Em primeiro lugar, como explicar a virtude do norte italiano,
se ela está ao sul da negligência do sul alemão?
Em segundo lugar, como explicar que em vários casos, de que
valem como exemplos a Grã-Bretanha e Portugal, o sul é mais desenvolvido do que
o norte?
Adorno não tenta sequer resolver o paradoxo, deixando-nos
por conseguinte o encargo de pensar melhor no assunto.
Sabe-se que, no hemisfério norte, existe uma elevadíssima
correlação entre latitude e produto per capita, sugerindo que a geografia conta
muito na explicação de níveis díspares de desenvolvimento.
Todavia, o que Adorno faz notar é que o preconceito
anti-meridional ocorre mesmo quando tal correlação inexiste.
Isso leva-me a pensar que a valorização ética do norte é no
essencial do domínio do simbólico. Os infelizes povos do norte, castigados com
invernos mais rigorosos e privados durante boa parte do ano da luz e do calor,
tendem a fantasiar o sul como uma espécie de paraíso terrestre onde todos são
eternamente felizes e abundantes fluem o leite e o maná.
Em contrapartida, consolam-se acreditando que o seu
sofrimento lhes assegura, nesta vida, o monopólio da virtude, e, na outra, quem
sabe se um lugar privilegiado à direita de Deus Pai.
O fundo do mito do sul preguiçoso por contraste com o norte
industrioso proviria, assim, do ressentimento ou da inveja.
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário