23.7.07
Sem futuro
Tendo em conta que foi criado à pressa, em Maio de 74, para responder a uma situação particularíssima, pode-se dizer que o PPD/ PSD já teve uma vida mais longa do que à partida se poderia augurar.
O caso foi este. Não fosse a perspicácia de Sá Carneiro ao cortar todas as ligações com o regime deposto pouco antes de ele ruir, e a direita não teria ninguém com pergaminhos democráticos para apresentar ao país depois de Abril.
A corrente de gente ligada aos negócios com inclinações tecnocráticas e liberalizantes não cessara de engrossar desde a adesão à EFTA em finais dos anos 50, e teria engrossado ainda mais se não fosse o envolvimento dos grandes grupos financeiros na economia colonial.
No entanto, só por si, essa corrente nunca conseguiria obter votações expressivas fora de Lisboa e Porto.
Para criar um partido de implantação nacional, capaz de disputar e ganhar eleições, era preciso agregar a burguesia rural e disputar ao PS aos notáveis da província, gente que aderiria com tanta facilidade ao novo regime como convivera com o anterior, na condição de que os sindicatos fossem mantidos sob controlo e eles pudessem prosseguir à sombra dos municípios as suas pachorrentas negociatas.
Como sabe quem os conhece, tratou-se de um casamento de conveniência entre gente que, detestando-se mutuamente por razões de classe e cultura, nada une senão a apetência pelo poder. A ditadura iluminada de uma personalidade equidistante como Cavaco Silva é a única forma de manter em paz o rebanho.
Acontece que o país evoluiu de há 30 anos para cá. Esvaziaram-se os campos, incharam as cidades. Ao concentrar-se nas urbes, o eleitorado mudou de natureza. Os comunistas já não assustam ninguém. As empresas de algum significado preocupam-se com o mundo, mas milhares de pequenos negócios dependem, como sempre, da política do fontanário. A ruína de muitas actividades tradicionais desviou gente com iniciativa para ocupações ilícitas mas proveitosas.
Hoje, mais do que nunca, o PSD procura fazer conviver modos de ver e viver mutuamente incompatíveis. Que sentido faz pregar a redução dos impostos e a liberalização dos despedimentos, se o que excita os militantes é a compra e venda de jogadores de futebol, o tráfico de influências, as casas de alterne ou os negócios escuros em África, para dar apenas alguns exemplos?
Para progredir, o PSD teria que alijar esse lastro que traz consigo há décadas. O problema é que, de imediato, perdendo os Jardins, os Menezes e os Valentins, teria de resignar-se a ser um partido muito mais pequeno.
E ninguém quer isso, pois não?
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