Uma ou duas semanas antes do 25 de Novembro de 1975 teve lugar um debate no grande anfiteatro da Faculdade de Letras. Na mesa estavam Sottomayor Cardia, o Padre Manuel Antunes, Joana de Barros e este vosso amigo.
Não sei bem qual era o tema. Fosse ele qual fosse, discutiu-se, como por esses dias sempre se discutia, a eminente revolução socialista. Na plateia predominavam simpatizantes comunistas e (como se dizia na altura) seus satélites.
O debate foi muito civlizado, sobretudo tendo em conta a situação política explosiva que se vivia. Nas associações recreativas da Margem Sul e nas assembleias sindicais não era assim.
A dada altura, alguém acusou o PS de desempenhar o papel de Kerensky na Rússia de 1917 - um dos qualificativos mais achincalhantes que naquele momento se podia atribuir a alguém.
Foi então que Sottomayor Cardia se levantou lentamente e respondeu, muito calmo, que teria o maior orgulho em ficar na história como o Kerensky português.
Recordemo-lo pois assim no dia em que faleceu.
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