30.9.10

"A terra a quem a trabalha"

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Pedro Lains, num excelente artigo no Jornal de Negócios de hoje:

"Fiquei chocado, confesso, com a reacção do responsável da Economia do PSD, António Nogueira Leite, à vinda do director-geral da OCDE a Portugal, ao que este disse, e ao conteúdo do relatório que ele veio trazer. É verdade que todo esse pacote foi feito para apoiar o governo português. Pelo menos é que me parece mais justo deduzir. Mas o apoio não foi dado ao Eng. Sócrates ou ao partido de que é líder, mas sim a um Estado que está mais uma vez a ser ameaçado pelo andamento dos juros nos mercados internacionais."
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Entretanto, lá na Parvónia

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Como repetidamente tenho afirmado, não há uma crise especificamente portuguesa, mas uma crise financeira da zona euro com repercussões mais graves na sua periferia, de que fazemos parte. Cada dia que passa torna isso mais evidente.

A Grécia e a Irlanda (mas também países exteriores à zona euro como a Hungria e os países bálticos) afundam-se numa situação sem saída à vista, numa prova evidente de que a política de austeridade imposta pelas forças de direita que comandam a União Europeia é errada e contraproducente.

É ilusória a ideia de que Portugal ou a Espanha podem safar-se cumprindo as ordens de Bruxelas. No final deste absurdo processo de ajustamento, os países da periferia terão estagnação económica, desemprego elevado e níveis relativos de endividamento ainda maiores durante anos a fio. Grécia e Irlanda estão apenas mais avançadas nesse processo.

Ao contrário do que Merkel e o BCE imaginam, a paralisia alastrará inevitavelmente ao centro, porque as dívidas soberanas são detidas por bancos e investidores desses países e porque não se pode exportar mais para consumidores sem poder de compra.

A globalização reduziu progressivamente a margem de manobra da nossa política económica. A adesão ao euro eliminou quase toda aquela que restava. O pressuposto era que a soberania nacional fosse transferida para entidades europeias responsáveis e democraticamente imputáveis, o que manifestamente não aconteceu.

O dilema coloca-se, pois, entre a estagnação duradoura do continente e a reforma da governação política e económica na zona euro. Estando o poder da União Europeia nas mãos de quem está, as coisas terão ainda que piorar muito antes de poderem começar a melhorar.

Resta a um governo português decente e responsável proteger o seu povo na medida do possível das consequências de uma política sem grandeza e sem visão.
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29.9.10

A capelinha

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De Pedro Lains eu sei o seguinte:

1. É provavelmente o nosso principal especialista de história económica

2. Esforça-se por pensar e argumentar com seriedade e um mínimo de contaminação ideológica

3. Escreve regularmente na imprensa e no seu blogue sobre os problemas económicos do país

4. Não gosta do Governo

5. Declarou estar disponível a votar para que Passos Coelho seja primeiro-ministro

Apesar disso, o líder da oposição não quis ouvi-lo, talvez porque não lê pela cartilha oficial. Ainda não chegaram ao governo e já funcionam em capelinhas.
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Dou um doce

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Ao fim de duas semanas a ler jornais, a escutar comentários, a pesquisar na internet e a questionar pessoas que deveriam saber, ainda não consegui entender qual é a situação real das nossas contas públicas em 2010.

Dou um doce a quem me explicar.
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Coisas que toda a gente sabe

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Instituições como a OCDE, o FMI ou o BCE, apesar de todas as declarações genéricas a favor da redução da despesa pública, preferirão sempre planos de aumentos de impostos a vagas promessas de contenção nos gastos.

Pela simples razão de que o agravamento de impostos é mais fácil, tem efeitos imediatos e não permite tergiversações, ao passo que intenções piedosas de austeridade são difíceis, lentas e incertas - numa palavra, soam um pouco a música celestial.

Por isso mesmo, quem pretender moderar um mais que provável agravamento da carga fiscal deverá cuidar de assegurar os acordos políticos internos que dispensem a intervenção externa directa na organização das nossas finanças públicas.
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28.9.10

Políticas que não fazem sentido nenhum

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"O Instituto do Turismo está a estudar a forma - e há várias modalidades possíveis - de poder participar no investimento da Aquanatur. Nomeadamente, e isso é muito importante, através da possibilidade - o Instituto do Turismo tem uma capital de risco - de poder entrar no capital da Unicer Turismo. Estamos a estudar várias possibilidades, mas existe claramente uma disponibilidade demonstrada pelo Dr. Luís Patrão para participar neste projecto, que para nós é muito importante."
(Pires de Lima, Presidente da Unicer, ao Jornal de Negócios em 28.9.10)

