30.4.06

Instintos Fatais



Muita coisa mudou neste mundo no tempo decorrido entre o lançamento de "Instinto Fatal", há década e meia, e a sua presente sequela.

Manifestamente, lançar uma baforada de fumo é hoje um pecado muito mais grave do que não usar cuecas. Quem viu o filme sabe do que estou a falar.

Fico a magicar qual será o cúmulo da perversão quando o terceiro episódio aparecer e Sharon Stone tiver completado 63 anos.

Felipão



O valor do passe de qualquer jogador sobe prontamente em flecha quando é chamado à selecção brasileira. Depois, entrado em campo, o novo internacional preocupa-se apenas em brindar o público com alguns números de circo que, uma vez registados no respectivo "showreel", serão divulgados pelo seu agente junto dos clubes europeus interessados.

Não admira, nestas condições, que tenham crescido as suspeitas em torno dos critérios que no passado recente determinaram certas convocações para a selecção brasileira.

Ora vejam. Num período de dois anos, Wanderley Luxemburgo seleccionou 91 jogadores diferentes. Emerson Leão, em apenas seis meses, chamou 62. Scolari ganhou fama de tipo sério por só ter convocado 62 futebolistas para os 18 jogos que o Brasil disputou na fase de qualificação para o Mundial de 2002.

Do que não há dúvida é que, ao fixar um núcleo duro de futebolistas e agarrar-se a ele, Scolari deu à selecção brasileira a estabilidade que lhe faltara durante anos. E foi assim que chegou à vitória no Japão.

Num clube, o treinador convive com os seus jogadores todos os dias durante meses ou anos a fio. Numa selecção, pelo contrário, só tem breves dias para fazer vingar as suas ideias. Logo, o melhor que tem a fazer é esquecer as ideias (algo mais fácil para quem não as tem), borrifar-se para as críticas dos media, rir-se da Federação e fomentar o espírito de grupo entre um pequeno número de futebolistas que merecem a sua confiança.

Não acho que Scolari seja um grande treinador. Mais esperto do que inteligente, ele preocupa-se antes de mais em exercer eficazmente o poder. Além disso, é manifestamente um calão, que não se dá sequer à maçada de ir assistir aos jogos mais importantes disputados pelos principais futebolistas portugueses. Chegado o momento, lá estarão na selecção o Postiga, o Ricardo, o Pauleta e o Costinha, seja qual for a forma em que se encontrem. Em Inglaterra, esse comportamento não seria obviamente aceitável, pelo que não me surpreende que a hipótese não o atraia.

Paradoxalmente, porém, Scolari, que foi o ultimo adepto do futebol a descobrir os méritos do Deco, tem-se revelado uma boa solução para a selecção nacional. Como é um treinador com poucas ideias, limita-se a pôr a jogar os melhores jogadores. Tendo em conta que, entre nós, a escolha não é muita, ele só pode errar mesmo no guarda-redes.

Neste contexto, a teimosia, mesmo quando pouco esclarecida, é uma virtude. Para ele, habituado a resistir às pressões para meter fulano ou sicrano no escrete, a vozearia que por cá se levantou a propósito do Ricardo não é coisa que o apoquente.

A Federação, dirigida por um grupo de nulidades encabeçadas pelo impagável Madaíl, tem medo dele, porque em Portugal se teme sempre quem fala grosso.

Depois, o jogador português tem, salvo raras excepções, mentalidade de escravo abastado. Gosta de treinadores que nunca têm dúvidas e raramente se enganam. Sente-se mais tranquilo assim, porque o que mais detesta é chatices. Manda quem pode, obedece quem deve.

O Figo preferiu resguarda-se, esquivando-se à selecção durante a fase de qualificação? Tudo bem. O treinador acolhe-o agora de braços abertos para participar na fase final do Mundial? O mister é que sabe. A nossa política é o trabalho.

29.4.06

O futebol das pátrias



Ninguém diria que um país caótico, imprevisível e genericamente incompetente como a Itália produziria aquele futebol metódico, frio e calculista que delicia algumas poucas pessoas (como eu, por exemplo) e deixa todas as outras em estado de irritação terminal.

