28.11.08
Grandes títulos da história da humanidade
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Título principal do invariavelmente hilariante suplemento de Economia do Público:
Por um lado, estamos a consumir mais, logo a poupar menos, o que é péssimo. Por outro lado, estamos a gastar menos, logo a penalizar a procura interna, o que é desastroso.
Eu diria antes que o jornal está a disparatar mais, mas a acertar menos.
O Público merece talvez um Nobel, mas não necessariamente da Economia.
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Título principal do invariavelmente hilariante suplemento de Economia do Público:
"Estamos a consumir mais, mas a gastar menos."Com esta afirmação surpreendente, o jornal consegue o prodígio de juntar duas más notícias contraditórias numa só.
Por um lado, estamos a consumir mais, logo a poupar menos, o que é péssimo. Por outro lado, estamos a gastar menos, logo a penalizar a procura interna, o que é desastroso.
Eu diria antes que o jornal está a disparatar mais, mas a acertar menos.
O Público merece talvez um Nobel, mas não necessariamente da Economia.
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Deixa cá ver
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Arsenal 4, Porto 0.
Brasil 6, Portugal 2.
Sporting 2, Barcelona 5.
Olympiakos 5, Benfica 1.
Estarão os números a tentar dizer-nos algo?
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Arsenal 4, Porto 0.
Brasil 6, Portugal 2.
Sporting 2, Barcelona 5.
Olympiakos 5, Benfica 1.
Estarão os números a tentar dizer-nos algo?
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27.11.08
O planinho Barroso
1. Mobilizar verbas equivalentes a 1,5% do PIB europeu pode parecer muito. E seria de facto muito, se se desse o caso de nos encontrarmos perante uma recessão comum. Mas não estamos: a paralisia do sistema financeiro ameaça bloquear o funcionamento da economia mundial, algo que, a esta escala, não sucedia há quase oitenta anos.
2. Pior ainda: desses 1,5%, apenas o equivalente a 0,3% resultam de iniciativas da própria Comissão. O resto provém da mera agregação de medidas tomadas ao longo das últimas semanas pelos maiores países da União. Mais uma vez, as instituições que governam a UE demonstram escassíssima capacidade autónoma de actuação.
3. No plano da Comissão há de tudo um pouco: reduções de impostos directos, reduções de impostos indirectos, reduções de impostos sobre os capitais, reduções dos descontos para a segurança social, aumentos de salários mínimos, aumentos de prestações sociais, reforços dos subsídios de desemprego, apoios a indústrias seleccionadas, créditos bonificados a PMEs, créditos bonificados à habitação, investimentos públicos em infra-estruturas, investimentos públicos em educação e saúde, etc., etc., etc.
4. Reconheço a inevitabilidade, nas presentes condições, de tal dispersão. Mas seria de esperar, ao menos, um fio condutor, uma linha forte. A ideia que fica é que tanto faz baixar impostos como aumentar despesas, e que é também indiferente que tipo de impostos ou de despesas são afectados. Nada mais falso.
5. Baixar impostos não é uma solução, porque, na actualidade, tanto as empresas como os particulares privilegiam o entesouramento como forma de se protegerem contra o risco que adivinham no horizonte. Ora o dinheiro entesourado não é consumido nem investido, apenas retirado da circulação. Caímos numa armadilha da liquidez tipicamente keynesiana.
6. Apoiar a indústria automóvel também pouco resolve, para além de representar uma injustiça em relação a outras actividades económicas. Mais absurdo ainda é dar-lhe dinheiro para acelerar o desenvolvimento de veículos ecológicos, porque isso não terá qualquer consequência no horizonte da presente recessão, mesmo que ela se prolongue por dois ou três anos.
7. O mesmo raciocínio vale para a promoção do investimento público em geral. Não interessa lançar investimentos cujo efeito reprodutor só se fará sentir dentro de vários anos, como é o caso de grandes obras de melhoramento de infra-estruturas.
8. Do que se necessita é de investimento público rápido, útil e com impacto sobre o emprego, que permita contrariar urgentemente o desaparecimento do investimento privado a que estamos a assistir. Digamos, de um grande número de pequenas obras programáveis e executáveis a breve trecho, tais como reconstrução e melhorias de escolas, hospitais, tribunais, estradas, pontes, jardins, recintos desportivos, pavimentos, muros, e por aí fora. Ora, isso é precisamente aquilo que quase não se vislumbra no Plano Barroso hoje apresentado em Bruxelas.
9. Como Keynes recomendou a Roosevelt após a sua eleição, do que agora se necessita é de gastar, gastar, gastar. Para evitar ter que gastar mais depois, quando isso for mais difícil e perigoso. Este conselho, em circunstâncias normais insensato, é o único prudente no momento actual.
10. Tudo indica que, quando finalmente os nossos líderes acordarem, poderá ser demasiado tarde para evitarem o pior.
2. Pior ainda: desses 1,5%, apenas o equivalente a 0,3% resultam de iniciativas da própria Comissão. O resto provém da mera agregação de medidas tomadas ao longo das últimas semanas pelos maiores países da União. Mais uma vez, as instituições que governam a UE demonstram escassíssima capacidade autónoma de actuação.
3. No plano da Comissão há de tudo um pouco: reduções de impostos directos, reduções de impostos indirectos, reduções de impostos sobre os capitais, reduções dos descontos para a segurança social, aumentos de salários mínimos, aumentos de prestações sociais, reforços dos subsídios de desemprego, apoios a indústrias seleccionadas, créditos bonificados a PMEs, créditos bonificados à habitação, investimentos públicos em infra-estruturas, investimentos públicos em educação e saúde, etc., etc., etc.
4. Reconheço a inevitabilidade, nas presentes condições, de tal dispersão. Mas seria de esperar, ao menos, um fio condutor, uma linha forte. A ideia que fica é que tanto faz baixar impostos como aumentar despesas, e que é também indiferente que tipo de impostos ou de despesas são afectados. Nada mais falso.
5. Baixar impostos não é uma solução, porque, na actualidade, tanto as empresas como os particulares privilegiam o entesouramento como forma de se protegerem contra o risco que adivinham no horizonte. Ora o dinheiro entesourado não é consumido nem investido, apenas retirado da circulação. Caímos numa armadilha da liquidez tipicamente keynesiana.
6. Apoiar a indústria automóvel também pouco resolve, para além de representar uma injustiça em relação a outras actividades económicas. Mais absurdo ainda é dar-lhe dinheiro para acelerar o desenvolvimento de veículos ecológicos, porque isso não terá qualquer consequência no horizonte da presente recessão, mesmo que ela se prolongue por dois ou três anos.
7. O mesmo raciocínio vale para a promoção do investimento público em geral. Não interessa lançar investimentos cujo efeito reprodutor só se fará sentir dentro de vários anos, como é o caso de grandes obras de melhoramento de infra-estruturas.
8. Do que se necessita é de investimento público rápido, útil e com impacto sobre o emprego, que permita contrariar urgentemente o desaparecimento do investimento privado a que estamos a assistir. Digamos, de um grande número de pequenas obras programáveis e executáveis a breve trecho, tais como reconstrução e melhorias de escolas, hospitais, tribunais, estradas, pontes, jardins, recintos desportivos, pavimentos, muros, e por aí fora. Ora, isso é precisamente aquilo que quase não se vislumbra no Plano Barroso hoje apresentado em Bruxelas.
9. Como Keynes recomendou a Roosevelt após a sua eleição, do que agora se necessita é de gastar, gastar, gastar. Para evitar ter que gastar mais depois, quando isso for mais difícil e perigoso. Este conselho, em circunstâncias normais insensato, é o único prudente no momento actual.
10. Tudo indica que, quando finalmente os nossos líderes acordarem, poderá ser demasiado tarde para evitarem o pior.
26.11.08
Keynes escreve a Obama
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"Dear Mr President,
"You have made yourself the trustee for those in every country who seek to mend the evils of our condition by reasoned experiment within the framework of the existing social system. If you fail, rational change will be gravely prejudiced throughout the world, leaving orthodoxy and revolution to fight it out. But if you succeed, new and bolder methods will be tried everywhere, and we may date the first chapter of a new economic era from your accession to office. This is a sufficient reason why I should venture to lay my reflections before you, though under the disadvantages of distance and partial knowledge."
Esta carta foi obviamente dirigida a Franklin Delano Roosevelt e não a Obama, mas muito do que lá se diz revela-se estranhamente actual. Uma versão resumida dela foi ontem publicada no Guardian sob o título Mister President: Spend, Spend, Spend.
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"Dear Mr President,
"You have made yourself the trustee for those in every country who seek to mend the evils of our condition by reasoned experiment within the framework of the existing social system. If you fail, rational change will be gravely prejudiced throughout the world, leaving orthodoxy and revolution to fight it out. But if you succeed, new and bolder methods will be tried everywhere, and we may date the first chapter of a new economic era from your accession to office. This is a sufficient reason why I should venture to lay my reflections before you, though under the disadvantages of distance and partial knowledge."
Esta carta foi obviamente dirigida a Franklin Delano Roosevelt e não a Obama, mas muito do que lá se diz revela-se estranhamente actual. Uma versão resumida dela foi ontem publicada no Guardian sob o título Mister President: Spend, Spend, Spend.
