19.4.07

Que querem os franceses?



De que se queixam afinal os franceses? A sua produtividade é tão elevada que até se podem dar ao luxo de trabalhar menos do que os outros. Uma comparação rigorosa demonstraria que, na verdade, a taxa de desemprego pouco excede a dos EUA. Os serviços públicos são excelentes. O clima é agradável. Come-se bem, bebe-se bem. O futebol é do melhor.

O Economist acredita que a França precisa de uma espécie de Tony Blair. Se os franceses seguissem o conselho, o Serviço Nacional de Saúde degradar-se-ia, as auto-estradas passariam a ser pagas, os acidentes ferroviários multiplicar-se-iam e os jovens que actualmente se entretêm a incendiar carros nos subúrbios prefeririam colocar bombas em autocarros e comboios.

O mal da França é a ilusão da grandeza da França - uma crença quase tão absurda como a da grandeza do Benfica. A satisfação das pessoas e dos povos resulta do confronto entre a realidade e as expectativas, pelo que as raízes da infelicidade tanto podem estar num lado como no outro. Ora o papel da França no mundo não pára de diminuir, e os habitantes do hexágono não estão claramente preparados para essa desfeita.

Os franceses já se habituaram a ser o povo mais detestado da Europa. Mas não podem aceitar que os seus esforços para afirmar no exterior a grandeza da França sejam hoje objecto da troça universal.

A França reage a isto crispando-se, de tal forma que toda a sua vida política é na actualidade dominada pelo mais retrógrado chauvinismo. Apenas a forma como ele se manifesta varia um pouco - não muito - de partido para partido. Todos os principais políticos franceses se transformaram em Le Pens mais ou menos assumidos.

É necessária muita imaginação para vislumbrar outra distinção entre a direita e a esquerda que não passe pela mera exibição de emblemas caducos, também eles reminiscências obsoletas de uma pretensa idade do ouro.

De modo que na França contemporânea nós vemos concretizado de forma exemplar o prognóstico de uma sociedade em que desapareceu o tradicional confronto entre direita e esquerda. E talvez seja afinal esse o problema da França, um país sem fantasia, sem esperança e sem rumo.

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