Antes de a Inglaterra ter sido tomada de assalto por treinadores e jogadores das mais desvairadas proveniências, o kick and run era uma espécie de selvajaria controlada, possivelmente com raízes nas práticas bélicas de esquecidas tribos saxónicas, mas pouco condizente com a circunspecção e o sangue frio que a lenda atribui aos habitantes daquelas paragens. Entretanto, depois da sua transformação cosmopolita da última década, o futebol inglês, imitando a culinária local, perdeu, para bem dos consumidores, qualquer carácter distintivo nacional.

Os holandeses são um povo eminentemente prático, que adopta as metodologias mais expeditas para atingir o resultado pretendido. Em matéria de bola, porém, uma incompreensível e doentia paranóia leva-os a privilegiar a forma em detrimento de tudo o resto. Para eles, não presta o futebol que não seja bonito e ousado, mesmo que isso os conduza, como tantas vezes aconteceu no passado, a derrotas absurdas que depois choram por toda a eternidade. Mas não só não se emendam, como se esforçam por evangelizar outros povos ainda não convertidos a esse insensato desejo de sofrer.

Jogar à bola é o único trabalho que os portugueses acreditam merecer ser bem feito, desde logo começando o jogo à hora. Minucioso escrutínio das condições de partida, planeamento cuidado e a longo prazo, ponderação antecipada de soluções tácticas alternativas - eis alguns dos traços organizativos que distinguem os nossos melhores clubes, mas não as nossas empresas nem, tão-pouco, o arranjo das nossas vidas privadas.

Para resumir, creio não se confirmar a superstição segundo o qual o futebol de um país retrata com fidelidade o seu carácter nacional.

É claro que há excepções. Os espanhóis, por exemplo, jogam do mesmo modo que fazem qualquer outra coisa, ou seja, com muita convicção e poucos miolos. Mas, ao contrário, do que sucede em tantos domínios, neste esse método não parece funcionar.

O único país cujo futebol ganha em guardar fidelidade ao seu modo de ser é, quer-me parecer, o Brasil. Ao invés do que constatámos no caso da Espanha, porém, o método resulta no futebol mas fracassa miseravelmente em tudo o resto.

Os verdadeiros prazeres não se partilham



Achei um absurdo aquela campanha que correu há tempos para levar o Maradona ao Mundial. É comer e calar, meus amigos... É comer e calar...

A propósito, já vos falei de "Luc's Lantern", o último CD do William Parker? Não? Estão a ver? É o que eu vos digo...

28.4.06



Rembrandt: Auto-retrato (detalhe).

O Milagre do Mar Vermelho

Para o Filipe, um tipo que, manifestamente, nem sequer gosta de futebol, vai, sem favor, o Prémio de Benfiquista do Ano. Não sei se isto é um elogio.

Comentário ou manipulação?

Margens de erro: Opinião publicada e opinião pública: dois excelentes posts do Pedro Magalhães sobre a ténue fronteira que demasiadas vezes separa o comentário supostamente objectivo da manipulação da agenda política. Ou de como o coro de tragédia grega que assentou arraiais nos nossos media perverte o debate e degrada o jogo político.

Modernização em curso



Há seis semanas comprei um carro. Passado todo este tempo, a Direcção Geral de Viação ainda não conseguiu enviar-me os documentos.

Felizmente, o sector privado é um poucochinho melhor. Hoje mesmo chegou-me às mãos a Carta Verde emitida pela seguradora.

Estou zonzo com tanta eficiência.

Devoção e Glória



Esta semana que passou ficará para sempre assinalada nos anais da injustiça universal pelo prematuro afastamento dos relvados desse símbolo ímpar do desportivismo nacional que dá pelo nome de Sá Pinto.

21.4.06

Descoberta científica

O Presidente Cavaco Silva afirmou que as despesas militares devem ser encaradas como um investimento. Eu gostava de saber em que manual de Economia é que ele aprendeu isso.

As fotos publicadas nos jornais de hoje, com Cavaco fardado a rigor, confirmam que o hábito faz o monge.

19.4.06

Discriminação

Extracto do Regulamento de Licenciamento dos Animais Domésticos (lido aqui.):
Artigo 1.º

Classificação dos cães e gatos

Para os efeitos do presente diploma, os cães e gatos classificam-se nas seguintes categorias:

a) A - cão de companhia;

b) B - cão com fins económicos;

c) C - cão para fins militares, policiais e de segurança pública;

d) D - cão para investigação científica;

e) E - cão de caça;

f) F - cão-guia;

g) G - cão potencialmente perigoso;

h) H - cão perigoso;

i) I - gato.

Se eu fosse gato ficava chateado. É claro que ficava chateado.

14.4.06



Daumier: Os fugitivos, 1849-50.

Ralar-me, eu?



Vejo por aí demasiada gente preocupada com a competitividade, o Irão, o petróleo, o CPE (o que é?), a Judiciária, eu sei lá!

Não há necessidade. Com o Senhor Engenheiro em São Bento e o Senhor Doutor em Belém, podemos dormir descansados, porque há alguém que noite e dia vela por nós. Fizeram muito bem os deputados quando decidiram ir mais cedo para férias. Vendo bem, eles até devem ter sido os últimos a sair da cidade.

Por mim, concordo com a Galp. Temos é que começar a pensar em ir buscar os cachecóis às gavetas, voltar a pendurar as bandeirinhas nas janelas (ou lavar as que nunca chegaram a ser retiradas) e reabastecer o frigorífico de bejecas. Menos ais, menos ais, menos ais!

13.4.06

A queda do Império Britânico



Quando a FIFA decidiu organizar o primeiro Campeonato do Mundo de futebol, em 1930, a Inglaterra recusou-se a participar. O país que inventara o futebol não admitia sequer que outros ousassem disputar-lhe a primazia.

Vinte anos depois, como o prestígio do torneio mundial não parasse de aumentar, os ingleses lá se resignaram a "ir ganhar aquilo" para mostrar aos gentios como se jogava a sério. Perderam 1-0 com os Estados Unidos, um acontecimento que teve consequências mais devastadoras sobre o seu ego nacional do que a independência da Índia e o desmantelamento do Império Britanico. Mas ainda ficou a pairar a esperança de que tudo poderia não ter passado de um infeliz acidente.

No início dos anos 50, a Húngria de Puskas (Campeã Olímpica em 1952) era a equipa maravilha que todos queriam derrotar. A Inglaterra convocou-a para Wembley em 1953 no intuito de lhe dar uma lição. Perdeu 6-3 (ver as duas equipas na foto em cima). Exigiu a desforra. Foi esmagada em Budapeste por 7-1 no ano seguinte. Para a Inglaterra, esse momento ficou na memória como o mais negro da Guerra Fria.

Meses depois, a Alemanha era Campeã do Mundo de futebol pela primeira vez. Os ingleses resignaram-se à ideia de que teriam que reaprender a jogar à bola.

12.4.06

The real thing

Maria de Fátima Bonifácio até ficou atordoada ao ver-se ultrapassada à direita, em grande velocidade, pela imbatível dupla Martins-Neves, perante uma entusiástica plateia de talibãs nacionais. Foi no Prós e Contras de 2ª feira, e está tudo muito bem explicadinho n'A Natureza do Mal II.

Nestas coisas de reaccionarismo, não há nada como o produto genuíno.


Daumier: Dois escultores, s/d.

11.4.06

Declaração de independência



O Câmara Corporativa publicou há dias esta frase da Drª Mónica, Juíza de Direito:

"É também possível afirmar que os juízes são independentes quando estão dependentes do sistema nacional de saúde, que os obriga a ingressar numa fila única às 6:00 horas da manhã para marcar consulta com o seu médico de família, sem qualquer garantia que serão atendidos no dia que pretendem e a horas que não perturbem a sua agenda do Tribunal?"

Mas o melhor veio depois, quando a Drª Mónica escreveu na caixa de comentários do citado blogue:

"Verifiquei que no v. blog mantêm uma frase minha, sob o tema "Câmara Corporativa", retirada de um texto que elaborei para o VII Congresso dos Juízes Portugueses. Tal frase foi retirada do seu contexto e à mesma foi por vós acrescentado o título "Câmara Corporativa", com o intuito de desfavorecer a classe profissional a que pertenço - Magistratura Judicial.
Para além do mais, Não AUTORIZO que publiquem qualquer texto meu.
Agradeço que, no mais curto espaço de tempo possível (ainda hoje ou até amanhã), retirem a minha frase totalmente do v. blog, de outro modo, terei de denunciar a situação às entidades competentes.
Grata pela atenção dispensada."

Será possível afirmar que os juízes são independentes quando são obrigados a defender a sua honra em caixas de comentários de blogues mal intencionados?

O Presidente-sombra

10.4.06



Van Gogh: Botas, 1887.

O Bl-g- -x-st- feito pelos seus leitores (2)

Ò meu (...). Com que então (...) tu (...)?

Vai-te(...)! Depois não digas que, não fostes avizado.

Vingador

8.4.06

Acerca da superioridade da Civilização Ocidental



"When, at the turn of the 16th century, the heretic Giordano Bruno was burned at the stake in Campo Fiore in Rome, the Great Mughal emperor Akbar (who was born a Muslim and died a Muslim) had just finished, in Agra, his large project of legally codifying minority rights, including religious freedom for all, along with championing regular discussions between followers of Islam, Hinduism, Jainism, Judaism, Zoroastrianism and other beliefs (including atheism)."

(Amartya Sen, "Democracy Isn't 'Western'", Wall Street Journal, 27.3.06)

7.4.06

Marcelo, Marlon e Messias



Vista de Toftir, Ilhas Faroe.

Marcelo, Marlon e Messias foram contratados para jogar futebol nas Ilhas Faroé, um lugar de cuja existência nunca antes haviam suspeitado. Uma fase de prosperidade da actividade piscatória na pequena localidade de Toftir inspirou a David Niclas a ideia de trazer esses reforços do Brasil para procurar conseguir a qualificação do B68 - cujo grande rival é o B71 - para a taça Intertoto.

Alex Bellos foi encontrar naquelas longínquas paragens os três craques, e procurou inteirar-se do sucesso da sua adaptação ao meio. O defesa central Hans Hansen comentou diplomaticamente que "os brasileiros são um povo muito positivo", embora não se integrem muito bem no estilo local. O treinador Jakobsen acrescentou: "É boa gente."

Marlon e Messias adoptaram inicialmente o mesmo estilo diplomático perante as perguntas de Bello. Mas, a dada altura, não se contiveram: "Eles não percebem nada de futebol. Nem sequer se benzem antes de começar o jogo!"



Emblemas do B68 e do B71.

(Adaptação livre de uma história contada por Alex Bellos em "Futebol: The brazilian way of life".)

O bl-g- ex-st- feito pelos seus leitores

Caro João,

(...)

Um abraço,

A.

(O respeito pela natureza confidencial desta comunicação impede-me de transcrevê-la na íntegra. Mas creio que a ideia principal nela expressa não fica prejudicada.)

6.4.06

Notícia

"Windows já corre nos Macintosh" não é notícia. Notícia seria alguém querer correr Windows num Macintosh.

5.4.06

Ó ladrão que te vais embora

Não consigo deixar de surpreender-me com a desfaçatez com que certos indivíduos dão às de vila-diogo tão logo conseguem atingir os seus objectivos mesquinhos: uma honrosa menção na selecta lista dos meus blogues preferidos.

Porque vou torcer pelo Benfica

Em matéria de futebol, eu cá sou legitimista. Quero dizer com isso que, no conflito entre sócios e accionistas, estou com os primeiros.

Por isso, como qualquer bom adepto do United, desejei a derrota dos Glazer, apesar de isso implicar a vitória do Benfica.

Os oitavos de final pareciam mais simples, porque eu sou adepto do Liverpool. Mas a triste figura dos reds na Luz deixou-me sem disposição para sofrer por eles. OK, mal por mal, que passe então o Benfica...

E eis que, de milagre em milagre, depois daquele incrível jogo de há quinze dias atrás, chegamos ao fatal dia de hoje. O Inter e o Barcelona são os clubes que maior repulsa me suscitam em todo o mundo. O Barça, em particular, é aquela coisa patética que, apesar de gastar anualmente fortunas na compra de jogadores, só tem, bem vistas as coisas, um palmarés internacional ridículo para apresentar.

Os Barcas, fundadores da cidade de Barcelona, comandavam um exército de mercenários. O clube de futebol que, vinte séculos volvidos, naquelas terras desabrochou, usa os mesmos métodos. Paga, e, só por isso, acha-se com direito a exigir vitórias. Mas os bons jogadores não param por lá muito tempo, porque a relação que o clube com eles mantém é puramente interesseira. Falta ao Barça em dedicação e espírito de corpo aquilo que lhe sobra em empáfia.

Depois, há aquele malfadado nacionalismo catalão de que o clube é o primeiro emblema. Ora, se o nacionalismo em geral me desagrada, o catalão, o mais oportunista de todos, cujo único intuito consiste em evitar que o dinheiro dos impostos que por lá se pagam sirva para apoiar as regiões mais pobres de Espanha, esse enoja-me sem remissão.

