26.11.10

"A Alemanha não é a Holanda!"

.


O risco relativo da dívida portuguesa pode ser maior que o da espanhola, porém, sendo a Espanha a 7ª maior economia mundial, é evidente que a eventualidade do seu incumprimento representa um risco absoluto muito maior para zona euro e para o mundo do que o de Portugal.

Tal como existe, o EFSF (European Financial Stability Facility) tem dimensão para socorrer a Grécia, a Irlanda e Portugal, mas não a Espanha.

Mas fará nas actuais condições algum sentido acreditar-se que uma intervenção em favor de Portugal conseguirá evitar a arrepiante possibilidade de contaminação da Espanha? A experiência deste ano sugere que não: em vez de travar a escalada dos juros das dívidas soberanas, o anúncio das operações de salvamento só logrou acirrá-la ainda mais.

É mais que tempo de tirar a conclusão óbvia: a política de saída da crise por via da rápida contração dos défices públicos imposta à UE pelo Partido Popular Europeu fracassou redondamente, dado que não só não conseguiu potenciar o crescimento e a redução do desemprego, como tampouco permitiu travar o endividamento dos estados, das empresas e dos particulares.

Haveria em princípio soluções de recurso: a) monetarização da dívida dos estados pelo BCE; b) emissão de euro-obrigações; c) expansão do orçamento comunitário; ou d) expansão da procura privada e pública nos países que têm folga para isso (a minha opção preferida).

Todavia, o Governo Alemão, o BCE e o Tribunal Constitucional Alemão encarregaram-se de bloquear todas elas. De modo que, nas actuais condições, o mais provável parece ser o colapso sucessivo dos países uns atrás dos outros, sendo já óbvio que a Portugal e à Espanha se seguiriam a Bélgica e a Itália.

Até que, por absurdo, chegaremos ao momento em que a Alemanha terá que demarcar-se da Holanda e da Áustria.

Na ausência de algum golpe de teatro inesperado, apostar contra o euro começa a parecer-me uma opção sensata.

PS: Conjectura-se agora um eventual fraccionamento da zona euro em duas partes, mas não vejo como isso poderia ajudar os bancos do euro1 que emprestaram dinheiro aos países do euro2. Tenham um excelente fim de semana.
.

Sem comentários: