4.11.09

O Estado sapateiro

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Anos a fio, a Aerosoles foi-nos apresentada como um caso de sucesso empresarial português, um exemplo de modernização e internacionalização bem sucedida.

Quando começa a crise, porém, vai-se a ver e descobre-se que, afinal, o capital da empresa é detido maioritariamente pelo Estado português, directa ou indirectamente (através de fundos públicos de capital de risco), em parceria com investidores privados.

Ora, eu gostaria de perceber que sentido faz o Estado sair da petroquímica e das telecomunicações para ir meter-se em fábricas de sapatos. Que espécie de superior interesse estratégico é defendido por políticas deste tipo? Que critérios orientam a escolha deste ou daquele projecto, deste ou daquele parceiro privado?

Mais: que sentido faz o Estado português deter sociedades de capital de risco? Que propósitos e que objectivos estratégicos foram atribuídos a essas sociedades? Quem e como avalia o que elas andam a fazer? A quem prestam contas? E assim sucessivamente.

Quem, como eu, acredita que a política económica tem um papel a desempenhar no reforço da competitividade das empresas portuguesas, inquieta-se, ademais, com o descrédito que situações como esta inevitavelmente lançam sobre a intervenção do Estado.

Este caso veio a público há cerca de um ano. Curiosamente, nem a quezilenta oposição nem os vociferantes media parecem interessar-se por ele.

Os nossos liberais domésticos prestariam um grande serviço à pátria se, em vez de se refugiarem em declarações doutrinárias sobre as vantagens da liberdade de iniciativa, tentassem descobrir quantas mais Aerosoles há por aí acoitadas sob as saias do Estado.
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1 comentário:

Rebel disse...

Há coisas estranhas na economia e na política portuguesas.
Não sei o que se passa em Viana do Castelo com os Estaleiros Navais que foram processados por uma das regiões autónomas que pedem uma indemnização avultada pelo não cumprimento das cláusulas contratuais, nomeadamente mais de um ano de atraso na entrega do navio e este não cumpre a velocidade estabelecida no contrato.
A todas estas alegações, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo responderam que os queixosos tinham razão... Não há qualquer coisa estranha nisto? Especialmente o silêncio absoluto que se fez em torno do caso depois de divulgado.
Alguém me sabe dizer alguma coisa acerca do assunto?