçamental porque essa, apesar do muito alarido, tem sido praticamente insignificante.)
Evidentemente, não se pode deduzir daqui nada quando ao futuro. É possível, embora não muito provável, que a economia mundial comece a recuperar nos próximos meses, desmentindo os prognósticos mais pessimistas.
Mas também pode acontecer que a uma curta recuperação se siga um novo mergulho nos infernos, como o gráfico mostra que sucedeu em certos momentos da Grande Depressão.
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Perguntam-me se o gráfico do post anterior não deveria ter uma legenda.
Se tivesse, seria algo do género: até ao momento, a fazer fé nos indicadores disponíveis, a actual depressão está a ser pior que a de 1930. E isto apesar de, ao contrário do que sucedeu há quase 80 anos, as autoridades monetárias terem reagido com prontidão à degradação da conjuntura. (Não falo da política orçamental porque essa, apesar do muito alarido, tem sido praticamente insignificante.)
Evidentemente, não se pode deduzir daqui nada quando ao futuro. É possível, embora não muito provável, que a economia mundial comece a recuperar nos próximos meses, desmentindo os prognósticos mais pessimistas.
Mas também pode acontecer que a uma curta recuperação se siga um novo mergulho nos infernos, como o gráfico mostra que sucedeu em certos momentos da Grande Depressão.
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13.4.09
9.4.09
Um ódio só não basta?
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Parece claro que uma parte substancial da população detesta Sócrates. Uma outra, porventura não inferior, não pode ver Barroso nem pintado.
Logo, o PS está a pedir-nos que votemos simultaneamente nas europeias em duas personalidades que, em conjunto, quase fazem o pleno do ódio popular.
Pior que pouco inteligente, a estratégia é suicida. Mais grave ainda, dizer-se que Barroso é o candidato de Portugal à Presidência da Comissão Europeia mesmo que o Partido Socialista Europeu saia vitorioso das eleições de Junho próximo equivale a retirar-lhes importância.
Nestas circunstâncias, para quê votar? Só se for, claro está, para infligir uma derrota à coligação Sócrates/ Barroso. Vamos a isso?
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Parece claro que uma parte substancial da população detesta Sócrates. Uma outra, porventura não inferior, não pode ver Barroso nem pintado.
Logo, o PS está a pedir-nos que votemos simultaneamente nas europeias em duas personalidades que, em conjunto, quase fazem o pleno do ódio popular.
Pior que pouco inteligente, a estratégia é suicida. Mais grave ainda, dizer-se que Barroso é o candidato de Portugal à Presidência da Comissão Europeia mesmo que o Partido Socialista Europeu saia vitorioso das eleições de Junho próximo equivale a retirar-lhes importância.
Nestas circunstâncias, para quê votar? Só se for, claro está, para infligir uma derrota à coligação Sócrates/ Barroso. Vamos a isso?
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8.4.09
7.4.09
O multiplicador da ignorância
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O Nobel da Economia Gary Becker declarou em 23 de Março ao Wall Street Journal:
Não estamos a falar de Portugal, onde os recursos para a investigação são muito escassos, mas dos EUA, com milhares de economistas em actividade, muitos deles Prémios Nobel como Becker.
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O Nobel da Economia Gary Becker declarou em 23 de Março ao Wall Street Journal:
"Keynesianism was out of fashion for so long that we stopped investigating variables the Keynesians would look at such as the multiplier, and there is almost no evidence on what the multiplier would be." He thinks that the paper by Christina Romer, chairman of the Council of Economic Advisors, "saying that the multiplier is about one and a half [is] based on very weak, even nonexistent evidence." His guess? "I think it is a lot less than one. It gets higher in recessions and depressions so it's above zero now but significantly below one. I don't have a number, I haven't estimated it, but I think it would be well below one, let me put it that way."Isto é muito interessante pelo que revela do enviezamento ideológico que tem comandado a academia nas últimas décadas. Pura e simplesmente ninguém sabe qual é o valor do multiplicador porque ninguém se deu ao trabalho de calculá-lo!
Não estamos a falar de Portugal, onde os recursos para a investigação são muito escassos, mas dos EUA, com milhares de economistas em actividade, muitos deles Prémios Nobel como Becker.
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Política em cima do joelho
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A campanha do PS para o Parlamento Europeu começou por nos dar a conhecer que o Vital Moreira é europeu, novidade que compreensivelmente deixou de rastos o país.
Continuou logo logo com a confirmação de que, ao contrário do que muito justamente alvitrara Vital, o PS quer msmo ver Barroso na Presidência da União Europeia. Por outras palavras, o PS torce para que o Partido Socialista Europeu perca as eleições europeias, única garantia de que não surgirá qualquer obstáculo que possa dificultar esse supremo desígnio nacional.
Logo, se queres Barroso na Presidência, vota PS. Se não queres... Se eu fosse ao Bloco de Esquerda não falaria de mais nenhum assunto durante toda a campanha.
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A campanha do PS para o Parlamento Europeu começou por nos dar a conhecer que o Vital Moreira é europeu, novidade que compreensivelmente deixou de rastos o país.
Continuou logo logo com a confirmação de que, ao contrário do que muito justamente alvitrara Vital, o PS quer msmo ver Barroso na Presidência da União Europeia. Por outras palavras, o PS torce para que o Partido Socialista Europeu perca as eleições europeias, única garantia de que não surgirá qualquer obstáculo que possa dificultar esse supremo desígnio nacional.
Logo, se queres Barroso na Presidência, vota PS. Se não queres... Se eu fosse ao Bloco de Esquerda não falaria de mais nenhum assunto durante toda a campanha.
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5.4.09
Custos e competitividade
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Pedro Nueno, professor da Universidade de Navarrra e ex-gestor da indústria automóvel, conclui, com base na sua experiência na Europa do Leste:
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Pedro Nueno, professor da Universidade de Navarrra e ex-gestor da indústria automóvel, conclui, com base na sua experiência na Europa do Leste:
"Las 14 plantas de la península Ibérica [11 em Espanha e 3 em Portugal] tienen hoy unos costes muy razonables. Unos costes laborales que pueden ser la mitad que en Europa Central. Niveles de flexibilidad importantes. Potencial de externalización alto. Proveedores cercanos con altos niveles de just-in-time real. Infraestructuras logísticas y de conectividad mejorables, pero comparables a las francesas, alemanas o italianas. Sindicatos capaces de entender la realidad.No artigo hoje publicado no El Pais, que vale a pena ler na íntegra, ele explica em detalhe porquê.
"Por tanto, son plantas con futuro para quien se preocupe de sus accionistas a largo plazo. Esto es el resultado de una buena gestión por parte de las empresas que establecieron esas plantas, las desarrollaron y las han dirigido eficazmente durante muchos años (Ford, Opel, PSA, Volkswagen, Renault, Nissan, Mercedes y Santana)."
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3.4.09
Súmula provisória do G20
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Do lado positivo:
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Do lado positivo:
1. Compromisso de princípio de acção conjugada ao nível internacional.Do lado negativo:
2. Papel acrescido das instituições financeiras internacionais: Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial.
3. Acréscimo substancial da capacidade de intervenção do Fundo Monetário Internacional: duplicação imediata dos seus recursos financeiros; triplicação se se verificar necessário.
4. Revitalização dos Direitos Especiais de Saque do FMI para enfrentar situações de emergência.
5. Intervenção do Banco Mundial no financamento do comércio internacional.
6. Entendimento geral da China e do Japão com os EUA.
1. Nenhum compromisso real de reforço ou coordenação dos estímulos fiscais já anunciados.Balanço final: moderadamente positivo.
2. Nenhum aumento efectivo das verbas mobilizadas para além daquelas previamente anunciadas para combater a crise pelos diversos estados nacionais.
3. Escassa credibilidade das declarações anti-proteccionistas.
4. Papel desempenhado pela Europa em geral e pela Alemanha em particular.
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Documento histórico de um encontro falhado com o Pinto da Costa em 1998 no antigo estádio das Antas
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É mesmo verdade. O Pinto da Costa baldou-se à reunião á última hora. Eu sou o barbudo da esquerda. A foto foi divulgada agora pelo António de Sousa (ao centro), depois de onze anos em segredo de justiça. À direita, o Eduardo Homem, um benfiquista infiltrado mas respeitador.
