Não há muitos anos, um presidente do Sporting e outro do Benfica foram julgados e condenados por crimes cometidos ao comando dessas agremiações desportivas.
Em Portugal só há três clubes que mexem em dinheiro a sério. Dir-se-ía que dois em três é uma boa proporção em termos de combate à corrupção, até porque em nenhum sector da vida portuguesa se atingiu nada que se pareça com essa marca.
Julgava eu, por conseguinte, que a fiscalização de eventuais irregularidades nos clubes de futebol já tinha começado há muito tempo. Trata-se inclusivamente do único sector da economia para o qual o Ministério das Finanças criou uma comissão especial destinada a fiscalizar as eventuais dívidas ao fisco, embora se saiba que essa severidade não foi suficiente para evitar o sistemático incumprimento por parte do Benfica.
Isso era o que eu pensava. Mas os media, explicaram-nos que agora, com os casos do Gondomar SC e dos Dragões Sandinistas, é que finalmente começou a «limpeza do futebol». Ouvi inclusivamente na TSF duas notórias especialistas na matéria, Clara Ferreira Alves e Constança Cunha e Sá, asseverarem que esta é a melhor forma de comemorarmos o 25 de Abril.
A razão de todo este alvoroço resulta de Valentim Loureiro, ao que parece, ser suspeito de ter favorecido Pinto da Costa (não seria antes o F.C. Porto?) numa decisão da Comissão Disciplinar da Liga da Clubes.
Num jornal como o Público, supostamente o último farol da seriedade na imprensa diária portuguesa, a notícia do dia foi mesmo a suposta acusação contra Pinto da Costa, e não a prisão de Valentim Loureiro. Daí para baixo, foi sempre a piorar.
Bastou ser falado o nome de Pinto da Costa para que aos facciosos do costume lhes cheirasse logo a sangue. Pois desejo-lhes, como habitualmente, muito boa sorte.
P.S. - Declaração de conflito de interesses: para que conste, sou adepto e associado do F.C. Porto.
23.4.04
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