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A história repete-se, coiso e tal
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Em 1995, os cavaquistas deram cabo de Cavaco. Treze anos passados, parecem apostados em repetir a façanha.
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Em 1995, os cavaquistas deram cabo de Cavaco. Treze anos passados, parecem apostados em repetir a façanha.
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Dois pesos, duas medidas
Dani Rodrik no seu blogue:
"When developing countries get into a financial crisis, the problem must lie with their venal politicians and lack of financial discipline. When it is U.S. that is in trouble, the fault must lie with the system. Of course."
24.11.08
Figurantes
O Estado português comprometeu-se com a Renault-Nissan a criar até 2010 320 locais de abastecimento para os carros eléctricos daquela marca, número que saltará para 1.300 no ano seguinte.
Além disso, os compradores dos Renault movidos a electricidade beneficiarão de uma redução no IRS até 800 euros e as empresas terão direito a descontos no IRC. Indirectamente, o nosso Estado subsidiará, pois, as vendas do construtor francês.
Do que li, não consegui deduzir quais os benefícios da operação para o país, nem tampouco os custos totais estimados. Os jornais não querem saber? O parlamento não pergunta?
Em que estratégia de desenvolvimento industrial se enquadra esta iniciativa? Por que merece ela prioridade sobre outras alternativas de investimento público? Mistério.
Aparentemente, o governo fica satisfeito por ver Portugal transformado em montra promocional da Renault-Nissan, uma empresa que, no passado, tão mal nos tratou.
Os filmes históricos ou de cowboys que os estúdios americanos rodavam na Itália e na Espanha nos anos 50 do século passado, ao menos, asseguravam trabalho remunerado a milhares de sub-proletários desempregados.
Nós, pelos vistos, contentamo-nos, ao estilo inaugurado por Durão Barroso, em aparecer na fotografia. Mas que história tão triste.
Debate e agitação
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É muito curioso que a discussão séria acerca da relação entre democracia e reformas esteja a fazer-se entre duas pessoas que, basicamente, me parece estarem de acordo.
As outras, aquelas que, volta e meia, acusam a democracia de ser uma força de bloqueio ao progresso, optam por atirar a pedra e fugir. Um dia destes - podemos estar certos - elas voltam à carga.
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É muito curioso que a discussão séria acerca da relação entre democracia e reformas esteja a fazer-se entre duas pessoas que, basicamente, me parece estarem de acordo.
As outras, aquelas que, volta e meia, acusam a democracia de ser uma força de bloqueio ao progresso, optam por atirar a pedra e fugir. Um dia destes - podemos estar certos - elas voltam à carga.
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23.11.08
Os lisboetas não andam de bicicleta porque são estúpidos
Este mapa, reproduzido no Arrastão, assinala a branco as zonas da cidade de Lisboa com inclinação entre 0 e 5%, no intuito de demonstrar que circular nela de bicicleta é perfeitamente possível.
Parece que, segundo o Instituto Superior de Agronomia (Agronomia?), uma inclinação de 5% é perfeitamente aceitável. Já quem tiver que subir efectivamente 5 metros em cada 100 de percurso - que é o que uma inclinação de 5% quer dizer - poderá não achar isso tão fácil. Sendo que a coisa ainda se tornará menos atraente quando se repetir em sucessivas centenas de metros.
Notem que, segundo o mapa, o melhor sítio para dar ao pedal é, sem margem para dúvidas, o aeroporto de Lisboa - definitivamente, a melhor zona para se viver e trabalhar na capital. Só é pena que não se façam mais terraplanagens similares.
22.11.08
21.11.08
Porque é errado avaliar os professores pelos resultados dos seus alunos
Fez precisamente ontem um ano, escrevi o seguinte no Bl-g--x-st-:
Há dias, o Abel Baptista fez-me notar em conversa que é possível treinar-se as criancinhas para obterem melhores resultados em testes sem que isso implique uma melhoria da sua educação.
Imaginem o meu sobressalto quando li este parágrafo nas páginas 146 e 147 do Modern Firm: Organizational Design for Performance and Growth de John Roberts, Professor de Economia, Gestão Estratégica e Negócios Internacionais na Graduate School of Business da Universidade de Stanford:
Convém também perceber o contexto em que surge esta informação. John Roberts não é um economista qualquer: trata-se de um dos maiores especialistas mundiais em economia das organizações e, muito em particular, na teoria dos incentivos. A citação que aqui deixo foi extraída precisamente do capítulo "Motivation in the Modern Firm", no qual ele discute o modo como os incentivos podem ou não funcionar e e em que condições. Portanto, Roberts não é, bem pelo contrário, alguém que se oponha por razões de princípio à gestão por objectivos ou à utilização de incentivos monetários para premiar o esforço nas organizações.
A obra citada supera muito provavelmente neste momento tudo o que se encontra publicado sobre o tema, razão pelo qual foi considerada em 2004 pelo Economist como o melhor livro de gestão do ano.
Pois é, isto da gestão por objectivos é mais complicado do que parece. Nas mãos de gente dada ao honesto estudo e à ponderação, pode contribuir para melhorar a situação de partida. Nas mãos de selvagens ignaros, pode conduzir à barbárie.
Há dias, o Abel Baptista fez-me notar em conversa que é possível treinar-se as criancinhas para obterem melhores resultados em testes sem que isso implique uma melhoria da sua educação.
Imaginem o meu sobressalto quando li este parágrafo nas páginas 146 e 147 do Modern Firm: Organizational Design for Performance and Growth de John Roberts, Professor de Economia, Gestão Estratégica e Negócios Internacionais na Graduate School of Business da Universidade de Stanford:
"A popular proposal would pay US public teachers more if their students do better on standardized tests. In contrast, teachers' pay is now usually based on credentials and experience, so the explicit, financial incentives for performance are quite weak (although intrinsic motivation is obviously real and important). Proponents of the proposed reform argue that providing stronger incentives would lead to better performance by teachers and their pupils. In all likelihood it would, in fact, lead teachers to do more of whatever it takes to help their students do well on tests, particularly if the performance element of pay were substantial. However, it would also likely lead them to spend much less time and effort on things that are not measured on the tests. Indeed, in California, where schools' fundings is tied to student performance on standardized tests of mathematics and reading, there are claims that teachers have de-emphasized teaching other sibjects, even though their pay is not directly affected by the test results. Some of these other things may be very important. They include not only other academoc subjects (which could possibly be included in the testing), but also things hard to measure, like helping develop students' characters, teaching ethical behavior, and encouraging good citizenship. Measuring what teachers do on these dimensions in a relatively precise and timely fashion seems very problematic. So merit pay based on test performance is likely to drive these out, although they are provided in the absence of explicit incentives. Even worse, it might lead the least scrupulous teachers to fund inappropriate ways to ensure their students succeed, such as getting hold of the test questions in advance. There actually have been some instances of such behavior in New York state, where performance on the state examinations at the end of high school is hugely important."Para que não haja dúvidas, o que ele aqui nos diz é que não só a remuneração dos professores em função dos resultados dos testes dos seus alunos, como a mera valorização das escolas com base nesse indicador conduzirá, muito provavelmente, a resultados perversos. Para ser mais específico, provocará a degradação da escola pública.
Convém também perceber o contexto em que surge esta informação. John Roberts não é um economista qualquer: trata-se de um dos maiores especialistas mundiais em economia das organizações e, muito em particular, na teoria dos incentivos. A citação que aqui deixo foi extraída precisamente do capítulo "Motivation in the Modern Firm", no qual ele discute o modo como os incentivos podem ou não funcionar e e em que condições. Portanto, Roberts não é, bem pelo contrário, alguém que se oponha por razões de princípio à gestão por objectivos ou à utilização de incentivos monetários para premiar o esforço nas organizações.
A obra citada supera muito provavelmente neste momento tudo o que se encontra publicado sobre o tema, razão pelo qual foi considerada em 2004 pelo Economist como o melhor livro de gestão do ano.
Pois é, isto da gestão por objectivos é mais complicado do que parece. Nas mãos de gente dada ao honesto estudo e à ponderação, pode contribuir para melhorar a situação de partida. Nas mãos de selvagens ignaros, pode conduzir à barbárie.
Bicicletas, contentores e outras paranóias
Lisboa tornou-se uma cidade hostil a quem nela vive, mas os seus autarcas distraem-se e distraem-nos com ninharias. Não poderia concordar mais com o que o Maradona escreve acerca do projecto das ciclovias e, sobretudo com esta afirmação, que, a meu ver, resume tudo:
"Não há qualquer sinal de que se pense nas pessoas, na vida que as pessoas levam e na relação delas com a cidade, apenas um vago desejo de progresso. O esforço não é no sentido de que o progresso melhore a vida de quem nela vive, mas que se ande por determinado caminho, o que naturalmente elimina qualquer necessidade de se pensar, estudar e testar as merdas."Também sobre esta aflitiva incapacidade de se trabalhar com os habitantes da cidade em mente, não perder "Os conventos e os contentores", de Manuel Caldeira Cabral. Um extracto:
"Ao mesmo tempo que se discute acaloradamente o que fazer com uma zona da frente de rio que fica por baixo de uma ponte, há quilómetros de frente de rio e de mar, bem como das zonas históricas de Lisboa, desaproveitados há muitos anos e sobre os quais ninguém fala."
20.11.08
O sábio
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Pacheco Pereira está a dizer, na Quadratura do Círculo, sem se rir (notem bem), que a única forma aceitável de se avaliar os professores é pelos resultados alcançados pelos seus alunos.
É claro que esta afirmação deve ser interpretada num sentido irónico.
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Pacheco Pereira está a dizer, na Quadratura do Círculo, sem se rir (notem bem), que a única forma aceitável de se avaliar os professores é pelos resultados alcançados pelos seus alunos.
É claro que esta afirmação deve ser interpretada num sentido irónico.
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À atenção do Banco de Portugal
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Este homem, sim, tem direito a um subsídio de desemprego "generoso".
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Este homem, sim, tem direito a um subsídio de desemprego "generoso".
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Brasil 6, Portugal 2
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No Manchester, Queiroz era adjunto de Alex Ferguson; na selecção, é adjunto de Ronaldo. Faz a sua diferença.
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No Manchester, Queiroz era adjunto de Alex Ferguson; na selecção, é adjunto de Ronaldo. Faz a sua diferença.
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19.11.08
A não perder
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Eu não quero de forma alguma que vocês percam este post do Daniel Oliveira, não vá dar-se o caso de não ficarem a perceber bem quem anda aliado com quem e como, daqui até às eleições, vai mesmo valer tudo:
Fico a desconfiar que aquilo a que eu chamo ditadura chama o Daniel democracia, e vice-versa.
Toda a gente tem direito a um dia mau, mas, como isto é demasiado baixo, cheira-me que as coisas não vão ficar por aqui.
Habituem-se.
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Eu não quero de forma alguma que vocês percam este post do Daniel Oliveira, não vá dar-se o caso de não ficarem a perceber bem quem anda aliado com quem e como, daqui até às eleições, vai mesmo valer tudo:
"Uma coisa que me espanta: Ver o governo indignado por Manuela Ferreira Leite defender a brincar o que ele faz a sério."Leram bem? O que Manuela Ferreira Leite disse foi para o Daniel uma brincadeira inocente. Quanto ao governo, esse, suspendeu de facto a democracia e governa em ditadura.
Fico a desconfiar que aquilo a que eu chamo ditadura chama o Daniel democracia, e vice-versa.
Toda a gente tem direito a um dia mau, mas, como isto é demasiado baixo, cheira-me que as coisas não vão ficar por aqui.
Habituem-se.
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Confirma-se o risco de deflação
Lido há minutos no Jornal de Negócios:
A taxa de inflação dos EUA registou a maior queda desde que começou a ser calculada, em 1947. Outubro foi marcado por uma descida de 1% da inflação face ao mês anterior, uma queda que superou as expectativas.Espero que o Banco Central Europeu tenha tomado boa nota.
A taxa de inflação dos EUA desceu para os 3,7%, em Outubro, o que compara com os 4,9% verificados em Setembro, revelou hoje o Departamento do Trabalho dos EUA.
Ideologia ou pragmatismo
John Kay interroga-se hoje no FT sobre que filosofia económica orientará a administração Obama. Eis a sua conclusão:
The attitude to protection is a litmus test of economic philosophy. Social democrats are frequently sympathetic, but no redistributive market liberal will have truck with it. Mr Obama has made protectionist noises, but there is a widespread suspicion that these noises were for the period of the campaign rather than his time in office. His books and campaign speeches seem closer to the redistribution market liberal position.
If social democrats have a naively benign view of the powers of the state, redistributive market liberals have a naively benign view of the effectiveness of markets. The blunt truth is that free markets are not a particularly efficient system for allocating resources. They are just – like democracy – more efficient than other systems and – unlike democracy – more innovative than other systems.
Mr Obama himself told The New York Times: “My own core economic theory is pragmatism.” In the present crisis, that is a pretty good place from which to begin.
18.11.08
"Somos os piores! Somos os piores! Somos os piores!"
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O Financial Times de ontem classificou Teixeira dos Santos como o pior dentre 19 ministros das finanças europeus. Há apenas um ano, colocara-o entre os três melhores.
Dir-se-ia que a instabilidade do ranking qualifica mais o classificador do que o classificado, não?
Não: "Somos os piores, somos os piores!"
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O Financial Times de ontem classificou Teixeira dos Santos como o pior dentre 19 ministros das finanças europeus. Há apenas um ano, colocara-o entre os três melhores.
Dir-se-ia que a instabilidade do ranking qualifica mais o classificador do que o classificado, não?
Não: "Somos os piores, somos os piores!"
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Uma história de arrepiar
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"As recently as last year, Iceland was considered an economic success story. After 16 years of free-market reforms, it was one of the world's 10 richest and freest countries."
Começa assim o artigo "Iceland Abandoned" hoje publicado no Wall Street Journal por Hannes H. Gissurason, administrador do Banco Central da Islândia.
Hoje, a economia do país, vítima da especulação contra a sua moeda possibilitada pela liberalização dos movimentos de capitais, está de rastos.
Pior ainda, a União Europeia, pressionada pelo Reino Unido, teve um comportamento vergonhoso em todo este processo, impondo condições leoninas a troco da ajuda financeira de que este pequeno povo urgentemente necessita.
Entretanto, o mundo assiste a tudo isto sem emoção. Afinal, trata-se apenas de 300 mil pessoas, mais ou menos a população do concelho de Gaia. Mas talvez um dia nos toque a nós - não sob esta forma, claro está, visto que fazemos parte da zona euro, mas a ganância tem muita imaginação.
Leiam tudo, e digam lá se ser aliado dos ingleses não é mesmo a pior coisa que pode acontecer a um país.
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"As recently as last year, Iceland was considered an economic success story. After 16 years of free-market reforms, it was one of the world's 10 richest and freest countries."
Começa assim o artigo "Iceland Abandoned" hoje publicado no Wall Street Journal por Hannes H. Gissurason, administrador do Banco Central da Islândia.
Hoje, a economia do país, vítima da especulação contra a sua moeda possibilitada pela liberalização dos movimentos de capitais, está de rastos.
Pior ainda, a União Europeia, pressionada pelo Reino Unido, teve um comportamento vergonhoso em todo este processo, impondo condições leoninas a troco da ajuda financeira de que este pequeno povo urgentemente necessita.
Entretanto, o mundo assiste a tudo isto sem emoção. Afinal, trata-se apenas de 300 mil pessoas, mais ou menos a população do concelho de Gaia. Mas talvez um dia nos toque a nós - não sob esta forma, claro está, visto que fazemos parte da zona euro, mas a ganância tem muita imaginação.
Leiam tudo, e digam lá se ser aliado dos ingleses não é mesmo a pior coisa que pode acontecer a um país.
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Um hábil negociador
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Quando as coisas atingiam um certo ponto, com os sindicatos a ameaçarem retomar a greve, a opinião pública a agitar-se perigosamente e as eleições a aproximarem-se, era aí que entrava em cena o hábil negociador.
Não havendo hipótese de infringir as orientações do Ministério das Finanças, as cedências monetárias dos trabalhadores poderiam ser compensadas com reformas antecipadas, reduções de horários, férias alargadas ou, pelo menos, um ou dois dias por mês para tratarem de assuntos pessoais.
É por isso que, hoje, descobrimos funcionários que se reformam aos 45 anos, classes cujos horários se reduzem à medida que progridem nas carreiras e ganham mais, profissionais com cargas de trabalho permanentemente reduzidas, e por aí fora - uma infindável acumulação de regalias colaterais que, a pouco e pouco, arruinaram o país e difundiram a ideia de que só os estúpidos trabalham.
Devemos estes e outros triunfos civilizacionais - não o esqueçamos nunca - à ilimitada criatividade dos hábeis negociadores. Lembrei-me disto ontem, ao ouvir António Vitorino, com o seu eterno sorriso de pessoa superiormente esperta, aconselhar o governo a usar de imaginação para desfazer o impasse negocial com os professores.
Por que terá sido?
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Quando as coisas atingiam um certo ponto, com os sindicatos a ameaçarem retomar a greve, a opinião pública a agitar-se perigosamente e as eleições a aproximarem-se, era aí que entrava em cena o hábil negociador.
Não havendo hipótese de infringir as orientações do Ministério das Finanças, as cedências monetárias dos trabalhadores poderiam ser compensadas com reformas antecipadas, reduções de horários, férias alargadas ou, pelo menos, um ou dois dias por mês para tratarem de assuntos pessoais.
É por isso que, hoje, descobrimos funcionários que se reformam aos 45 anos, classes cujos horários se reduzem à medida que progridem nas carreiras e ganham mais, profissionais com cargas de trabalho permanentemente reduzidas, e por aí fora - uma infindável acumulação de regalias colaterais que, a pouco e pouco, arruinaram o país e difundiram a ideia de que só os estúpidos trabalham.
Devemos estes e outros triunfos civilizacionais - não o esqueçamos nunca - à ilimitada criatividade dos hábeis negociadores. Lembrei-me disto ontem, ao ouvir António Vitorino, com o seu eterno sorriso de pessoa superiormente esperta, aconselhar o governo a usar de imaginação para desfazer o impasse negocial com os professores.
Por que terá sido?
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A avaliação dos professores
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A teachers' union said it supports President-elect Barack Obama in trying to tie pay raises to student performance.
Many teachers dislike the idea; Obama was booed when he mentioned it at union meetings in 2007 and again this year.
Yet Randi Weingarten, the newly elected president of the American Federation of Teachers, said Monday there is a role for teacher raises based on how students are learning.
Interessante, não é? Vamos lá vaiar todos o Obama ao mesmo tempo, está bem?
A propósito, eu não sou favorável a esta forma de avaliação.
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A teachers' union said it supports President-elect Barack Obama in trying to tie pay raises to student performance.
Many teachers dislike the idea; Obama was booed when he mentioned it at union meetings in 2007 and again this year.
Yet Randi Weingarten, the newly elected president of the American Federation of Teachers, said Monday there is a role for teacher raises based on how students are learning.
Interessante, não é? Vamos lá vaiar todos o Obama ao mesmo tempo, está bem?
A propósito, eu não sou favorável a esta forma de avaliação.
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Ainda Alcântara
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Apraz-me registar a posição equilibrada do Daniel Oliveira em relação ao terminal de contentores de Alcântara. Isto é algo que eu consigo entender:
Tal como o Daniel, também eu tenho andado a pensar muito no assunto - uma atitude que se recomenda num caso desta complexidade - e tenciono em breve voltar a ele, agora que o fumo começa a desvanecer-se.
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Apraz-me registar a posição equilibrada do Daniel Oliveira em relação ao terminal de contentores de Alcântara. Isto é algo que eu consigo entender:
"Concluindo: quero um porto em Lisboa e quero que ele seja competitivo. Alcântara parece-me ser o lugar adequado para o alargamento do terminal. Não tenho nada contra a existência dos contentores que fazem parte do cenário de qualquer cidade portuária. Tenho tudo contra a forma como este negócio foi feito. Não tenho certezas sobre os efeitos das obras necessárias na zona para o desnivelamento da linha. E vou continuar a acompanhar."Tal como a ele, parece-me que a única coisa que faz sentido discutir-se é o conteúdo e a forma do contrato assinado pela Administração do Porto de Lisboa com a Liscont. Mais: acho inteiramente legítimo que os cidadãos exijam, sobre isso, respostas cabais.
Tal como o Daniel, também eu tenho andado a pensar muito no assunto - uma atitude que se recomenda num caso desta complexidade - e tenciono em breve voltar a ele, agora que o fumo começa a desvanecer-se.
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17.11.08
Estaline 2.0
Uma vez em cada ano acontece um post assim: penetrante, clarificador, definitivo. Refiro-me àquele que Carlos Vidal hoje doou ao mundo sob o auspicioso título "O que eu desejo para a esquerda em Portugal". Devidamente suportadas numa sólida base teórica fornecida por, entre outros, Badiou, Zizek e Agamben, eis as teses centrais do manifesto:
1. "Em primeiro lugar, devo dizer que - se me é permitido afirmá-lo em democracia - não tenho grande simpatia pelo regime democrático parlamentar."
2. "Penso que o maior inimigo da esquerda é o Partido Socialista. Com este PS a esquerda em Portugal não teve passado significativo nem terá qualquer hipótese de futuro."
3. "Solução: uma, por mim desejada, admito que irresponsavelmente - que este PS, debaixo da pressão de Manuel Alegre, e se este o quiser encetar, se fragmente irremediavelmente numa ala verdadeiramente de esquerda (e não anticomunista primária) e noutra ala centrista-liberal: o PS necessitaria de se fragmentar em dois partidos para que a esquerda em Portugal tivesse futuro."
4. "Por isso, por pretender o desaparecimento deste PS, é que ironizei preferir Bush a Sócrates."
5. "Que o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português somem votações na casa dos 20 a 25% (não é impossível)."
6. "Para ser ainda mais claro, prefiro um PSD no poder e esta reconfiguração em movimento, do que este PS no governo e esta reconfiguração definitivamente sem hipóteses de andamento."
Conclui, modestamente, Carlos Vidal: "É uma opinião minha, eventualmente pateta". E quem sou eu para contrariá-lo?
1. "Em primeiro lugar, devo dizer que - se me é permitido afirmá-lo em democracia - não tenho grande simpatia pelo regime democrático parlamentar."
2. "Penso que o maior inimigo da esquerda é o Partido Socialista. Com este PS a esquerda em Portugal não teve passado significativo nem terá qualquer hipótese de futuro."
3. "Solução: uma, por mim desejada, admito que irresponsavelmente - que este PS, debaixo da pressão de Manuel Alegre, e se este o quiser encetar, se fragmente irremediavelmente numa ala verdadeiramente de esquerda (e não anticomunista primária) e noutra ala centrista-liberal: o PS necessitaria de se fragmentar em dois partidos para que a esquerda em Portugal tivesse futuro."
4. "Por isso, por pretender o desaparecimento deste PS, é que ironizei preferir Bush a Sócrates."
5. "Que o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português somem votações na casa dos 20 a 25% (não é impossível)."
6. "Para ser ainda mais claro, prefiro um PSD no poder e esta reconfiguração em movimento, do que este PS no governo e esta reconfiguração definitivamente sem hipóteses de andamento."
Conclui, modestamente, Carlos Vidal: "É uma opinião minha, eventualmente pateta". E quem sou eu para contrariá-lo?
O Daniel Oliveira acha gira a palavra populismo
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O Daniel Oliveira acha gira a palavra populismo, daí provavelmente o usá-la com uma certa liberalidade.
Mas o que significa ela ao certo? Ora, significa tudo aquilo de que o Daniel não gosta, por exemplo: o Sócrates, o Sócrates e o Sócrates.
E por quê essa implicação muito particular com o Sócrates? Porque:
1. O Sócrates é teimoso e autoritário
2. O Sócrates não negoceia.
3. O Sócrates não cede às pressões da rua.
O Salazar também era teimoso e autoritário, não negociava nem cedia às pressões da rua. Seria ele um populista? Ora vejamos.
Sócrates é populista, segundo Daniel, porque apela ao ressentimento para conquistar popularidade e ganhar eleições. Depois, em nome da autoridade assente no voto, recusa-se a ceder a outros poderes, seja qual for a sua capacidade de mobilização popular. O povo - na opinião do Daniel - gosta de autoridade, logo Sócrates é culpado de populismo.
O Daniel Oliveira é livre de pensar o que quiser sobre o Sócrates e o seu governo, mas não tem o direito de manipular a terminologia política a seu bel-prazer.
O mundo já conheceu muitas modalidades de populismo, mas o que é comum a todas elas é a exaltação do sentimento popular como fundamento último da acção política. Dito por outras palavras, para o populista, o povo é um critério de verdade - ou melhor, o critério supremo de verdade.
Ora, para começar, a política democrática não é uma forma de estabelecer a verdade, mas de produzir legitimidade governativa. Não ganha eleições quem tem razão, antes quem tem a maioria a seu favor em dado momento. Mobilizar grandes manifestações ainda menos prova a razão de uma causa, apenas que muita gente a apoia.
Por que é que a democracia representativa atribui maior peso às eleições do que às manifestações na escolha dos governantes e das políticas? E por que é que a legitimidade resultante de uma eleição parlamentar é superior à de uma mobilização sindical, por muito mais grandiosa que ele saja? Quererá o Daniel meditar um pouco sobre isso? É que eu não quero fazer-lhe a ofensa de tentar explicar-lhe.
E estará ele, em seguida, disponível para entender que a ameaça que o populismo de direita (ex: Portas, o Paulo) ou de esquerda (ex: Portas, o Miguel) hoje representa para a democracia liberal resulta, entre outros factores, do modo como diariamente os demagogos de todo o género atiçam os descontentes contra "a política" e "os políticos"?
Quer o Daniel que eu lhe mostre um populista exemplar? Recomendo-lhe, por exemplo, o Manuel Alegre, um sujeito sempre à cata de uma qualquer manifestação, greve ou protesto que possa cavalgar, independentemente das razões que assistam aos descontentes, e que toma posição a favor ou contra qualquer proposta, por mais complexa que ela possa ser, apenas e só em função da reverência religiosa que ele alimenta pelo Povo.
Foi assim no caso da co-incineração dos resíduos perigosos (lembram-se? foi só há dois anos) e do encerramento das maternidades e urgências sem condições de funcionamento (nunca mais houve acidentes desde que o ministro mudou). Por que haveria de ser diferente com as manifestações dos professores? O que é que isto vos diz sobre a substância política do personagem?
Não, Daniel, populismo não é só uma palavra gira.
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O Daniel Oliveira acha gira a palavra populismo, daí provavelmente o usá-la com uma certa liberalidade.
Mas o que significa ela ao certo? Ora, significa tudo aquilo de que o Daniel não gosta, por exemplo: o Sócrates, o Sócrates e o Sócrates.
E por quê essa implicação muito particular com o Sócrates? Porque:
1. O Sócrates é teimoso e autoritário
2. O Sócrates não negoceia.
3. O Sócrates não cede às pressões da rua.
O Salazar também era teimoso e autoritário, não negociava nem cedia às pressões da rua. Seria ele um populista? Ora vejamos.
Sócrates é populista, segundo Daniel, porque apela ao ressentimento para conquistar popularidade e ganhar eleições. Depois, em nome da autoridade assente no voto, recusa-se a ceder a outros poderes, seja qual for a sua capacidade de mobilização popular. O povo - na opinião do Daniel - gosta de autoridade, logo Sócrates é culpado de populismo.
O Daniel Oliveira é livre de pensar o que quiser sobre o Sócrates e o seu governo, mas não tem o direito de manipular a terminologia política a seu bel-prazer.
O mundo já conheceu muitas modalidades de populismo, mas o que é comum a todas elas é a exaltação do sentimento popular como fundamento último da acção política. Dito por outras palavras, para o populista, o povo é um critério de verdade - ou melhor, o critério supremo de verdade.
Ora, para começar, a política democrática não é uma forma de estabelecer a verdade, mas de produzir legitimidade governativa. Não ganha eleições quem tem razão, antes quem tem a maioria a seu favor em dado momento. Mobilizar grandes manifestações ainda menos prova a razão de uma causa, apenas que muita gente a apoia.
Por que é que a democracia representativa atribui maior peso às eleições do que às manifestações na escolha dos governantes e das políticas? E por que é que a legitimidade resultante de uma eleição parlamentar é superior à de uma mobilização sindical, por muito mais grandiosa que ele saja? Quererá o Daniel meditar um pouco sobre isso? É que eu não quero fazer-lhe a ofensa de tentar explicar-lhe.
E estará ele, em seguida, disponível para entender que a ameaça que o populismo de direita (ex: Portas, o Paulo) ou de esquerda (ex: Portas, o Miguel) hoje representa para a democracia liberal resulta, entre outros factores, do modo como diariamente os demagogos de todo o género atiçam os descontentes contra "a política" e "os políticos"?
Quer o Daniel que eu lhe mostre um populista exemplar? Recomendo-lhe, por exemplo, o Manuel Alegre, um sujeito sempre à cata de uma qualquer manifestação, greve ou protesto que possa cavalgar, independentemente das razões que assistam aos descontentes, e que toma posição a favor ou contra qualquer proposta, por mais complexa que ela possa ser, apenas e só em função da reverência religiosa que ele alimenta pelo Povo.
Foi assim no caso da co-incineração dos resíduos perigosos (lembram-se? foi só há dois anos) e do encerramento das maternidades e urgências sem condições de funcionamento (nunca mais houve acidentes desde que o ministro mudou). Por que haveria de ser diferente com as manifestações dos professores? O que é que isto vos diz sobre a substância política do personagem?
Não, Daniel, populismo não é só uma palavra gira.
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Muito perigoso
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Deve o Estado americano intervir para salvar a General Motors, a Ford e a Chrysler da bancarrota iminente?
A questão não é simples, mas de uma coisa estou certo: se os EUA seguirem esse caminho, todos os países se acharão no direito de intervirem para proteger quaisquer empresas que entendam vitais para as suas respectivas economias.
Não é possível violar desse modo as mais elementares regras da concorrência e continuar a esperar - já não digo exigir - que os outros façam jogo limpo.
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Deve o Estado americano intervir para salvar a General Motors, a Ford e a Chrysler da bancarrota iminente?
A questão não é simples, mas de uma coisa estou certo: se os EUA seguirem esse caminho, todos os países se acharão no direito de intervirem para proteger quaisquer empresas que entendam vitais para as suas respectivas economias.
Não é possível violar desse modo as mais elementares regras da concorrência e continuar a esperar - já não digo exigir - que os outros façam jogo limpo.
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Devagar se vai ao longe
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Fico satisfeito por saber que o Daniel Oliveira é agora favorável à autonomia de gestão dos hospitais públicos, algo que sempre foi classificado pelo Bloco de Esquerda como uma típica malfeitoria neo-liberal. Terei entendido bem o que ele quer dizer?
Também me alegro por vê-lo apoiar a progressiva descentralização da gestão do sistema escolar, um dos aspectos essenciais da estratégia de Maria de Lurdes Rodrigues. E os sindicatos, estarão de acordo?
E estaremos - eu e o Daniel - a pensar na mesma coisa? Começo a desconfiar que não, quando ele escreve: "É urgente entregar as escolas aos professores e aos pais".
Ora as escolas já estão entregues aos professores - ou melhor, aos seus sindicatos. A descentralização como eu a entendo significa transferir uma parte da tutela das escolas do Estado central para as autarquias, não promover a auto-gestão.
É exactamente para abrir caminho à descentralização que a avaliação dos professores é tão importante. Será muito difícil entender isto?
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Fico satisfeito por saber que o Daniel Oliveira é agora favorável à autonomia de gestão dos hospitais públicos, algo que sempre foi classificado pelo Bloco de Esquerda como uma típica malfeitoria neo-liberal. Terei entendido bem o que ele quer dizer?
Também me alegro por vê-lo apoiar a progressiva descentralização da gestão do sistema escolar, um dos aspectos essenciais da estratégia de Maria de Lurdes Rodrigues. E os sindicatos, estarão de acordo?
E estaremos - eu e o Daniel - a pensar na mesma coisa? Começo a desconfiar que não, quando ele escreve: "É urgente entregar as escolas aos professores e aos pais".
Ora as escolas já estão entregues aos professores - ou melhor, aos seus sindicatos. A descentralização como eu a entendo significa transferir uma parte da tutela das escolas do Estado central para as autarquias, não promover a auto-gestão.
É exactamente para abrir caminho à descentralização que a avaliação dos professores é tão importante. Será muito difícil entender isto?
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16.11.08
As coisas que ela sabe
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"Esta preocupação tornou-se agora mais aguda pelo facto de Portugal estar a lançar um conjunto de grandes obras públicas, quando os outros mercados, nomeadamente o espanhol, estão racionalmente a abrandar esse tipo de investimentos."
(Manuela Ferreira Leite, Expresso, 15.11.08)
"Zapatero anunció ayer, al término de la cumbre financiera mundial celebrada en Washington, um plan de reactivación económica, basado en la inversión pública, que presentará el próximo dia 27 en el Congreso y llevará al Consejo Europeo de diciembre, para coordinarlo con los de los demás países de la UE."
(El País, 16.11.08)
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"Esta preocupação tornou-se agora mais aguda pelo facto de Portugal estar a lançar um conjunto de grandes obras públicas, quando os outros mercados, nomeadamente o espanhol, estão racionalmente a abrandar esse tipo de investimentos."
(Manuela Ferreira Leite, Expresso, 15.11.08)
"Zapatero anunció ayer, al término de la cumbre financiera mundial celebrada en Washington, um plan de reactivación económica, basado en la inversión pública, que presentará el próximo dia 27 en el Congreso y llevará al Consejo Europeo de diciembre, para coordinarlo con los de los demás países de la UE."
(El País, 16.11.08)
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14.11.08
A alter-avaliação
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Parem imediatamente o processo de avaliação dos professores: parece que José Manuel Fernandes leu ontem umas coisas na internet e concebeu à tarde um sistema melhor de que nos dá hoje conta no seu editorial. Não podemos recusar escutar as novas ideias.
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Parem imediatamente o processo de avaliação dos professores: parece que José Manuel Fernandes leu ontem umas coisas na internet e concebeu à tarde um sistema melhor de que nos dá hoje conta no seu editorial. Não podemos recusar escutar as novas ideias.
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Se Manuel Alegre está contra, eu estou a favor
Esta semana eu pensava explicar no Jornal de Negócios porque é que, tendo em conta o populismo descontrolado que está por aí a alastrar, nos próximos tempos eu vou ser mais liberal do que no passado.
Porém, ao ver Manuel Alegre - um dos piores demagogos da nossa terra - atacar a Ministra da Educação, pensei que, neste momento, a obrigação de qualquer pessoa decente é defendê-la, de modo que o que saíu foi isto.
Porém, ao ver Manuel Alegre - um dos piores demagogos da nossa terra - atacar a Ministra da Educação, pensei que, neste momento, a obrigação de qualquer pessoa decente é defendê-la, de modo que o que saíu foi isto.
Almoços grátis para economistas
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O FMI tem 2.400 funcionários. O Banco de Portugal tem 1.700, dos quais, a acreditar nos jornais, menos de uma centena ocupados em actividades de regulação.
Que fazem os outros 1.600 desde que o país aderiu ao euro?
A competição internacional leva regularmente ao encerramento de fábricas e ao despedimento dos trabalhadores. É a concorrência a funcionar, algo que traz vantagens para todos mas dificuldades para alguns.
Quando chegamos ao banco central, porém, onde as vantagens do livre câmbio são geralmente aceites e recomendadas, não se aplica o mesmo princípio.
As antigas funções foram em grande parte transferidas para o Banco Central Europeu, mas os postos de trabalho redundantes não foram eliminados. Pior ainda, a regulação e supervisão - hoje a principal e quase única justitificação do Banco Central - está claramente understaffed.
A propósito: já eliminaram aquele regulamento, há dois anos tão discutido, que concede a reforma por inteiro a um administrador ao fim de alguns meses de trabalho? Estou capaz de apostar que continua tudo na mesma.
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O FMI tem 2.400 funcionários. O Banco de Portugal tem 1.700, dos quais, a acreditar nos jornais, menos de uma centena ocupados em actividades de regulação.