O presidente da Unicer, Pires de Lima, "defende o congelamento da despesa pública corrente de forma a evitar uma nova e «insustentável» subida de impostos e sugere medidas fiscais para empresários que reinvistam os lucros em Portugal."
(Pires de Lima, Presidente da Unicer, ao Sol em 5.9.10)

"Se se confirmar -- e eu espero que não se confirme -- que no final de 2010 a nossa consolidação foi feita toda à custa da receita e crescendo a despesa três ou quatro por cento em vez de não ter crescido nada, e se tivermos um orçamento ambicioso e credível que permita cortar a despesa em 2011, acho que vai ser quase inevitável a pressão de uma entidade como o FMI para Portugal fazer as reformas que tem de fazer."
(Pires de Lima, Presidente da Unicer, citado pelo Expresso online em 16.9.10)

Não sei se me espanta mais a desfaçatez de Pires de Lima ou o absurdo das políticas do Governo via Instituto do Turismo.
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27.9.10

Harlem incident

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Comparar a esperança de vida no Harlem com a do Bangladesh é uma forma infalível de chamar a atenção dos mais distraídos para o tratamento chocante que nos EUA é reservado aos pobres.

É claro,como me fizeram notar nalguns comentários, que o Harlem é um bairro especialmente problemático de uma cidade norte-americano. Mas o Bangladesh também é um país especialmente problemático do mundo.

É claro que a baixa esperança de vida do Harlem se deve em parte a causas especiais como a criminalidade e a droga. Mas a baixa esperança de vida do Bangladesh também tem causas especiais, entre elas recorrentes catástrofes naturais e epidemias.

Vamos então a uma comparação menos extrema, recolhida no mesmo livro de Amartya Sen citado no meu anterior post: a esperança de vida dos negros americanos é inferior à da China, do Ceilão, da Jamaica ou da Costa-Rica, todos eles países subdesenvolvidos.

É claro que eu sei, como os leitores sabem e eu sei que eles sabem, que a esperança de vida não depende apenas (nem talvez fundamentalmente) da assistência na doença. Tão ou mais importantes do que ela são as condições de nutrição e de habitação, a higiene e as condições sanitárias básicas.

Acontece que a ausência de um serviço nacional de saúde nos EUA resulta da mesma despreocupação genérica com a marginalização dos pobres que tem prevalecido no país e que Obama se tem esforçado por superar. E é só.
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O outro Miliband

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Tradução portuguesa: Editorial Estampa
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24.9.10

Ideias baralhadas

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"O jogo democrático não é assim! Quem tem obrigação de governar é o Governo, quem tem a obrigação de criar condições, de negociar soluções que a oposição possa aprovar, em situação de minoria, é o Governo. E se não houver solução de consenso, o Governo não pode dizer que não pode governar, porque constitucionalmente a regra é que tem que governar com o Orçamento anterior, em regime de duodécimos. De resto, não teria nada de novo: este ano foi governado em duodécimos até Maio. E viver em duodécimos não obriga que seja até ao final do ano. Significa que, se o OE não for aprovado num prazo normal, se deve continuar a negociar um novo orçamento e, até lá, aplica-se esse regime. Que, aliás, daria melhor resultado do que deu este ano – porque a despesa nominal não poderia ter aumentado como aumentou este ano. O Governo não teria autorização para gastar o que gastou este ano."

Estas declarações de Vítor Bento ao DN, que ouvi hoje de manhã na TSF, deixaram-me confuso.

Primeiro, Bento diz que o governo do partido maioritário tem a obrigação de fazer o que pretende a oposição do partido minoritário e entende que isso é que é democracia.

Segundo, decreta que constitucionalmente o governo cujo orçamento é chumbado "tem a obrigação" de governar em duodécimos com o orçamento anterior, deixando-me a tentar descobrir de que Constituição estará ele a falar.

Finalmente, entende que governar com duodécimos até é bom porque não permite aumentar a despesa e este ano o governo até funcionou desse modo até Maio, mas logo a seguir declara que afinal este ano o sistema não funcionou porque a despesa aumentou em demasia.

Estou certo que ele queria dizer alguma coisa, mas não sei se o terá dito...

PS: É muito curioso que Bento confunda maioria relativa com minoria quando se refere ao apoio parlamentar de que o governo dispõe. Estamos a falar, note-se, de um Conselheiro de Estado. Essas ideias andam, definitivamente, muito baralhadas.
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23.9.10

Temos que ter ambição

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Acabo de saber, lendo "Development as Freedom" do Nobel da Economia Amartya Sen, que a esperança de vida no Harlem nova-iorquino é inferior à do Bangladesh.

Para ser inteiramente rigoroso, essa era a situação em 1999, data da publicação do livro. Desde então o Bangladesh deve ter deixado o Harlem muito para trás.

