4.5.10

Manuscrito encontrado em Malpenza

.
"É inútil tentar vencer o Barcelona jogando “melhor” que eles.

"O modelo do Barça inspirou-se no andebol de sete: a equipa concentra-se toda à volta da grande área do adversário e faz continuamente girar a bola de jogador para jogador e de um lado para o outro à espreita de uma distracção defensiva.

"É vital que os pivôs que coordenam a logística da operação sejam tão certinhos como um relógio suíço. Depois, a ciência estará toda em aproveitar a fenda que momentaneamente se abre e em desferir o golpe com a crueldade do relâmpago.

"Vendo as coisas do lado do opositor, torna-se evidente que o sistema só funciona se (e na medida exacta em que) ele se deixa hipnotizar. O movimento contínuo dos operários da bola na sua cadeia de montagem tem um poder soporífero equivalente ao da contemplação das deambulações de peixinhos tropicais coloridos num aquário.

"Experimentemos então algumas ideias radicais. Por exemplo: os jogadores da equipa que defende dispõem-se em duas filas de cinco cada sentados em cadeiras à entrada da área. A defesa consiste apenas em contemplar com ar desdenhoso as movimentações dos avançados do Barcelona. Ninguém se mexe, muito menos se ergue da cadeira, toda a acção se concentra em mirar a agitação circundante aplicando-se em evidenciar o seu enfado.

"Isto não pode deixar de confundir os catalães. Adversários assim jamais se deixarão hipnotizar, sentirão eles, é inútil persistir eternamente nesse propósito. Até a equipa psicologicamente mais forte do mundo desiste ao cabo de cinco minutos perante uma tal manifestação de confiança. Muito provavelmente, abandonarão o campo lavados em lágrimas e consolados pelo 4º árbitro, visto que, por esta altura, o próprio bandeirinha já terá dado entrada nas urgências.

"Parece-vos muito arriscado? OK, então agora vamos tentar a mesma coisa com uma pequena diferença: tira-se as cadeiras."
.

1 comentário:

Anónimo disse...

Jesus Cristo não teria feito uma parábola mais interessante para descrever a nossa atitude perante a situação que o país está a atravessar.

Ele apenas acrescentaria a ideia de puxar as cadeiras de surpresa e com todo o vigor...

Jesus Cristo deveria poder escrever sem "moderação de comentários"...

Irra, que o discípulo é impertinente...