12.5.04

Fora da graça de Deus

O ministro Bagão Félix é, à partida, um personagem simpático, com aquele seu ar de boneco do Contra-Informação, aquele afecto romântico pelo Benfica e aquele traço anormal de ser conhecedor da área que é suposto tutelar.

Depois, o ministro Bagão Félix tem um olho de lince para detectar injustiças gritantes e arrancar daí para justificar leis que as pessoas mais ingénuas tenderiam a classificar como aberrações sociais.

Agora, este nosso governante descobriu que «certas pessoas recebem indemnizações de 100 mil contos e depois vão pedir o subsídio de desemprego!» Uma injustiça, uma pouca vergonha a que há que pôr cobro imediatamente! Não admira que o Estado esteja falido!

Todavia, pensando bem, o Emídio Rangel é a única pessoa de que eu me lembro que terá recebido 100 mil contos para sair da RTP, e não estou certo de que solicitasse o subsídio de desemprego.

O ministro Bagão, sempre com aquele ar muito Félix consigo próprio, pode achar que o seu pequeno truque de retórica de lançar cortinas de fumo para justificar medidas celeradas continua a funcionar.

Mas não se deveria esquecer de que incorre num grave pecado mortal, porque poupar dinheiro à custa dos desempregados, ainda para mais nas actuais circunstâncias, não é nem mais nem menos do que uma infâmia.

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