13.2.11

Um passo atrás

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Vítor Bento regressa no seu mais recente livro à tese, aparentemente plausível, segundo a qual o cerne dos problemas da economia portuguesa residiria nos incentivos perversos que estimularam a expansão do sector de bens não-transacionáveis (por definição imune à concorrência internacional) à custa do estiolamento do sector transacionável, o qual, por isso mesmo, teria perdido competitividade no mercado global.

Na base desse processo estaria a deterioração dos termos de troca em desfavor das actividades transacionáveis, tornando-as relativamente menos rentáveis e, por isso, menos apelativas para os investidores nacionais e estrangeiros.

Em apoio desse ponto de vista, Vítor Bento mostra que os preços subiram mais e a produtividade menos no sector não-transacionável. O argumento não é, porém, decisivo, dado que, sendo os serviços a principal componente do sector não-transacionável tal como definido pelo autor, não há nada de invulgar nessa evolução da produtividade e dos preços relativos em confronto com a registada na agricultura e na indústria.

Será a situação portuguesa marcadamente distinta da de outros países onde os serviços tendem a aumentar o seu peso no produto? Por outras palavras, haverá algo de notável na tendência dos termos de troca detectada por Bento? É isso que o autor não demonstra, pelo que este livro pouco acrescenta ao anterior.

Diz-se que quem reescreve um livro o faz necessariamente pior. O Nó Cego da Economia, cuja ambição declarada consiste em aprofundar as ideias do seu autor, é um livro mais confuso e pior argumentado do que Perceber a Crise para Encontrar o Caminho; logo, um passo atrás em relação a um trabalho que tinha, pelo menos, a vantagem de articular uma visão global (embora, a meu ver, incorrecta) sobre os grande problemas da economia portuguesa contemporânea.
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