7.1.13

Aldrabices



Portugal assinou um Memorando de Entendimento, dizem-nos, para sanear as suas finanças públicas, travar o crescimento da dívida e reconquistar a confiança dos credores. Todas as medidas nele contidas teriam, pois, o duplo propósito de conter o défice e fazer o país crescer mais (vulgo “tornar-se mais competitivo”).

Fechado 2012, o que vemos nós? O défice ficou na mesma e, por inevitável decorrência, a dívida pulou em frente.

Fracasso? Não, vitória.

O programa terá sido um sucesso, pela simples razão de que foram concretizadas as “medidas”. Isto é especialmente curioso porque, na ideologia dominante, o que conta não é a intenção, mas o resultado. Chama-se a isto em linguagem técnica “consequencialismo”.

Vivemos, porém, tempos de invulgar instabilidade semântica, nos quais a antiga verdade se converteu em mentira e vice-versa. Assim, do pé para a mão, só porque a troika o diz, o resultado é desvalorizado em detrimento do processo concebido para lá chegar. Isto tem a valiosíssima vantagem de desculpabilizar os conceptualizadores do processo, o qual não tem que ser bom porque produz bons resultados, mas apenas porque sim, ou seja, porque foi engendrado por gente de toda a confiança, cuja incompetência se encontra certificada por algumas das melhores universidades.

Na verdade, a troika não avalia os resultados do programa, avalia-se a si mesma – conforme a metodologia similar defendida entre nós pelo Sindicato dos Professores.

Resta-lhes como derradeiro argumento invocar a descida dos juros no mercado secundário como prova da bondade do percurso. Que se trata de um absurdo, eis o que decorre da constatação de que os juros desceram em todos os países da zona euro e os da Grécia mais que quaisquer outros.

Não concluamos, porém, antes de explicar que tudo isto assenta numa pura e simples aldrabice: até 2011, as dívidas cresciam e os juros também; agora, as dívidas crescem ainda mais e, para agravar a insolvabilidade, os países não crescem, porém os juros baixam. Qualquer pessoa inteligente concluirá que não existe na zona euro qualquer relação de causalidade entre dimensão da dívida e taxas de juros.

Os juros cresceram em 2011 porque Merkel decretou que cada país deveria desenrascar-se por si e o BCE concordou. Os juros desceram em 2012 porque o BCE mudou de orientação e Merkel foi forçada a ceder. Entendido?

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