Certas pessoas com acesso permanente aos media queixam-se de que o país já gasta muito na educação sem que se vejam os resultados. Suponho, embora elas não sejam claras quanto a este ponto, que gostariam de ver reduzidas essas despesas.
O que não dizem ou ignoram é que, no final do século XIX, os países escandinavos já tinham as taxas de alfabetização que nós só agora alcançámos. Não se esqueçam: a 25 de Abril de 1974, um em cada três portugueses era analfabeto.
A causa desse desastre nacional? Os vôvôs desses comentadores modernos também achavam, como eles acham, que o país não deveria investir muito na educação. Desde então os argumentos, mudaram, é certo, mas a desconfiança na educação mantém-se. Hoje mesmo, um rapaz muito esperto e que nunca se ri, chamado Rui Ramos, troça no Público da educação, chamando-lhe "a religião do regime".
Antigamente, ao menos, esses cavalheiros eram mais directos. Pretendiam eles que a educação popular fomentava o comunismo, a insubordinação e a degradação dos costumes. Logo, devia-se ensinar às pessoas o mínimo dos mínimos, ou seja, escrever o nome (para assinar o Bilhete de Identidade), fazer contas (não havia calculadoras para ajudar nos trocos) e saber de cor os nomes dos reis de Portugal.
Agora, queixam-se de que o ensino não estimula a memorização, insubordina os jovens e não penaliza os mais fracos. Acima de tudo, indignam-se com qualquer tentativa de tornar a escola e o ensino mais atraentes para os estudantes. Aprendizagem, acham eles, deve ser sofrimento, nunca prazer.
É difícil descortinar o sentido da campanha permanente conduzida por certos sectores contra a escola pública, excepto, talvez, este: a fixação cega e totalmente unilateral nas virtudes da autoridade, como se todos os problemas se resolvessem com castigos, expulsões, polícia e pancadaria.
Creio que só ficarão mesmo contentes no dia em que o exército ocupar os estabelecimentos de ensino para impor neles a ordem e a disciplina.
(Acerca da recente polémica em torno dos rankings das escolas, não perder a excelente série de posts do Pedro Sales no Zero de Conduta. Comecem neste e leiam em seguida os outros três.)
31.10.07
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