29.7.10

Temos que saber viver com os paradoxos

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Este argumento do Krugman parece-me fraco. É difícil contestar-se que, como Rajan faz notar hoje no Financial Times, a manutenção de taxas de juro baixas dificulta o processo de reajustamento necessário e perpetua certos desequilíbrios da estrutura produtiva que favoreceram a emergência da actual crise.

Isso é inegável, mesmo que se aceite que ainda é demasiado cedo para subir os juros. Por mim, acredito que precisamos de manter os juros baixos por mais algum tempo, mas reconheço que isso cria problemas.
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À atenção da classe média-baixa

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No meu artigo no Jornal de Negócios desta semana (Acaso, mérito e superstição) inspirei-me nas façanhas do polvo Paul para meditar sobre como é difícil distinguir o mérito do acaso.

Especialmente aliciante para aqueles a quem a vida não tem corrido muito bem.
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28.7.10

Livro que deixei mais vezes a meio

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27.7.10

Não esqueçam: terceiro calhau a contar do sol

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24.7.10

Iván Fischer comenta a 6ª de Mahler

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Que tal institucionalizar os stress tests?

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Se um banco for à falência, o Estado garante os nossos depósitos até um limite máximo fixado por lei que, em Portugal, se encontra actualmente fixado em 100 mil euros.

Pergunta: como poderemos nós saber antecipadamente que um determinado banco está a correr riscos excessivos e que, por conseguinte, o nosso dinheiro poderá evaporar-se na parte que exceda o limite legalmente protegido?

Resposta: usualmente, não podemos, porque ninguém nos presta essa informação.

Os testes de solidez (stress tests) cujos resultados ontem foram divulgados romperam com a tradicional opacidade do sistema bancário. Ficámos todos finalmente a saber que grau de confiança merecem os bancos dos quais somos clientes.

A minha questão é esta: não seria boa ideia, a bem da transparência e da defesa dos direitos dos depositantes, instituir a prática de testes anuais de solidez bancária supervisionados por uma entidade reguladora devidamente mandatada para tal?

A própria natureza do negócio bancário confere uma determinada protecção às empresas do sector. Mas essas garantias só fazem sentido se tiverem em vista a protecção do público, não a dos accionistas dos bancos.

As boas práticas são para repetir.
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23.7.10

As questões parecem sempre mais complexas quando nos afectam a nós

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Tyler Cowan, ele próprio um professor com vínculo contratual indissolúvel (tenure), pondera os prós e contras de todos os professores universitários de economia poderem ser livremente despedidos a qualquer momento:
"Here's a thought experiment: take a 53-year-old professor, at a moderate quality university, who goes from publishing three articles a year to one article a year, and in somewhat lesser journals than before. His teaching evaluations slip steadily, though he never becomes a disaster in the classroom. In the no-tenure world, does that person get fired? (And what's his chance of finding another job?)"
Pois é verdade, a esmagadora maioria dos professores de economia que defendem a liberdade de despedimento não podem eles próprios ser despedidos.
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The Hollies: The Very Last Day

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Fantasmagoria económica

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Eis o que Robert Solow tem a dizer sobre os modelos DSGE (Dynamic Stochastic General Equilibrium), hoje usados em todo o mundo para analisar e prever a evolução macroeconómica:
"The point I am making is that the DSGE model has nothing useful to say about anti-recession policy because it has built into its essentially implausible assumptions the “conclusion” that there is nothing for macroeconomic policy to do. I think we have just seen how untrue this is for an economy attached to a highly-leveraged, weakly-regulated financial system. But I think it was just as visibly false in earlier recessions (and in episodes of inflationary overheating) that followed quite different patterns. There are other traditions with better ways to do macroeconomics."
A ler aqui na íntegra.
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22.7.10

Hello, breakfast

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Desportivismo à portuguesa

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Em 1955, eu esperava no Velódromo do Lima, com o meu avô, a chegada da última etapa da Volta à Portugal.

Grande expectativa, lá vem o pelotão à desfilada, Ribeiro da Silva isolado, sprint emocionante - mas onde está o camisola amarela? A multidão esperou ansiosamente um minuto, dois minutos - o tempo a passar, o primeiro lugar em perigo - cinco minutos, dez minutos...

Nesse dia, o camisola amarela Alves Barbosa nunca chegou.

Tinha sido atacado nos Carvalhos por uma chusma que lhe derrubou a bicicleta, o agrediu e o deteve pelo tempo necessário para assegurar que o vencedor da Volta não seria ele, mas o Ribeiro da Silva.

Nessa época, o ciclismo era um jogo tradicional português que não excluía umas valentes pauladas se isso se revelasse necessário.

Não me entendam mal: o Ribeiro da Silva era um ciclista de mão cheia. Em 1957, com apenas 22 anos de idade, ficou em 4º lugar na Volta à Espanha e ganhou a etapa do Tourmalet no Tour.

No ano seguinte morreu atropelado. Ninguém diga que foi castigo.
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Duplo erro

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A situação financeira externa da União Europeia é globalmente equilibrada. Os desequilíbrios existentes são apenas internos.

Pelo contrário, a situação financeira externa dos EUA não só é altamente desequilibrada como não pára de se agravar. A América sobrevive ligada a uma máquina chamada crédito chinês.

Parece-me por isso fazer pouco sentido equiparar as situações num e noutro lado do Atlântico quando se discute a eventual necessidade de travar o crescimento do endividamento.

Nos EUA tem prevalecido a opinião de que os défices não interessam nada, ao passo que na Europa se acha que eles são a única coisa que interessa. Dois erros de sinal contrário que não encontram justificação na situação real.

Na América, os consumidores estão profundamente endividados. Com o desemprego estável a níveis altíssimos e os salários reais em quebra, não se entende como pode recuperar o consumo. Tampouco se pode esperar o arranque do investimento, dada a imensa capacidade subutilizada. Restaria a alternativa da exportação, não se desse o caso de o dólar permanecer muito sobrevalorizado, sobretudo em relação à moeda chinesa.

O país enfrenta a perspectiva de uma década de crescimento lento, sem que se veja como é que o estímulo da despesa pública poderá contribuir para alterar significativamente essa perspectiva.

A situação é inteiramente diversa na Europa, onde uma combinação de prudência orçamental nos países mais endividados com estímulos públicos nos países com folga para tal (principalmente a Alemanha e a Holanda) poderia produzir excelentes resultados.

Em vez disso, os dirigentes europeus preferem sacrificar no altar da deusa Austeridade e aguardar que os poderes ocultos que ela comanda façam o seu trabalho.
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21.7.10

David & Jonathan: Lovers of the World Unite

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20.7.10

A Alemanha, essa desconhecida

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Um artigo de Hans Werner Sinn, publicado no Jornal de Negócios de hoje, revela-nos uma fascinante versão alemã sobre o que se passou no dia 9 de Maio nos bastidores da União Europeia, nesse fatídico fim de semana em que a ingénua Angela Merkel, que incapaz de resistir à tentação de assistir a uma deslumbrante parada militar em Moscovo, foi fintada pelo perverso Sarkozy:
"Dado que as medidas de resgate, além do pacote de ajuda previamente negociado para a Grécia, não estavam na agenda da reunião de Bruxelas, a chanceler alemã, Angela Merkel pensou que podia viajar tranquilamente para Moscovo para assistir às celebrações do fim da II Guerra Mundial - ao contrário de Sarkozy que declinou o convite do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin. Pior, o líder da delegação alemã à reunião da União Europeia ficou doente e teve que ser levado para ao hospital assim que chegou a Bruxelas. Isto deixou a delegação alemã sem direcção.

"Sarkozy aproveitou a oportunidade e surpreendeu a Alemanha ao proclamar uma crise sistémica do euro. O presidente francês pediu enormes quantidades de dinheiro e, segundo informou o primeiro-ministro espanhol, José Luís Zapatero, ameaçou retirar a França do euro e quebrar a aliança franco-alemã se a Alemanha decidisse não disponibilizar o dinheiro. Depois de apenas dois dias de negociações, a cláusula de não resgate do Tratado de Maastricht, condição imposta pela Alemanha para abdicar do marco alemão, estava morta. O "Clube Med", como os alemães chamam aos países do sul da Europa, tinham-se apoderado da Europa."
Digam-me lá se isto tem alguma semelhança com as narrativas que se contam do lado de cá da cortina dos media que aparentemente divide a Europa? Como poderemos nestas circunstâncias admirar-nos de que não exista uma opinião pública europeia?
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Depois eu explico [2]

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"The gap between our MNCs-dominated exporting economy and our domestic economy is now at historic highs - reaching 23% in 2009. This means that almost a quarter of what Ireland claims to produce (GDP) is really an accountancy trick and has nothing to do with this country. Of course, for years we have been conditioned to think that we are filthy rich because our GDP is so high. Oh, how deep the fallacy runs."

Aqui.
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Georgiev interpretando a 2ª de Mahler

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16.7.10

Raios, mais uma forma engenhosa de aumentar o bem-estar que não faz crescer o PIB

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Avaliação dos médicos ou avaliação dos serviços de saúde?

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O DN de ontem afirma na capa - e repete na página 13 - que, por sugestão de um grupo de trabalho nomeado pelo governo, os médicos do Serviço Nacional de Saúde passarão a ser avaliados pelos doentes.

Não me parece que a informação contida no artigo permita concluir isso. E ainda bem, porque os doentes não são decerto competentes para avaliar a qualidade dos actos clínicos.

Os pacientes podem e devem ser convidados a avaliar a qualidade dos serviços de saúde nas suas diversas componentes, mas não a qualidade dos médicos.

O relatório elaborado pelo Grupo Técnico para a Reforma da Organização Interna dos Hospitais estará agora à discussão pública durante sessenta dias. Pouco tempo para um tema de tal importância e péssima altura, é claro, por coincidir com o período das férias de Verão.
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15.7.10

Peter & Gordon: A World Without Love

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Há profissões muito difíceis

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14.7.10

Mais sobre probabilidades

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Edwards Deming (1900-93), um dos pioneiros da gestão da qualidade total, conta a seguinte anedota no seu (ainda hoje) altamente recomendável Out of the Crisis:
"During the “Manhattan project” (the making of nuclear bomb), Fermi asked Gen. Groves, the head of the project, what is the definition of a “great” general. Groves replied that any general who had won five battles in a row might safely be called great. Fermi then asked how many generals are great. Groves said about three out of every hundred. Fermi conjectured that, considering that opposing forces for most battles are roughly equal in strength, the chance of winning one battle is 1/2 and the chance of winning five battles in a row is 1/32. “So you are right, General, about three out of every hundred. Mathematical probability, not genius."
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Uma boa sugestão

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Chris Dillow adianta cinco razões para que o próximo líder do Labour seja tirado à sorte. E conclui:
"A party leader who owes his position to luck will be more sensitive to the role of chance, and less so to the role of “merit“, which is largely a fictitious entity used to legitimate unwarranted inequalities. He is, therefore, more likely to be attuned to the need for policies that redress bad luck.

"Which brings me to a paradox. Most of us on the Left, surely, think that luck plays too big a role in our economy and society. And yet, in some contexts, it plays too small a role. Luck exists where it shouldn’t, and doesn’t exist where it should."
Não posso estar mais de acordo.
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"Quem está a jogar melhor?"

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"Quem está a jogar melhor?"

Vivemos numa época estranha, em que um Nobel da Física é forçado a persuadir um padeiro amador de astronomia a não corrigir uma entrada que ele escreveu na Wikipedia.

"Quem está a jogar melhor?"

O fascínio pelo futebol explica-se por, na verdade, ninguém perceber o que vê. Trata-se de um mistério tão incompreensível como o Big Bang ou a origem da vida.

"Quem está a jogar melhor?"

O propósito do futebol não é jogar melhor, é fazer passar a bola entre os três pauzinhos, mas o povo bom e ingénuo quer acreditar, a bem da moral e da justiça, que uma coisa conduz à outra. A pergunta é uma tentativa de encontrar uma explicação causal para a vitória desta ou daquela equipa, do tipo: jogam melhor, logo ganham.

O impulso que impele alguém a colocar a questão é similar ao que move o padeiro astrónomo: perceber a lógica do universo, desvendar o segredo oculto por trás das aparências.

Se escrevesse hoje, Hume divertir-se-ia usando como exemplo o futebol para demonstrar a futilidade do argumento causal. Jogar bem e ganhar não são coisas diferentes, mas dois nomes diferentes para a mesma coisa.

O critério que permite afirmar que uma equipa jogou bem é o mesmo critério que determina se ganhou. A qualidade do remate é indistinguível do facto de a bola ter ou não entrado na baliza.

A originalidade e o génio do futebol moderno, inventado no século XIX, residem inteiramente na legitimação de um critério de verdade compatível com as superstições metafísicas características da modernidade.
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13.7.10

A Alemanha deve sair do Euro

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Se a Alemanha quer uma política monetária e fiscal que apenas tenha em conta as suas realidades particulares, então deve criar uma União Europeia privativa só para si, em vez de parasitar os outros 26 países que actualmente a integram.

Copiado daqui.
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O mercado não tem vontade

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Finalmente, alguém se dá ao trabalho de desmontar a mistificação que assenta na antropomorfização do mercado. O mercado não tem quereres, mas, se tivesse, não saberia justificá-los:
"A government’s capacity and willingness to service its debt depend on an almost infinite number of present and future contingencies. They depend not just on its tax and spending plans but also on the state of the economy, the external conjuncture, and the political context. All of these are highly uncertain, and require many assumptions to reach some form of judgment about creditworthiness.

"Today, markets seem to think that large fiscal deficits are the greatest threat to government solvency. Tomorrow they may think the real problem is low growth, and rue the tight fiscal policies that helped produce it.

"Today, they worry about spineless governments unable to take the tough actions needed to deal with the crisis. Perhaps tomorrow they will lose sleep over the mass demonstrations and social conflicts that tough economic policies have spawned.

"Few can predict which way market sentiment will move, least of all market participants themselves. Even with hindsight, it is sometimes not clear why markets go one way and not the other. Similar policies will produce different market reactions depending on the prevailing story, or fad of the moment. That is why steering the economy by the dictates of market confidence is a fool’s errand."
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À bout de souffle

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7.7.10

Bull or bear?

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Depois eu explico

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6.7.10

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1.7.10

Playlist - Sylvie Vartan: La Plus Belle Pour Aller Danser

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