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É mesmo verdade. O Pinto da Costa baldou-se à reunião á última hora. Eu sou o barbudo da esquerda. A foto foi divulgada agora pelo António de Sousa (ao centro), depois de onze anos em segredo de justiça. À direita, o Eduardo Homem, um benfiquista infiltrado mas respeitador.
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2.4.09
"Não há pensamento estratégico"
Extractos de uma infelizmente premonitória entrevista de Michael Fox, professor da London School of Economics, no Jornal de Negócios de hoje:
"Infelizmente, a minha expectativa é que esta cimeira do G20 confirme a incapacidade de a actual geração de líderes compreender o que está a acontecer e, como tal, que confirme também a incapacidade dos Governos de actuar da forma radical que a situação efectivamente exige. E temo que, mais uma vez, os países mais pobres e frágeis acabem por ser quem vai suportar o essencial do tremendo custo, económico e social, que esta crise vai provocar, e que ninguém parece querer encarar."
"Por que está cada vez mais claro que não vão sair deste encontro as decisões concretas e radicais de que o mundo precisa. Não vamos ter o investimento massivo que é necessário para ultrapassar esta crise, porque, simplesmente, não há pensamento estratégico. Ninguém parece conseguir descolar-se da “velha escola”. "
"O que está a prevalecer é o velho pensamento e a preocupação com os problemas teóricos e não com os reais. Falta visão estratégica. No Congo, por exemplo, há hoje mais 300 mil desempregados da indústria do cobre, e ninguém parece preocupar-se com a miséria em larguíssima escala que esta crise está a gerar."
"Vamos ter milhões e milhões de desempregados, com consequências gravíssimas em termos de estabilidade social e mesmo institucional. E, não obstante, o que prevalece é a preocupação com a evolução do défice ou da inflação, quando, paradoxalmente, o que temos é risco de deflação na Europa e uma deflação reinstalada no Japão. É muito decepcionante, mas é isso que está a acontecer: o G20 vai concentrar-se em problemas teóricos e esquecer os reais."
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O que está em jogo na reunião do G20
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Um dos factores que ameaçam fazer durar a actual crise é a persistência de colossais desequilíbrios financeiros à escala mundial, por sua vez alicerçados na dicotomia entre, por um lado, países com crónicos supéravites comerciais (China, Alemanha e China) e, por outro lado, países com crónicos défices comerciais (EUA, Reino Unido, Espanha, Portugal e Leste Europeu, entre outros).
Uma corrente moralista acha criticáveis os défices, mas não os supéravites, quando uns e outros se encontram intimamente associados: quem empresta, empresta a alguém; quem deve, deve a quem lhe empresta.
A Alemanha só pode exportar o que exporta e ter uma poupança tão elevada porque outros países se encarregam de dinamizar a procura que os alemães reprimem ao imporem internamente políticas dissuassoras do consumo e da despesa pública. O mesmo pode dizer-se da China ou do Japão.
Estupidamente, a política económica alemã (e, em parte, a chinesa) aposta na continuação deste estado de coisas, recusando-se a entender que, obviamente, é aos países com superávites elevados e crónicos que, na presente conjuntura, compete pôr em prática estímulos fiscais substanciais.
Para regressarmos à normalidade é também preciso que alguns países compreendam que não podem continuar eternamente a basear o seu crescimento na expansão da procura alheia.
Pretender o contrário é apostar na eternização dos actuais desequilíbrios financeiros. O que, naturalmente, é impossível.
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Um dos factores que ameaçam fazer durar a actual crise é a persistência de colossais desequilíbrios financeiros à escala mundial, por sua vez alicerçados na dicotomia entre, por um lado, países com crónicos supéravites comerciais (China, Alemanha e China) e, por outro lado, países com crónicos défices comerciais (EUA, Reino Unido, Espanha, Portugal e Leste Europeu, entre outros).
Uma corrente moralista acha criticáveis os défices, mas não os supéravites, quando uns e outros se encontram intimamente associados: quem empresta, empresta a alguém; quem deve, deve a quem lhe empresta.
A Alemanha só pode exportar o que exporta e ter uma poupança tão elevada porque outros países se encarregam de dinamizar a procura que os alemães reprimem ao imporem internamente políticas dissuassoras do consumo e da despesa pública. O mesmo pode dizer-se da China ou do Japão.
