10.11.03

Ai, meu Deus, que se faz tarde!

Dizia-me há uns anos um amigo brasileiro: «Os portugueses são de uma pontualidade britânica». E, como eu o olhasse como se tivesse um parafuso a menos, explicou: «É verdade, sim. Aqui você vai no cinema e começa na hora.»

Como se vê, há quem ache que a nossa descontraida relação com os horários, uma das coisas que pior me faz ao coração, pode ser correctamente apelidada de pontualidade. É tudo uma questão de perspectiva: um dia, não há muito tempo, já nos estivémos onde os brasileiros estão; um dia, mais cedo do que pensamos, estaremos onde os ingleses hoje estão.

Se calhar, nada como a pontualidade mede com tanta precisão o grau de desenvolvimento de um país. De facto, se tempo é dinheiro, falta saber quanto dinheiro vale cada unidade de tempo; e, tendo em conta que o custo de uma hora de ócio é o dinheiro que perdemos por não estarmos a trabalhar, a importância que atribuimos ao chegar a horas varia na razão directa da nossa produtividade.

Sendo assim, o problema da pontualidade resolve-se por si.

Quando li no jornal que um professor universitário português abrira na internet um abaixo-assinado a favor da pontualidade não pude deixar de reagir com emoção, tratando-se de uma cruzada que a me diz tanto. Mas a verdade, caro Professor Ivo Dias de Sousa, é que não vale a pena ralar-se demasiado: esta é mais uma doença nacional que não se resolve com sermões, mas com trabalho.

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