8.4.08

Irracionalidade militante

O mais espantoso na actual crise financeira com origem nos EUA, é que, apesar de a sua inevitabilidade ter sido correctamente prevista em jornais e revistas de grande circulação (Financial Times e Economist, por exemplo) há vários anos, isso não foi suficiente para travar o desvario especulativo de agentes supostamente racionais.

Vejam, por exemplo, o que este vosso criado aqui defendeu em Novembro de 2004:

Uma razão para o resto do mundo votar Bush

A política económica de George Bush é a maior maluqueira desde que Lenine enterrou o Comunismo de Guerra.

No meio de tanta incerteza, uma coisa me parece segura: a economia americana, actualmente sustentada pela crença supersticiosa dos chineses no dólar, vai com os porcos nos próximos anos. Se Kerry ganhar, poderá começar a inverter lentamente o rumo das coisas, mas talvez não o suficiente para evitar o Dia do Juízo, que vem a caminho. Assim sendo, as culpas do que vai acontecer tenderão a ser assacadas aos Democratas, os quais serão crucificados por terem posto fim ao doce enlevo em que a nação hoje vive.

Este argumento é hoje desenvolvido por John Kay nas páginas do Financial Times para defender, com alguma ironia, que a opção mais sábia é mesmo votar Bush, dado que só assim os neo-conservadores poderão ser em devido tempo confrontados com as consequências das suas políticas desastrosas.

Parece-me que, como bom empirista, Kay confia demasiado na capacidade dos factos para demolir doutrinas. Se ele conhecesse V.W. Quine, por exemplo, saberia que as coisas não são assim tão simples.

(Já agora, uma boa razão para os anti-americanos genuinos votarem Bush é esperarem que ele tenha êxito na sua missão de fazer mergulhar os EUA na mais grave crise da sua história recente.)

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