14.9.11

O que fazer em circunstâncias de incerteza radical?

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Há cerca de um ano alvitrei aqui a possibilidade de o Mundo estar a entrar numa nova época de crescimento baixo ou mesmo nulo. Uma apreciação benigna sugere que a ideia não despertou grande interesse.

Hoje, porém, Pedro Lains propõe no Jornal de Negócios um argumento similar e recomenda-nos que, perante tão radical incerteza, pensemos sobre as consequências que a eventualidade de um prolongado período de estagnação deveria ter sobre o modo como pensamos as possíveis respostas à crise internacional:
E se a crise em que estamos atravessados mudar de novo o "steady state" do crescimento da economia internacional? Isso pode acontecer. Podemos estar a chegar a um novo equilíbrio. Ninguém nos diz que daqui para a frente o mundo ocidental não voltará a crescer abaixo de 2% ao ano, ou próximo de 1%. Talvez na Europa, por exemplo, as economias mais pobres cresçam um pouco acima desses valores, pois, afinal, sempre haverá alguma recuperação do atraso a fazer. Mas, mesmo aí, o crescimento pode ser menos do que o que se registou desde meados da década de 1980. (...)

A Europa tem vindo a fazer frente à crise com medidas importantes de injecção de liquidez nos mercados, quer por parte dos governos, através dos défices e do aumento da dívida, quer por parte dos bancos centrais, incluindo o Banco Central Europeu. Essas medidas foram crescentemente acompanhadas por medidas de austeridade e de reestruturação institucional, um pouco por todo o lado, para evitar que as medidas de socorro beneficiassem mais uns do que outros, para evitar beneficiar mais os "pecadores" do Sul do que os "santos" do Norte. Por trás de todo esse grande programa está ainda, todavia, a ideia de que o crescimento económico regressará às taxas conhecidas anteriormente, e de que esse crescimento ajudará os estados a equilibrarem as contas, por via do aumento das receitas, e as economias a diminuir a dependência do financiamento externo, por via do crescimento da produtividade.

Ora, se o crescimento não retomar os ritmos anteriores, todo esse plano cai por água abaixo. E mesmo que haja alguma retoma na rapidez do crescimento, se ela demorar tempo a chegar, entretanto a economia internacional pára às mãos dos problemas financeiros.

O que fazer, perante este cenário? (...) Quando não se sabe o que fazer em política económica e sobretudo em política económica internacional, em que se multiplicam vontades e centros de decisão, a única coisa a fazer é ganhar tempo.
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2 comentários:

António Parente disse...

Se as suas ideias não despertam interesse a culpa é sua. Tem de criar discípulos, assumir a liderança duma escola de pensamento. Veja o caso de José Sócrates que estuda calmamente filosofia em Paris mas deixou aí activa uma célula que o tentará guindar à presidência da república daqui a uns anos.

Tem de ser simpático com os comentadores, com a populaça anónima que lê os seus posts. Só assim consegue fidelizar leitores qe façam as suas ideias propagar-se na rede.

Quanto ao crescimento, pelo menos no nosso caso as previsões do ministro Vitor Gaspar são demasiado optimistas. Ele sabe e nós sabemos que ele sabe. Como disse Mário Soares, daqui a um ano ou dois poderemos estar piores do que estamos hoje. Adivinhar o futuro não é a nossa especialidade. Nem como modelos econométricos vamos lá.

p.s. - é giro ensinar o pai-nosso ao padre da paróquia ;-)

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

Olhe que não olhe que não

Tatcher teve também muita sorte

Em qualquer altura as coisas podiam ter ficado mesmo muito más


Como disse Mário Soares, só sei que nada sei e mesmo assim aguentei-me como Guru 37 anos

Tatcher só não teve sorte com os filhos e com a degeneração neurológica