Que fazem os outros 1.600 desde que o país aderiu ao euro?
A competição internacional leva regularmente ao encerramento de fábricas e ao despedimento dos trabalhadores. É a concorrência a funcionar, algo que traz vantagens para todos mas dificuldades para alguns.
Quando chegamos ao banco central, porém, onde as vantagens do livre câmbio são geralmente aceites e recomendadas, não se aplica o mesmo princípio.
As antigas funções foram em grande parte transferidas para o Banco Central Europeu, mas os postos de trabalho redundantes não foram eliminados. Pior ainda, a regulação e supervisão - hoje a principal e quase única justitificação do Banco Central - está claramente understaffed.
A propósito: já eliminaram aquele regulamento, há dois anos tão discutido, que concede a reforma por inteiro a um administrador ao fim de alguns meses de trabalho? Estou capaz de apostar que continua tudo na mesma.
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13.11.08
O seu ao seu nome
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É inexacto falar-se da corporação dos professores. Na realidade, trata-se de um soviete, dado que eles detêm todo o poder sobre as unidades de produção onde exercem a sua profissão.
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É inexacto falar-se da corporação dos professores. Na realidade, trata-se de um soviete, dado que eles detêm todo o poder sobre as unidades de produção onde exercem a sua profissão.
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O beijo da morte
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Com amigos destes, etc. etc.:
Com amigos destes, etc. etc.:
"O presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), João Salgueiro, saiu hoje em defesa do governador do Banco de Portugal ao afirmar que não vê "nenhuma razão" para se dizer que a supervisão falhou.".
12.11.08
Não deixes que te roubem os contentores!
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(Continuação)
Haverá no Porto de Lisboa outro local para colocar o terminal de contentores? Na margem norte, não, porque só junto a Alcântara há uma frente com fundos naturais entre os 14 e os 16 metros, profundidade exigida pelos modernos navios Pós-Panamax.
Logo por azar, esses 600 metros de cais tiram a vista à esplanada preferida do escritor Miguel Sousa Tavares. Mas que se há-de fazer?
Na margem sul, porém, há fundos até 17 metros na zona da Trafaria e Porto Brandão. O problema é que, nesse local, não existem as infraestruturas portuárias de apoio indispensáveis nem acessos de comboio e estrada, pelo que seria necessário construí-los. Ora, as estimativas apontam para um investimento nunca inferior a mil milhões de euros - um problema muito grave dado que, como se sabe, "não há dinheiro para nada".
Ainda assim, faz todo o sentido começar a pensar-se em complementar a expansão de Alcântara com um alargamento posterior do porto na Trafaria, partindo do princípio de que os seus habitantes não se oporiam ao encerramento das cervejarias locais.
Em Setúbal também não há fundos da profundidade pretendida.
Resta Sines, é claro, cujo terminal de contentores foi concessionado (sem concurso, vejam lá!) à PSA (Port of Singapore Authority). Poder-se-ia, sob certas condições, deslocar todo o tráfego de contentores de Lisboa para Sines, mas é óbvio que isso implicaria um considerável encarecimento do transporte das mercadorias até chegarem aos seus destinos no Centro e Norte do país.
Estão dispostos a pagar os comes e bebes mais caros?
(NB - O terminal de cruzeiros de Stª Apolónia também não é suficiente para a procura projectada. Vai ser necessário construir um novo na margem sul, possivelmente onde hoje se encontram as docas da Lisnave.)
(À suivre...)
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(Continuação)
Haverá no Porto de Lisboa outro local para colocar o terminal de contentores? Na margem norte, não, porque só junto a Alcântara há uma frente com fundos naturais entre os 14 e os 16 metros, profundidade exigida pelos modernos navios Pós-Panamax.
Logo por azar, esses 600 metros de cais tiram a vista à esplanada preferida do escritor Miguel Sousa Tavares. Mas que se há-de fazer?
Na margem sul, porém, há fundos até 17 metros na zona da Trafaria e Porto Brandão. O problema é que, nesse local, não existem as infraestruturas portuárias de apoio indispensáveis nem acessos de comboio e estrada, pelo que seria necessário construí-los. Ora, as estimativas apontam para um investimento nunca inferior a mil milhões de euros - um problema muito grave dado que, como se sabe, "não há dinheiro para nada".
Ainda assim, faz todo o sentido começar a pensar-se em complementar a expansão de Alcântara com um alargamento posterior do porto na Trafaria, partindo do princípio de que os seus habitantes não se oporiam ao encerramento das cervejarias locais.
Em Setúbal também não há fundos da profundidade pretendida.
Resta Sines, é claro, cujo terminal de contentores foi concessionado (sem concurso, vejam lá!) à PSA (Port of Singapore Authority). Poder-se-ia, sob certas condições, deslocar todo o tráfego de contentores de Lisboa para Sines, mas é óbvio que isso implicaria um considerável encarecimento do transporte das mercadorias até chegarem aos seus destinos no Centro e Norte do país.
Estão dispostos a pagar os comes e bebes mais caros?
(NB - O terminal de cruzeiros de Stª Apolónia também não é suficiente para a procura projectada. Vai ser necessário construir um novo na margem sul, possivelmente onde hoje se encontram as docas da Lisnave.)
(À suivre...)
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11.11.08
Pode-se tolerar um golpe de Estado, desde que não agrave o desemprego
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Interrogado sobre a sua inacção a respeito dos graves acontecimentos na Assembleia Regional da Madeira, disse o Presidente da República:
Por outro lado, à luz destas declarações, cada vez se torna mais difícil compreender a importância que decidiu atribuir ao estatuto dos Açores, algo notoriamente pouco relacionado com "a competitividade das empresas".
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Interrogado sobre a sua inacção a respeito dos graves acontecimentos na Assembleia Regional da Madeira, disse o Presidente da República:
"Num tempo em que o país atravessa grandes dificuldades, a nossa atenção tem de estar centrada no desemprego, na competitividade das empresas e no desequilibrio externo."À primeira vista, dir-se-ia que Cavaco Silva não entende as responsabilidades que constitucionalmente incumbem ao Presidente da República.
Por outro lado, à luz destas declarações, cada vez se torna mais difícil compreender a importância que decidiu atribuir ao estatuto dos Açores, algo notoriamente pouco relacionado com "a competitividade das empresas".
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10.11.08
É falso que os professores não queiram ser avaliados
Este video, que descobri no Arrastão, esclarece definitivamente que espécie de avaliação pretendem os professores.
Notem, em primeiro lugar, que a professora da direita (que idade tem ela?) está aborrecida porque planeava reformar-se no próximo ano lectivo, e, afinal, vai ter que trabalhar mais doze anos. Que tremenda injustiça.
Depois, a ideia orientadora geral, como nos explica a da esquerda, é que "colegas não avaliam colegas", mas tampouco é aceitável que venham pessoas de fora avaliar o seu trabalho.
Como deveria então ser a avaliação? Segundo a da esquerda, deveria incluir duas etapas:
1. Auto-avaliação, ou seja, o professor avaliar-se-ia a si próprio.
2. Avaliação conjunta, ou seja, os professores de cada escola avaliariam em grupo o seu desempenho, sem todavia darem notas uns aos outros.
Parabéns ao Daniel pela objectividade da reportagem. Finalmente, ficámos todos a perceber.
7.11.08
A desgraça continua dentro de momentos
A notícia da semana não é a eleição de Obama, mas o facto de Pulido Valente reconhecer que errou, segundo o próprio, por ter sobrevalorizado o racismo dos americanos.
Todavia, nem tudo é negativo, dado que, inevitavelmente, o futuro próximo se encarregará de comprovar que Pulido é o sábio, e Obama o tolo. Vejam só:
O cinismo travestido de lucidez pode ter sofrido um rude golpe, mas ainda estrebucha.
Todavia, nem tudo é negativo, dado que, inevitavelmente, o futuro próximo se encarregará de comprovar que Pulido é o sábio, e Obama o tolo. Vejam só:
"Talvez [Obama] não consiga fazer muito. Principalmente porque a recessão - sobre a qual a influência dele é curta - será longa e profunda, e porque o Islão não se comove com a cor da pele do Satanás de serviço. Pior ainda, Obama não mediu bem a natureza e a escala do sarilho que Bush lhe deixou."Para "medir bem", Obama teria que ler estas crónicas ou incluir Pulido no círculo dos seus conselheiros pessoais, uma omissão que não tem desculpa.
O cinismo travestido de lucidez pode ter sofrido um rude golpe, mas ainda estrebucha.
"Eu, de portos, não percebo nada"
Leiam este excêntrico comentário, encontrado aqui:
Eu de portos não percebo nada! Sou apenas um velho capitão da Marinha de Comércio já reformado. Apesar de conhecer todos os grandes portos do mundo, pouco sei sobre o assunto. Ainda assim, aplaudo a ampliação do terminal de contentores em Alcântara. Mas, como disse, eu de portos não entendo patavina. Parece-me - pela experiência - que Alcãntara é a melhor solução: quanto mais longe da barra, num rio como o Tejo com um canal de navegação estreito, maior o risco de acidentes. Mas, como digo, de portos sei muito pouco: não sou como o escritor Miguel Sousa Tavares, e tantos outros que seria fastidioso enumerar, que sabe tudo e fala sobre tudo. Eu apenas sei governar navios. E, por dever do ofício, conheço os porto sdo mundo.Mas como é que este sujeito se atreve?
