José Sócrates terá afirmado hoje: "As poupanças dos portugueses estão garantidas".
Quem é que lhe meteu isso na cabeça? E para onde é que eu mando a conta?
29.9.08
Boa companhia
Talvez o raciocínio do meu anterior post seja estúpido, mas, ao menos, estou em boa companhia.
Acabo de descobrir que James Galbraith (via Ladrão de Bicicletas) e Larry Summers (via Greg Mankiw) apresentaram nos últimos dias propostas similares a partir dos mesmos pressupostos.
Acabo de descobrir que James Galbraith (via Ladrão de Bicicletas) e Larry Summers (via Greg Mankiw) apresentaram nos últimos dias propostas similares a partir dos mesmos pressupostos.
A voz do mercado
Isto é quase tão complicado como o Inter-Milan de ontem. Prestem atenção, porque não vou repetir-me.
Nos últimos dias, a taxa de juro dos títulos do Tesouro nos EUA têm andado à volta dos 0,05%. Isso mesmo: 0,05%! Ao mesmo tempo, o spread dos empréstimos concedidos pelos bancos atingiu valores recorde.
O que é que isto quer dizer?
Muito simples. A confiança dos investidores atingiu níveis tão baixos, que estão dispostos a emprestar dinheiro ao Estado a preço zero (ou negativo, em termos reais). Em contrapartida, as empresas só conseguem obter crédito a taxas elevadíssimas.
Logo, o que o mercado nos diz é que, neste momento, os investidores estão dispostos a financiar projectos estatais, mas não privados.
Logo, para evitar a paralisia económica, os Estados deveriam anunciar o lançamento urgente de iniciativas de investimento a curto prazo, com impacto, por exemplo, em instalações e equipamentos dos sistemas de saúde e educação.
Aí está algo que os governos europeus poderiam e deveriam unir-se para fazer sem demora.
Nos últimos dias, a taxa de juro dos títulos do Tesouro nos EUA têm andado à volta dos 0,05%. Isso mesmo: 0,05%! Ao mesmo tempo, o spread dos empréstimos concedidos pelos bancos atingiu valores recorde.
O que é que isto quer dizer?
Muito simples. A confiança dos investidores atingiu níveis tão baixos, que estão dispostos a emprestar dinheiro ao Estado a preço zero (ou negativo, em termos reais). Em contrapartida, as empresas só conseguem obter crédito a taxas elevadíssimas.
Logo, o que o mercado nos diz é que, neste momento, os investidores estão dispostos a financiar projectos estatais, mas não privados.
Logo, para evitar a paralisia económica, os Estados deveriam anunciar o lançamento urgente de iniciativas de investimento a curto prazo, com impacto, por exemplo, em instalações e equipamentos dos sistemas de saúde e educação.
Aí está algo que os governos europeus poderiam e deveriam unir-se para fazer sem demora.
Se non è vero, è ben trovato
Segundo a Reuters, paciência de chinês também tem limites:
BEIJING, Sept 25 (Reuters) - Chinese regulators have told domestic banks to stop interbank lending to U.S. financial institutions to prevent possible losses during the financial crisis, the South China Morning Post reported on Thursday.Mais dia menos dia, isto vai mesmo acontecer.
The Hong Kong newspaper cited unidentified industry sources as saying the instruction from the China Banking Regulatory Commission (CBRC) applied to interbank lending of all currencies to U.S. banks but not to banks from other countries.
"The decree appears to be Beijing's first attempt to erect defences against the deepening U.S. financial meltdown after the mainland's major lenders reported billions of U.S. dollars in exposure to the credit crisis," the SCMP said.
26.9.08
25.9.08
Fazendo o trottoir
Tirando o Museu Judaico, o que mais me maravilhou numa viagem recente a Berlim foi a descoberta de que por lá também têm calçada portuguesa, melhor dizendo, que os passeios da cidade estão cobertos de calçada portuguesa de uma ponta à outra.
Comecei por estranhar jamais ter visto mencionado o facto por um só dos milhares de compatriotas nossos que desde a mais remota antiguidade se deslocaram àquelas paragens. Mas, depois, entendi que é muito difícil alguém identificar uma calçada portuguesa quando ela se apresenta absolutamente plana, sem fissuras entre as pedrinhas nem troços esburacados, como é o caso na capital dos boches.
De modo que eu, há muito irredutível no ódio a esta artefacto nacional causador de lesões variadas e saltos altos partidos, dei por mim a pensar se não seria possível o Costa mobilizar uns tostões para mandar alguém a Berlim estudar como é que aquilo se faz.
Só temo que, em vez de aprenderem a fazer calçada portuguesa à alemã, eles venham de lá a fazer calçada alemã à portuguesa.
Comecei por estranhar jamais ter visto mencionado o facto por um só dos milhares de compatriotas nossos que desde a mais remota antiguidade se deslocaram àquelas paragens. Mas, depois, entendi que é muito difícil alguém identificar uma calçada portuguesa quando ela se apresenta absolutamente plana, sem fissuras entre as pedrinhas nem troços esburacados, como é o caso na capital dos boches.
De modo que eu, há muito irredutível no ódio a esta artefacto nacional causador de lesões variadas e saltos altos partidos, dei por mim a pensar se não seria possível o Costa mobilizar uns tostões para mandar alguém a Berlim estudar como é que aquilo se faz.
Só temo que, em vez de aprenderem a fazer calçada portuguesa à alemã, eles venham de lá a fazer calçada alemã à portuguesa.
O bl-g--x-st- feito pelos leitores do Abrupto
O Abrupto, dantes tão sisudo (para não dizer chato), agora é para rir. Escreve lá um leitor:
Eu até posso deixar uma criança brincar com uma chave-de-fendas. Mas com supervisão. Oferecer uma chave-de-fendas a uma criança, e deixá-la sem sozinha, é meio caminho para um acidente com uma tomada eléctrica.
Dar um computador a uma criança é o mesmo que lhe dar um isqueiro.
Despeçam polícias e comprem automóveis
Manuel Caldeira Cabral escreve no Jornal de Negócios de hoje:
"Tendo vivido junto a um bairro problemático dos arredores de Lisboa, diversas vezes me vi obrigado a chamar a polícia. A esquadra mais próxima estava a apenas 400 metros, a seguinte a dois quilómetros. O tempo de resposta variou entre os dez minutos e mais de uma hora. Os polícias chegavam, não de arma em punho, mas de papel na mão. Sabiam ao que vinham. Vinham registar a ocorrência. Em alguns casos justificavam que a viatura tinha estado ocupada a tomar conta de outras ocorrências. A verdade é que nas seis esquadras que ficam a menos de seis quilómetros desta casa (seis minutos de carro) há cerca de 200 polícias."
Ficção política
Se o PSD for para o governo, corremos o risco de termos todos os dias na RTP Pacheco Pereira a debater em directo com os jornalistas o telejornal da véspera.
Causa e efeito
A Espanha crescia porque não tinha défice, ou não tinha défice porque crescia?
A resposta está aí: o crescimento espanhol parou e, em apenas seis meses, as contas do Estado passaram de um excedente para um défice de 1,3%. Por este andar, é bem possível que em breve ultrapasse o nosso.
É altura de experimentarem outra teoria.
A resposta está aí: o crescimento espanhol parou e, em apenas seis meses, as contas do Estado passaram de um excedente para um défice de 1,3%. Por este andar, é bem possível que em breve ultrapasse o nosso.
É altura de experimentarem outra teoria.
24.9.08
Prestar contas
Correia de Campos é o Cristiano Ronaldo dos políticos portugueses. O facto de o seleccionador o ter mandado para o banco confirma a mediocridade da nossa vida pública.
Hoje, lançou um livro em que presta contas da política que pôs em prática ao longo de dois mandatos à frente do Ministério da Saúde, algo que muito poucos têm a capacidade e o desejo de fazer.
22.9.08
Uma proposta mais equilibrada
Chris Dodds, Chairman do Banking Committee do Senado, quer participação do Estado no capital das instituições ajudadas proporcional à dívida suportada pelo Tesouro americano.
Pensamento negativo
A nacionalização de uma dívida não a elimina, apenas altera a sua titularidade. Um problema monetário transforma-se num problema orçamental, e a única forma de resolvê-lo é o aumento dos impostos.
Nas últimas semanas temos assistido recorrentemente a este padrão de comportamento: os mercados financeiros rejubilam de imediato com as boas notícias, para nos dias seguintes se aperceberem de que, afinal, elas têm também os seus custos.
