14.3.06

Que fazer com tanto dinheiro?

Helena Garrido interroga-se muito a propósito no DN de hoje sobre a lógica empresarial da OPA do Millennium BCP sobre o BPI.

Por mim, ponho-me a imaginar que o caso é o seguinte: com lucros tão elevados no exercício de 2005, os nossos bancos têm um problema muito real e muito prosaico que consiste nisto: que fazer com tanto dinheiro?

Se abundassem projectos empresariais inovadores - digamos, coisas que contribuissem para reduzir o déficite das transacções correntes - , a pergunta teria uma resposta simples. Como isso é o que mais falta, e nem se vislumbram grandiosas oportunidades de privatização no horizonte, não resta outra alternativa senão a de os bancos se comprarem uns aos outros. (De passagem, note-se, reduz-se ainda mais a já tão escassa concorrência no sector financeiro.)

Manifestamente, estas movimentações bolsistas são um sintoma, não uma solução.

Por outro lado, convém lembrar que, do ponto de vista macroeconómico, a compra de um banco português por outro banco português não implica investimento nenhum: o que uns gastam é o que os outros recebem. As coisas já seriam diferentes se o comprador fosse, digamos, espanhol.

De modo que ainda fica a faltar saber o que farão com o dinheiro os accionistas que venderem (se venderem) a sua parte do BPI. Como não podem gastá-lo todo a comer, a beber e a passear, forçoso é que acabem por investi-lo em qualquer coisa. E aí reside a nossa esperança: mais ou mais cedo alguém terá que aplicar o dinheiro em algo útil para a competitividade da economia portuguesa. A não ser, é claro, que opte por aplicá-lo na China, no Cazaquistão ou na Bielorússia...

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