Parece-me justo recordar que a reforma do estado não é uma
preocupação nova. Reformar o estado foi, afinal, o que o anterior governo fez
com resultados genericamente positivos, embora sempre com a acérrima e muitas
vezes desleal oposição tanto da direita como da esquerda.
Note-se porém que, ao contrário do que a Helena afirma, na saúde a reforma não
começou com o primeiro governo de Sócrates, mas com a primeira
experiência governativa de Correia de Campos no último governo de Guterres. Continuou depois com Luís Filipe Pereira nos governos PSD-PP e prosseguiu, de novo com
Correia de Campos, agora com Sócrates ao leme. Tudo indica que, no essencial,
Paulo Macedo manteve o rumo.
Como seria de esperar, ao cabo de quase uma década e meia de
esforços coerentes, os ganhos de eficiência são evidentes, embora
insatisfatórios.
Já em relação à educação e à segurança social, a Helena está
certa ao situar o início das reformas no primeiro governo de Sócrates.
Faltou-lhe apenas recordar a reforma dos procedimentos da administração
pública.
Porém para sermos exactos, é preciso lembrar que, com
excepção da saúde, a reforma do estado foi interrompida, adiada, entravada,
esquecida ou definitivamente cancelada com a subida ao poder da coligação
liquidatária actualmente no poder. Manifestamente, o tema foi posto de parte pela coligação PSD-PP durante um bom ano e meio.
E aqui chegamos ao cerne da diferença entre as reformas de
Sócrates e as “reformas” de Passos. No primeiro caso, foram identificadas
ineficiências e oportunidades de melhoria do serviço prestado, de preferência
associáveis a programas de redução de custos. Foi por isso que iniciativas como
a concentração de escolas ou de serviços de saúde não prejudicaram, antes
melhoraram, a qualidade do serviço ao cidadão. (Convém recordar que na altura
se encenaram partos à entrada de maternidades fechadas para incitar a opinião
pública contra o governo, episódio que mereceu ampla cobertura mediática.)
É a isto que eu de facto chamo reformar o estado.
Por contraposição, não pode ser mais distinto o método
aplicado pela coligação PSD-PP. A análise cuidadosa das situações foi em regra
substituída por uma inventariação de rubricas de custos significativas, feita à
distância e, de preferência, a partir do estrangeiro. (Lembram-se dos ridículos
episódios das gorduras do estado, dos gastos intermédios, das fundações e das
PPP?)
Tudo isto é feito sem ir ao terreno ou conhecer as causas
reais da existência das despesas e da formação dos respectivos custos. Inspira-se este procedimento naquela modalidade de consultoria manhosa consistente
em recolher à toa números cujo significado se desconhece e em aplicar reduções
inspiradas por comparações destituídas de sentido.
Peço muita desculpa, mas isto não é reformar o estado, é
destruí-lo à martelada. A diferença de método oculta uma diferença mais essencial de propósito. Não é, pois, verdade que "o sentido das políticas" seja o mesmo.
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