4.1.12

Passarinhos e passarões

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Retomemos a frasezinha:
"Se os contribuintes individuais pudessem mudar o endereço fiscal para a Holanda e pagar menos 10 ou 20% de IRS não o fariam? Claro que sim."
Não pode passar sem reparo a ideia de que o recurso a habilidades para não pagar impostos tem igual gravidade quer se trate de um anónimo cidadão ou de uma grande empresa, quer se trate de alguém que vai meter gasolina a Espanha ou de uma empresa que esconde os seus lucros em paraísos fiscais.

O dirigentes das grandes empresas têm fácil acesso a presidentes da república, primeiros ministros, ministros, secretários de estado e deputados. Conseguem influenciar o processo legislativo e pressionar decisões executivas favoráveis aos seus interesses.

A sua atuação influencia positiva e negativamente a vida de muita gente. O que elas fazem não interessa apenas aos seus acionistas, mas também aos seus trabalhadores, aos seus clientes, aos seus parceiros, aos seus fornecedores, às comunidades locais em que se inserem a à comunidade nacional cujo destino partilham.

Elas afectam, por vezes decisivamente, o funcionamento dos mercados de bens, de trabalho e de capitais. Algumas delas, quando detêm ativos estratégicos ou monopolizam mercados, tornam-se inclusivamente imunes a boicotes organizados de cidadãos.

Tanto poder acarreta responsabilidades acrescidas dado que, quanto maior uma empresa, maior o impacto das suas atividades sobre a sociedade em que se integra. Para evitar um excesso de regulação, impõem por isso a si próprias alguma contenção no prosseguimento dos seus propósitos.

Chama-se a isso Responsabilidade Social, algo que a Jerónimo Martins declara aceitar, prevendo mesmo um pilar a que chama apoio à comunidade envolvente que inclui "apoios (...) a causas e a instituições que acompanham os grupos mais frágeis da sociedade, como sejam as crianças, os jovens e os idosos".

Mas faz algum sentido dar com uma mão aquilo que se retira com a outra?
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