8.3.07

Livre arbítrio: um exercício aplicado

Já alguma vez assistiram ao show da Oprah Winfrey? Pode-se dizer sobre ele algumas coisas boas, mas hoje só me apetece falar das más.

O segredo do sucesso do programa deve ser procurado, creio eu, nas sessões de tortura psicológica que Oprah inflige em frente das câmeras a infelizes que padecem de males tão variados como a obesidade, o tabagismo, o desemprego ou o insucesso escolar, todos eles óbvias manifestações da perversa influência do demónio.

A tese geral é muito simples: se uma pessoa tem problemas graves, a culpa é dela. Logo, é não só legítimo como um dever cívico humilhá-la perante uma audiência de milhões de telespectadores até forçá-la a confessar em pranto que, de facto, não passa de um monte de esterco e que está eternamente grata à Oprah por, ao fazê-la ver a Luz, dar-lhe uma oportunidade de se emendar.

Na plateia está sempre presente uma psicóloga de pacotilha que reforça com argumentos científicos a tese da incontornável culpa da vítima. O público chora baba e ranho, aplaude com frenesi e faz interiormente acto de contrição dos seus próprios pecados. Como é infinitamente superior a este espectáculo a confissão católica!

Cabe porém perguntar como é que as pessoas se sujeitam a estes vexames. A minha explicação é que, antes dos sofrimentos particulares que sobre si se abateram, elas são acima de tudo vítimas da doutrina do livre arbítrio com que diariamente, durante toda a sua existência, os media lhes lavaram o cérebro.

PS - O esquema descrito é também aplicado nos programas do Dr. Phil. Ao contrário da Oprah, porém, o Dr. Phil é um pateta.

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