28.8.03

O deserto vermelho. Queixam-se alguns de que a recente vaga de incêndios vai desertificar o país. Enganam-se, porque não se pode desertificar o que já é deserto, e a verdade é que a esmagadora maioria da área ardida corresponde a território já praticamente inabitado, onde a floresta cresce selvagem ou os proprietários absentistas de pequenas parcelas, que mal sabem onde elas se localizam e se limitam a vender a madeira em pé ao madeireiro que lhes faça a melhor proposta, residem a dezenas ou centenas de quilómetros do local. Entretanto, perdidas no gigantesco vazio em que mais de metade do país se tornou, algumas povoações de idosos isolados foram varridas do mapa. Mas elas eram já a triste excepção, e não a regra.

Fundamentalmente, o país ardeu exactamente porque uma boa metade dele é já hoje inabitado. A paisagem humana portuguesa está confinada a dois estreitos corredores, um que vai de Viana do Castelo a Setúbal, o outro no litoral algarvio (este com menos de dez quilómetros de largura), ligados entre si e a Espanha por uma rede de auto-estradas e vias rápidas que funcionam como uma espécie de viadutos que sobrevoam o país a baixa altitude.

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