Quem sabe se, fazendo as reformas certas no Sistema Nacional de Saúde, não poderemos aspirar a descer um dia ao nível do Harlem?
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22.9.10

Foi só uma ideia que me passou pela cabeça

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Se eu soubesse antecipadamente quando o Passos Coelho vai ameaçar não votar o Orçamento, poderia ganhar uma fortuna a especular na Bolsa.
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Coisas boas, como por exemplo

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A educação é boa porque promove o crescimento, ou a educação é boa porque é boa?

É a esta pergunta que procuro responder no meu artigo de hoje no Jornal de Negócios.
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Porque estamos todos tramados - agora no cinema

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Um país de doidos?

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Como muitas outras pessoas, tendo a identificar-me com o que Helena Garrido escreve no seu editorial de hoje no Jornal de Negócios ("Rotundas, ciclovias e investimento público").

Chegados ao fim, a conclusão não pode ser outra: "Isto é um país de doidos." Mas, sendo isso verdade, nada haverá a fazer.

Aqui se revela, a meu ver, a fragilidade da perspectiva que informa a peça da Helena. Tudo tem uma explicação, por estranha e difícil de encontrar que seja, e é da sua identificação que depende a superação das ineficiências que legitimamente nos irritam.

Atribuir a responsabilidade dos nossos problemas à loucura nacional é apenas uma forma de legitimar intelectualmente a desistência de mudar o país.

Dentre as coisas estranhas que Helena Garrido elenca, algumas serão efectivamente criticáveis, outras terão justificações que desconhecemos. O erro não estará nelas, mas na nossa incompreensão.

Numa recente viagem à Suécia fui surpreendido pela profusão de rotundas. O que me fez pensar que se trata afinal de uma forma simples, prática e barata de regular o trânsito, sem despender dinheiro em semáforos que, em Portugal, provavelmente teriam que ser importados.

A minha conclusão é que precisamos de conhecer melhor o nosso país se efectivamente queremos transformá-lo.
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21.9.10

Cristina Casalinho: "Acredito que vamos cumprir meta"

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Quem não chora não mama

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Chris Dillow, sobre as consequências de a voz dos pobres não se fazer ouvir:
"The world’s poorest do not communicate with us, which causes us to give less to them than we otherwise would. By contrast, we are bombarded with messages from the well-off, which - on its own - tends to dispose us to be altruistic towards them. In this sense, inequality perpetuates itself. "
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20.9.10

Sofia Gubaidulina: Gloriosa Percussão

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17.9.10

Amor com amor se paga

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Mourinho vai treinar o Vitória de Setúbal por telefone. Mourinho vai ajudar Teixeira dos Santos a controlar a despesa pública. Mourinho vai ajudar Passos Coelho a preparar a versão final do projeto de revisão constitucional. Mourinho vai ensinar o Manoel de Oliveira a fazer filmes. Mourinho vai reunir com as agências de rating para lhes explicar a situação financeira portuguesa. Mourinho vai dizer aos alemães que metam os submarinos num certo sítio. Mourinho vai passar a escrever os editoriais do Expresso. Mourinho vai orientar a programação artística do São Carlos. Mourinho vai presidir ao júri dos Ídolos.

Para compensar o Real Madrid pela sua boa-vontade, Pinto da Costa vai ensinar Florentino Perez a gerir um clube de futebol.
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Políticas económicas ou sermões?

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Cristina Casalinho põe o dedo na ferida quando escreve no Jornal de Negócios de hoje:
"O Estado pode não estar a fazer todo o seu trabalho de casa; contudo, empresas e famílias também não. A contenção da despesa para padrões mais alinhados com o rendimento impõe-se ao Estado e ao sector privado."
Há aqui porém uma assimetria essencial: toda a gente sabe o que é preciso fazer-se para travar o endividamento público; mas ninguém sabe como aumentar a poupança e reduzir o endividamento do sector privado quando o país não controla a taxa de juro de base.

Em teoria, tirando os habituais sermões exortando o povo à moderação do consumo, há duas alternativas: ou saímos da zona euro ou instituímos alguma forma de poupança forçada.

Como a primeira não se afigura realista, seria talvez altura de começar-se a pensar na segunda. Mas é claro que quem alvitrar essa possibilidade será logo acusado de estar a pretender aumentar os impostos.
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16.9.10

Dedicado à Drª Angela Merkel

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Jefferson Airplane: Never Argue With a German When You're Tired.
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15.9.10

A crise do capitalismo explicada às crianças por um marxista impenitente

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Com um agradecimento ao José Júlio, que me deu a conhecer este video.
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13.9.10

Resumo do jogo do título

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11.9.10

The Animals: Club a Go-Go

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8.9.10

Só para recordar

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Fonte: A Fistful of Euros.
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Esther Duflo sobre economia e pobreza (por tudo quanto há, não percam isto)

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(É possível activar legendas em português.)
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The Zombies: Summertime

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