25.9.06

Os bem-aventurados



Se já é um bocadinho estranho um fórum de debate apresentar publicamente conclusões e recomendações ao governo vinculativas de todas as pessoas que nele participaram, ainda o é mais que elas já estejam prontas e distribuidas à imprensa antes de as discussões terem sequer começado.

Tanto deveria bastar para nos convencer de que o Compromisso Portugal não é um mero movimento de opinião de cidadãos preocupados com o futuro da pátria, mas um grupo de pressão politicamente motivado e dirigido com uma tal mão de ferro que nenhum dos quatro representantes que se deslocaram à SIC Notícias se desviou um milímetro da cassete oficial do partido.

O Compromisso Portugal propõe uma série de receitas infalíveis para reorganizar o Estado e pôr a economia a funcionar. Esquecem-se de que, recorrendo o Estado português regularmente aos mesmos consultores que apoiam as empresas privadas, já conhece de cor a lenga-lenga do outsourcing, da criação de valor para os stakeholders e da orientação para os resultados.

O que torna simultaneamente difícil e aliciante a política é que ela lida sobretudo com valores e interesses, sendo por vezes destrinçar entre uns e outros. Bem-aventurados os que acreditam que a política é uma mera técnica de gestão das coisas, porque deles é o reino da doce ilusão.

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