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Durante décadas, Portugal cresceu sistematicamente mais depressa que os países desenvolvidos. Parece razoável admitir-se - por muitos erros que a posteriori possamos inventariar - que as pessoas que nessa época traçaram as políticas económicas sabiam o que faziam.
A dado momento, porém, alguns economistas formados no estrangeiro (e, principalmente, nos EUA) regressaram à pátria com ideias novas e promissoras. Alegavam eles que não faziam falta políticas económicas sectoriais, fossem agrícolas, industriais ou outras, porque lhes tinham ensinado que na América não se gastava disso.
Vá-se lá saber porquê, a ideia pegou, de modo que, desde então, a política económica nacional consiste basicamente em distribuir os dinheiros da UE por quem mais eloquentemente chora e em aprovar cegamente, numa apropriada atitude de "bom aluno", tudo o que os de Bruxelas nos mandam fazer.
Agora, que o resultado de vinte anos de preguiçoso absentismo intelectual está à vista, toda a gente pede aos economistas "políticas de crescimento", esquecendo ou ignorando que, nas escolas que eles frequentaram, o próprio tema é considerado maldito.
Resta-nos então virar-nos para os práticos, para ver se deles virá algum alvitre apropriado. Por mim, sugiro que prestemos atenção às pragmáticas gentes do futebol.
Há um ano foi Paulo Futre que propôs uma estratégia de alavancagem do Sporting sustentada na criação de uma relação privilegiada com a China. Todos os doutores se riram. Porém, adquirido o controlo da EDP por uma empresa chinesa, proliferam as novas versões da "árvore das patacas".
Esta semana, a propósito de um alegado projeto de legislação visando dificultar a importação de jogadores estrangeiros que não sejam já internacionais pelos seus países, Jorge Jesus explicou singelamente que o ponto forte dos melhores clubes portugueses consiste em trazer para cá jogadores com potencial mas ainda sem nome feito e transformá-los em grandes futebolistas que depois (não antes) são chamados às seleções nacionais dos seus locais de origem.
Sabe-se que o homem tem poucas letras, mas sabe o que anda a fazer e entende o modelo de negócio que permite ao Porto, ao Benfica e ao Braga (o Sporting não aprendeu ainda a lição) competirem internacionalmente com relativo sucesso.
Repare-se que isto funciona porque: a) os portugueses têm boas relações com muitos países sul-americanos e africanos, entre outros; b) têm capacidade para detetar talentos numa fase embrionária; c) sabem transformar jovens promissores em jogadores maduros; d) promovem internacionalmente esses talentos nas competições europeias de clubes; e) fazem uma gestão inteligente do momento da venda dos jogadores.
Imaginem agora que muitas empresas portuguesas eram capazes de manter amplas redes de relacionamento por esse mundo fora, explorando afinidades culturais e históricas; que identificavam oportunidades de cooperação tendo em vista integrar o país em cadeias logísticas do Mundo para a Europa e da Europa para o Mundo; que aproveitavam competências organizativas e tecnológicas do país para construir plataformas que funcionassem como nós imprescindíveis dessas cadeias - bom, acho que vocês já compreenderam onde quero chegar.
No dia em que o governo português quiser mesmo estruturar mesmo uma estratégia de desenvolvimento não deverá chamar economistas de Chicago ou sucedâneos doutorados em ciências ocultas. Ficará muito mais bem servido se for antes assessorado por Paulo Futre e Jorge Jesus, já para não mencionar os imprescindíveis Pinto da Costa e José Mourinho. Eles explicam.
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