21.11.10

A tragédia na era da modernidade tardia

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Mourinho é presentemente um dos principais obstáculos à transformação do futebol em mero entretenimento segundo o modelo americano do desporto.

Não desvalorizando a competência técnica (sem a qual jamais conseguiria ter o impacto que tem), o seu principal mérito reside na revalorização da dimensão bélica do futebol, inseparável do sentimento de comunidade clubista e do propósito mais ou menos irracional de uma vitória sem outro propósito que não seja ela própria.

A prova: até um clube de meninas como o Real Madrid se rendeu em escassíssimas semanas a essa visão centrada no apelo à mobilização total e sem condições.

O futebol como tragédia resiste porque funciona muito bem como emblema de oposição a muitas outras coisas que de forma mais ou menos conscientes nos recusamos a aceitar como normais e desejáveis no mundo disforme que habitamos.

Esta capa da Marca desta semana é simultaneamente o maior triunfo que Mourinho poderia ambicionar e o mais eloquente manifesto de uma forma de viver um desporto que é muito mais do que apenas ele.
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