Eis uma recente declaração de Miguel Portas a propósito das eleições para o Parlamento Europeu transcrita no DN de ontem:
"José Sócrates e Vital Moreira não querem que nas próximas eleições europeias se discuta Portugal, querem que seja conversa de sofá sobre assuntos que não têm nada a ver com as nossas vidas. Eles gostariam, mas não vão ter essa sorte."Confirma-se, portanto, que, para o Bloco, a política europeia "não tem nada a ver com as nossas vidas".
Nada de novo, note-se. Quem tiver lido a declaração de Miguel Portas na sessão de apresentação da lista do Bloco não poderá ter deixado de notar que ela dedica uns três quartos a tratar de problemas de política interna, misturando ataques a José Sócrates com temas como o fracasso da supervisão bancária em Portugal, a gestão da Caixa Geral de Depósitos ou o aumento dos despedimentos colectivos.
É claro que Portas tem aquilo que julga ser uma boa justificação para isso: "Quando falamos de Europa," diz ele, "falamos de Portugal e vice-versa." Eu diria mesmo mais: quando falamos da Europa falamos da China, quando falamos de Portugal falamos da fome no mundo e quando falamos do Bloco falamos da teoria do caos.
Tudo está ligado com tudo, um lema que justifica a confusão mental de que o próprio faz alarde, saltando continuamente de assunto em assunto sem abordar nenhum com seriedade.
De modo que Portas, o Miguel, está convicto de ter na algibeira soluções simples, rápidas e indolores para os mais intratáveis problemas do país e do Mundo. Não custa nada: basta, segundo a tal declaração, encerrar o off-shore da Madeira, registar os movimentos de capitais para o exterior (o que é que isto quer dizer?), abandonar o controlo orçamental, aplicar uma taxa às deslocalizações industriais dentro da Europa (porque não também dentro de Portugal?) e europeizar os custos do trabalho (?).
Naturalmente, Portas acredita que a Europa não precisa do Tratado de Lisboa. Do que ela precisa é de "coragem e de união" e também de "atrevimento" porque, na sua visão profunda, "nenhum tratado substitui a vontade politica". Decidirá ele um dia exigir a abolição da Constituição portuguesa a pretexto de que ela não pode "substituir a vontade política"?
De "atrevimento", pelo menos, já nós sabemos que o Bloco está bem servido.
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