22.8.03

A deriva continental. O mais preocupante no actual afastamento entre a Europa e os Estados Unidos é que ambas as regiões tendem a ficar piores por causa disso, porque cada uma delas pode ser uma boa influência para a outra.

O espírito democrático é muito mais forte nos Estados Unidos do que na Europa. Se nalgum sítio existe algo que possa ser apelidado de democracia popular, é lá. Do lado de cá do Atlântico apenas a Escandinávia se aproxima; o resto do Continente continua muito susceptível ao autoritarismo. Vários países, entre os quais Portugal, só não regridem para regimes musculados porque as condições internacionais não são favoráveis.

Em contrapartida, é flagrante a despreocupação da América com os pobres, seja dentro de portas, seja no estrangeiro. De tal modo que não se importam de gastar com a gigantesca população prisional (8% da população já esteve presa) aquilo que poupam em subsídios de desemprego, serviço nacional de saúde ou habitação social. Embora a gente tenha dificuldade em explicar exactamente o que é o modelo social europeu, uma breve excursão pelos bairros pobres das grandes cidades americanas torna tudo muito mais claro.

Este assunto dava pano para mangas, mas a ideia central é esta: com a América e a Europa de costas voltadas, e cada uma delas a orgulhar-se do que tem de pior, as coisas só podem degradar-se nos dois sítios.

Sem comentários: