8.1.04

Cabala e contra-cabala



É para mim claro que Pacheco Pereira tem razão em muito do que escreve no Público de hoje («Anatomia de uma fuga...»).

Lamento apenas que a perspicácia com que identifica e desmonta a contra-cabala vinda a público nos últimos dias não o tenha ajudado a entender a cabala original. Chama-se a isso facciosismo.

Por mim, registo apenas que uma parte da defesa compreendeu finalmente que não se pode jogar limpo quando o adversário sistematicamente joga sujo. Olho por olho, dente por dente, não é só uma velha máxima babilónia: é também, segundo um moderno teorema da teoria dos jogos formulado por Axelrod, a única forma eficaz de amansar quem nos ataca de má fé. Ser-se boa pessoa não é a mesma coisa que ser-se parvo.

Já agora, esclareço que, em minha opinião, a óbvia manipulação desde o início do processo Casa Pia não teria à partida forçosamente por alvo o PS. Acabou por ser assim, mas também poderia ter sido de outro modo. E sobre isto não adianto mais nada porque, como sustentava o outro, o que não pode ser dito deve ser calado.

Só acrescento, a concluir, que aprendi há muito, ao ler O Espião que Veio do Frio, sem dúvida o melhor romance do John Le Carré, que às vezes os manipuladores também são manipulados—sem sequer terem consciência disso.

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