22.10.05

Pequeno mundo

Os tribunais funcionam devagar e não fazem justiça. Os polícias ameaçam fazer greve e os juízes fazem mesmo. Os doentes esperam eternidades por uma operação. As farmacêuticas conspiram para manter artificialmente elevados os preços dos medicamentos. Os miúdos acabam o ensino obrigatório sem saberem escrever e contar decentemente. Os patos bravos destroem livremente a paisagem. A floresta arde ano após ano sem surpresa perante a impotência dos poderes públicos. Crianças entregues à guarda do Estado são abusadas durante anos a fio. As televisões promovem diariamente a estupidez. A burocracia desfaz-nos a paciência. A corrupção toma conta do dia a dia dos negócios.

A acreditar no seu discurso de candidatura, porém, a única coisa que rala Cavaco é a economia e as finanças públicas.

Como se explica uma coisa dessas?

É que a economia e as finanças públicas traçam os limites do pequeno mundo mental em que ele se move. Fora disso, quase nada sabe, e, sobretudo, quase nada lhe interessa.

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