Portugal assinou um Memorando de Entendimento, dizem-nos,
para sanear as suas finanças públicas, travar o crescimento da dívida e
reconquistar a confiança dos credores. Todas as medidas nele contidas teriam,
pois, o duplo propósito de conter o défice e fazer o país crescer mais (vulgo “tornar-se
mais competitivo”).
Fechado 2012, o que vemos nós? O défice ficou na mesma e,
por inevitável decorrência, a dívida pulou em frente.
Fracasso? Não, vitória.
O programa terá sido um sucesso, pela simples razão de que
foram concretizadas as “medidas”. Isto é especialmente curioso porque, na
ideologia dominante, o que conta não é a intenção, mas o resultado. Chama-se a
isto em linguagem técnica “consequencialismo”.
Vivemos, porém, tempos de invulgar instabilidade semântica,
nos quais a antiga verdade se converteu em mentira e vice-versa. Assim, do pé
para a mão, só porque a troika o diz, o resultado é desvalorizado em detrimento
do processo concebido para lá chegar. Isto tem a valiosíssima vantagem de
desculpabilizar os conceptualizadores do processo, o qual não tem que ser bom
porque produz bons resultados, mas apenas porque sim, ou seja, porque foi
engendrado por gente de toda a confiança, cuja incompetência se encontra
certificada por algumas das melhores universidades.
Na verdade, a troika não avalia os resultados do programa,
avalia-se a si mesma – conforme a metodologia similar defendida entre nós pelo
Sindicato dos Professores.
Resta-lhes como derradeiro argumento invocar a descida dos
juros no mercado secundário como prova da bondade do percurso. Que se trata de
um absurdo, eis o que decorre da constatação de que os juros desceram em todos
os países da zona euro e os da Grécia mais que quaisquer outros.
Não concluamos, porém, antes de explicar que tudo isto
assenta numa pura e simples aldrabice: até 2011, as dívidas cresciam e os juros
também; agora, as dívidas crescem ainda mais e, para agravar a insolvabilidade,
os países não crescem, porém os juros baixam. Qualquer pessoa inteligente
concluirá que não existe na zona euro qualquer relação de causalidade entre dimensão
da dívida e taxas de juros.
Os juros cresceram em 2011 porque Merkel decretou que cada
país deveria desenrascar-se por si e o BCE concordou. Os juros desceram em 2012
porque o BCE mudou de orientação e Merkel foi forçada a ceder. Entendido?
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