Afirma-se na petição lançada por Miguel Sousa Tavares que o Porto de Lisboa tem uma grande capacidade excedentária para movimentação de contentores. Será verdade?
Ao que parece, a fonte da informação foi um relatório do Tribunal de Contas. Ora os documentos saídos do Tribunal de Contas, embora excelentes para fazer manchetes de jornais, encontram-se frequentemente repletos de afirmações gratuitas pela simples razão de que os seus autores jamais têm que responder pelo que lá escarrapacham. Esta é mais uma delas.
A nossa pobreza de recursos naturais portuários reflecte-se na escassa importância do tráfego marítimo português no contexto da Península Ibérica. Mas existe um potencial para fazer muito melhor se se investir adequadamente na sua qualificação e internacionalização.
Há uma década, era João Cravinho ministro e Consiglieri Pedroso seu secretário de Estado, foi elaborado um Livro Branco dos Portos Portugueses. À sua discussão com as mais diversas organizações do sector seguiu-se a definição de uma estratégia de desenvolvimento para a actividade portuária e a execução de todo um conjunto coerente de politicas e de reformas legais e institucionais inscritas nessa estratégia. Política com pés e cabeça, como é raro fazer-se entre nós.
Desde então, porém, a implementação do plano foi descurada. Primeiro exemplo: o investimento, relativamente pequeno, destinado a melhorar a ligação ferroviária de Sines à fronteira, só no corrente ano arrancou. Segundo exemplo: o investimento ferroviário e rodoviário então preconizado para o nó de Alcantara, indispensável para viabilizar essa zona portuária, está parado há 10 anos, forçando o porto de Lisboa a recusar a entrada a cada vez mais navios de grande porte.
A expansão do terminal de contentores de Lisboa é mais um projecto que já vem atrasado, não nos tendo permitido beneficiar da rápida expansão do comércio marítimo nos últimos anos. Que importância tem isto?
Por um lado, a actividade portuária é em si mesma geradora directa de riqueza (5% do PIB regional) e emprego (140 mil pessoas). Por outro lado, ela contribui para a competitividade global da economia portuguesa, viabilizando exportações e embaratecendo importações.
Faz, por isso, sentido exigir: mais contentores, já!
(À suivre...)
6.11.08
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5 comentários:
Até ao momento, nada disse sobre o Porto de Lisboa. E não o fiz por uma razão apaenas. Falta de informação. É vital saber se a capacidade está ou não perto do limite. Uma informação tão "simples" e objectiva como esta de via ser comum, ou próxima pelo menos, aos dois lados da barricada. Tal não acontece... parecem os sindicatos e o governo.
Não se trata, neste ponto, de matéria de opinião. A falta de capacidade é um facto.
E nao esquecer que o transporte maritimo e o transporte mais "verde" do mundo menos emissoes poluentes por unidade transportada.
Convem introduzir aqui uma importante excepcao que sao as emissoes de aerossois com enxofre ja que a industria de transporte maritimo tem uma derrogacao da legislacao internacional que tenta lidar com as chuvas acidas.
Mas certamente em termos de emissoes de gases de efeito estufa a segunda melhor alternativa a producao de bens de consumo o mais proximo possivel dos consumidores e o transporte maritimo.
Caro João,
A falta de capacidade não é um facto. O terminal está a metade da capacidade. O que está quase a esgotar é o parqueamento.
Mas concordo com Yuppie Boy: Falta informação. Não acha estranho, num projecto tão importante, esta falat de dados quantitativos? Porque será?
A minha modesta contribuição para o debate em: http://terradosespantos.blogspot.com/2008/11/no-v-o-sapateiro-alm-da-chinela.html.
Cumprimentos
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