Informação rápida, raciocínio lento.
Nas últimas semanas temos assistido recorrentemente a este padrão de comportamento: os mercados financeiros rejubilam de imediato com as boas notícias, para nos dias seguintes se aperceberem de que, afinal, elas têm também os seus custos.
Informação rápida, raciocínio lento.
Cash for trash
Krugman critica hoje no New York Times o plano Paulson:
"If the government is going to provide capital to financial firms, it should get what people who provide capital are entitled to — a share in ownership, so that all the gains if the rescue plan works don’t go to the people who made the mess in the first place."Por outras palavras, a nacionalização (total ou parcial) é a solução que melhor acautela os interesses dos contribuintes.
19.9.08
Uma lei que faz falta
E que tal fazer-se uma lei contra a disciplina de voto partidária dos deputados?
Parece-me essa uma prática - como direi? - inconstitucional.
Parece-me essa uma prática - como direi? - inconstitucional.
Crédito tóxico
Imaginem que uma empresa se dedicava a vender carne picada estragada em lotes a outras empresas que os misturavam com lotes de carne de boa qualidade. Imaginem que este processo se repetia várias vezes ao longo da uma cadeia de produção e distribuição um número indeterminado de vezes. Imaginem, por último, que os consumidores finais compravam a carne picada à venda nas lojas para fazerem croquetes.
Muitos croquetes teriam uma pequena quantidade de carne estragada, mas alguns estariam tão contaminados que a ingestão de meia dúzia poderia provocar a morte.
Em resumo, é isto o subprime: a venda, re-empacotamento e revenda repetida de créditos de altíssimo risco e sem garantidas (os chamados créditos NINJA, ou seja No Income No Job or Assets) até se perder o rasto da sua origem. No fim, muita gente inocente morre, e é praticamente impossível remontar à origem do problema.
Recordemos agora que, há alguns meses, descobriu-se que certos fabricantes chineses exportaram para os EUA brinquedos pintados com tintas tóxicas. Descobertos, não só foram obrigados a devolver o dinheiro da mercadoria deficiente e a pagar multas, como viram cancelados futuros contratos de fornecimento.
No caso do subprime, porém, as instituições financeiras norte-americanas não só exportaram livremente créditos tóxicos para todo o mundo, como não têm nenhuma obrigação de indemnizar as vítimas que somos praticamente todos nós. Trata-se, pois, de uma forma de vigarice que permanecerá impune. Acresce que, embora muita gente qualificada tivesse alertado há anos para o problema, a vigarice teve, por motivos diversos, a cobertura de pessoas com grandes responsabilidades, incluindo Alan Greenspan (ou, entre nós, António Borges).
Como se vê, a crise financeira despoletada pelo subprime não deve ser vista como uma prova de que o mercado e o capitalismo não funcionam. O que não funciona é a vigarice institucionalizada e protegida pelas instâncias que são supostas proteger os cidadãos.
Isto só pode surpreender aqueles que acham que o sistema de mercado pode sobreviver e prosperar fora de um enquadramento institucional adequado. Na maioria dos mercados, esse enquadramento resulta da livre acção dos agentes envolvidos. Noutros mais complexos, porém, em que a informação é pouco transparente, desigual ou difícil de interpretar, torna-se necessária a fiscalização de entidades reguladoras apropriadas.
O mercado é um órgão da sociedade. O Estado também.
Muitos croquetes teriam uma pequena quantidade de carne estragada, mas alguns estariam tão contaminados que a ingestão de meia dúzia poderia provocar a morte.
Em resumo, é isto o subprime: a venda, re-empacotamento e revenda repetida de créditos de altíssimo risco e sem garantidas (os chamados créditos NINJA, ou seja No Income No Job or Assets) até se perder o rasto da sua origem. No fim, muita gente inocente morre, e é praticamente impossível remontar à origem do problema.
Recordemos agora que, há alguns meses, descobriu-se que certos fabricantes chineses exportaram para os EUA brinquedos pintados com tintas tóxicas. Descobertos, não só foram obrigados a devolver o dinheiro da mercadoria deficiente e a pagar multas, como viram cancelados futuros contratos de fornecimento.