Estupidamente, a política económica alemã (e, em parte, a chinesa) aposta na continuação deste estado de coisas, recusando-se a entender que, obviamente, é aos países com superávites elevados e crónicos que, na presente conjuntura, compete pôr em prática estímulos fiscais substanciais.
Para regressarmos à normalidade é também preciso que alguns países compreendam que não podem continuar eternamente a basear o seu crescimento na expansão da procura alheia.
Pretender o contrário é apostar na eternização dos actuais desequilíbrios financeiros. O que, naturalmente, é impossível.
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Pôr a casa em ordem
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Políticas económicas activas em tempo de crise, eis o tema do meu artigo desta semana no Jornal de Negócios, já disponível no Provador de Venenos.
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Políticas económicas activas em tempo de crise, eis o tema do meu artigo desta semana no Jornal de Negócios, já disponível no Provador de Venenos.
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Queridos líderes
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Obama tem-se esforçado por fazer aprovar na reunião do G-20 do próximo fim de semana um compromisso comum para uma acção conjunta e decidida de combate à recessão à escala mundial.
Parece provável que consiga o apoio da China e do Japão, mas não dos nossos queridos líderes europeus, os quais permanecem aferrados ao princípio míope do "cada um por si".
O Banco Central Europeu já não tem cara para insistir no risco da inflação (na Espanha os preços estão mesmo a baixar), mas continua-se a desvalorizar a dimensão real da catástrofe económica que sob os nossos olhos diariamente se aprofunda.
O mestre ceromónias que nominalmente dirige a Comissão não faz ondas para assegurar a reeleição. A pacóvia primeira-ministra germânica parece acreditar que os estabilizadores automáticos são suficientes para contrariar a crise. Sarkozy aprova tudo desde que possa aplicar internamente as políticas proteccionistas que lhe asseguram popularidade fácil. Gordon Brown está feliz no seu papel de alegado go-between entre os EUA e Europa, mesmo que ninguém lhe preste muita atenção dum e doutro lado do Atlântico.
Temos eleições europeias dentro de três meses. Faria todo o sentido que as absurdas políticas económicas europeias fossem submetidas a uma crítica implacável. Estarão preocupados com isso os manifestantes que vão desfilar em Londres? O continente europeu está politicamente anestesiado?
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Obama tem-se esforçado por fazer aprovar na reunião do G-20 do próximo fim de semana um compromisso comum para uma acção conjunta e decidida de combate à recessão à escala mundial.
Parece provável que consiga o apoio da China e do Japão, mas não dos nossos queridos líderes europeus, os quais permanecem aferrados ao princípio míope do "cada um por si".
O Banco Central Europeu já não tem cara para insistir no risco da inflação (na Espanha os preços estão mesmo a baixar), mas continua-se a desvalorizar a dimensão real da catástrofe económica que sob os nossos olhos diariamente se aprofunda.
O mestre ceromónias que nominalmente dirige a Comissão não faz ondas para assegurar a reeleição. A pacóvia primeira-ministra germânica parece acreditar que os estabilizadores automáticos são suficientes para contrariar a crise. Sarkozy aprova tudo desde que possa aplicar internamente as políticas proteccionistas que lhe asseguram popularidade fácil. Gordon Brown está feliz no seu papel de alegado go-between entre os EUA e Europa, mesmo que ninguém lhe preste muita atenção dum e doutro lado do Atlântico.
Temos eleições europeias dentro de três meses. Faria todo o sentido que as absurdas políticas económicas europeias fossem submetidas a uma crítica implacável. Estarão preocupados com isso os manifestantes que vão desfilar em Londres? O continente europeu está politicamente anestesiado?
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Resumo do libreto da ópera "Salomé", de Richard Strauss, em 140 caracteres
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Salomé quer beijar o Baptista, ele recusa. Beija-o morto, mas não lhe sabe bem. Se ambos fossem menos teimosos, tinha-se evitado a desgraça.
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Salomé quer beijar o Baptista, ele recusa. Beija-o morto, mas não lhe sabe bem. Se ambos fossem menos teimosos, tinha-se evitado a desgraça.
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