«Tanto que devemos a tão poucos», escreve hoje José Manuel Frenandes no Público, querendo com isso dizer que, em 25 de Abril de 1974, algumas dezenas de capitães ofereceram a liberdade aos portugueses numa bandeja.
Esta mistificação histórica é tão antiga como a data que está na sua origem. Muitos recordar-se-ão ainda que ela foi inventada pelo PCP para legitimar a chamada aliança Povo-MFA.
Ao anoitecer do dia 25 de Abril, ninguém sabia em Portugal que espécie de regime queriam os militares para Portugal. Por isso se deve dizer que o 25 de Abril não instaurou a democracia, instaurou uma oportunidade. Foi nosso mérito colectivo termos sabido aproveitá-la com entusiasmo e ousadia -- mas também, vistas as coisas à distância, com muito bom senso.
Durante breves semanas, a nação tornou-se numa noção palpável, em vez de um conceito abstracto e intangível. Vimo-nos e encontrámo-nos uns aos outros, sacudimos o torpor e pusémo-nos em movimento.
Em seguida, o pai enfrentou o filho, o irmão separou-se da irmã, o vizinho divergiu do vizinho. Depois de aprendermos a viver em sintonia, tivemos que aprender a viver em confronto sem necessariamente nos agredirmos.
Esta segunda etapa foi muito mais difícil, mas também incomparavelmente mais valiosa.
É disso que hoje nos deveríamos fundamentalmente orgulhar, pondo definitivamente de parte esses mitos sebásticos do MFA salvador que desembocou no Largo do Carmo numa manhã de nevoeiro para libertar o pobre povo português.
24.4.04
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