No caso do subprime, porém, as instituições financeiras norte-americanas não só exportaram livremente créditos tóxicos para todo o mundo, como não têm nenhuma obrigação de indemnizar as vítimas que somos praticamente todos nós. Trata-se, pois, de uma forma de vigarice que permanecerá impune. Acresce que, embora muita gente qualificada tivesse alertado há anos para o problema, a vigarice teve, por motivos diversos, a cobertura de pessoas com grandes responsabilidades, incluindo Alan Greenspan (ou, entre nós, António Borges).
Como se vê, a crise financeira despoletada pelo subprime não deve ser vista como uma prova de que o mercado e o capitalismo não funcionam. O que não funciona é a vigarice institucionalizada e protegida pelas instâncias que são supostas proteger os cidadãos.
Isto só pode surpreender aqueles que acham que o sistema de mercado pode sobreviver e prosperar fora de um enquadramento institucional adequado. Na maioria dos mercados, esse enquadramento resulta da livre acção dos agentes envolvidos. Noutros mais complexos, porém, em que a informação é pouco transparente, desigual ou difícil de interpretar, torna-se necessária a fiscalização de entidades reguladoras apropriadas.
O mercado é um órgão da sociedade. O Estado também.
Viva Buffet
Warren Buffet escreve pessoalmente os relatórios anuais da Berkshire Hathaway num estilo vivo, inteligente e eminentemente compreensivel, em tudo oposto ao registo burocrático e hermético habitual neste tipo de documentos.
Não conheço ninguém que explique tão bem em que consistem coisas como o subprime, os derivados ou os hedge funds. Suponho que isso acontece porque: a) ele sabe do que está a falar; b) ele tem vontade de ser entendido, ou seja de prestar realmente contas aos accionistas da empresa que dirige.
Não conheço ninguém que explique tão bem em que consistem coisas como o subprime, os derivados ou os hedge funds. Suponho que isso acontece porque: a) ele sabe do que está a falar; b) ele tem vontade de ser entendido, ou seja de prestar realmente contas aos accionistas da empresa que dirige.
18.9.08
Este optimismo que nos consome
Uma pausa no actual contexto depressivo para saborear as palavras com que o prodigioso Warren Buffet concluiu o seu relatório aos accionistas da Berkshire Hathaway em 2002:
"Gorat’s - my favorite steakhouse - will again be open exclusively for Berkshire shareholders on Sunday, May 4, and will be serving from 4 p.m. until 10 p.m. Please remember that to come to Gorat’s on Sunday, you must have a reservation. To make one, call 402-551-3733 on April 1 (but not before). If Sunday is sold out, try Gorat’s on one of the other evenings you will be in town. Show your sophistication by ordering a rare T-bone with a double order of hash browns."Nesse relatório, Warren declarou também:
"Derivatives are financial weapons of mass destruction” and, while the Federal Reserve system was created in part to prevent financial contagion, “there is no central bank assigned to the job of preventing the dominoes toppling in insurance or derivatives”.
O perigo amarelo
De vez em quando, há mesmo notícias:
Morgan Stanley is in talks to sell a stake of up to 49 per cent to China Investment Corp, the state-owned investment fund, as part of the Wall Street firm’s efforts to ensure its survival and reverse a slump in investor confidence.
O desenvolvimento não é o prémio da virtude
Hesitei alguns meses antes de redigir o artigo que ontem publiquei no Jornal de Negócios, porque sabia que pode prestar-se a mal entendidos.
Só me descontraí um pouco depois de ler o comentário favorável de Pedro Lains, um dos nossos maiores especialistas de história económica.
Só me descontraí um pouco depois de ler o comentário favorável de Pedro Lains, um dos nossos maiores especialistas de história económica.
Propaganda de ocasião
O Secretário de Estado do Tesouro do governo português afirma hoje ao Jornal de Negócios que ter um banco público como a Caixa é "absolutamente estratégico" para o país, e que isso seria comprovado pela actual crise financeira.
Seria possível Costa Pina desenvolver um pouquinho a sua ideia? É que, afinal, as palavras "estratégia" e "estratégico" tornaram-se, no discurso corrente, um mero indício de que não se sabe muito bem o que se está a dizer.