António Vedoria Salvador
6.11.08
Mais contentores, já!
Afirma-se na petição lançada por Miguel Sousa Tavares que o Porto de Lisboa tem uma grande capacidade excedentária para movimentação de contentores. Será verdade?
Ao que parece, a fonte da informação foi um relatório do Tribunal de Contas. Ora os documentos saídos do Tribunal de Contas, embora excelentes para fazer manchetes de jornais, encontram-se frequentemente repletos de afirmações gratuitas pela simples razão de que os seus autores jamais têm que responder pelo que lá escarrapacham. Esta é mais uma delas.
A nossa pobreza de recursos naturais portuários reflecte-se na escassa importância do tráfego marítimo português no contexto da Península Ibérica. Mas existe um potencial para fazer muito melhor se se investir adequadamente na sua qualificação e internacionalização.
Há uma década, era João Cravinho ministro e Consiglieri Pedroso seu secretário de Estado, foi elaborado um Livro Branco dos Portos Portugueses. À sua discussão com as mais diversas organizações do sector seguiu-se a definição de uma estratégia de desenvolvimento para a actividade portuária e a execução de todo um conjunto coerente de politicas e de reformas legais e institucionais inscritas nessa estratégia. Política com pés e cabeça, como é raro fazer-se entre nós.
Desde então, porém, a implementação do plano foi descurada. Primeiro exemplo: o investimento, relativamente pequeno, destinado a melhorar a ligação ferroviária de Sines à fronteira, só no corrente ano arrancou. Segundo exemplo: o investimento ferroviário e rodoviário então preconizado para o nó de Alcantara, indispensável para viabilizar essa zona portuária, está parado há 10 anos, forçando o porto de Lisboa a recusar a entrada a cada vez mais navios de grande porte.
A expansão do terminal de contentores de Lisboa é mais um projecto que já vem atrasado, não nos tendo permitido beneficiar da rápida expansão do comércio marítimo nos últimos anos. Que importância tem isto?
Por um lado, a actividade portuária é em si mesma geradora directa de riqueza (5% do PIB regional) e emprego (140 mil pessoas). Por outro lado, ela contribui para a competitividade global da economia portuguesa, viabilizando exportações e embaratecendo importações.
Faz, por isso, sentido exigir: mais contentores, já!
(À suivre...)
Ao que parece, a fonte da informação foi um relatório do Tribunal de Contas. Ora os documentos saídos do Tribunal de Contas, embora excelentes para fazer manchetes de jornais, encontram-se frequentemente repletos de afirmações gratuitas pela simples razão de que os seus autores jamais têm que responder pelo que lá escarrapacham. Esta é mais uma delas.
A nossa pobreza de recursos naturais portuários reflecte-se na escassa importância do tráfego marítimo português no contexto da Península Ibérica. Mas existe um potencial para fazer muito melhor se se investir adequadamente na sua qualificação e internacionalização.
Há uma década, era João Cravinho ministro e Consiglieri Pedroso seu secretário de Estado, foi elaborado um Livro Branco dos Portos Portugueses. À sua discussão com as mais diversas organizações do sector seguiu-se a definição de uma estratégia de desenvolvimento para a actividade portuária e a execução de todo um conjunto coerente de politicas e de reformas legais e institucionais inscritas nessa estratégia. Política com pés e cabeça, como é raro fazer-se entre nós.
Desde então, porém, a implementação do plano foi descurada. Primeiro exemplo: o investimento, relativamente pequeno, destinado a melhorar a ligação ferroviária de Sines à fronteira, só no corrente ano arrancou. Segundo exemplo: o investimento ferroviário e rodoviário então preconizado para o nó de Alcantara, indispensável para viabilizar essa zona portuária, está parado há 10 anos, forçando o porto de Lisboa a recusar a entrada a cada vez mais navios de grande porte.
A expansão do terminal de contentores de Lisboa é mais um projecto que já vem atrasado, não nos tendo permitido beneficiar da rápida expansão do comércio marítimo nos últimos anos. Que importância tem isto?
Por um lado, a actividade portuária é em si mesma geradora directa de riqueza (5% do PIB regional) e emprego (140 mil pessoas). Por outro lado, ela contribui para a competitividade global da economia portuguesa, viabilizando exportações e embaratecendo importações.
Faz, por isso, sentido exigir: mais contentores, já!
(À suivre...)
Dizer "yes we can" em Portugal
Mais uma vez, concordo inteiramente com o que Manuel Caldeira Cabral escreve a este propósito no Jornal de Notícias:
As lições que vêm dos EUA devem ser aprendidas em Portugal. É importante que as eleições que vamos ter no próximo ano dêem um mandato de mudança ao Governo que se segue. Esta responsabilidade é nossa. Cabe-nos aplaudir, apoiar, incentivar as propostas de mudança, do Governo ou da oposição, e assumir um compromisso com as mesmas, sabendo que qualquer alteração tem custos e afecta interesses instalados, mas que não fazer nada pode ter custos muito maiores.Pronunciando-se também sobre as lições da vitória de Obama para Portugal, o Luís Jorge reincide, infelizmente, na estridência a que nos vem habituando desde que virou à esquerda, de modo que não posso recomendá-lo.
É importante que José Sócrates compreenda que o melhor caminho para ganhar as eleições é fazer mais propostas de reformas e não menos. É importante que a oposição e a imprensa pressionem nesse sentido, em vez de se associarem acriticamente a todas a críticas de grupos de interesse. Cabe à opinião pública estar atenta, sendo especialmente crítica em relação a quem critica sem apresentar melhores alternativas, ou aos membros do Governo que brilham a criticar as fraquezas da oposição. A oposição e os grupos sociais devem apresentar alternativas e o Governo argumentos para as suas propostas.
5.11.08
Os amigos são para as ocasiões
4.11.08
Atenção, pessoal de Mirandela, isto também é convosco
Deve a Administração do Porto de Lisboa ser comandada pelo município da capital, como exige Helena Roseta?
Não. O Porto de Lisboa não é do concelho de Lisboa, nem sequer da sua área metropolitana. É do país.
Seja pela sua importância ímpar, seja pela especialização de tráfego existente, o porto de Lisboa serve Portugal inteiro. Serve o Alentejo e o Algarve, serve a Estremadura e as Beiras, e, nalguns aspectos, serve inclusive a região Norte.
De maneira que isto também é convosco, aí em Mirandela.
Seria, pois, inadmissível que a expansão do Porto de Lisboa pudesse ser comandada pelas opiniões abalizadas da arquitecta Helena Roseta, cujos méritos excedem em muito o meu entendimento.
Suponhamos que os lisboetas deliberavam em referendo a favor de mais bares e menos contentores. Pois eu defendo que, nessas circunstâncias, os regimentos da província teriam o direito de avançar sobre a capital e exilar a arquitecta para o Bugio para fazerem valer os legítimos direitos da nação sobre a imperial e o caracol.
O país atura os caprichos da capital a troco de alguns serviços mínimos que ela lhes presta. Se esse contrato implícito for rompido, muda-se já a capital para Madrid.
Há outro argumento relevante, embora secundário, para se evitar que a Câmara interfira mais na gestão da área ribeirinha, que é o que António Costa e o governo andam a tramar.
Imaginem, por um momento, que há trinta anos a Administração do Porto de Lisboa tinha sido colocada sob a tutela da Câmara Municipal. O que teriamos nós hoje junto ao rio?
Não esplanadas e parques públicos, mas talvez um ou outro centro comercial, urbanizações manhosas do tipo das que foram construídas em Chelas, business parks e, decerto, lixeiras pomposamente apelidadas de jardins - tudo sobrevoado por um grandioso viaduto para facilitar a entrada e saída na capital.
(Este post é inspirado pelo despeito, confesso-o. Invejo a lucidez da arquitecta Helena Roseta, uma pessoa que conseguiu atingir uma idade respeitável sem jamais correr o risco de fazer algo de útil pelo seu país.)
(To be continued...)
Não. O Porto de Lisboa não é do concelho de Lisboa, nem sequer da sua área metropolitana. É do país.
Seja pela sua importância ímpar, seja pela especialização de tráfego existente, o porto de Lisboa serve Portugal inteiro. Serve o Alentejo e o Algarve, serve a Estremadura e as Beiras, e, nalguns aspectos, serve inclusive a região Norte.
De maneira que isto também é convosco, aí em Mirandela.
Seria, pois, inadmissível que a expansão do Porto de Lisboa pudesse ser comandada pelas opiniões abalizadas da arquitecta Helena Roseta, cujos méritos excedem em muito o meu entendimento.
Suponhamos que os lisboetas deliberavam em referendo a favor de mais bares e menos contentores. Pois eu defendo que, nessas circunstâncias, os regimentos da província teriam o direito de avançar sobre a capital e exilar a arquitecta para o Bugio para fazerem valer os legítimos direitos da nação sobre a imperial e o caracol.
O país atura os caprichos da capital a troco de alguns serviços mínimos que ela lhes presta. Se esse contrato implícito for rompido, muda-se já a capital para Madrid.
Há outro argumento relevante, embora secundário, para se evitar que a Câmara interfira mais na gestão da área ribeirinha, que é o que António Costa e o governo andam a tramar.
Imaginem, por um momento, que há trinta anos a Administração do Porto de Lisboa tinha sido colocada sob a tutela da Câmara Municipal. O que teriamos nós hoje junto ao rio?
Não esplanadas e parques públicos, mas talvez um ou outro centro comercial, urbanizações manhosas do tipo das que foram construídas em Chelas, business parks e, decerto, lixeiras pomposamente apelidadas de jardins - tudo sobrevoado por um grandioso viaduto para facilitar a entrada e saída na capital.
(Este post é inspirado pelo despeito, confesso-o. Invejo a lucidez da arquitecta Helena Roseta, uma pessoa que conseguiu atingir uma idade respeitável sem jamais correr o risco de fazer algo de útil pelo seu país.)
(To be continued...)
3.11.08
Lisboa e o seu porto
Opina Pedro Lains:
"Lisboa precisa de um porto e de um porto a crescer. Precisa de acrividade económica deste tipo. Lisboa é um porto e será sempre um porto e quanto mais porto melhor. Para além disso, este tipo de investimentos pode ser usado para se exigirem contrapartidas para melhorar as áreas envolvidas. E também se pode exigir que façam as obras à suíça, sem mexer muito com o dia-a-dia de quem frequenta a zona. O processo terá seguramente sido mal conduzido. Então, que Miguel Sousa Tavares use o seu poder mediático para que os negócios sejam melhores para Lisboa. Isso sim seria um bom serviço. Mas não façam de Lisboa uma cidade de turistas. Não há pior nos dias que correm."
Assunto encerrado
A opinião definitiva e incontestavelmente abalizada sobre o tema dos contentores pode ser lida aqui.
Shots ou contentores
A nossa longa costa atlântica tem apenas dois portos naturais razoáveis: Lisboa e Setúbal. Comparem esta penúria com a abundância de abrigos que a Galiza e a Cantábria oferecem às embarcações, e terão uma ideia do problema que isto representa.
Essas condições naturais contribuiram de forma decisiva para que Lisboa se tornasse na capital do país e a sua área metropolitana na região mais desenvolvida, centro de atracção das mais variadas actividades industriais e de serviços.
Os anos passaram, mas a importância do porto de Lisboa para a economia da urbe permaneceu. A teimosa subalternização das necessidades da sua operação em relação às actividades de lazer só pode ser desculpada pela ignorância do modo como funciona a cidade.
Naturalmente, a organização da cidade deve equilibrar as exigências da produção com as do lazer, mas não há qualquer indício de que estas últimas estejam a ser desprezadas, bem pelo contrário.
Para quem ainda não reparou, de Lisboa a Cascais há uns trinta quilómetros de frente ribeirinha reservada a praias, portos de recreio, esplanadas, restaurantes, jardins e passeios públicos. Somos uns privilegiados, e continuaremos decerto a sê-lo.
Mais ainda, ao longo das últimas décadas foram alargados e melhorados drasticamente os espaços públicos confinantes com o rio, tanto a montante (Parque Expo e Santa Apolónia) como a juzante (zona compreendida entre o Cais do Sodré e Algés).
Se erro houve, esse terá sido o de descurarem-se um tanto as actividades portuárias em detrimento das de lazer. Que sentido faz então proclamar-se em tom enfático: "Lisboa é das pessoas, mais contentores não"? Nenhum, diria eu.
Dentro de certos limites - que não foram nem estão em vias de ser ultrapassados - mais contentores contribuem para que as pessoas vivam melhor. Quanto mais não fosse, porque neles se transportam as Corona, Budweiser e Tsing-Tao que depois são consumidas nos bares.
O porto é uma parte vital da cidade, há que cuidar dele. Há que saber merecê-lo.
Essas condições naturais contribuiram de forma decisiva para que Lisboa se tornasse na capital do país e a sua área metropolitana na região mais desenvolvida, centro de atracção das mais variadas actividades industriais e de serviços.
Os anos passaram, mas a importância do porto de Lisboa para a economia da urbe permaneceu. A teimosa subalternização das necessidades da sua operação em relação às actividades de lazer só pode ser desculpada pela ignorância do modo como funciona a cidade.
Naturalmente, a organização da cidade deve equilibrar as exigências da produção com as do lazer, mas não há qualquer indício de que estas últimas estejam a ser desprezadas, bem pelo contrário.
Para quem ainda não reparou, de Lisboa a Cascais há uns trinta quilómetros de frente ribeirinha reservada a praias, portos de recreio, esplanadas, restaurantes, jardins e passeios públicos. Somos uns privilegiados, e continuaremos decerto a sê-lo.
Mais ainda, ao longo das últimas décadas foram alargados e melhorados drasticamente os espaços públicos confinantes com o rio, tanto a montante (Parque Expo e Santa Apolónia) como a juzante (zona compreendida entre o Cais do Sodré e Algés).
Se erro houve, esse terá sido o de descurarem-se um tanto as actividades portuárias em detrimento das de lazer. Que sentido faz então proclamar-se em tom enfático: "Lisboa é das pessoas, mais contentores não"? Nenhum, diria eu.
Dentro de certos limites - que não foram nem estão em vias de ser ultrapassados - mais contentores contribuem para que as pessoas vivam melhor. Quanto mais não fosse, porque neles se transportam as Corona, Budweiser e Tsing-Tao que depois são consumidas nos bares.
O porto é uma parte vital da cidade, há que cuidar dele. Há que saber merecê-lo.
Lisboa é das pessoas, mais contentores sim
A petição em defesa da expansão do terminal de contentores do Porto de Lisboa já está disponível aqui:
Online petition - Em Defesa de Lisboa
Online petition - Em Defesa de Lisboa
É apenas isso que eu lhe peço
Tal como Eduardo Pitta, também eu acho que só isto já será muito:
"Se Obama tornar universal o sistema de saúde e ajudar a reconciliar a América com o mundo, terá feito muito".
2.11.08
Privatizações descabidas
Estou surpreendido com a sabedoria económico-financeira do Ricardo Costa. Ele também deve estar, aliás.
Não brinco: acabo de ouvi-lo dizer que, nas actuais condições, as privatizações da ANA, da REN e da participação que o Estado mantém na Petrogal não faz sentido nenhum.
Tem razão, evidentemente, só se estranhando que nenhum dos economistas que regularmente opinam nos media tivesse antes vindo a público dizer isto.
Eis as três principais razões para não privatizar:
1. Seria um péssimo negócio para o Estado vender empresas na baixa
2. Os privados teriam dificuldades em conseguir financiamento para as comprar
3. Nos casos em que se encontram programados grandes investimentos de expansão, o Estado está em condições de conseguir taxas de juro muito mais favoráveis do que os privados
Não brinco: acabo de ouvi-lo dizer que, nas actuais condições, as privatizações da ANA, da REN e da participação que o Estado mantém na Petrogal não faz sentido nenhum.
Tem razão, evidentemente, só se estranhando que nenhum dos economistas que regularmente opinam nos media tivesse antes vindo a público dizer isto.
Eis as três principais razões para não privatizar:
1. Seria um péssimo negócio para o Estado vender empresas na baixa
2. Os privados teriam dificuldades em conseguir financiamento para as comprar
3. Nos casos em que se encontram programados grandes investimentos de expansão, o Estado está em condições de conseguir taxas de juro muito mais favoráveis do que os privados
Vigarice legalizada
Escreveu o Professor Campos e Cunha no Público da passada 6ª feira:
Procurando informar-me sobre o assunto, descobri esta brilhante explicação em video do que são os CDOs, e a minha suspeita transformou-se em profunda convicção: coisas destas nunca deveriam ter sido autorizadas. Vejam até ao fim, mesmo que não percebam tudo, porque vale mesmo a pena.
Crisis explainer: Uncorking CDOs from Marketplace on Vimeo.
"Há dias, um colega de finanças informou-me que os CDO (Collateralized Debt Obligations) tinham ou têm um prospecto [de regulamentos] de 750 mil páginas!"Dei comigo a pensar que isto tem todo o ar de uma história mal contada para impressionar o pagode; porém, mesmo que o número de páginas esteja multiplicado por 100 ou 1.000, um produto que exige uma regulamentação de tal complexidade, deveria provavelmente ser proibido.
Procurando informar-me sobre o assunto, descobri esta brilhante explicação em video do que são os CDOs, e a minha suspeita transformou-se em profunda convicção: coisas destas nunca deveriam ter sido autorizadas. Vejam até ao fim, mesmo que não percebam tudo, porque vale mesmo a pena.
Crisis explainer: Uncorking CDOs from Marketplace on Vimeo.
Más notícias da frente oriental
"Foreign-denominated loans helped fuel eastern European economies including Poland, Romania and Ukraine, funding home purchases and entrepreneurship after the region emerged from communism. The elimination of such lending is magnifying the global credit crunch and threatening to stall the expansion of some of Europe's fastest-growing economies." (Bloomberg)
Lá se vai o milagre da Europa do Leste.
(Via Paul Krugman.)
Lá se vai o milagre da Europa do Leste.
(Via Paul Krugman.)
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