6.12.10

Como eliminar o excedente comercial chinês

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"(...) A preocupação causada pelo grave défice da balança comercial inglesa com a China tirava o sono aos directores da Companhia inglesa.

"E, quanto mais se acentuava esse desequilíbrio, mais crescia, obviamente, a preocupação dos directores, que em meados do século XVIII descobriram, por fim, no ópio a solução de tão antigo problema. Os primeiros introdutores desta droga na China foram os portugueses, que a comercializavam em Macau. Esse comércio era, todavia, muito reduzido. O coronel Watson, pelo contrário, pensava de um modo mais grandioso e, para salvar o défice, sugeriu à Companhia que usasse extensivamente o ópio que a Inglaterra podia extrair da Índia. O plano do diabólico coronel funcionou maravilhosamente. (...) O comércio do ópio indiano desenvolveu-se de uma forma excepcional, principalmente nos anos 1830-40, e de tal modo que, atraídos pelos volumosos lucros proporcionados por esse ilícito comércio, nele se imiscuíram também, nessa última década, os Norte-Americanos, levando numa das mãos a Bíblia e na outra a droga... É fácil imaginar as consequências económicas desse facto. O tradicional excedente da balança comercial chinesa começou a diminuir, acabando por se transformar num pavoroso défice (...).

"A prata saiu em massa da China, voltando ao Ocidente. (...)

"Duplamente preocupado com as consequências desses factos, quer nas condições de saúde da população quer na disponibilidade de prata, o Governo chinês procurou dar-lhes remédio, mas a sua debilidade perante o poderio inglês tornou vãos os seus esforços. E assim se chegou, em 1839, à famosa Guerra do Ópio, na qual a China foi derrotada e humilhada e as relações entre o Ocidente e o Oriente ficaram envenenadas para sempre."

Carlo Cipolla: Conquistadores, Piratas e Mercadores, Teorema, 2002.
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1 comentário:

jj.amarante disse...

Costumo-me lembrar sempre dessa guerra vergonhosa quando me vêm falar dos valores que existiriam no antigamente.