17.9.08

Nada

A União Europeia tem coisas maravilhosas: foi preciso cair a casa para ficarmos a saber que, nos termos dos seus estatutos, o Banco Central Europeu (ao contrário do que se passa, por exemplo, com a Reserva Federal americana) deve preocupar-se exclusivamente com a estabilidade dos preços, jamais com o crescimento e o emprego.

O mais curioso é que mesmo as pessoas melhor informadas sobre temas económicos não sabiam disto. Quem foi responsável pela redacção e aprovação dos referidos estatutos? Ninguém sabe, nem vale a pena perguntar.

De modo que, em consonância com o seu mandato, o BCE decidiu subir repetidamente a taxa de juro de referência apesar da crescente ameaça de recessão no continente. A meu ver, isto é não só politicamente inaceitável como tecnicamente errado.

Não vi até hoje ninguém explicar satisfatoriamente como é que uma política monetária restritiva pode contrariar inflação importada de petróleo e produtos agrícolas. O argumento mais ou menos oficial é que a reivindicação de actualizações salariais compensadoras do aumento dos preços poderia conduzir a uma espiral inflacionista incontrolável ao jeito do que sucedeu nos anos 70 do século passado.

Sucede, porém, que as condições actuais são muito diferentes das dessa época, principalmente porque, como é público e notório, o poder reivindicativo dos sindicatos é hoje muito inferior. Espiral inflacionista? Não me façam rir.

De modo que chegámos à situação absurda que esta semana se vive na Europa: o BCE obstinado na recusa de baixar as taxas de juro mesmo depois de os preços das matérias-primas alimentares e do petróleo terem caído a pique; e a União Europeia incapaz de impulsionar políticas orçamentais coordenadas.

Os países europeus que aderiram ao euro perderam o instrumento da política monetária e ficaram muito condicionados na gestão orçamental. Que obtiveram em troca disso? Ao que parece, nada.

1 comentário:

Luis M. Jorge disse...

Julgo que nos últimos dois ou trÊs anos vi o tema discutido várias vezes na imprensa económica, mas a coisa nunca se resolveu. É realmente extraordinário.