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Quando os próprios admitem que a origem da sua raiva ao Governador do Banco de Portugal remonta à avaliação pouco abonatória do déficite das contas públicas deixado pelo PSD que uma comissão por ele dirigida há uns anos produziu, não serei eu a negar que as motivações da comissão de inquérito parlamentar às falhas da regulação no caso do BPN são políticas e mesquinhas.
De Portas Paulo não se pode esperar, como há 20 anos sabemos, outra coisa senão política suja.
Resta, porém, como facto inquestionável, que o Banco de Portugal fracassou repetidamente na sua responsabilidade fiscalizadora em pelo menos três casos de considerável gravidade. Falo, é claro, do BCP, do BPN e do BPP. É muita falha junta.
Segundo entendo, a defesa de Vítor Constâncio assente na sua essência em três
argumentos:
a) Os efectivos do banco ocupados em fiscalizar o sistema financeiro eram manifestamente insuficientes;
b) A legislação relevante evoluíu sempre nas últimas décadas no sentido de alargar a margem de liberdade dos bancos ao mesmo tempo que dificultava a missão do banco central;
C) O clima ideológico estimulava até há pouco uma exagerada confiança nas capacidades de auto-regulação dos mercados.
O primeiro argumento não descompromete Constâncio, bem pelo contrário, na medida em que ele é o principal responsável pela alocação dos recursos na instituição que dirige.
Os dois outros argumentos tampouco são válidos. Quando aceitou ser indigitado para o lugar que ocupa, Constâncio sabia (ou deveria saber) as condicionantes em que cumpriria as suas funções. Implicitamente, aceitou-as. Ao fazê-lo, assumiu também as consequências e as responsabilidades daí inerentes.
Permanece muito confusa entre nós a distinção entre culpa (seja ela subjectiva ou objectiva) e responsabilidade. Responsabilidade é responder por algo perante alguém e tirar daí todas as consequências.
Constâncio é decerto uma pessoa competentíssima e seriíssima, a quem as coisas correram mal. Paciência, acontece. Altos cargos implicam altas responsabilidades, e a vida é por vezes cruel.
O que não compreendo é que ele não compreenda que, para terminar bem o seu mandato, deveria abandonar agora a presidência do Banco de Portugal. Caso não o faça, pergunto-me o que significará para ele a palavra "responsabilidade".
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20.6.09
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1 comentário:
Da mesma forma que (legitimamente) descortina uma suspeita de vingança por causa do relatório do défice, também se pode (legitimamente) suspeitar o quê das palavras de Oliveira e Costa?!
"António Marta tem razão", dizia ele.
"Escondemos informação ao Banco de Portugal", disseram outros.
"queixava-se que os supervisores estavam sempre a perguntar coisas".
Não, amigo, quem meteu a mão no prato tem de pagar por isso, doa a quem doer, não me interessa se são os homens de confiança do psd e de Cavaco. Na realidade nem me interessa se Cavaco também tirou água do poço.
Qualquer dia, quando menos esperarem, o povo armará a tenda, porque as revoluções são como os tremores de terra ou as erupções vulcânicas.
"quem tiver ouvidos que oiça"
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