O que é que a Caixa faz de diferente dos outros bancos, e com que intuito o faz? De que modo é que a Caixa contribui para reforçar a solidez do sistema financeiro português? Mais: em que documento escrito se encontra plasmada a orientação política e empresarial definida por este ou por qualquer outro governo para a Caixa?
Obviamente, nunca ninguém até hoje pôs preto no branco essa tal estratégia a que Costa Pina se refere, de modo que nos encontramos impedidos de debatê-la. Não resta, pois, senão confiar na palavra dos nossos governantes.
Sucede, porém, que aquilo que podemos observar sugere antes que a Caixa serve principalmente como instrumento de atenuação da concorrência no sector bancário, quando não como alavanca de negócios cujo interesse especificamente público nos escapa.
De modo que, pela minha parte, persisto em ver muito mais sentido na privatização da Caixa do que nas da TAP, das Águas de Portugal ou da ANA.
Seria possível Costa Pina desenvolver um pouquinho a sua ideia? É que, afinal, as palavras "estratégia" e "estratégico" tornaram-se, no discurso corrente, um mero indício de que não se sabe muito bem o que se está a dizer.
O que é que a Caixa faz de diferente dos outros bancos, e com que intuito o faz? De que modo é que a Caixa contribui para reforçar a solidez do sistema financeiro português? Mais: em que documento escrito se encontra plasmada a orientação política e empresarial definida por este ou por qualquer outro governo para a Caixa?
Obviamente, nunca ninguém até hoje pôs preto no branco essa tal estratégia a que Costa Pina se refere, de modo que nos encontramos impedidos de debatê-la. Não resta, pois, senão confiar na palavra dos nossos governantes.
Sucede, porém, que aquilo que podemos observar sugere antes que a Caixa serve principalmente como instrumento de atenuação da concorrência no sector bancário, quando não como alavanca de negócios cujo interesse especificamente público nos escapa.
De modo que, pela minha parte, persisto em ver muito mais sentido na privatização da Caixa do que nas da TAP, das Águas de Portugal ou da ANA.
17.9.08
Che serà, serà
A China converteu-se ao capitalismo. Irão os EUA aderir ao socialismo?
Depois das nacionalizações de Fany Mae, Fredy Mac e AIG, os mercados parecem acreditar que só algo similar salvará o Morgan Stanley e o Goldman Sachs.
Capitalismo ou socialismo? O que tem que ser tem muita força.
Depois das nacionalizações de Fany Mae, Fredy Mac e AIG, os mercados parecem acreditar que só algo similar salvará o Morgan Stanley e o Goldman Sachs.
Capitalismo ou socialismo? O que tem que ser tem muita força.
Nada
A União Europeia tem coisas maravilhosas: foi preciso cair a casa para ficarmos a saber que, nos termos dos seus estatutos, o Banco Central Europeu (ao contrário do que se passa, por exemplo, com a Reserva Federal americana) deve preocupar-se exclusivamente com a estabilidade dos preços, jamais com o crescimento e o emprego.
O mais curioso é que mesmo as pessoas melhor informadas sobre temas económicos não sabiam disto. Quem foi responsável pela redacção e aprovação dos referidos estatutos? Ninguém sabe, nem vale a pena perguntar.
De modo que, em consonância com o seu mandato, o BCE decidiu subir repetidamente a taxa de juro de referência apesar da crescente ameaça de recessão no continente. A meu ver, isto é não só politicamente inaceitável como tecnicamente errado.
Não vi até hoje ninguém explicar satisfatoriamente como é que uma política monetária restritiva pode contrariar inflação importada de petróleo e produtos agrícolas. O argumento mais ou menos oficial é que a reivindicação de actualizações salariais compensadoras do aumento dos preços poderia conduzir a uma espiral inflacionista incontrolável ao jeito do que sucedeu nos anos 70 do século passado.
Sucede, porém, que as condições actuais são muito diferentes das dessa época, principalmente porque, como é público e notório, o poder reivindicativo dos sindicatos é hoje muito inferior. Espiral inflacionista? Não me façam rir.
De modo que chegámos à situação absurda que esta semana se vive na Europa: o BCE obstinado na recusa de baixar as taxas de juro mesmo depois de os preços das matérias-primas alimentares e do petróleo terem caído a pique; e a União Europeia incapaz de impulsionar políticas orçamentais coordenadas.
Os países europeus que aderiram ao euro perderam o instrumento da política monetária e ficaram muito condicionados na gestão orçamental. Que obtiveram em troca disso? Ao que parece, nada.
O mais curioso é que mesmo as pessoas melhor informadas sobre temas económicos não sabiam disto. Quem foi responsável pela redacção e aprovação dos referidos estatutos? Ninguém sabe, nem vale a pena perguntar.
De modo que, em consonância com o seu mandato, o BCE decidiu subir repetidamente a taxa de juro de referência apesar da crescente ameaça de recessão no continente. A meu ver, isto é não só politicamente inaceitável como tecnicamente errado.
Não vi até hoje ninguém explicar satisfatoriamente como é que uma política monetária restritiva pode contrariar inflação importada de petróleo e produtos agrícolas. O argumento mais ou menos oficial é que a reivindicação de actualizações salariais compensadoras do aumento dos preços poderia conduzir a uma espiral inflacionista incontrolável ao jeito do que sucedeu nos anos 70 do século passado.
Sucede, porém, que as condições actuais são muito diferentes das dessa época, principalmente porque, como é público e notório, o poder reivindicativo dos sindicatos é hoje muito inferior. Espiral inflacionista? Não me façam rir.
De modo que chegámos à situação absurda que esta semana se vive na Europa: o BCE obstinado na recusa de baixar as taxas de juro mesmo depois de os preços das matérias-primas alimentares e do petróleo terem caído a pique; e a União Europeia incapaz de impulsionar políticas orçamentais coordenadas.
Os países europeus que aderiram ao euro perderam o instrumento da política monetária e ficaram muito condicionados na gestão orçamental. Que obtiveram em troca disso? Ao que parece, nada.
O pragmatismo reina
Na 2ª feira, a Reserva Federal abandonou à sua sorte o banco de investimento Lehman Brothers. Ontem, nacionalizou a seguradora AIG.
Os doutrinários já não sabem que pensar: deixa-se funcionar o mercado ou não?
A verdade é que a Reserva Federal agiu bem nos dois casos com base em considerações puramente pragmáticas, ajudadas pelo facto de o seu Presidente, Ben Bernanke, ter enquanto académico estudado a fundo a Grande Depressão de 1929.
Quando as coisas chegam a este ponto, as mais sólidas teorias esfumam-se no ar.
Os doutrinários já não sabem que pensar: deixa-se funcionar o mercado ou não?
A verdade é que a Reserva Federal agiu bem nos dois casos com base em considerações puramente pragmáticas, ajudadas pelo facto de o seu Presidente, Ben Bernanke, ter enquanto académico estudado a fundo a Grande Depressão de 1929.
Quando as coisas chegam a este ponto, as mais sólidas teorias esfumam-se no ar.
Vejo tudo muito calado...
Agora, que as bolsas caem a pique, que os bancos de investimento vão à falência e que as seguradoras ameaçam deixar de resgatar os fundos de pensões, era interessante ouvirmos outra vez a opinião dos defensores da privatização da segurança social. O que tem a dizer António Borges, por exemplo?
Grandes malucos.
Grandes malucos.
16.9.08
Acabou a 2ª Guerra Fria
Com o petróleo a 90 dólares, a Rússia está outra vez sem cheta.
Em vez de ameaçar cortes de fornecimento, terá de implorar à Europa que não recorra a fontes de abastecimento alternativas.
O melhor é mandar rapidamente para casa os soldados estacionados na Ossétia, enquanto têm dinheiro para o bilhete de volta.
Em vez de ameaçar cortes de fornecimento, terá de implorar à Europa que não recorra a fontes de abastecimento alternativas.
O melhor é mandar rapidamente para casa os soldados estacionados na Ossétia, enquanto têm dinheiro para o bilhete de volta.
Experiências
Na 5ª feira da semana passada, o mundo respirou de alívio ao constatar que, afinal o arranque do acelerador de partículas do CERN não determinara a absorção do Universo por um buraco negro.
Ontem, após a falência do Lehman Brothers, assaltou-me uma dúvida : será que, afinal, não fomos mesmo engulidos?
Ontem, após a falência do Lehman Brothers, assaltou-me uma dúvida : será que, afinal, não fomos mesmo engulidos?
