Viajava D. Carlos no seu iate ao longo da nossa costa quando se deparou com uma embarcação de pescadores.
Chegando à fala, perguntou-lhes o rei: "Sois portugueses?"
"Não", responderam eles, "somos da Póvoa do Varzim!"
Este revelador episódio, relatado por José Mattoso num opúsculo intitulado "A Identidade Nacional", comprova ser falsa a ideia de que as origens do sentimento de pertença a uma comunidade pátria dos habitantes deste rectângulo se perdem na noite dos séculos.
Ora, um dos argumentos favoritos da turma dos comentadores anti-europeistas consiste precisamente em contrapor o carácter genuíno e arreigado das identidades nacionais à artificialidade da identidade europeia.
O homem contemporâneo caracteriza-se, entre outras coisas, pela multiplicidade das suas lealdades: nele convivem sumultaneamente identidades locais, regionais, nacionais, continentais e universais, sem falar, obviamente das familiares, profissionais, religiosas, culturais, clubísticas e por aí fora.
Claro está que nem todas têm o mesmo peso, e que a importância de umas aumenta enquanto o de outras diminui. Mas o ponto é reconhecer que não só a identidade europeia sempre foi forte (particularmente em certos grupos sociais por natureza mais cosmopolitas) como tem todas as condições para reforçar-se ainda mais.
Já a concretização dessa possibilidade abstracta depende das decisões que colectivamente venhamos a tomar.
22.10.07
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário