6.10.04

O meu caso com a Turquia

Embora nunca tenha sido pessoalmente apresentado à Turquia, estou absolutamente seguro de que se trata de um país europeu.

Como é que eu sei? Porque os clubes turcos participam nas competições da UEFA. É só uma questão de senso comum. «Ah! - já estou a ouvir alguém dizer - mas os israelitas também participam!» Precisamente.

As nossas fronteiras são onde são, em virtude de factos ocorridos em tempos longínquos e em consequência de decisões de que já ninguém se lembra, não onde gostaríamos que fossem.

Já ouvi um importante político deste país, que aliás muito prezo, dizer que os turcos não podem entrar porque são um povo atrasadíssimo. Faz-me impressão este snobismo chauvinista de novos ricos. Há uma geração andávamos de socas e levávamos o carro de bois para todo o lado. Agora, lá porque tirámos um curso de Gestão Hoteleira e passamos férias no Nordeste Brasileiro, já achamos que somos uma grande coisa.

A UEFA não está enganada. Não só os turcos partilham connosco há longo tempo a história da Europa, como durante mil anos a nossa capital - sim, sim, tugas incluídos - foi lá. Este é o princípio da coisa. Outro problema bem diferente é saber quando a Turquia poderá entrar para a EU. Daqui a dez anos, vinte, nunca? Não sei, só sei que, por enquanto não preenchem as condições.

Não ignoro que a entrada da Turquia coloca dificuldades importantes. Por um lado, sou internacionalista e simpatizo com o abater das barreiras económicas, culturais e sociais entre os povos. Por outro lado, porém, sei que o alargamento a mata-cavalos dificulta o processo de integração política real na medida em que fortalece os poderes não eleitos, razão pela qual alguma direita adora a ideia.

Trata-se de um claríssimo conflito de valores que o tempo, espero eu, ajudará a resolver.

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