15.9.08
A questão
Por quanto mais tempo permanecerá o Banco Central Europeu ridiculamente obcecado pelo alegado risco do descontrolo da inflação?
5.9.08
Crónica social contemporânea
Atenção, Professor João Carlos Espada, a concorrência está cada vez mais aguerrida:
"A elegância de Mestre David Ribeiro Teles, do alto da sua esplêndida montada, o brilho felicíssimo dos seus olhos juvenis de apenas oitenta e um anos nas cortesias por ocasião da alternativa do seu neto, João Ribeiro Telles, a alegria e entusiasmo da sua numerosa Família espalhada pelas bancadas ou pela trincheira são um espectáculo inolvidável mesmo para quem assiste pela televisão (e não na Praça, como felizmente se proporcionou há dois anos na alternativa de Manuel Telles Bastos): a emoção é quase (apenas quase...) a mesma. Espero que o Filipe descreva a corrida com o mesmo calor com que costuma pintar as exibições dos seus (e sem necessidade de tantos exageros) dado que o meu teclado se encontra comovido até às lágrimas desde as cortesias e os meus olhos presos no ecrã."
4.9.08
Momento histórico
Pela primeira vez (que eu me lembre), concordo total e absolutamente com um post do Vasco Lobo Xavier:
Foi preciso assaltarem as caixas Multibanco colocadas nos Tribunais para serem anunciadas finalmente medidas de segurança mínimas para os Tribunais. Agora, com o crescente aumento de assaltos às caixas Multibanco colocadas nos postos de combustível, o governo vem também anunciar novas medidas de segurança para estes estabelecimentos. Julgo que, perante este estilo de governação, a melhor forma de resolver o problema da criminalidade seria colocar uma caixa Multibanco em cada esquina…Isto merece ser comemorado. Vou almoçar.
3.9.08
A democracia é uma coisa maravilhosa
José Eduardo dos Santos anunciou que quer acabar com a corrupção em Angola. Espero que não se tenha esquecido de avisar a família.
Fui eu que escrevi isto?
Reprodução integral de um post intitulado Tomar a sério? que publiquei neste blogue em 24.7.03:
O artigo hoje publicado por Pacheco Pereira no Público admite duas interpretações absolutamente opostas, tanto no plano político como no plano ético.
A primeira leitura, literal e pouco inteligente, consiste em tomar à letra o que está escrito. PP pensaria de facto que Ferro tem a estrita obrigação de precisar com o maior detalhe as suas acusações sobre a tentativa de «decapitação do PS».
Este ponto de vista é difícil de aceitar. Corresponde a afirmar que uma vítima de perseguição caluniosa tem a obrigação de afrontar de peito aberto os poderes fácticos que secretamente o atacam. Numa palavra, tem de expor-se ainda mais e de facilitar-lhes os seus ataques.
Ora, quando alguém é vítima de ataques cobardes de gente que não ousa dizer o seu nome, frequentemente sabe mais, muito mais, do que está em condições de provar. Whodunnit? O próprio, se não for completamente estúpido, é capaz de, mediante o tradicional método de conjecturar quem tem simultaneamente a motivação, a ocasião e a arma do crime, identificar com razoável precisão a origem da calúnia.
Logo, tomado à letra, o texto de PP assemelha-se muito a uma provocação de inspiração policial destinada a atrair a vítima à armadilha. Como nada do que PP tem dito e feito permite supor que seja capaz de tal baixeza, esta interpretação deve ser posta de lado.
Resta então compreender o texto de PP como uma forma ardilosa de insinuar ele próprio aquilo que Ferro, pela razões atrás aduzidas, não está em condições de afirmar. Possivelmente, PP terá entendido com quem o seu partido anda metido e, muito legitimamente, não quer ser confundido nem com essa gente nem com os seus métodos.
Mas, é claro, isto é apenas uma interpretação...
O artigo hoje publicado por Pacheco Pereira no Público admite duas interpretações absolutamente opostas, tanto no plano político como no plano ético.
A primeira leitura, literal e pouco inteligente, consiste em tomar à letra o que está escrito. PP pensaria de facto que Ferro tem a estrita obrigação de precisar com o maior detalhe as suas acusações sobre a tentativa de «decapitação do PS».