Em 1960, após cinco anos de triunfos madrilenos, o Barcelona chegou à final europeia de peitinho feito para atenuar o ressentimento acumulado com os êxitos do seu rival. Saiu-lhe ao caminho o Benfica, pelo qual, tal como hoje, ninguém dava nada.

Lembra-me alguém de boa memória que, nesse dia fatídico, só o árbitro, inspirado pelo Altíssimo, vislumbrou o golo decisivo que deu a vitória ao Benfica. Historiadores e arqueólogos têm passado repetidamente o filme ao longo destes 36 anos, e a conclusão é sempre a mesma: não, a bola de facto não entrou. Já nessa época, como se vê, os encarnados tinham muita razão de queixa das arbitragens.

Com estes antecedentes, os da Catalunha deveriam estar prevenidos. Que novo desastre de inspiração divina lhes estará reservado para hoje à noite?


Marlene Dumas.

Deus existe



Reina grande alegria neste blogue pela eliminação do Inter, um clube manhoso no sentido próprio e figurado do termo que, cá para o meu gosto, não deveria sequer existir. Perco sempre o sono quando os vejo chegar aos quartos de final. Para já, o Villarreal devolveu-me a paz de espírito e reconciliou-me com o mundo.

4.4.06

O desgosto do avançado centro



Na memorável época de 1951-52, o Sheffield Wednesday marcou 100 golos ao longo da campanha que o trouxe de volta à 1ª Divisão. Quarenta e seis deles foram marcados por Derek Dooley, um jovem com apenas 22 anos a quem toda a gente augurou um futuro brilhante. Menos de um ano depois, Dooley lesionou-se seriamente na sequência de um choque contra o guarda-redes do Preston North End e a sua perna direita teve que ser amputada.

Quatorze anos mais tarde, Dooley confidenciou ao jornalista Arthur Hopcraft: "Consegui fazer a bola passar por ele. O meu maior desgosto nisto tudo é que não foi golo."

(História contada por Arthur Hopcraft em "The Football Man".)

Para quê tantos livros?

Salgado Matos insurge-se hoje no Público contra a queima de livros que teria ocorrido durante a recente ocupação da Sorbonne.

Algumas linhas adiante, porém, escreve isto:
"A Europa tem dois livros. A Bíblia é o primeiro. O segundo é o livro do comércio livre: começou a ser escrito por Adam Smith e foi concluído por Ricardo."

Ora bem, a mim parece-me que esta ideia de que "a Europa tem dois livros" é precisamente o melhor argumento a favor de que se queimem os restantes. Porque ou os outros livros dizem o mesmo que esses dois - e serão supérfluos - ou dizem o oposto - e serão perniciosos.

Realmente, o Matos tem razão: tanto livro dá cabo da vista. Para quê tal desperdício, se as verdades essenciais podem ser apreendidas indo à missa e vendo a televisão?

3.4.06



Arman.

2.4.06

Sir Stanley Matthews



"It was a worker's face, like a miner's, never really young, tight against a brutal world even in repose. (...) He was the opposite of glamorous: a non-drinker, non-smoker, careful with his money. He had an habital little cough. He was a representative of his age and his class, brought up among thrift and the ever looming threat of dole and debt."
(Arthur Hopcraft: The Footbal Man, 1968)

Em 1938, quando correu o rumor de que Stanley Matthews, o rei do drible, iria abandonar o Stoke City, reuniu-se uma manifestação de 3 mil pessoas para o impedir. Apesar de jogar sempre ao mais alto nível, só com 38 anos de idade conseguiu ganhar pela primeira vez a Taça da Liga ao serviço do Blackpool. Em 1963, de regresso ao Stoke City, Matthews ajudou o clube a voltar à primeira divisão. Jogou na Liga inglesa até depois de ter completado 50 anos. Nunca foi expulso em toda a sua longa carreira. Pouco antes de se retirar foi feito Cavaleiro.


Marlene Dumas: Young boys, 1993.

Quotas e quotas

Zita Seabra afirmou que que se sentiria humilhada se entendesse que a sua presença na Assembleia República se devia à necessidade de preencher a quota de mulheres no grupo parlamentar do PSD.

Será que ela nunca se apercebeu que a sua presença na Assembleia da República se deve exclusivamente à necessidade de preencher a quota de trânsfugas do PCP no grupo parlamentar do PSD?