1.9.05

Acerca da sobrevivência do Ciberdúvidas

Tem toda a razão de ser, a pergunta do Pacheco Pereira sobre como deveria ser assegurada a sobrevivência do Ciberdúvidas.

Visto que durante algum tempo acompanhei o assunto de perto, posso dar o meu testemunho pessoal sobre ele.

A manutenção de um site como o Ciberdúvidas envolve o trabalho gracioso de muita gente, desde logo o do núcleo de colaboradores responsáveis pelos seus conteúdos. Além disso, há também a parte técnica.

A dada altura, ajudei o João Carreira Bom a arranjar uma empresa que se prestou a assegurar o alojamento e a manutenção do site, e ainda a proceder a uma série de melhoramentos que o tempo tornara inadiáveis. Tudo grátis, evidentemente.

Ainda assim, sobrava o trabalho administrativo e de secretariado que o Ciberdúvidas implicava para poder assegurar uma resposta rápida a quem colocava as suas dúvidas. E, aí, não havia outra solução senão pagar de facto a quem se encarregasse dessas tarefas.

Embora, a dado momento, se tivesse falado na possibilidade de a Secretaria de Estado da cultura dar uma ajuda ao Ciberdúvidas, é um facto que essa nunca foi a solução preferida do João. Assim, ofereci-me mais uma vez para ajudá-lo a tentar arranjar patrocínios de empresas para as quais uma iniciativa desse género poderia fazer sentido.

Durante anos batemos a várias portas e falámos com muita gente. Sempre sem resultado, apesar de o montante em causa ser relativamente insignificante. Se bem me recordo, vinte mil contos por ano seriam o bastante.

Mas a verdade é que grandes empresas portuguesas que, sem benefícios relevantes, gastam por ano centenas de milhares de contos a patrocinar futebol, nunca acharam que a valorização do bem falar e escrever português pudesse ser uma causa digna de apoio.

Só quando o João Carreira Bom faleceu, vai para quatro anos, tive conhecimento do muito dinheiro que ele teve que pagar do seu bolso para manter o Ciberdúvidas vivo.

Por conseguinte, à pergunta sobre se não poderia a sociedade civil suportar iniciativas deste género, a resposta é infelizmente esta: só se fosse outra sociedade. Não esta, nunca esta, orientada por uma classe dirigente inculta e ignorante que disfarça a sua própria boçalidade justificando-a com a alegação de que o povo só se interessa por bola.

É uma história triste, reconheço-o, mas foi assim.

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