Este ponto de vista é difícil de aceitar. Corresponde a afirmar que uma vítima de perseguição caluniosa tem a obrigação de afrontar de peito aberto os poderes fácticos que secretamente o atacam. Numa palavra, tem de expor-se ainda mais e de facilitar-lhes os seus ataques.
Ora, quando alguém é vítima de ataques cobardes de gente que não ousa dizer o seu nome, frequentemente sabe mais, muito mais, do que está em condições de provar. Whodunnit? O próprio, se não for completamente estúpido, é capaz de, mediante o tradicional método de conjecturar quem tem simultaneamente a motivação, a ocasião e a arma do crime, identificar com razoável precisão a origem da calúnia.
Logo, tomado à letra, o texto de PP assemelha-se muito a uma provocação de inspiração policial destinada a atrair a vítima à armadilha. Como nada do que PP tem dito e feito permite supor que seja capaz de tal baixeza, esta interpretação deve ser posta de lado.
Resta então compreender o texto de PP como uma forma ardilosa de insinuar ele próprio aquilo que Ferro, pela razões atrás aduzidas, não está em condições de afirmar. Possivelmente, PP terá entendido com quem o seu partido anda metido e, muito legitimamente, não quer ser confundido nem com essa gente nem com os seus métodos.
Mas, é claro, isto é apenas uma interpretação...
Amigos como dantes
Não é preciso ter desejo de apoucar o futebolista para acreditar que, sem Quaresma, o Porto ganhará consistência de jogo.
Tampouco é preciso idolatrar Mourinho para apostar que, com ele, Quaresma poderá tornar-ser melhor jogador, talvez um dos melhores suplentes do mundo.
Tampouco é preciso idolatrar Mourinho para apostar que, com ele, Quaresma poderá tornar-ser melhor jogador, talvez um dos melhores suplentes do mundo.
2.9.08
Coisas graves
Era preciso que alguém dissesse o que Correia de Campos hoje diz no Diário Económico sobre o modo com a universidade pública - em termos comparativos uma das piores coisas que o país tem - está a conseguir iludir a pressão para se reformar:
A pressão orçamental, mais que tudo, já havia forçado a universidade a fazer contas, abandonar megalómanos pedidos de pessoal, cancelar cursos sem procura, utilizar as reservas financeiras dos anos gordos. Esforço desigualmente prosseguido. Mesmo na assumpção de responsabilidades de parte patronal na Caixa Geral de Aposentações, a universidade foi temporariamente poupada, (não o sendo os hospitais) e só este ano entrou no regime comum. Daí o clamor de dívidas acumuladas no valor de 90 milhões de euros; mas já se lê que elas serão objecto de generosa regularização em 2009. Criticar sem sugerir não é boa prática. Aí vão recomendações retiradas de experiências laterais, externas e até internas.Seguem-se sugestões judiciosas, a ler aqui.
O país está cada vez melhor
O país está cada vez melhor, pelo menos a avaliar pelos noticiários das televisões. Ora vejam:
1. Há praticamente um ano que não nascem crianças nas ambulâncias a caminho da maternidade.A única razão séria de preocupação é a crise do Benfica. Mas, para isso, não há mesmo remédio, não é verdade?
2. Não tem morrido ninguém de ataque cardíaco à porta das urgências fechadas pelo governo.
3. Nunca mais um polícia foi visto a rondar um sindicato.
4. Os estudantes deixaram há uns bons meses de agredir os professores.
5. Não houve este ano falta de meios aéreos para combater incêndios.
6. Há quase três semanas que os assaltantes de bancos deixaram de fazer reféns.
1.9.08
O quarto poder
Numa semana há mais crimes; logo, contrata-se polícias. Na semana seguinte há menos crimes, despede-se os polícias.
Se as televisões mandassem, o país seria governado assim.
Se as televisões mandassem, o país seria governado assim.
Bom perder, mau perder
Derrota com o Sporting, vitória com o Belenenses, empate com o Benfica - tudo parece indicar que, a exemplo do da época passada, este FC Porto ganha todos os jogos, menos os importantes. Já estou a prever os resultados dos encontros com o Arsenal na Liga dos Campeões: empate em casa, derrota copiosa fora.
Jesualdo tem bom perder, o que significa que, logo à partida, está tudo perdido.
Jesualdo tem bom perder, o que significa que, logo à partida, está tudo perdido.
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